Gaúchos
deviam cobrar Rondônia
Professor
Nazareno*
O
Rio Grande do Sul viveu em maio último talvez a pior catástrofe da natureza em
toda a sua história. Temporais devastadores atingiram em cheio a Serra Gaúcha e
a maioria dos vales dos rios que desembocam na lagoa Guaíba, que banha a
capital Porto Alegre. Cidades inteiras foram arrasadas com 175 mortos, 38
desaparecidos, 18 mil pessoas em abrigos, 423 mil desalojados. A hecatombe
gaúcha afetou mais de dois milhões e trezentos mil cidadãos e castigou pelo
menos 478 municípios de um total de 497. Os prejuízos, claro, foram
incalculáveis. O maior culpado por esta tragédia no sul do Brasil são as
mudanças climáticas, que já são uma realidade e estão castigando vários lugares
do mundo. Tudo isso é consequência direta das queimadas na Amazônia, que todo ano afetam
estados inteiros como essas que estão acontecendo no momento em Rondônia.
Por
isso, os rondonienses, e também os outros estados da Amazônia, deviam ajudar os
gaúchos a arcar com os prejuízos que tiveram em maio de 2024. Seria justo, mas se
tivéssemos justiça neste país. Muitos rondonienses adoram incendiar o que ainda
resta de floresta amazônica. No mês de agosto de 2024, os cantados céus azuis
da “Capital dos Destemidos Pioneiros” transformaram-se em
cinza-chumbo. Porto Velho detém hoje o pior ar para se respirar em todo o
Brasil, como se não bastássemos ter o pior hospital público do país e também a
pior qualidade de vida dentre as 27 capitais. Rondônia no Jornal Nacional
envolta em fumaça parece que encanta e orgulha muitos dos moradores deste
rincão atrasado e subdesenvolvido. Entre os dias 10 e 19 de agosto de 2024, por
exemplo, pessoas usando máscaras nas ruas fumacentas e sujas era uma cena até
normal.
Mas
o pior de tudo é a passividade das pessoas que sofrem com o descaso, assim como
o silêncio quase mortal e incompreensível das autoridades locais. Até hoje
nenhuma dessas autoridades, eleitas ou não, se manifestou sobre a hecatombe
ambiental que afeta todo o estado de Rondônia e também a sua castigada capital.
O prefeito Hildon Chaves nada falou. Parece que ainda não viu a fumaça que
castiga impiedosamente a cidade que ele administra há oito anos. O presidente
da Assembleia Legislativa do estado assim como o governador Marcos Rocha se
calam, até agora, diante do Armagedon. Presidentes de tribunais e também outras
autoridades judiciárias respiram o ar empesteado de fumaça e de fuligem e
parecem ignorar tudo. Vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais,
senadores e vários outros mandatários e órgãos de “defesa” da natureza ficam
em silêncio.
Por
isso, o povo do Rio Grande do Sul, por intermédio do governo federal, que
também não faz absolutamente nada para amenizar a nossa fumaça, devia cobrar
taxas dos rondonienses. Doendo no bolso, esses rondonienses incendiários talvez
aprendessem o que é preservação do meio ambiente. Mas parece que até já se marcaram
reuniões a fim de se discutir a questão ambiental da fumaça em Porto Velho. Só
que pode ser muito tarde. Já tocaram fogo na floresta e nos campos de pastagens
e a fumaça já nos incomodou o quanto pôde. As reuniões deviam ter sido marcadas
para março, abril ou maio passados. Bem antes da ação dos incendiários. Pelo
amor de Deus, senhores autoridades! Fechar a porta depois de roubado é tolice.
Todo problema tem que ser atacado na causa e não na consequência. Ouvi dizer
até que a inoperante Câmara de Vereadores de Porto Velho tem uma comissão de
meio ambiente. Santa ironia! O agro é pop e também ambiental. Certo?
*Foi Professor em Porto
Velho.
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