quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Fumaça: de quem é a culpa?

Fumaça: de quem é a culpa?

 

Professor Nazareno*

 

            Agosto de 2024. Rondônia e a sua capital Porto Velho desaparecem sob a fumaça das queimadas. Como nos últimos 50 ou 60 anos, a realidade é a mesma durante o verão na Amazônia ocidental. O que ainda resta de floresta tropical arde inclemente sob o fogo criminoso. A fumaça tóxica aumenta as doenças respiratórias em crianças, velhos e nas pessoas com problemas de asma, bronquite, rinite alérgica e sinusite. Os poucos hospitais, sem nenhuma estrutura de funcionamento, lotam nesta época do ano. Porto Velho foi considerada pelo IPC, Índice de Progresso Social, como a capital que tem o pior ar em todo o país. Mas de quem é a culpa por esta tragédia que assola essa região todo ano? Rondônia tem 52 prefeitos, 52 vice-prefeitos uns 600 vereadores, tem governador, vice-governador e vários secretários de estado. Por que ninguém toma providência nesse caos?

            O estado tem 24 deputados estaduais, 8 deputados federais, 3 senadores, vários juízes, muitos promotores de Justiça, tem desembargadores, 2 Ministérios Públicos, tem um Tribunal de Justiça, tem Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, tem quartéis do Exército, tem Base Aérea, tem Marinha do Brasil, tem Polícia Federal. Além do mais, o governo federal tem Lula como presidente do país e Geraldo Alckmin como vice. Tem pelo menos 37 ministérios, dentre eles, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima sob a responsabilidade da acreana e amazônida Marina Silva. Existe ainda o S.T.F e vários outros tribunais no país. Mas a fumaça teima em aparecer todo ano por aqui. Esse absurdo é, claro, a consequência maior de quem toca fogo nesse bioma, que está em vias de extinção. Pior do que a agonia é o silêncio de todos.

            A fumaça da Amazônia e também do Pantanal “viaja” e já está chegando às regiões mais ao sul do país e com certeza poderá provocar, dentro de pouco tempo, desastres ambientais catastróficos como o ocorrido em maio último no Rio Grande do Sul. A fumaça daqui bloqueia as nuvens de chuva, que castigam sem dó as populações afetadas. Além do mais, satélites internacionais captam os focos de incêndio no que ainda resta de floresta tropical no Brasil. Mais uma vergonha para o nosso país perante as autoridades do mundo inteiro. Mas ninguém tem culpa pela fumaça criminosa e assassina que presenciamos todo dia em Porto Velho. Culpar o ex-presidente Jair Bolsonaro não cola mais. Embora ele tenha incentivado incêndios na Amazônia, está há quase dois anos fora do poder e esperando, quem sabe, o dia em que será preso pelo mal que fez ao Brasil.

            Estamos bem próximos de mais uma campanha eleitoral e os 21 vereadores de Porto Velho, por exemplo, sequer falam dessa “Hiroxima do descaso” que bate a nossa porta e contamina os nossos pulmões. Nem eles nem os outros centenas de candidatos. Alguns até já falam mentirosamente em melhorar a qualidade de vida do porto-velhense, mas não veem nessa fumaça um dos fatores que precisa ser atacado e exterminado. Parece que o fogo e o ar empesteado com a espessa fuligem são sempre um problema dos outros, embora cada um de nós os respire a cada instante. Surreal: uma tragédia humanitária visível, mas que não tem culpados. E nem precisa dizer que em Rondônia tem Ibama, Secretarias de Meio Ambiente e outros órgãos de “defesa da natureza”. Já sei: o único culpado deve ser eu, o Professor Nazareno, pois sou a única e solitária voz que em nome da minha rinite alérgica e da asma do meu filho, faço como João Batista: prego no deserto.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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