sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Porto Velho, capital dos Ipês

Porto Velho, capital dos Ipês

 

Professor Nazareno*

 

Porto Velho, a eterna capital de Roraima tem vários outros nomes. “Capital dos Destemidos Pioneiros”, “Capital das Sentinelas Avançadas”, “Cidade das Hidrelétricas” e agora mais recentemente, a “Capital dos Ipês”. Porém, o nome mais apropriado no momento para a pior dentre as capitais do Brasil em qualidade de vida seria “A Cidade da Fumaça”. Não há o que se negar: neste tórrido verão amazônico, alguns pés de Ipês da cidade também conhecida como “A Latrina do Brasil” florescem dando um colorido diferente a algumas ruas da “Capital da Fedentina”. Mas apesar de muito belos, eles não são vistos tão facilmente. A fumaça das criminosas queimadas encobre qualquer vista da rica e bela flora local. Os pés de Ipês rosa, principalmente, estão ali amontoadas e bem dispersos no meio da grama seca e da água fedorenta que escorre a céu aberto pelas ruas.

           O próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, disse recentemente que se considera “um mártir do direito” por ter deixado de ir aos jogos Olímpicos em Paris para cumprir agenda em Porto Velho, Rondônia e em Rio Branco no Acre. Deixar de ir à “Cidade Luz” para vir a Porto Velho não é se martirizar apenas. É o cúmulo do azar e da infelicidade para qualquer cidadão civilizado. Paris é a cidade mais visitada do mundo, enquanto ninguém de bom senso gostaria de vir a esta capital. A intensa fumaça nesta época do ano deixa as pessoas literalmente respirando cinzas. Porto Velho tem hoje o pior ar para se respirar no Brasil. Sem ter uma única indústria, os céus por aqui nunca foram azuis como diz de forma mentirosa um hino que se canta de maneira aleatória. “Azul, nosso céu é sempre azul”. É só hipocrisia e mentira para um céu chumbo.

              Tocar fogo no que resta da mata para expandir o agronegócio já virou rotina em Rondônia há muito tempo. Todo ano no verão, a ladainha é a mesma. Os órgãos de defesa do meio ambiente parecem que nem existem por aqui. E este ano de 2024 está muito pior do que nos anos do Bolsonaro, quando o ex-presidente incentivava abertamente o fogo na Amazônia. Neste aspecto, o governo Lula está sendo pior do que o governo de Jair Bolsonaro. Além do mais, funcionários de muitos órgãos, que são responsáveis pela fiscalização desses incêndios, estão reivindicando aumento nos seus defasados salários. Enquanto isso, o fogo toma conta sem dó da Amazônia e para esconder e escamotear a triste realidade, plantam-se Ipês em meio à lama e ao esgoto somente para deslumbrar os incautos eleitores. Ignorando a catinga e a água fétida muitos vão fazer as suas “fotinhas”.

              Não só fazem fotos para as redes sociais como também ficam elogiando os seus políticos. A fumaça que leva crianças, doentes e velhos para os poucos hospitais nem é sentida. “É assim mesmo todo ano”, dizem alguns já devidamente conformados com o caos. A grama esturricada e seca contrasta, no entanto, com a beleza daquelas raras flores que em vez de estarem no alto, deveriam florir as ruas e as raríssimas praças do lugar como acontece, por exemplo, em Maringá, a “Cidade Canção” do Paraná e várias outras cidades do sul do Brasil. Mas não sejamos tão injustos assim: se esses Ipês estivessem em ruas mais floridas, limpas, cheirosas e com jardins bem cuidados e com redes de esgotos, a situação seria outra. Mas Porto Velho não tem sequer rede de esgotos. Muitos dos habitantes daqui não sabem o que é uma rede de esgotos nem água tratada e as autoridades pedem e ganham o voto dos seus ignorantes eleitores sem precisar prometer essas coisas.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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