Rondônia
tem culpa, sim!
Professor
Nazareno*
Outro
dia eu disse que as terríveis enchentes que aconteceram no Rio Grande do Sul em
maio último podem ter tido a participação de Rondônia. A culpa das agressões
que se faz ao meio ambiente não só por aqui, mas também em outros estados do
Brasil, é vista todo ano com os colossais incêndios no que ainda resta de
floresta amazônica. No verão desta parte da Amazônia, cortinas de fumaça são
vistas quase diariamente em toda a região denunciando o pouco caso que se tem
com o meio ambiente neste rincão atrasado, explorado, abandonado e
subdesenvolvido. Por ter dito mais esta verdade, o mundo quase caiu sobre mim.
Muitos rondonienses e também os rondonienses “de coração” saíram
em defesa da destruição escondendo o lixo embaixo do tapete. Mas não tardou
muito para a verdade aparecer. Porto Velho teve na semana passada o pior ar
para se respirar no Brasil.
A
capital de Roraima é uma desgraça só. Tem o pior hospital público do país e é,
dentre as 27 capitais, a pior para se viver. Segundo o ITB e o IPS, Porto Velho
tem a pior qualidade de vida da nação. E como se não bastassem essas duas
desgraças, a qualidade do ar que se respira na “capital dos destemidos
pioneiros” é a pior de todas. A suja e fedorenta cidade está envolta em
fumaça tóxica das queimadas como acontece todos os anos. O calor beira os 40
graus e a sensação de se estar no inferno é real. A devastação ambiental
provocada naturalmente em Rondônia é a principal responsável pelas fortes
mudanças climáticas verificadas como, por exemplo, os mortais vendavais que
assolaram os gaúchos. E não adianta tapar o sol com a peneira, pois Porto Velho
e Rondônia não são exemplos ambientais para ninguém. Até o rio Madeira
conseguiram matá-lo sem dó.
As
autoridades constituídas têm culpa também por este descaso. Neste verão, a
pouca grama que tem espalhada pelas ruas da capital está seca e esturricada.
Nunca vi um caminhão molhando-a. Árvores, a cidade não tem. A cobertura vegetal
da rua Tiradentes na zona norte da cidade foi arrancada implacavelmente com a
desculpa esfarrapada de que estava quebrando a rede de esgotos que nunca
existiu por lá. Além do mais, pessoas incendeiam folhas secas em seus quintais
aumentando ainda mais o sufoco. E para piorar toda essa desgraceira, muitos
rondonienses incendiários e desinformados estão clamando pela volta da BR-319.
A estrada mais antiambiental do mundo será o tiro de misericórdia na já destruída
Amazônia. Levas de madeireiros, de grileiros, de invasores de terras, de garimpeiros
e outros afins não deixarão uma só árvore ali. Vai ser o fim de toda a floresta.
Além
do mais, muita gente daqui pede ainda a volta do garimpo criminoso e poluidor
no rio Madeira. Como se vê, destruir o meio ambiente e agredir a natureza até
parece ser um passatempo divertido em Rondônia, cuja maioria dos habitantes se
vê hoje diante de uma seca igual à do Nordeste. Porto Velho não tem água
tratada, mesmo assim já há propagandas na mídia incentivando as pessoas a não
gastarem “tanta água” à toa. É como se os órgãos de defesa do meio
ambiente nem existissem aqui. Incêndios florestais já viraram rotina e a fumaça
atormenta a vida de todos. O agronegócio criminoso, carro-chefe em Rondônia, é
como a fome: só aumenta a cada ano. E para isso, incendeia a Amazônia em busca
de terras para expandir sua atuação. Só em julho deste ano o número de focos de
incêndios por aqui é o maior em duas décadas. A floresta arde e por isso, as
tormentas relacionadas ao clima só aumentam. Rondônia devia pedir desculpas ao
Brasil!
*Foi Professor em Porto
Velho.
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