É
gostoso falar (mal) dos outros
Professor Nazareno*
Não sei se Sócrates ou Platão, ou
nenhum deles, falando sobre leitura de mundo, teria afirmado que as pessoas, em
relação ao saber, se dividem em três tipos: os sábios são aquelas que falam
sobre ideias, os normais falam sobre coisas e os medíocres são aqueles que
falam sobre pessoas. Os indivíduos inteligentes discutem ideias, são geralmente
empreendedores, discutem suas aspirações, projetos para o futuro, para si ou em
conjunto com seus entes queridos. Já as pessoas comuns ou normais falam sobre coisas
do cotidiano, acontecimentos recentes ou passados. Enquanto que as pessoas medíocres
são vulgares, bisbilhoteiras, fofoqueiras e só se preocupam em falar mal dos
outros. O dia-a-dia dos medíocres se resume a intrigas e futricas, a falsos
julgamentos, a bater o martelo muitas vezes sem nenhum conhecimento de causa. O
medíocre geralmente nada conhece e se guia pelo senso comum.
Mas convenhamos: é gostoso falar
mal dos outros. Eu também gosto e confesso que às vezes sou flagrado “descendo
a língua” principalmente em quem está ausente. Só que é preciso se policiar
para não passar dos limites. É preciso entender até que ponto a nossa atitude
medíocre não vai causar problemas para terceiros, não vai desencadear crises
insolúveis e mexer com que está quieto. Deve ser por isso que no Brasil, que
tem uma sociedade extremamente medíocre, a bisbilhotice e a fofoca fazem
sucesso nacional. O alheio em nosso país é da conta de todo mundo. Como se
fosse uma coisa rotineira e mais do que normal, aqui se fala mal do vizinho, da
filha do vizinho, da mulher do vizinho, do conhecido, do parente, do padre, do
pastor, do Governador, do Prefeito e até da Presidenta. Ninguém em nosso país
está a salvo da maldade alheia e das fofocas. Até a mídia, muitas vezes, ajuda
a meter a língua nos outros.
Incrível, mas os programas de
maior audiência da nossa televisão são exatamente aqueles que cuidam da vida
dos outros, da bisbilhotice pura e simples como novelas, BBB e outras porcarias
televisivas que especulam sobre o que os outros fazem em sua intimidade. Na
internet só dão audiência as matérias que especulam sobre fofocas, intrigas e
comportamentos. A adolescente desapareceu? Chegou tarde a casa? Rompeu com o
namorado? Está de namorado novo? Com quem ela saiu? Dormiu fora de casa? O que
seus pais disseram? Alguém falou sobre o fato? Milhares de comentários. Pessoas
até então desconhecidas dão palpite, opinam, dão conselhos, censuram. Tudo
terminou bem e por isso jornalistas se aborrecem na suposta matéria perdida. Os
programas policiais, típicos de gentinha sem bom senso, sem a menor leitura de
mundo, fazem muito sucesso e estão entre os carros-chefes das emissoras de
rádio e televisão.
Até falar de coisas normais é
possível. Impossível mesmo é discutir ideias, pensar sobre o futuro, tecer
comentários inteligentes sobre a sociedade e as pessoas. Não discutimos
política, não participamos das decisões mais importantes da nossa sociedade nem
nos preocupamos com o nosso destino. Não falamos sobre a qualidade da nossa
Educação, da Saúde pública ou do saneamento básico da nossa cidade. Mas
queremos saber quem matou a mocinha da novela ou engravidou a boa jovem que com
ela contracenava. Por isso, enquanto a nação for refém desta maioria medíocre e
burra as coisas jamais se consertarão. Grande parte do nosso eleitorado é
alienada, burra e despolitizada. Poucos votam com consciência e conhecimento. Falamos
mal dos outros como se eles não vivessem a nossa mesma realidade. Para muitos
de nós, brasileiro é sempre o outro. O Facebook, por exemplo, só faz tanto
sucesso no Brasil porque somos fofoqueiros. Até pessoas semianalfabetas estão
nas redes socais bisbilhotando a vida dos outros. Ou então escrevendo textos que
falam sobre pessoas ou lendo e comentando estes textos.
*É
Professor em Porto Velho.
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