domingo, 23 de outubro de 2016

Porto Velho para forâneos



Porto Velho para forâneos


Professor Nazareno*



            Porto Velho, a inóspita capital explorada, é uma das piores cidades do Brasil. Dizer que é o fiofó do mundo é um desrespeito, uma injustiça a esta parte do corpo humano. Dentre as 27 capitais do país, fica no 26º lugar em IDH. Tem, segundo o Instituto Trata Brasil, apenas dois por cento de saneamento básico e menos de 30 por cento de água encanada. É uma cidade suja e imunda, todos que moramos aqui sabemos disto. Parece até que existe nesta capital uma cultura pela podridão já impregnada há tempos nas pessoas e autoridades. Aqui há uma verdadeira adoração pela sujeira, pelo lixo e pela carniça. Nas campanhas eleitorais, como agora, o problema vem à tona e depois passa, todo mundo esquece e volta a sua vida feliz no monturo. Mário Português “levantou a lebre” em 2012. Agora, foi a vez de Hildon Chaves alertar os nativos.
            O pernambucano natural do Recife e atual candidato do PSDB à prefeitura de Porto Velho, ao constatar o óbvio, teria dito que “ninguém vem para Porto Velho nem com passagem barata”. Ele só errou ao dizer que a passagem seria barata. Hoje para sair daqui as empresas aéreas cobram menos da metade do preço para quem quer vir. E como ninguém em sã consciência sairia de seus aprazíveis lugares para ir ao inferno, a demanda caiu e como consequência os preços das passagens aéreas, que já eram caros, aumentaram consideravelmente. Vir para Porto Velho só mesmo a negócio ou para retirar um parente doente. A chiadeira foi geral, como se isso aqui fosse uma espécie de éden, um paraíso escondido entre a mata e os rios amazônicos. Os eleitores do outro candidato, o paranaense Léo Moraes, aproveitaram para explorar o fato pouco inusitado.
            Mário Português disse com todas as letras que Porto Velho se parecia com uma favela num total desrespeito às favelas, claro. Mauro Nazif, natural do interior do Rio de Janeiro ficou irado com essa declaração, mas nada fez nos quatro anos de administração para provar o contrário. O caos reinante nesta cidade é culpa de cada um de nós, seus moradores. Óbvio que o Poder Público colabora e muito com a desgraça. As promessas corriqueiras das campanhas eleitorais anestesiam os esperançosos e ingênuos eleitores. Visitar a capital das “sentinelas avançadas” é uma operação de risco e os dois candidatos sabem disso. Não entendo a declaração de amor que eles, com a maior cara de pau, fazem a Porto Velho. Um abraça, o outro cheira só para ganhar nosso voto. Filantropos eles não são, mas todos os nativos creem na conversa fiada desses forâneos.
            Porto Velho nunca teve um só prefeito nascido na terra. Mas não é por isso que é essa pocilga fedorenta. O perfil do eleitorado local é estranho: “dar tudo aos forasteiros e nada para os nativos”, parece ser a filosofia karipuna. Se os de fora não amarem isto aqui, nenhum nativo o fará. O sujeito, já falido e sem perspectivas, geralmente vem para cá, trabalha, ganha rios de dinheiro, manda tudo para a família lá no Estado de origem, onde investe parte do que ganhou, e quando se aposenta volta para a sua terra natal. Por que Léo Moraes e Dr. Hildon Chaves não se juntam para o bem da cidade que um deles vai administrar? Dividem os eleitores, inventam mentiras e lorotas e no fim das contas quem perde somos todos nós, moradores de uma cidade sem a menor estrutura para se viver de forma decente. Não acredito em promessas eleitoreiras, claro. Mas torço para que o vencedor do próximo domingo faça uma excelente administração. Precisamos!



*É Professor em Porto Velho.

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