terça-feira, 22 de agosto de 2017

Porto Velho sem porto


Porto Velho sem porto


Professor Nazareno*

            
              Recentemente o renomado vidente paulista Valter Arauto, que para mim é um ilustre desconhecido, previu que a cidade de Porto Velho, a eterna capital de Roraima, seria destruída por um desastre. O “guru” Valter já teria acertado várias previsões como a queda do avião da Chapecoense e o recente apagão que aconteceu em Rondônia, Mato Grosso e Acre. Só que desta vez o “adivinho” pode ter errado feio, pois não se pode mais destruir o que já está destruído há tempos. O fim sistemático da “capital dos roraimenses” começou a acontecer no longínquo ano de 1914, data que ironicamente coincide com a sua (a) fundação. Prosseguiu anos a fio e hoje, em pleno século XXI, é uma cidade destroçada, uma espécie de terra arrasada, um lugar ermo, distante, mal administrado e que nunca proporcionou nenhum conforto aos seus corajosos moradores.
              O Instituto Trata Brasil mostra esta capital como uma das piores cidades do mundo para se viver. Tem menos de 30 por cento de água encanada (e não tratada) e somente dois por cento de rede de esgotos. Fruto de invasões e problemas fundiários, esta capital sempre foi cortada por igarapés sujos e imundos que foram, ano após ano, transformados em esgotos que escorrem a céu aberto. Porém, pior do que suas águas pútridas e infectas são seus administradores. Nenhum deles, desde o major Guapindaia, parece ter demonstrado qualquer resquício de amor à cidade. Muitos deles vêm, administram e depois caem fora para morar em lugares mais civilizados e atrativos. O atual prefeito, por exemplo, “que diz não ser um político”, tirou férias com apenas seis meses de trabalho e em vez de conhecer melhor a cidade viajou para a Disney e Paris.
            Lugar amaldiçoado, feio, sem estrutura urbana nenhuma e abandonado pelas autoridades, Porto Velho nem porto tem mais. Até que o consórcio que construiu uma das três hidrelétricas do lugar doou ao município um porto rampeado e limpo, que seria uma espécie de pagamento dos exploradores aos explorados. Usado por pouco tempo, o trambolho não funciona mais e corre o risco de afundar de vez no rio Madeira comido pela ferrugem e condenado pelo esquecimento. Quem quiser visitar São Carlos, Nazaré ou mesmo Calama terá que enfrentar um barranco sujo, fedido, escuro, escorregadio íngreme e perigoso. Como os ricos, as autoridades e os políticos quase não viajam para a bucólica região ribeirinha, a tendência é que a situação de desespero, vergonha e caos permaneça ainda por muito tempo. Para que serve mesmo nossa Câmara de Vereadores?
            Assim, Porto Velho continua tristemente a sua lenta agonia rumo ao fundo do poço. Do seu acanhado aeroporto internacional, que não faz viagem nem para a Bolívia, do seu ainda inacabado Espaço Alternativo e das suas outras inúmeras obras eleitoreiras feitas a “cu de cavalo”, como a ponte escura e os famigerados viadutos imprestáveis, a cidade luta para não desaparecer do mapa. “Visite Natal, visite Curitiba, visite Salvador. Vá a Disney, vá à Europa”. São as placas mais comuns que se veem espalhadas de forma acintosa por aqui. Imagine-se então Salvador sem o elevador Lacerda e a baía de Todos os Santos, Paris sem o rio Sena e a torre Eiffel ou o Rio de Janeiro sem a baía da Guanabara e o Corcovado. Sem o porto que lhe deu origem e nome, sem infraestrutura urbana e sem administradores que a amem e dela cuidem com paixão, a cidade afundará no lodaçal esquecida entre o horror, o lixo e o monturo. “E nunca se fará de novo”.




*É Professor em Porto Velho.

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