Professor Nazareno*
A cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti, foi sacudida em janeiro último por um violento terremoto de magnitude absurda que causou a morte de quase 200 mil pessoas e provocou prejuízos incalculáveis àquele paupérrimo país caribenho. Disso, muita gente ficou sabendo. Sabemos também que este país é o mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo. Seu PIB é baixíssimo assim como o seu IDH. Grande parte de sua gente é descendente de escravos e a nação ocupa a porção ocidental de uma ilha. Tem uma população de quase nove milhões de habitantes espremidos numa área territorial pouco maior do que o Estado de Sergipe, o menor entre os estados brasileiros.
O Brasil, desde o ano de 2004, lidera no Haiti vários militares através da Minustah, sigla em francês para Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. Sem ter muito que fazer em nosso país, as nossas Forças Armadas, por meio do “Governo dos Companheiros”, mantêm cerca de mil e duzentos militares que se revezam periodicamente para ficar no Mar das Antilhas. O que muita gente pode não saber é que se for feita uma hipotética comparação entre o nosso país e aquela nação caribenha e que envolva governo, política, cultura, tradição e história, certamente nós vamos perder feio em qualquer um desses itens comparados.
A começar pela língua falada. A maioria dos haitianos se expressa em Francês, língua muito mais importante do que o Português junto à comunidade internacional, e quase todos os habitantes falam Krèyol (Crioulo), a outra língua oficial da nação. O Inglês é cada vez mais falado entre os jovens e no setor empresarial. Devido à proximidade com a República Dominicana, o uso do Espanhol também é muito incentivado. Por isso existe um número cada vez mais crescente de haitianos bilíngües ou trilíngües. No Brasil, mal falamos o Português. Línguas como Inglês, Espanhol ou Francês têm tanta importância entre os brasileiros quanto o idioma Grego na Rússia. Somos um país de analfabetos.
O Brasil aboliu a Escravidão em 1.888 enquanto no Haiti isso aconteceu quase cem anos antes. A nossa Independência veio em 1.822, dezoito anos após os haitianos se libertarem da França. E nos dois casos, tanto a Abolição como a Independência mostram a superioridade daquele povo sobre nós. Lá os movimentos nasceram no seio do povo como desejo de libertação e de preservação das identidades nacional, lingüística e cultural e da vontade de conquistar a autodeterminação do seu povo. Aqui esses movimentos nasceram da elite, em gabinetes, e em conluio com interesses espúrios num desejo absurdo de manter os pobres subjugados à vontade dos ricos. Há mais de 05 séculos é assim. Nada muda.
Além do mais, o Haiti é um país renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia. Por lá cresce diariamente o ódio contra “a intervenção brasileira”. Então, o que o Brasil fez em seis anos de ocupação no país? Absolutamente nada, pois as casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo são problemas corriqueiros agravados agora com o terremoto e que não foram resolvidos com a presença de milhares de militares estrangeiros. Com tantos “Haitis” por aqui os nossos militares deviam se acanhar e voltar para casa. Talvez ajudassem a atenuar os nossos problemas: dengue, violência nas favelas, miséria, lixo, corrupção...
Cerca de seis milhões de haitianos vivem na miséria total. Aqui são quase 50 milhões, ou seja, oito vezes mais. No Haiti isso é normal enquanto aqui devia ser imoral, já que somos a nona economia do planeta. Déspotas, políticos ladrões, corrupção no Estado, compra de votos, intimidação de opositores, democracia relativa, epidemias, falta de saneamento básico, desmandos, incompetência das autoridades, mentalidade golpista dos militares e passividade do povo são itens em que só empatamos. Após doar 20 reais às vítimas do terremoto haitiano, fui abordado por um brasileiro
*Leciona na Escola João Bento da Costa
3 comentários:
E como se diz nos "axés" brasileiros...
Aqui não tem terremoto.
Concordo com seu ponto de vista nazareno, o Brasil se preocupa tanto com a imagem mostrada ao mundo, que esquece de cuidar de seus próprios problemas. Isso me lembra um provérbio chinês que diz, "Antes de sair pra mudar o mundo, dê três voltas ao redor de sua casa".
concordo com voce tambem mas estou em busca de uma pesquisa para a faculdade sobre o nordeste brasileiro e o haiti ele sao muito parecidos a pobreza, falta de comida, falta de escolas, a seca, entao pensei que iria ficar legal se vc postasse no blog sobre isso.
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