A latrina continua na lanterna
Professor
Nazareno*
Porto
Velho, a suja, insalubre, podre, fedorenta, desarrumada, imunda e violenta
capital de Roraima, continua no lugar onde sempre esteve: na última colocação
em Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, e em qualidade de vida dentre as 27
capitais do Brasil. O último relatório do Instituto Trata Brasil (ITB)
relacionado ao ano passado apenas mostrou o que todos nós, que temos a suprema
infelicidade de morar nesta pocilga horrorosa, vivenciamos no nosso cotidiano.
Uma capital de estado com menos de três por cento de esgotos e de saneamento
básico talvez não exista nem nos países mais pobres e subdesenvolvidos dos
rincões da África subsaariana. Porto Velho vai completar 110 anos de existência
e raríssimos de seus moradores sabem o que é uma rede de esgotos, que coleta
dejetos residenciais. Água potável saindo das torneiras domésticas poucos já
viram.
Somos também o “cu
do mundo” em matéria de limpeza urbana. O lixo é uma constante por onde
se ande. A cidade não tem planejamento nenhum. Situada em plena floresta
amazônica, praticamente não há uma única árvore em suas ruas. As poucas que
havia, foram arrancadas sistematicamente pela prefeitura como na Avenida
Tiradentes com a desculpa esfarrapada de que elas podiam danificar uma rede de
esgotos que nunca existiu por lá. Por isso, a “currutela fedida” é
quente feito o inferno. Uma caldeira a céu aberto. Pior: o lugar também não tem
praças nem recantos de lazer. Procure uma única árvore nas avenidas Sete de Setembro,
Pinheiro Machado, Carlos Gomes, Jatuarana, Calama, dentre outras, e não
encontrará. Porto Velho não tem porto no rio Madeira. O barranco escorregadio e
sujo serve de conforto para quem chega à cidade vindo de barco.
Até o acanhado
aeroporto da capital, que praticamente só funciona à noite, teve recentemente
alguns dos seus poucos voos cancelados, pois as luzes de balizamento da pista
de pouso e decolagem estavam apagadas. Falaram que foi por causa do Arraial
Flor do Maracujá, que funcionou ali perto. Será que com três hidrelétricas, a
oferta de energia para a “capital das sentinelas avançadas” ainda está
deficitária? Porém, com todas estas desgraceiras, a classe política está em
alta junto ao seu “fiel” eleitorado. Este ano terá eleições municipais e
muita gente, mas muita gente mesmo, está no páreo disputando a prefeitura da
cidade mais suja e mais malcuidada do país. Nós, que pagamos impostos
caríssimos, não merecíamos passar por mais esta vergonha. Estamos em pleno
verão amazônico e os poucos canteiros com grama sequer são aguados. Aqui, até a
grama morre.
Brasília/DF e
Palmas, capital do Tocantins, são cidades muito mais novas do que Porto Velho e
hoje ostentam boas colocações em qualidade de vida para os seus sortudos
moradores. Em Rondônia parece que ninguém cobra nada dos seus administradores.
“Deixa-se tudo como estar para ver como é que fica”. Há mais de 44 anos
que eu pago religiosamente meus impostos e nada recebo em troca. Insisto em
ficar por aqui, mesmo depois de aposentado. Mas vejo muitos filhos de Porto
Velho irem morar em outras localidades espalhadas por este Brasil. Buscam lazer
e vida melhor. Viver em Porto Velho não compensa em nada. Falta tudo e poucas
pessoas se preocupam com o lugar. E a cidade só diminui e piora. Mas como
ninguém de Porto Velho come IDH e nem veste qualidade de vida (e também poucos cidadãos
sabem o que significa tudo isto), o infortúnio vai se perpetuar por aqui ainda
por um bom tempo. E a latrina do Brasil continuará na lanterna.
*Foi Professor em Porto
Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário