quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O João Bento e a poça d’água

O João Bento e a poça d’água


Professor Nazareno*


            O resultado final do desempenho das escolas no ENEM de 2015 só foi divulgado em outubro deste ano quase um ano depois de realizadas as provas. Nenhuma novidade foi verificada. A distância entre as escolas públicas e as escolas particulares do Brasil continua imensa. O sistema educacional do país, claro, ainda está em frangalhos sendo por isso mesmo considerado como um dos piores do mundo. O ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio é apenas um termômetro, dentre muitos, que procura avaliar o desempenho dos alunos e das escolas de Ensino Médio de todo o país. Em Rondônia também não houve muita diferença dos números nacionais, mas dependendo do ângulo que se olhe é possível encontrar estatísticas que podem suscitar algumas reflexões. Veja-se o exemplo da Escola Professor João Bento da Costa na zona sul de Porto Velho.
          Numa contagem geral, a referida escola ficou em terceiro lugar no Estado dentre as escolas públicas. O IFRO de Vilhena, escola da rede Federal, ficou em primeiro lugar e a boa escola Tiradentes de Porto Velho, em segundo. Porém, os números do João Bento da Costa disparam e se tornam envaidecedores se forem considerados somente os trinta melhores alunos por escola, ranking que o IDEB também disponibiliza em seu site. A escola da zona sul de Porto Velho fica em segundo lugar geral incluindo aí todas as escolas públicas e particulares de Rondônia. Adotando-se ainda o mesmo critério, em Redação, uma das provas do ENEM, o João Bento aparece com a melhor nota do Estado e desbanca todo o resto. Incrível, nesta mesma disciplina fica em segundo lugar nacional dentre todas as escolas estaduais. Perde só para uma escola de Uberlândia/MG.
           “Os alunos dos terceiros anos de 2015 foram fantásticos, incríveis”, avaliam os professores do Terceirão daquela escola pública. Para este ano, os meninos estão muito empolgados e querendo quebrar todos os recordes nas provas que serão realizadas em novembro próximo. Embora não se fale em outra coisa naquele ambiente escolar, um temporal recentemente quebrou três telhas e quando chove, uma poça de água incomoda, claro, as aulas em uma das salas do terceiro ano. Por isso, grande parte da mídia de Porto Velho esteve na escola para noticiar o fato. Óbvio que a situação da infraestrutura da escola é lamentável. Mas parte da mídia de Porto Velho foi lá e só viu isso: a água da chuva dentro da sala. O engraçado é que para cobrir alguma coisa no JBC como simulados, arraial, aulões ninguém aparece com tanta garra e disposição.
      Parte da mídia de Porto Velho tem cor: é marrom e metida a sensacionalista. Até na campanha eleitoral deste ano, por exemplo, alguns sites já tomaram partido e defendem com unhas e dentes seus candidatos preferidos. Por quê? O eterno problema da falta de estrutura de nossas salas de aula devia ser investigado, sim. Ou então por que mesmo sem infraestrutura algumas escolas têm excelente desempenho no ENEM? O triste episódio da poça de água na escola JBC, no entanto, foi igual ao "jornalista" que foi cobrir uma reunião na Câmara de Vereadores de uma cidade e depois ligou para o seu chefe dizendo que não deu para fazer nenhuma matéria porque houve um incêndio e os vereadores que fariam a reunião morreram todos. Realmente: como escrever algo se todos os envolvidos morreram? E como mostrar a excelência do Colégio João Bento da Costa de Porto Velho se havia uma poça de água em uma de suas salas de aula? Triste!



*É Professor em Porto Velho.

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