sábado, 20 de março de 2010

Brasil, um país sem leitores?


Falta de Leitura: De quem é a culpa?


Professor Nazareno*


Há alguns anos, um servente de pedreiro passou no Vestibular de Direito numa faculdade do Rio de Janeiro. Até aí tudo bem não fosse o incrível detalhe de que o indivíduo era analfabeto. O Ministro da Educação de então, professor Paulo Renato, ficou escandalizado com o fato. A comunidade acadêmica ficou em polvorosa. Foi um escândalo. Notícias foram publicadas a respeito, promoveram-se vários debates sobre o assunto. O MEC a partir de então, instituiu a obrigatoriedade de uma prova de Redação para todos os concursos vestibulares (tanto das universidades públicas quanto das particulares), pois acreditavam os sábios do Ministério estar criando assim uma barreira de competência quase intransponível para quem quisesse fazer um curso superior. Ops! Vestibular em faculdade particular?

Os alunos do Ensino Médio do país inteiro, salvo raríssimas exceções, produzem hoje um texto tão bom quanto o que produziria o nosso servente acima citado. Pouco ou nada foi feito para se equipar as nossas escolas de condições para ensinar como se produzir um bom texto. O mercado não tem bons profissionais na área. Muitos professores de Português e até mesmo de Redação não conseguem produzir uma simples lauda com coerência e clareza. A maioria das nossas escolas não tem sequer a disciplina Redação no Ensino Médio. Os mestres não lêem quase nada, pois livros custam caro. O povo não lê. A imprensa escrita, de um modo geral, apenas informa em vez de ajudar a formar. Livros são gêneros tão supérfluos e raros no Brasil quanto caviar de esturjão do mar Negro.

E não adianta muito criar clubes de leitura ou coisas do gênero. Colocar livros como componentes da cesta básica como até já sugeriu um Ministro da Educação é tão ridículo que beira a insensatez. Num país de gente famélica como o nosso, a atividade de ler e produzir um texto passou a ser talvez a mais descartável das ações humanas. Brasileiro não lê, reclamamos. Mas brasileiro come? É preciso reformular tudo, mudar tudo. Fazer uma revolução. A atividade de ler deve sim, começar desde cedo, em casa e incentivada pelos pais. “Um país se faz com homens e livros” (que sejam lidos, é claro). As escolas deveriam cobrar diariamente dos seus alunos a produção de um texto escrito como se fosse uma espécie de ordem do dia.

Além disso, a mídia deveria contribuir com programas de incentivo à leitura e não com essa programação imoral, alienante e sem sentido. Big Brother, Faustão, Xuxa, a Fazenda, Gugu, os programas policias e outras porcarias do gênero deveriam ser extintos da grade de programação, pois nada ensinam e só deturpam e entorpecem a já deficiente e confusa mentalidade do brasileiro. Que contribuição um programa policial dá à cultura e ao país em termos de conhecimento? Geralmente apresentados por psicopatas ou alienados, esses programas são verdadeiros shows de desrespeito aos direitos humanos, de incentivo à cultura da “justiça com as próprias mãos”, além de propagar a desigualdade social entrevistando só os bandidos pequenos, aqueles “que só falam em juízo”.

Infelizmente não será essa greve de professores ou outra qualquer que vai resolver este delicado problema. Nem aqui nem em qualquer outro lugar do país. As eleições já se aproximam e de novo nenhum alento no horizonte. Vamos reconduzir aos cargos para nos governar os velhos de sempre: mensaleiros, sanguessugas, corruptos, mentirosos, ladrões, compradores de votos, estelionatários, bandidos e enganadores de fé alheia. Os raríssimos eleitos que têm compromissos com a educação, com a cultura do povo, se perderão no “oceano de mediocridade” em que se transformou a política nesta nação de semi-analfabetos. O Brasil só vai mudar quando a maioria do “e-leitor” se conscientizar da importância do ato de ler para promover as transformações sociais de que tanto necessitamos para o nosso progresso. Só que estamos a “anos-luz” desta realidade, desta utopia. Uma pena.


*O professor Nazareno leciona na Escola João Bento em Porto Velho.


14 comentários:

Unknown disse...

concordo que há uma gama de professores desqualificados ministrando aulas... pra você ver como é, tem até gente formada em comunicação social e pedagogia dando aulas de português!

Ex-aluno do tio Naza disse...

Infelizmente o Rafael parece que nunca teve aulas com o professor Naza. Um dos melhores professores que eu já tive. Me ensinou a pensar e a trabalhar com as palavras. O fato de ser formado em Comunicação Social e em Pedagogia só demonstra que o mesmo tem cacife para ministrar boas aulas como realmente faz e fez nas escola por onde passou. Uma pena que o Rafael do comentário acima não tenha percebido isto e pensa como a mioria dos alunos frustados e burros que nada aprenderam com outros professores. Esse Rafael não foi insentivado a ler nem a pensar como o Tio NAza manda seus alunos fazerem por isso fica escrevendo besteiras e com dor de cotovelo pelo sucesso dos outros fica morrendo de inveja achando que não poder ser igual ao professor Naza. Pode ser até melhor do que ele basta deixar de ser invejoso e começar a dar valor a leitura como ele fez e manda todos fazer. Se todos os professores fossem como ele é a educação do Brasil já teria mudado, tenha certeza Rafael. Se quizer um conselho vá no JBC ou no Classe A e peça para assistir as aulas dele aí você mudará de ideia.

Wanderley disse...

EXCELENTE ARTIGO PROFESSOR. UM PAÍS MELHOR SOMENTE SERÁ POSSIVEL SE ALIARMOS O HOMEM E OS LIVROS. SEM ESSA COMBINAÇÃO, NADA FEITO.

Antônio de Souza Alencar disse...

Grande artigo professor Nazareno. os seus escritos estão cada vez mais se superando. Muito boa analise dos fatos que o senhor coloca. Porque os politicos não leem o que o senhor escreve para mudar a educação? A secretária de educação devia ver isto e o sindicato também. o senhor deu uma bofetada na cara de muita gnte. Todos nos somos os culpados. Pais, filhos e professores e autoridades do pais e do estado. Todos que trabalham na educação e nas escolas deviam pensar assim como o senhor pensa. a nossa televisão é um lixo e não ensina nada, o senhor tá certo quando diz assim. Brilhante artigo. Está de parabéns o senhor e o site rondoniaovivo. Uma pena que a mioria da população não tenha internet para ler e refletir sobre estas verdades que o senhor tão bem espõe para nós, seus leitores. Precizamos de uma revolução mesmo, a revolução da educação.Sem ela nada vai adiantar. Nada vai mudar. OBRIGADO

Rodrigues disse...

O professor tem razão e concordo em partes com a opinião dele, mas cadê a participação dele na luta social para acelerar a revolução que ele defende em seu texto, a educação sozinha não muda a sociedade está provado cientificamente ela ajuda em uma pequena parte. É um ledo engano esta afirmação. A educação no capitalismo é um dos braços de sua sustentação para permanecer de pé. Em relação ao gosto pela leitura concordo plenamente pois é através da leitura e com intervenção na luta que a revolução social virá.Porque a crítica pela crítica não leva a nada o sujeito se torna somente um crítico. te conheço Nazreno

Ivanilson Frazão Tolentin disse...

Caro Professor Nazareno! Esse seu artigo é o tipo do texto que a gente lê e, apenas, concorda. Aliás, esses dois últimos artigos escritos pelo senhor abordando a questão da educação, estão excelentes. Uma pena que as suas palavras não consigam conscientizar a massa da população, aquela que, de fato, decide as eleições. Essa parcela do povo, infelizmente, é a turma que acha a televisão brasileira muito boa, que ouve as músicas que fazem sucesso nas rádios locais, fica com raiva quando o senhor fala dos problemas de Porto Velho e que ler um livro é um sacríficio. Professor, continue escrevendo essas verdades. Tenha certeza que eu continuarei lendo. Ou seja, um leitor, com certeza, o senhor tem. Ivanilson

João Maia disse...

"O que não tem remédio, remediado está" é desta forma que os políticos e a maioria dos profissionais da educação veem o sistema de esnsino brasileiro. Parabéns pelo artigo, muito objetivo.

Marlene Souza disse...

Concordo com o professor Nazareno e acredito que o Brasil como um todo está precisando de uma grande mobolização em prol de melhorias na educação. Estas melhorias começam pela formação dos profissionais, pela valorização, diminuição de carga horária e melhores salários. Uma cobrança da sociedade por educação de qualidade ajudaria bastant, a escola deve ser parceira da família e da sociedade Livros nesse país são caros demais, como diz o professor, mas a maioria das pessoas não leem nem o rotulo do produto que compram.

Jorge Santos disse...

SÓ QUEM LECIONA CONHECE A FALTA DE INTERESSE DE CERCA DE 95% DOS ALUNOS.FALEI 95% POIS EXISTEM AINDA UNS POUCOS QUE SE DEDICAM E ENXERGAM A ESCOLA COMO UM CAMINHO PARA TRILHAR O SEU FUTURO.MESMO ASSIM, ESSES POUCOS BONS ALUNOS AINDA SÃO LIMITADOS QUANDO O ASSUNTO É REDAÇÃO. NÃO SE TRABALHA A LEITURA E REDAÇÃO NAS ESCOLAS, OS PROFESSROES DAS DISCIPLINAS SE ESQUIVAM POIS "SE COBRAR REPROVA UMA CACETADA" ENTÃO PREFEREM "FAZER DE CONTA" PARA NÃO TER DOR DE CABEÇA.JÁ EXISTE A MUITO TEMPO A MODALIDADE DE ENSINO E.J.A ( EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ) UMA VERDADEIRA FÁBRICA DE IGNORANTES, HOJE FUNCIONA COMO O ANTIGO MOBRAL. PESSOAS EM SUA MAIORIA SEMI-ANALFABETAS QUE GANHAM O SEU DIPLOMA SEM SEQUER SABER LER E ESCREVER.E, PARA PIORAR, VEM OS BADERNEIROS, UNS MOLEQUES E MENINAS QUE VÃO PARA O COLÉGIO PARA ATRAPALHAR OS POUCOS QUE AINDA QUEREM ESTUDAR. MUITOS SE MATRICULAM COMO UMA FORMA DE ALICIAR E COMERCIALIZAR DROGAS DENTRO DA ESCOLA. PARABÉNS, PROFESSOR NAZARENO. EXCELENTE ARTIGO. INFELIZMENTE, A REALIDADE É ESSA.

Maria da Conceição N. Vieira disse...

O artigo do nobre colega vem em boa hora, como disse, poucas pessoas terão acesso. A culpa para a falta de leitura, será creditada à própria sociedade. São pouqíssimas as pessoas que se dedicam a pelo menos folher um livro. Se você não lê, não tem como raciocinar corretamente nem tão pouco resolver um simples problema que precisa apenas de interpretação. As escolas deveriam ter como incentivo para essa juventude que está aí, os livros para-didáticos e depois fizessem uma roda de questionamento (junto com o professor de produção de texto) sobre o tema escolhido, então não nos depararíamos com pessoas que ficam boiando quando estão ouvindo algo e não sabem interagir a respeito.

JJosiane Brunago Saukio disse...

Concordo plenamente e o parabenizo por esse grito corajoso de alerta!

Rafael disse...

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Luiz Fernando disse...

enquanto o brasileiro nao abri os olhos e começa a ler o brasil continuara do jeito que sempre foi. professores fazendo greve,passagem de onibus aumentando ,a violencia predominando ,e \'\'povo \'\' aceita tudo ! nimguem reage os politicos roubam nosso país e todos ficam calados.

Unknown disse...

Professor, acredito que o senhor e pelo menos uma parte dos seus alunos vão gostar do Tema do Dia no site do meu candidato a presidente... http://joseserra.org.br/tema-em-destaque/estimulo-a-leitura-politica-de-serra Gostei muito do seu texto, é inspirador.