Em
busca da gaiola de ouro
Professor
Nazareno*
Naquele
porão imundo, insalubre e fedorento o frenesi era geral. Baratas, ratos e
carapanãs já haviam decidido que iriam participar da escolha do novo
administrador daquele sinistro ambiente. Para a maioria dos moradores do então
sujo e inóspito lugar, a situação não estava boa e já fazia um bom tempo. Para
os candidatos, no entanto, tudo sempre correu “às mil maravilhas”. Dizem
de maneira hipócrita que eleições fazem parte do processo democrático, mesmo
que muitos dos eleitores sejam estúpidos, analfabetos, imbecilizados e sem
nenhuma leitura de mundo. Até mesmo os tribunais tentam aumentar ainda mais a
estupidez coletiva atestando a lisura do pleito. Porém, muitos sabem, mas não
dão a mínima importância, que eleição ali sempre foi um jogo de cartas marcadas. O
vencedor ou a vencedora já foi devidamente escolhido (a) por todos os insetos
mais ricos.
Por
isso, a votação é apenas mais um detalhe. Principalmente naquela asquerosa caverna.
Sem nenhum conhecimento da dolorosa realidade que os cerca, os eleitores são
convencidos, sem muita dificuldade, de que o atual rato que os administra é um
herói, um salvador da pátria, uma pessoa poderosa e de outro mundo. Assim, quem
ele indicar tem que ser aclamado (a) pelo voto da maioria. Um “favorzinho”
aqui, outro acolá e tudo se ajeita na hora da eleição. Há uma gaiola de ouro em
disputa e que pode arrumar para sempre a vida de qualquer um que se habilite a
disputá-la. Não interessa se os moradores passam fome e vivem na promiscuidade
e na sujeira. “O importante é chegar ao poder” e assim ter acesso aos
impostos arrecadados e mandar em todos os insetos mais inferiores. Os porcos,
que fiscalizam todas essas eleições, já fizeram isso antes em seus chiqueiros.
No
amaldiçoado e sujo porão, todos os candidatos já fizeram, muito antes de se
candidatar, uma espécie de pacto entre eles. “A busca pela gaiola de ouro é
o nosso maior objetivo para, dessa forma, continuarmos sempre no topo da escala
social”, avaliam alguns ratos e baratas daquela horrorosa comunidade. Nessa
estranha eleição, o candidato que menos fez pela comunidade recebe o apoio
irrestrito de todos. Assim, o importante mesmo é não ter feito muitas
benfeitorias ali. Falta saneamento básico para todos? Tudo bem! Não existe
mobilidade urbana? Melhor ainda! Os insetos mais pobres não têm moradia nem
acesso à água potável? Legal! A fome campeia entre toda a comunidade? Que bom!
A corrução dali desvia todos os impostos arrecadados? Um primor! Faltam hospitais
e não há médicos suficientes para todos? Bacana! É tudo uma eleição às avessas.
O
candidato que ganhar, convidará de imediato, e na surdina, todos os outros
perdedores das eleições para compor o novo governo. Assim, todos que
participaram do pleito sairão ganhando. Naquele celeiro abandonado e promíscuo não
há esquerda nem direita. Há somente candidatos e não candidatos. Ratos que já
foram advogados, baratas que foram professores, carapanãs comerciantes, grilos
empreendedores e até alguns insetos que sabem fazer discursos participam do
pleito. Passadas as eleições, continuará
existindo quem paga muitos impostos e quem não pagará taxas por um bom tempo.
Já está decidido que durante a campanha fica permitido todo tipo de denúncia e
de agressões ao concorrente. Só que é tudo de mentirinha para tapear os burros
e tapados eleitores, que em tudo acreditam. A mídia, que já teve devidamente
acertado o seu quinhão, fará coberturas ao vivo. A igreja dos insetos abençoa o
vencedor e ao final todos sairão felizes.
*Foi Professor em Porto
Velho.

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