quinta-feira, 4 de julho de 2024

A latrina continua na lanterna

A latrina continua na lanterna

 

Professor Nazareno*

 

            Porto Velho, a suja, insalubre, podre, fedorenta, desarrumada, imunda e violenta capital de Roraima, continua no lugar onde sempre esteve: na última colocação em Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, e em qualidade de vida dentre as 27 capitais do Brasil. O último relatório do Instituto Trata Brasil (ITB) relacionado ao ano passado apenas mostrou o que todos nós, que temos a suprema infelicidade de morar nesta pocilga horrorosa, vivenciamos no nosso cotidiano. Uma capital de estado com menos de três por cento de esgotos e de saneamento básico talvez não exista nem nos países mais pobres e subdesenvolvidos dos rincões da África subsaariana. Porto Velho vai completar 110 anos de existência e raríssimos de seus moradores sabem o que é uma rede de esgotos, que coleta dejetos residenciais. Água potável saindo das torneiras domésticas poucos já viram.

Somos também o “cu do mundo” em matéria de limpeza urbana. O lixo é uma constante por onde se ande. A cidade não tem planejamento nenhum. Situada em plena floresta amazônica, praticamente não há uma única árvore em suas ruas. As poucas que havia, foram arrancadas sistematicamente pela prefeitura como na Avenida Tiradentes com a desculpa esfarrapada de que elas podiam danificar uma rede de esgotos que nunca existiu por lá. Por isso, a “currutela fedida” é quente feito o inferno. Uma caldeira a céu aberto. Pior: o lugar também não tem praças nem recantos de lazer. Procure uma única árvore nas avenidas Sete de Setembro, Pinheiro Machado, Carlos Gomes, Jatuarana, Calama, dentre outras, e não encontrará. Porto Velho não tem porto no rio Madeira. O barranco escorregadio e sujo serve de conforto para quem chega à cidade vindo de barco.

Até o acanhado aeroporto da capital, que praticamente só funciona à noite, teve recentemente alguns dos seus poucos voos cancelados, pois as luzes de balizamento da pista de pouso e decolagem estavam apagadas. Falaram que foi por causa do Arraial Flor do Maracujá, que funcionou ali perto. Será que com três hidrelétricas, a oferta de energia para a “capital das sentinelas avançadas” ainda está deficitária? Porém, com todas estas desgraceiras, a classe política está em alta junto ao seu “fiel” eleitorado. Este ano terá eleições municipais e muita gente, mas muita gente mesmo, está no páreo disputando a prefeitura da cidade mais suja e mais malcuidada do país. Nós, que pagamos impostos caríssimos, não merecíamos passar por mais esta vergonha. Estamos em pleno verão amazônico e os poucos canteiros com grama sequer são aguados. Aqui, até a grama morre.

Brasília/DF e Palmas, capital do Tocantins, são cidades muito mais novas do que Porto Velho e hoje ostentam boas colocações em qualidade de vida para os seus sortudos moradores. Em Rondônia parece que ninguém cobra nada dos seus administradores. “Deixa-se tudo como estar para ver como é que fica”. Há mais de 44 anos que eu pago religiosamente meus impostos e nada recebo em troca. Insisto em ficar por aqui, mesmo depois de aposentado. Mas vejo muitos filhos de Porto Velho irem morar em outras localidades espalhadas por este Brasil. Buscam lazer e vida melhor. Viver em Porto Velho não compensa em nada. Falta tudo e poucas pessoas se preocupam com o lugar. E a cidade só diminui e piora. Mas como ninguém de Porto Velho come IDH e nem veste qualidade de vida (e também poucos cidadãos sabem o que significa tudo isto), o infortúnio vai se perpetuar por aqui ainda por um bom tempo. E a latrina do Brasil continuará na lanterna.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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