A
“Munique brasileira” pede socorro
Professor Nazareno*
Segundo o Instituto Trata Brasil, Porto Velho, capital de Rondônia, é o lugar que tem o menor percentual de saneamento básico e água tratada dentre as cidades acima de 200 mil habitantes e também entre as capitais do país. Essa informação é nova, mas poderia estar sendo noticiada desde 1914, ano oficial da fundação do município em fins do Primeiro Ciclo da Borracha. Nascida para ser a “latrina do Brasil”, a capital dos rondonienses é um exemplo às avessas de como seria o protótipo de uma cidade humanamente decente para ser habitada. Com uma população urbana inferior a meio milhão de pessoas e prestes a completar um século de existência, Porto Velho nada tem de bom em termos de infraestrutura para oferecer aos seus moradores. Nem o arquiteto Oscar Niemayer, falecido recentemente, teria soluções concretas para salvar os porto-velhenses do monturo, da carniça, da sujeira, da poeira e das alagações.
E
foi exatamente no dia da morte do grande arquiteto que a cidade viveu mais um
de seus piores momentos. Mesmo acostumada ao caos, a população sentiu medo e
pavor e viveu momentos de horror com o forte temporal de pouco mais de duas
horas. Foram cerca de 12 milímetros de chuva forte prenunciando a desgraça que
vem pela frente, já que está apenas iniciando o rigoroso inverno amazônico.
Além de ser a “fossa do país”, Porto Velho parece ser também uma cidade
amaldiçoada: entra Prefeito e sai Prefeito e a situação de calamidade pública
insiste em continuar. Desde o major Fernando Guapindaia até Roberto Sobrinho
que os moradores daqui sofrem com a lama, a poeira, os animais mortos, os
tapurus, as fossas estouradas, a falta de esgoto e as alagações. O desafio do
futuro Prefeito, médico Mauro Nazif, é hercúleo, embora ele já tenha prometido
publicamente que vai resolver o caos e a desgraça.
Sabe-se
que parte da sujeira e da carniça dessa cidade é culpa de nós mesmos, os
moradores que, infelizmente, não temos a cultura de limpeza e higiene como
acontece com a maioria dos habitantes de Munique e de outras grandes cidades
europeias. Porém, dentro da maioria das repartições públicas e palácios daqui,
a sujeira e a imundície também campeiam. É Operação Vórtice e Endemia na
Prefeitura Municipal, Operação Termópilas na Assembléia Legislativa, Operação
Pretório no Tribunal Regional do Trabalho e OAB, CPI dos Consignados no Governo
do Estado. Isso só para citar as operações atuais. Não se sabe onde há mais
sujeira. Praticamente não há uma única área do Poder Público onde não haja
carniça, ratos, imundície e monturo. Por isso, a capital, que precisa
urgentemente de verbas para sanear suas ruas, fica jogada às traças e a sua
população sofrendo afogada na catinga, sujeira e falta de esgotos.
Uma
recente reportagem mostrou a situação dos banheiros da nossa única rodoviária.
Nunca se viu tanta imundície, fezes e sujeira num único órgão público. A
entrada da cidade parece que foi alvo de um intenso bombardeio aéreo. É tanta
lama, bichos mortos, tapurus e buracos que se parece com a entrada do inferno.
Sem árvores, flores, praças e locais de lazer, Porto Velho lembra uma cidade
fantasma já abandonada há tempos pelos seus administradores e moradores. Há a
nítida impressão de que seres humanos normais não conseguem habitar neste “buraco
quente”. Só mesmo ratazanas, cachorros, sapos, sanguessugas, cobras, lacraias,
aranhas, escorpiões e percevejos. Porém, a Justiça e o bom senso sabem que
matando, extinguindo e prendendo boa parte desses “ratos”, a limpeza e a
higiene podem, em pouco tempo, nos fazer companhia. Aqui, parece que ser ladrão
e corrupto virou status. E por favor, não me mandem embora, pois é a cidade que
infelizmente escolhi para viver, criar e educar meus filhos e netos. Nem me
peçam soluções, sou apenas um simples professor. Mas como comprar flores numa
cidade tão imunda e sem flores se há quase 30 anos eu só tive vergonha de ser
morador daqui?
*É
Professor em Porto Velho.
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