terça-feira, 30 de junho de 2009

Viva o Arraial Flor do Maracujá!


O Arraial Flor do Maracujá e a “cultura local”


Professor Nazareno*


Só neste ano já fui duas vezes ao Arraial Flor do Maracujá em Porto Velho, ‘o maior arraial sem santo do Norte do país’. Embora não concorde com o nome dado a esta festividade, é possível observar a alegria das pessoas que comparecem anualmente aos festejos para se empanturrar com todo tipo de gororoba. Ainda que a nossa cidade há muito tempo não veja uma única flor desta fruta, há quem jure que aqui, quando a cidade era pequena, havia farta produção de maracujás, não é incrível? Hoje só nos supermercados é possível encontrar a referida fruta.

O Brasil é o maior produtor mundial de maracujás, é verdade. Tem uma produção anual de 330 mil toneladas em uma área de aproximadamente 33 mil hectares. A Bahia é o principal produtor, com cerca de 80 mil toneladas, em 7,8 mil hectares, seguido por São Paulo com cerca de 60 mil toneladas em 3,7 mil hectares; Sergipe, com 33 mil toneladas, em 3,9 mil hectares e Minas Gerais, com 25 mil toneladas, em 2,8 mil hectares. Estes dados são do IBGE, do ano de 2002 e não mostram nenhuma produção de Rondônia, nem agora e nem antes. Mesmo quando a cidade era menor...

Mas por que se preocupar com estas bobagens se tem tacacá para ser degustado? Originário do Amazonas e do Pará principalmente, essa iguaria é apreciada em toda a região Norte, o consumo do tacacá é um hábito parecido com o de tomar chimarrão nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tomado numa cuia, é uma espécie de lanchinho da tarde, quando o calor já não é mais tão intenso, e pode receber a adição de jambu - também chamado de agrião do Pará, e com aquela propriedade que faz formigar os lábios -, chicória e pimenta malagueta. Sejamos gratos ao Pará.

Depois da comilança fui apreciar a festa do Boi-bumbá, ou Festa do Boi, ou ainda Brincadeira do Boi, que tem sua origem no Nordeste do Brasil, onde derivou de outra dança típica de lá, o Bumba-meu-Boi. Com as constantes imigrações de Nordestinos para a Região Norte do Brasil, em especial para o Amazonas, houve também a imigração de manifestações culturais como o Bumba-meu-Boi que logo foi assimilado pela população e ganhou aspecto local. Claro que todos os bois daqui são meras cópias. Aliás, muito mal feitas, diga-se de passagem. Parintins não é aqui.

Cansado de ver o Boi, comecei a dançar a Quadrilha. Esta dança era inicialmente uma dança aristocrática de origem francesa, mas que apresentava influência de antigas danças folclóricas da Inglaterra. Veio para o Brasil pelas mãos dos mestres de orquestra de danças francesas na época do Império. Era muito natural que a quadrilha se tornasse a dança preferida pela sociedade palaciana, pois a elite brasileira vivia voltada para a Europa, principalmente para a França - Deve ser por isso que muita gente famosa adora formar quadrilha... - Porto Velho não é Paris, mas aqui também tem quadrilhas. E não são apenas as que brincam os festejos juninos...

Fui ao arraial e não me senti em Porto Velho, não me senti em Rondônia. Quanta bobagem, pois tinha poeira e muita gente brega. O sotaque matuto das pessoas era inconfundível. Tinha homenagens a prefeito das obras inacabadas, tinha governador acusado de comprar votos a cem reais e na iminência de ser cassado, apesar dos muitos bajuladores querendo a sua permanência no poder mesmo de forma ilegal. A Bailarina da Praça estava lá. O maior expoente cultural deste Estado não podia mesmo faltar ao evento. Não, não posso ter me enganado. Era Porto Velho mesmo, maninhos! Era Rondonha mesmo. Era o Arraial que homenageia a fruta que nunca produzimos...


*Leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho


terça-feira, 23 de junho de 2009

Vejam como anda a Saúde na terra de Cassol e Roberto Robrinho


Desabafo de uma mãe que perdeu a filha de 20 anos. Negligência médica e péssimo atendimento são rotinas no João Paulo II em Porto Velho.


Nágila Camila Maia de Menezes nasceu em 02/10/1988. Faleceu em 16/06/2009


“No sábado 06/06/2009, ela foi assistir à cavalgada. Às 13 horas foi para a casa do namorado como sempre. Só voltou bem tarde. No domingo acordou às 10 horas, ajudou a fazer o almoço. Depois brincou no computador. Às 14 horas o namorado veio buscá-la para um encontro de amigos. Eles sempre se reuniam aos domingos na casa da Nick, uma amiga do ensino médio. Ela estava cursando o 3° período de Informática na Unir, mas nunca perdeu o contato com os amigos do ensino médio. Lá, ela passou mal, dores de cabeça, dores no corpo, dor de garganta e febre. Voltou cedo para casa. Tomou Cataflan e Paracetamol. Na segunda-feira não foi à faculdade, o namorado sugeriu que ela descansasse. Como ela nunca faltava à faculdade, um amigo veio saber o que aconteceu. Ela comentou que era só uma dor de garganta, que já estava melhor. Dia 08/06 apareceu umas manchas vermelhas nos braços e pernas dela. À noite quando cheguei ela comentou sobre as manchas, achei que algum mosquito havia picado ela. Fui fazer minha caminhada, ela não quis ir, disse que não se sentia bem. Por volta das 9 horas, ela me ajudou a fazer a janta. Fez um suco de laranja tomou e foi para o computador como sempre fazia. Por volta de 11h30min foi dormir. 11.55 ela veio onde eu estava e falou que estava com uma dor no pescoço. Como ela ficava muito tempo no computador, era comum esse tipo de dor. Mexi com a cabeça dela pra um lado e para o outro, para cima e para baixo. Como ela não falou nada achei que estava tudo certo. E falei que: ‘está tudo bem, amanhã te levo ao médico, hoje não adianta, o João Paulo está em greve’. Ela voltou para o quarto, apagou a luz e fechou a porta. 05 minutos depois fui vê como ela estava, encontrei a porta fechada e tudo escuro. Pensei: ‘ela está dormindo, não vou incomodar. ’ Voltei para dormir. Logo depois ela vomitou. Por volta de 12.50 a dor aumentou. Ela ligou para o namorado e falou que estava com fortes dores no pescoço e não sentia as pernas. Ele veio correndo de carro. Ela já não conseguia levantar para abrir a porta e nem mesmo respondia aos chamados do namorado. Ele teve que arrombar a porta e pegar ela no colo. Colocou dentro do carro e seguimos para o João Paulo. Ele deu entrada por volta de 01h30min da manhã de terça-feira. Ao entrar, fiquei fora e o Léo entrou com ela, para explicar o que estava acontecendo. Eles aplicaram um soro com uma medicação. Depois disto ela gritava e se batia no chão como se estivesse sentindo muita dor. Os enfermeiros falavam que ela estava tendo um surto psicótico. Eu falei que não, ela nunca teve nada parecido. Ela ficou se batendo e gritando e eles não faziam nada. Veio um enfermeiro e ficou brigando com ela. E falava para ela parar, porque ela já havia dado o “showzinho”. Mandou que ela sentasse na cadeira e parasse com escândalo. Tentamos pôr ela na cadeira, mas não dava. Ele chamou alguém, que o ajudou a levar ela até a cadeira e a sentou. Eu e o Léo sempre tentando fazer com que ela não batesse a cabeça. Ela se debatia toda e caia no chão. Eu e o Léo ficávamos tentando falar com ela para acalmá-la. Eles falavam: ‘não fale com ela, isso é teatro. Quanto mais vocês falarem, aí que ela vai fazer ceninhas. ’ Ele falava: Nágila, pare com isso. Não tem graça, pare já com isso. Não tem a menor graça, pare já. Isso tudo em tom de ameaça. Como se ela estivesse brincando. Quando ela caia, eu ficava tentando proteger a cabeça dela, eles falavam: ‘não precisa se preocupar, ela não vai bater a cabeça. Sabe por quê? Porque ela sabe que dói, não é, Nágila? Ela bate o ombro, mas a cabeça não, não é Nágila? Isso tudo com ironia. Por volta de 3 horas da manhã, de tanto pedirmos ajuda veio um médico e aplicou um sedativo nela. E passou para fazer exame de sangue. Fui ao laboratório, mas a bioquímica estava dormindo e não quis atender. A moça que atendeu com cara de sono falou que ela precisava descansar. Eu pedi: ‘moça, a minha filha está passando mal e o médico quer esse exame urgente. Ela respondeu: ‘Tá bem, tô indo.’ Passou uns 30 minutos. Fui bater na porta novamente, mais uma vez, não atenderam o meu chamado. Lá pra 4 horas uma mulher chegou passando mal, do coração. Foi ao laboratório e elas não atenderam. Ela foi falar com os enfermeiros que ia embora, pois no laboratório ninguém atendia. Mandaram que chamasse novamente, pois ela tinha que fazer o exame. Ela foi chamar novamente a bioquímica e dessa vez fui com ela. Ficamos as duas batendo até que resolveram atender. O resultado saiu às 6 horas, mas não tinha médico para ver. A enfermeira disse que teríamos que esperar para o próximo plantão, pois os médicos tinham ido descansar. Só às 7 horas. Enquanto isso a minha filha estava no chão gelado porque não tinha nem mesmo um lençol para ela, toda urinada. Deu 7 horas, deu 7.30, deu 8 horas e nada de médicos. Fui falar com a enfermeira e ela falou que não tinha hora certa para o médico entrar, principalmente porque a greve já havia começado com a baderna. Resolvi tirar a minha filha de lá, o Léo foi pedir uma ambulância enquanto eu procurava a ficha médica dela, como não enxergo sem os óculos, fiquei procurando e não encontrei, de longe a enfermeira me viu e perguntou o que era. Pedi para ela procurar para mim a ficha, pois eu iria tirar minha filha dali. Ela falou: ‘não, espera 10 minutos, o médico vai aparecer’. Ao perceber a gravidade da saúde dela, logo apareceu uma maca, lençóis e fralda descartável. Rápido eles tiraram ela do chão e tentaram aquecê-la. Mudaram o soro e ficaram muito preocupados pelo fato dela não acordar. Tentaram de tudo e nem sinal. Fizeram novamente exame de sangue. Falaram que a diabete dela estava muito alta. Eu falei: ‘ela não tem diabete, ela é muito sadia, é doadora de sangue. Ela não reagia, eles aplicaram insulina por volta das 10 horas. Pouco tempo depois ela começou a ter convulsões. Eles a levaram para a emergência e puseram ar nas narinas e colocaram um aparelho para medir a respiração. Novamente, comentei com o médico o estado dela quando chegou lá. Aí foi que ele ligou para o neurologista. Ele falou: ‘não se preocupe, o neuro está no São Cosme e Damião, mas esta vindo para cá’. Pediu que eu verificasse os batimentos dela, era para ficar na média de 95 batidas. Ela batia 95, 96, 97, 98. E voltava para 95. De repente todos saíram. E entrou um enfermeiro para fazer um curativo. De repente as batidas começam a baixar. 95, 92, 80, 75 70, 65, 60, 50. Olhei ela. Não respirava, fiquei maluca. Olho para um lado e outro, ninguém. Chamei o enfermeiro e mostrei. Ele falou: ‘Um médico!’ Eu saí correndo e pedi ajuda. Eles correram e a entubaram. Depois falaram que estava tudo bem. Depois não me deixaram entrar. Lá pelas 15 horas tiraram o líquido da coluna para o exame de meningite. Às 18 horas saiu o resultado. O médico chamou eu e o Léo, falou que era meningite, ‘mas não se preocupe, está tudo bem, foi diagnosticado a tempo e ela vai ficar boa. Estamos esperando uma UTI. Já foi feito o pedido para o Cemetron, mas não tem vaga.’ Ela foi transferida só depois das 10 horas da noite do dia 09/06/09. Depois que o meu irmão foi ao Cemetron saber sobre a vaga. Ao entrar no Cemetron foi dada como morte encefálica. Os médicos ao recebê-la já falaram o que ela tinha e que não tinha volta. Ela ficou na UTI do dia 09/06 à 16/06/09, às 17h55min desse dia, ela faleceu”.


Haverá mesmo guerra em Rondônia?


Rondônia em Estado de Guerra


Professor Nazareno*


Um ditado popular afirma que quando os ratos estão se mexendo no porão é por que o navio está prestes a afundar. Claro que Rondônia não é nenhuma embarcação, mas por aqui há muitos roedores inquietos ultimamente. De um lado, o governador do Estado, Ivo Cassol com o seu inseparável chapéu, sotaque caipira e uma multidão de fiéis seguidores. Do outro, Roberto Sobrinho, prefeito da capital, um arremedo de professor e psicólogo e ex-líder sindical. Ambos estão no segundo mandato de seus respectivos cargos. Foram talvez reeleitos não por causa da competência que juram possuir, mas por absoluta falta de opção do nosso minúsculo e alienado eleitorado. O primeiro é catarinense de Concórdia, o segundo é paulista.

Enganam-se os que pensam que isto aqui vive dias intranqüilos como o Irã dos aiatolás ou a insegurança do Iraque dos carros-bomba. A nossa situação é bem pior do que os dois países citados. Rondônia não pode ser comparada nem a Darfur no Sudão ou a Biafra, Somália e Eritréia na África miserável. Enquanto nessas regiões e no Oriente Médio a refrega se dá por motivos políticos, étnicos e às vezes até religiosos, em terras rondonienses os nossos líderes ensaiam um sururu por causa do vil metal mesmo, o dinheiro, a pura ambição. Afinal de contas, a terra dos Uru-Eu-Wau-Wau já está acostumada ao ‘ronco do trabuco’. A imagem que o Brasil tem de Rondônia certamente não é das melhores. Afinal, até senador da República já foi metralhado por aqui.

Recentemente em visita a Porto Velho, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, apresentou balanço regional das obras do PAC em Rondônia. Participaram os ministros das Cidades, Marcio Fortes, e dos Transportes, Alfredo Nascimento. O total de investimentos em saneamento e habitação no estado é de mais de 1,3 bilhões de reais. Mas há muito mais dinheiro que pode ser despachado para cá. A Ministra teria anunciado cifras astronômicas que chegariam a mais de 16 bilhões de reais e isto sem falar na construção das hidrelétricas do Madeira, nos viadutos, etc. A visão da administração petista é dividir o bolo antes que ele esteja pronto, resumiu a futura candidata à Presidência da República.

Com tanto dinheiro em jogo não é difícil entender por que os nossos mandatários estão com os nervos à flor da pele. Todo mundo anuncia imediatamente ‘parcerias’ com o Governo Federal. Os principais sites de notícias da região, aqueles da imprensa marrom, e os outros meios de comunicação se esmeram em apresentar matérias que elogiam ou denigrem a imagem desta ou daquela autoridade dependendo do caso. “O queijo está em cima da mesa e os ratos embaixo dando voltas para ver quem fica com o maior quinhão, para ver quem abocanha a maior parte.” E o espectador desta luta livre, deste boxe tupiniquim, desta falta de vergonha, é o povão, o eleitorado. É esta a visão bem resumida da nossa decepcionante situação atual.

Passeatas são convocadas para apoiar um ou outro nesta contenda. É o prefeito das obras inacabadas contra o governador que pode ser cassado a qualquer momento. Infelizmente estão todos, governador, prefeito e respectivos seguidores, totalmente errados. Rondônia representa menos de meio por cento das riquezas nacionais. O número de nossos eleitores é algo desprezível: em torno de 0,8 por cento do eleitorado do país. Para o Brasil, a nossa importância é muito próxima de zero. E não devemos nos iludir: o restante do país só está nos olhando por causa das hidrelétricas. Nossos representantes deviam se acanhar, pois se fossem rondonienses e gostassem mesmo desta terra, ficariam unidos e lutariam pelos recursos de que tanto precisamos. Como dividir um bolo inacabado?


* O professor Nazareno leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho


sábado, 20 de junho de 2009

E o Brasil não é uma país bom para se viver?




Carta de Zé Roberto (Melhor jogador do Brasil na última Copa do Mundo)


Inicialmente gostaria de expressar minha gratidão ao Brasil. Foi com prazer que por muito tempo defendi a camisa canarinho e me orgulhei de ser brasileiro.

Infelizmente este país não faz mais parte de mim. Por muitos anos vivi com minha família na Alemanha e me identifiquei completamente com o país. A despeito de certos intolerantes e racistas, que são minoria, minha família se integrou totalmente ao modo de vida alemão. Minhas filhas mal falam português e são totalmente fluentes em alemão.

Para voltar ao Brasil, isto pesou muito. Queria que elas se sentissem, como me sentia, brasileiro. Queria que conhecessem o meu país, que falassem a minha língua nativa, queria mostrar o lado bom do Brasil, um pouco diferente daquilo que volta e meia aparece nos noticiários de TV alemão.

A tentativa foi em vão. Muito embora tenhamos ficado em uma cidade muito acima da média do padrão de vida brasileiro (Santos, no litoral de São Paulo), os males que a assolam me parecem regra, não exceção na vida brasileira. Não nos era permitido andar sem seguranças; Minhas filhas não podiam em hipótese alguma passear ou brincar na rua; Ir à praia que fica a menos de 100 m de nosso apartamento também era contra a recomendação do que nos passavam os seguranças e companheiros de clube.

Todo o tempo que estivemos no Brasil, ainda que livres fisicamente, éramos reféns psicológicos. Mesmo sendo um ídolo local, o risco parecia nos acompanhar a cada esquina virada, a cada momento em que passeávamos. A sombra do seqüestro ocorrido dois anos atrás com outro ídolo local, Robinho, nos perseguia por todos os lados.

Assistir o noticiário televisivo alimentava ainda mais nossos medos. Por sorte, minhas filhas não entendem muito bem português. Se entendessem, descobririam um país em que o crime está por todos os lados: está nas escolas, está nas faculdades, está no Judiciário, está no Congresso e está até mesmo na família do presidente. Imagino o choque cultural para elas, criadas em um país com padrões morais tão rígidos. Me ponho no lugar delas e penso como deve ter sido desagradável esta estadia no Brasil. O que pensavam quando dizíamos que elas não podiam andar livremente nas ruas? O que pensavam quando dizia que era melhor não dizer às amigas que eram minhas filhas? Como entendiam que não brincar na rua, que não passear em parques e que sempre andar com aqueles homens que não conheciam era o melhor para elas?

Minhas filhas devem ter detestado o Brasil. Foi com muita alegria que receberam a notícia de que voltaríamos à Alemanha. Além da segurança, há a questão da discriminação. Embora etnicamente muito diferente da população local, minhas filhas sempre foram respeitadas e nunca vistas com menosprezo. Aqui no Brasil, onde todas as raças se misturaram e não dá para saber quem é o que, sofríamos com um tipo de discriminação inimaginável para elas: Éramos vistos como anormais por nossa religiosidade. Por aqui imaginam que negros sofram de racismo na Alemanha, mas praticam uma intolerância inexplicável por sermos evangélicos. Ou, como é dito pejorativamente por aqui, somos "CRENTES", palavra carregada de maus juízos. Dentro do futebol, jogadores como eu que se organizam em grupos chamados de "Atletas de Cristo" são vistos com ressalvas, especialmente pela mídia que acompanha o esporte.

Por todos estes motivos, levo minha família de volta à Europa. Pelo meu sucesso e também pelas nossas escolhas, o Brasil se tornou um suplício para aqueles a quem mais amo. Batalhei a vida inteira para sair da pobreza e ter sucesso profissional. Acima de tudo isto, sempre busquei construir uma família feliz e correta. Hoje, a felicidade de minha família tem como pré-requisito afastá-las do Brasil. Por isto que, ainda que com tristeza, faço o melhor para elas.


Aos meus fãs, muito obrigado. Ao Brasil, “boa sorte.”.


É fácil imaginar a 'cara' dos que ainda não acreditam que esta é uma nação de "jecas". Aqueles que ficam escrevendo bobagens para enaltecer os valores que este país não tem. Os que se contentam em ficar se enganando e acreditando que este 'brasil' é um paraíso de coelhinhos saltitantes e borboletas azuis. Cumpre a todos nós fazer as mudanças necessárias para este país a fim de que fatos lamentáveis com este não aconteçam mais, pois lugar de brasileiro é no Brasil e não fora dele.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

A síntese cultural de um Estado


Expovel: cultura local ou circo dos horrores?


Professor Nazareno*


Acabou a Expovel em Porto Velho, graças a Deus. Foram longos dez dias de barulho, empulhação, poeira, mentiras e circo. Muito circo mesmo para os porto-velhenses, que de uma hora para outra, se viram transformados em moradores da “Capital do Rodeio”. A presepada começou mesmo no dia 06 de junho com um desfile patético pelas principais ruas daqui: mas foi muito bom, pois mostrou a verdadeira cara da nossa cidade com toneladas de sujeiras e lixo no meio das avenidas. E próximo à rodoviária este ano não plantaram aquela estátua ridícula de um boi insinuando que a capital de Rondônia era uma cidade country, como aquelas dos Estados Unidos. Que pena, pois o animal “bem-dotado” com um peão montado completaria o espetáculo circense. Muitos jovens da cidade, embriagados e vestidos à moda country dos americanos, com botas longas, chapéu grande (talvez imitando o ídolo Cassol) e vestimentas de couro, apesar dos quase 40 graus à sombra, completavam a deprimente exibição teatral. Impossível não ter pena ao ver tanta breguice. Um toque medieval em pleno século XXI. Se isto for cultura, não será diferente das outras, mas inferior mesmo. E a grande piada é que ainda existem moçoilas da região que se candidatam à rainha do evento. E pagam para isso. Que trono... Quanta barbaridade...

De fato, situada em plena floresta Amazônica e às margens do lendário e hoje já estuprado rio Madeira, Porto Velho em absolutamente nada lembra as verdejantes cidades da Califórnia e muito menos o próspero e progressista interior do Sul do Brasil. Comparar uma cidade de ‘beiradeiros e barnabés’, onde o contracheque responde por grande parte da economia local, com Barretos, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, Londrina, Maringá ou Cascavel, por exemplo, é de um mau gosto sem nenhum precedente. Parece coisa de político ufanista ou mal informado em ano pré-eleitoral. Aliás, durante o período dos “festejos do peão” o que não faltou foi programa de rádio e televisão abrir espaços para as autoridades falarem à vontade e tecer loas ao pseudo-desenvolvimento do Estado. E os jornalistas de proveta, da imprensa marrom, muitos dos formados aqui mesmo, fazendo perguntas toscas aos políticos. Nestas horas quem se lembra de sanguessugas, mensaleiros, escândalos na Assembléia Legislativa, possível cassação do governador do Estado, prefeito de obras inacabadas, mídia comprada e outros afins?

Rondônia possui um dos maiores rebanhos de gado do país segundo dados do IBGE. O que não se entende é por que a nossa carne não é tão barata assim e boa parte da população do Estado, como os que vão aos espetáculos da Expovel, não tem acesso a essa iguaria. Talvez por isso o Mandi (pequeno bagre que se alimenta de fezes humanas) com farinha d’água seja um prato tão desejado na cidade. Para muita gente pobre deste lugar, degustar um bom e suculento filé ou uma picanha é tão difícil quanto arrematar qualquer objeto ou mesmo comprar um animal lá no Parque dos Tanques. Exposição de produtos agropecuários é coisa da elite. Em todos os negócios que foram fechados por lá só apareciam os poucos ricos do Estado. Para os pobretões, a ‘mundiça’, sobrou a Bailarina da Praça (nosso melhor produto de exportação) dançando com os bêbados ao som de uma dupla caipira chamada Victor & Leo e comendo “churrasquinho de gato” em meio à poeira. Não parecia o inferno de Dante, mas o de Satanás mesmo. Triste espetáculo. Coisa de rondoniense já achando que somos Primeiro Mundo... “Maninha, é o progresso de Rondonha”, afirmavam entusiasmados, alguns nativos, com o inconfundível sotaque.

Para os fazendeiros, os homens de negócios e os grandes pecuaristas do Estado sobrou a alegria dos polpudos lucros. Para os políticos de plantão, a certeza de terem colhido bons dividendos eleitorais e para o povão, a ressaca e a satisfação de saber que ‘sua mais fiel representante’ (a Bailarina da Praça) estava lá, como se no alto de um fictício pódio. Sem nenhuma cabeça de gado no pasto que não possuímos, nós rondonienses já parecemos conformados com a sina de que Rondônia nada mais é do que um quintal (ou curral) dos grandes pecuaristas lá do sul maravilha, a verdadeira Califórnia brasileira. Aqui só engordamos os bois que tanto lucro dão aos forasteiros. Sem plantar nem criar nada, só colhemos Corumbiara e outras mazelas sociais. Não é difícil entender por que com estas ‘papagaiadas’ não se faz jorrar mel e leite das nossas fedorentas ruas. E o pior é que muitos idiotas e pseudo-intelectuais de plantão, os que pensam que pensam, ainda querem discutir identidade cultural, fazeres e saberes de um povo, de uma região, de uma cidade. Quais saberes? Quais fazeres? Qual povo? Qual região? A não ser que a Bailarina da Praça dando suas piruetas seja um expoente cultural desta terra. Santa paciência...

Pelo fato de ser um espetáculo de péssimo gosto, a Expovel não deixou de apresentar o seu saldo de violência e bestialidades. “Três homens, um deles identificado como policial militar, se envolveram em uma briga com tiroteio, no Parque de Exposições, no final da tarde do sábado, quando a cavalgada chegou ao local. Depois de muitos socos e pontapés, um dos envolvidos na confusão sacou da arma e efetuou os disparos. Uma radiopatrulha agiu com rapidez e prendeu os acusados. Populares revoltados tentaram resgatar os suspeitos para linchá-los, mas a viatura saiu rápido em direção à Delegacia Central”, noticiou um site da cidade. Além desse sururu, típico das festinhas mais barrelas, uma jovem de 18 anos que estava se divertindo na cavalgada foi vítima da ação de marginais que teriam estuprado a mesma em um estacionamento localizado na Avenida Campos Sales, região Central da Capital. Segundo ela, teria sido ameaçada por três rapazes que usavam abadás do evento e foi arrastada para o estacionamento. Nada mais típico, nada mais típico... É a Expovel... Como na Roma antiga, estas festas só serviam mesmo para manter o povão adormecido. Aqui, nem isso.

Embora sem pão, a alegria certamente vai continuar. Em Rondônia estamos em plena Semana Santa com direito a espetáculos ao ar livre e ainda que seja o mês de junho, a Paixão de Cristo foi encenada sem maiores problemas. E apesar de Porto Velho ser uma das únicas cidades do país onde a Igreja Católica não festeja o santo padroeiro (24 de maio), sempre tem carnaval fora de época também por esses dias e sem falar na grande festa do “padroeiro de fato” da capital: “São Maracujá, o maior arraial sem santo do Norte do país”. A festança próxima à Esplanada das Secretarias está prestes a começar e certamente em todos estes eventos estarão presentes, só que em camarotes diferentes, as autoridades e políticos do Estado, os pecuaristas gastando suas fortunas, os bajuladores aplaudindo tudo, o povão torrando seus minguados salários e a Bailarina da Praça pulando com os artistas e rindo à toa para animar todos os brincantes. Fica faltando mesmo só o Manelão da famosa banda. E por que não? Afinal, todos somos filhos de Deus...


*Professor Nazareno leciona na escola João Bento da Costa em Porto Velho

sábado, 6 de junho de 2009

"O Brasil nunca foi um país sério"


Brasil: uma nação de “jecas”


Professor Nazareno*


A frase "Le Brésil n’est pas um pays sérieux" (O Brasil não é um país sério) foi atribuída ao presidente francês Charles de Gaulle, quando surgiu uma crise política entre Brasil e França, nos anos 60. A apreensão de pesqueiros franceses que capturavam lagostas na costa brasileira, teria irritado de Gaulle e o levado a dizer que o Brasil não era um país. Segundo a versão corrente, o embaixador do Brasil em Paris, Carlos Alves de Souza, teria acrescentado o adjetivo sério, para amenizar a situação. A crise foi resolvida, mas o mal-estar sempre ficou, apesar do general de Gaulle negar até a sua morte ter dito tal frase. Mesmo sem saber, o estadista francês estava corretíssimo uma vez que se o mundo fosse um corpo humano, já saberíamos qual a parte que caberia ao Brasil representar.

Apesar de ostentar um dos maiores PIB’s do mundo e de ter um mercado consumidor próximo aos 200 milhões de habitantes, o Brasil nunca foi destaque em absolutamente nada desde o seu descobrimento pelos portugueses. Ainda hoje em pleno século XXI não podemos mostrar nada a ninguém que possa trazer orgulho aos tupiniquins. O maior produto de exportação do país ainda continua sendo bumbum de mulher, perna de jogador e meia dúzia de produtos agropecuários como soja, café, frangos e alguns derivados da carne bovina. Itens estes que não necessitam de absolutamente nenhum conhecimento de ponta para serem produzidos. Aqui não produzimos chips para computadores, armamentos sofisticados, carros, telefonia móvel ou qualquer medicamento para a cura de doenças. Até o nosso programa espacial explodiu. Incrível, mas a nossa cultura é inferior; nossa civilização é atrasada e decadente.

Somos uma nação de vagabundos, prostitutas e ladrões em sua grande maioria. Nunca ganhamos um Prêmio Nobel de nada. Nossos filmes jamais ganharam um Oscar. Nunca nos destacamos em tipo nenhum de pesquisa. Não temos a bomba atômica. O fracasso sempre foi a maior marca registrada desta nação. Nosso sistema educacional está falido faz tempo. A grande maioria dos nossos alunos mal sabe ler e escrever o próprio nome e isto após doze anos de escolaridade, em média. A maioria dos nossos empresários na verdade são sonegadores de impostos que ficaram ricos à base do improviso e com muita sorte. Latifundiários é uma praga que sempre infestou os interiores da nação. Competência nesta terra de ninguém é uma mercadoria escassa e que sempre passou longe das nossas escolas e universidades.

Além disso, o nosso presidente é um ex-operário, barbudo, falta-lhe um dedo na mão esquerda e dono de um discurso cheio de metáforas quando se expressa em Língua Portuguesa. As Forças Armadas, que são comandadas por um civil, só se destacaram no cenário nacional quando golpearam as instituições democráticas entre 1964 e 1985 e mergulharam o país numa ditadura que manchou o nosso nome no exterior. Nossas fronteiras são extremamente vulneráveis e parecem um queijo suíço. É por lá que passa a maioria das armas contrabandeadas e quase toda a droga consumida nas grandes cidades. Nossa Justiça é lenta, burocrática e elitista. "De cada dez juízes, sete acreditam que são Deus e os outros três têm certeza", é uma frase muito comum nos meios jurídicos. Gilmar Mendes atual presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) foi acusado de soltar corruptos toda vez que a Polícia Federal os prendia.

O Poder Legislativo do Brasil é uma piada: são 81 senadores e pouco mais de quinhentos Deputados Federais que dispensam qualquer comentário. A Federação é composta por 27 unidades. Todas com Justiça, Poder Legislativo, governadores e gente (ou gentinha). Nem cultura própria este país tem. O Hino Nacional, cuja letra ninguém entende, bem que poderia ser trocado por uma música qualquer, um pagode, por exemplo, que ninguém notaria a diferença. Amor à Pátria por aqui é coisa rara. Então, poderíamos voltar a ser Colônia. Só que desta vez não seria de Portugal, mas dos Estados Unidos, do Japão ou de outro país europeu que tivesse cultura própria, nacionalismo, gente civilizada e acima de tudo cérebros, cabeças que produzem conhecimentos. Seríamos talvez um lugar muito mais respeitado do que esta terra de jecas, matutos e gente interesseira que nem amor têm a este pedaço de chão.


*Leciona em Porto Velho na Escola João Bento da Costa