quinta-feira, 28 de maio de 2009

Você também é consumidor da Caerd?



“Água mole em pedra dura...”

Professor Nazareno*

Imaginemos duas cidades brasileiras de duas regiões bem diferentes entre si. Porto Velho, capital do estado de Rondônia com aproximadamente 400 mil habitantes, região Norte do país, e localizada em plena floresta Amazônica e Cabaceiras quase um vilarejo empoeirado com pouco mais de 4 mil pessoas, na região do Cariri paraibano, uma das regiões mais secas do mundo e sem dúvida a região mais árida do país com um índice pluviométrico baixíssimo. Certamente o que não é comum entre as duas cidades citadas é a abundância de água em uma e a escassez na outra. A miséria com certeza se faz presente nas duas bem como a existência de ruas esburacadas, sujas e fedorentas.

Banhada pelo rio Madeira (já sentenciado de morte), um dos 15 maiores rios do mundo em extensão e o segundo maior do Brasil em volume de água perdendo somente para o rio Amazonas, além de uma infinidade de lagos, furos, igarapés e um dos mais altos índices de chuva do mundo e próxima a outros rios também grandes e caudalosos como o Candeias, Jaci-Paraná e Jamari, a capital de Rondônia sofre há anos com a falta do precioso líquido nas torneiras domésticas. Há promessas (só promessas mesmo) de água potável para todos na capital com as obras do PAC. É a esmola que querem nos dar em troca das hidrelétricas. A cidadezinha de Cabaceiras tem água potável 24 horas por dia. Lá, os paraibanos não sabem o que é uma bomba para poço nem talvez o significado de artesiano.

A Cagepa, Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba, abastece diuturnamente os mais de 200 municípios paraibanos com água potável e com pressão suficiente para fazer jorrar as torneiras sem precisar de bombas nem de caixas de água ou cisternas. Enquanto isso a Caerd, a nossa companhia de água (só água mesmo porque não há esgotos por aqui), contenta-se em mandar a cada dois dias um mísero filete do líquido que mal chega às casas dos rondonienses. Sem bomba de captação, adquirida por conta do pobre consumidor, não há abastecimento. Não são poucos os bairros da capital que não são atendidos pela estatal. Poço comum, geralmente cavado ao lado de uma fossa, ou artesiano é uma rotina para a maioria dos nossos habitantes.

Se com tanta água disponível a Caerd (que de tão velha e ultrapassada ainda não atualizou a sigla, pois usa a mesma desde quando isto aqui ainda era território) não consegue abastecer dignamente a população, resta saber para que serve ela, então? Por que os inúmeros governos que por aqui passaram simplesmente não privatizaram o sistema de captação e distribuição de água? Quando será que a nossa população terá água encanada nas suas torneiras sem precisar comprar bombas, cavar poços e fazer cisternas? E a cidade de Porto Velho, uma capital de estado, quando terá rede de esgotos? Ou será que tudo isso são apenas sonhos distantes? A Sanepar, Companhia de Água e Esgotos do Paraná já pensa, por exemplo, em duplicar a oferta de serviços para seus clientes disponibilizando dois tipos de água: a tratada para consumo humano e a sem tratamento para serviços gerais como descargas, lavagens de carros e outros fins.

Enquanto as companhias de abastecimento de água de outras unidades da federação já estão em ritmo de Primeiro Mundo, os porto-velhenses, apesar de tanta disponibilidade do produto, lutam desesperadamente para conseguir superar mais um verão sem água. E provavelmente com muita poeira. E não adianta muito apelar para as soluções alternativas. Enquanto por aqui um garrafão de 20 litros de água mineral custa hoje entre 3 e 4 reais a unidade, em Cabaceiras, lá no Cariri seco da Paraíba, está custando menos de 2 reais. Dá para entender um absurdo destes? “Mas para uma cidade que produzia maracujás quando era pequena e depois que cresceu inexplicavelmente perdeu esta característica pode-se esperar de tudo.” É, parece que o ditado popular está certo mesmo: “Deus só dá asas a quem não sabe voar...”.


*Leciona em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Aluno de Escola Pública também produz texto "porreta"




TEMA: Segundo dados de órgãos ligados ao Estado, o Brasil chega a produzir quase três vezes mais alimentos acima da necessidade de sua população. No entanto, o Programa Fome Zero do Governo Federal detectou há quatro anos, que havia no país mais de 40 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, ou seja, passando fome. Produza um texto dissertativo apontando possíveis causas da fome no Brasil. O que fazer para distribuir melhor os alimentos no nosso país? Seria a fome uma instituição humana ou divina? Como se livrar desta incômoda realidade?



“O Sistema da Desigualdade”


Jâmisson de Araújo Conceição*


No século XIX, Karl Marx (criador do Socialismo Científico) apontou diversos problemas no sistema Capitalista, tais como a desigualdade gerada por um sistema que produz alimentos que dariam para alimentar toda a humanidade, mas que simplesmente não o faz. Tal disparidade ocorria e ainda ocorre, porque vive-se (SIC) em uma sociedade movida pela “Mais Valia”, ou busca por lucros na linguagem cotidiana. Com isso fica claro que a fome do século XXI é fruto da desigualdade humana.

O Brasil por sua vez vive um momento de grandes contrastes tecnológicos, pois se no Centro-Sul o acesso a (SIC) informação está ao alcance de quase todos, no Norte e Nordeste são poucos os que têm acesso aos meios de informação, e consequentemente não conseguem se adaptar a este mundo globalizado. Logo se percebe que estas pessoas ficam excluídas e com dificuldades para conseguir um emprego digno que garanta a sua sobrevivência e a de sua família se houver.

Outro fator crucial para as desigualdades e consequentemente para a fome no Brasil é a política de distribuição de alimentos. Como um país que é o maior exportador de carne bovina, entre outros produtos pode ter tamanha pobreza e fome por parte de seus cidadãos? Isso ocorre pois (SIC) a maior parte do capital brasileiro está nas mãos de multinacionais (?) que visam apenas o (SIC) lucro retratado por Karl Marx.

Em um país com tamanha capacidade produtiva de alimentos não deveria haver fome. Isso pode ser conquistado mudando as políticas públicas, criando projetos que tenham como principal finalidade capacitar pessoas para que estas possam criar formas de conseguir sua subsistência, e a cima de tudo, devem ser feitos grandes investimentos na educação, pois foi assim que países europeus após a 2º (SIC) Guerra Mundial conseguiram diminuir drásticamente (SIC) os índices de pobreza e fome.


*Aluno do Colégio João Bento da Costa – Terceirão, turma 09 da tarde.


SIC é uma expressão latina que significa "assim mesmo, dessa forma, foi escrito assim por mais absurdo ou errado que pareça". Por isso, onde aparece esta expressão ou interrogação no texto acima deve-se entender que foi dessa forma mesmo que o aluno escreveu. E claro que isto (os poucos erros) não tira o mérito do bom texto. Uma pena que a maioria dos textos produzidos sobre este tema não tenha correspondido às expectativas. Leitura, meus queridos, leitura e todos terão plenas condições de produzir uma maravilha de texto como este. Precisa dizer que estou orgulhoso? Parabéns!

sábado, 16 de maio de 2009

Que nome deve ter o nosso teatro estadual?




O Nome do Novo Teatro


Professor Nazareno*


O nome do Estado de Rondônia é uma homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, um mato-grossense, como todos sabem. Treze anos após a criação do Território Federal do Guaporé, de terras desmembradas do Estado do Mato Grosso e do Amazonas, e uma justa lembrança do rio e do belo vale que nos separa do território boliviano, resolveram fazer proselitismo com os forâneos, ainda que no início o sertanista não tenha aceitado o fato, dois anos antes de sua morte deixou-se vencer pela idéia.

A cultura de agradar ao que é de fora, muito comum no “comportamento de vira-latas” do brasileiro, segundo o cineasta Glauber Rocha, também é bastante forte entre os rondonienses. A começar pelo nome da maioria das ruas da nossa capital. A principal avenida do centro de Porto Velho se chama Sete de Setembro, isso é fato. Nenhum problema já que nos consideramos brasileiros mesmo. Mas apenas seis dias depois (13 de Setembro) o nome soaria bem mais familiar para os que viveram a epopéia do Território. Avenidas como a Jatuarana, Calama e Rio Madeira são honrosas exceções.

Já a maioria das outras ruas importantes do centro da capital leva nomes pouco familiares para quem nasceu e vive aqui: Percival Farquar, Campos Sales, Pinheiro Machado, Carlos Gomes, Marechal Deodoro, Almirante Barroso, Duque de Caxias e até a atual Jorge Teixeira, que não pertence mais aos rondonienses, tinha o nome de John Kenedy para homenagear um presidente que nem do Brasil era. O único nome apropriado parece ser o da capital. O porto, que não existe, é velho mesmo. Um barranco sujo, fedorento, mal cuidado e cheio de imundícies dá nome à cidade.

Por isso a construção do teatro pelo Governo do Estado pode estar no centro de uma grande polêmica. Inicialmente o Exército Brasileiro tentou vetar a idéia invadindo o terreno, com tanques e tropas, numa operação patética de quem não tinha e nem tem o que fazer. E este teatro deve ter um nome, claro. A prefeitura de Roberto Sobrinho incrivelmente inovou nesta área e batizou de “Banzeiros” o teatro Municipal. Por que não colocar o nome de Ivo Cassol? Ou então o nome (desconhecido para muitos) do General da 17ª Brigada de Infantaria e Selva? Guerreiros da cultura, ora.

O que não pode acontecer é fazer o que fizeram com o Ginásio de Esportes (?) Cláudio Coutinho (que certamente confundia Rondônia com Roraima e nunca veio aqui). Seria óbvio que o nome do novo teatro refletisse um pouco da nossa realidade, do nosso cotidiano, da nossa fauna ou da nossa riquíssima flora. Devemos ficar alerta, pois os rondonienses encenam a Semana Santa em pleno mês de junho contrariando assim o calendário ocidental, além de importar nomes exóticos para os seus festejos e arraiais como o ‘Flor do Cacto’ e o famosíssimo e polêmico ‘Flor do Maracujá’.


*É professor em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Onde estão os falsos defensores da cultura desta terra de ninguém?



MERCADO CULTURAL:
A MEMÓRIA TRATORADA E A EXALTAÇÃO DA CÓPIA

Victor Gabriel*


Há pouco mais de um ano, quando do segundo atentado covarde que varreu do mapa, por definitivo, as últimas reminiscências arquitetônicas originais do antigo Mercado Público do Município de Porto Velho, símbolo de uma era arquitetônica da cidade, marcada pelo estilo neoclassicista eclético, flamejante, vários artigos foram publicados na mídia local, assinados por renomadas personalidades do segmento cultural. Consternados com o sinistro, artistas e intelectuais deitaram opinião sobre o lamentável e traiçoeiro golpe aplicado no nosso patrimônio histórico.


Um equívoco de proporções imensuráveis foi a demolição de um relevante bem cultural do povo de Porto Velho, ícone de resistência da memória local, levando junto, desta vez e para todo o sempre, o originalíssimo Bar do Zizi, fato, inclusive, tão bem abordado por Antônio Serpa do Amaral Filho, no artigo publicado à época sob o título “Morte do Mercado – o solo mais fúnebre do maestro Júlio Yriarte!”. Engrossaram as fileiras dos indignados o advogado Ernande Segismundo, assinando o texto “Mercado Central - Indignações, versões e fatos”; e o Grupo Cidade, Cultura e Inclusão – GCCI (coletivo de artistas e intelectuais empenhados na defesa intransigente da cultura local), publicando o artigo “Entre o pó dos escombros do Mercado Municipal e as cinzas do carnaval”.


Do antigo e legítimo Mercado Público, pela segunda vez vítima indefesa dos arroubos arrogantes de colonizadores aventureiros e analfabetos estéticos, ora da direita ora da esquerda, nada sobrou. Caçambas e tratores, com possantes esteiras de ferro, conduzidos por exploradores insensíveis, alheios aos estilos arquitetônicos de época, sem compromisso com a história local, avançaram, definitivamente, sobre parte da memória, da história e do patrimônio cultural de caboclos, mestiços, beradeiros, karipunas e karitianas, demolindo, desta feita, o que sobrou da antiga edificação do Mercado Central, sem deixar vestígio algum de um capitulo de nossa insipiente história recente.


Nesta sexta-feira, 15 de maio de 2009, o executivo municipal, iletrado nas formas dos estilos da linguagem arquitetônica e aniquilador algoz e implacável da cultura local, entregará à população da cidade, em especial para o segmento cultural, uma cópia exata do antigo prédio que um dia existiu como o original Mercado Público Central. A cidade será presenteada com um ‘legítimo’ clone sem memória, desprovido das marcas do tempo, sem as chagas que traduzem o fato histórico vivido. Receberemos do poder público municipal – o demolidor de memórias - uma edificação clonada daquela que outrora fora uma imponente e legítima arquitetura do nosso histórico Mercado Público.


Não se trata de uma atitude redimida e justa da autoridade humana que reconhece o erro. Trata-se, pois, de uma ação equivocada em sua origem, assentada na petulante concepção de alguém que pensa por todos e decide sozinho, sem dar ouvidos aos atores sociais - atuantes no segmento cultural. E, menos ainda, a cópia do Mercado Cultural não é um produto resultante de olhares atentos e sensíveis de gestores públicos que contemplam as experiências exitosas de cidades vizinhas, como Rio Branco, no Estado do Acre, inclusive conduzida por companheiros da mesma legenda partidária que administram a cidade de Porto Velho, que naquela capital tem desenvolvido importante e imponente programa de revitalização do centro antigo da capital acreana, respeitando a história daquele povo.


No que diz respeito às cópias, dois pesos e duas medidas norteiam as atitudes da prefeitura de Porto Velho, no campo da institucionalização das políticas públicas, aplicadas em qualquer que seja a área de atuação do nosso executivo municipal.


Temos assistindo por meio da mídia local, em especial dos jornais eletrônicos, as inúmeras diligências de ficais da Secretaria Municipal da Fazenda, resguardadas por equipes de Policiais Militares, percorrendo as principais vias do comércio central de Porto Velho, com a antipática missão de confiscar produtos pirateados, principalmente milhares de cópias de CD’s e DVD’s. De um lado, a força pública, estrategicamente posicionada sobre fortes argumentos de se combater a evasão de milhares de reais que deixam de entrar nos cofres públicos, sob forma de impostos não recolhidos, desviados a partir da comercialização de produtos falsificados - cópias e arremedos esdrúxulos clonados, criminosamente, de produtos e objetos originais -, fartamente vendidos nas vias púbicas da cidade. Do outro lado, o trabalhador informal, desempregado, entrincheirado no comércio de quinquilharias falsificadas, buscando uma forma de sobrevivência, enquanto foge da autoridade policial e dos ficais da fazenda, combativos e implacáveis confiscadores de mercadorias falsificadas.


Todo e qualquer cidadão probo e reto, com posturas ancoradas na ética, no respeito e na verdade, que se colocar, porventura, diante deste dilema atroz, certamente se posicionará, sem hesitar, nas fileiras do combate ao crime, à falsificação e à cópia.


Contudo, temo que este mesmo munícipe ético e sério, provavelmente analfabeto estético, durante o evento de inauguração do ‘velho-novíssimo’ Mercado Cultural, esteja orgulhosamente, sentado nas primeiras fileiras de cadeiras, entusiasmadamente ovacionando, na condição de subserviente inconsciente, a autoridade apagadora de memória. E, feliz, aplaudirá a extinção de sua própria história, exaltando a cópia sem memória, imposta como símbolo de uma nova era de preservação do bem cultural público.


A cópia tem se colocado como instrumento contumaz e conquistado relevantes espaços e mentes nas sociedades modernas, facilitada pelo extraordináio advento da rede mundial de computadores. A cultura do “control c control v”’ (copiar e colar) marca profundamente, por exemplo, as atitudes de alunos internautas de todos os níveis de ensino. Sobre este tema, o da cópia descarada e abundante, Roberto Farias (recentemente falecido) e Sonia Sampaio, Professores do Departamento de Línguas Vernáculas da UNIR, com muita propriedade falam a este respeito, em Artigo intitulado “O que é um texto? Revisitando um tema já antigo”, publicado no livro Formação Docente e Estratégias de Integração Universidade/Escola nos Cursos de Licenciatura, vol. II, organizado por Nair Ferreira Gurgel do Amaral e Tania Suely Azevedo Brasileiro. No artigo, os professores exemplificam seus raciocínios, citando um fato ocorrido na campanha eleitoral de Porto Velho em 2004, quando “um candidato foi acusado publicamente de plagiar, em sua dissertação de mestrado, passagens de trabalho já publicado. O episódio (...), curiosamente, não encontrou eco nos eleitores (...). A denúncia não alterou o resultado da eleição na medida em que o candidato foi eleito (...)”.


Como podemos observar, a cópia não é mérito apenas de marginais e vendedores ambulantes de CD’s e DVD’s, de quinquilharias e bugigangas pirateados, meide in China. Vai além, muito além do alcance da razão, e se coloca para nós como políticas públicas assertivas para preservação do patrimônio cultural.


Resta-nos um consolo: o tempo é o senhor da razão e, certamente, fará a distinção entre o joio e o trigo. O antigo Mercado Público, hoje Mercado Cultural - também apelidado e já conhecido como o Mercado Cotó, tal qual as idéias de quem o concebeu - de uma forma ou de outra, entra para a histórica da arquitetura desta cidade, seja pela bizarra história do original demolido propositalmente ou pela cópia, sem sentido, erguida – um falso fausto - para substituir o original. Fica-nos a lição de aprendermos com os nossos erros. Quanto ao gestor público, autor da façanha que ‘tratorou’ e decretou o fim de uma edificação histórica e emblemática, por sua atitude covarde e insensata, aplicada ao campo das políticas públicas para preservação do patrimônio, este, certamente, passará à história da cultura do município de Porto Velho, entrando pela sombria porta dos fundos da história oficial, como o grande realizador de fiascos artísticos. O entregador de falso ouro.



(*) Aluno do Curso de História da Universidade Federal de Rondônia e músico. Endereço eletrônico: victorgabriel1963@gmail.com.


domingo, 10 de maio de 2009

Quem acredita em duendes?




“Parabéns, mamãe, pelo seu dia!”


Professor Nazareno*


Hoje é o segundo domingo de maio, dia das mães. O comércio está em festa. Mesmo sendo um domingo ensolarado, o comércio de Porto Velho, e de todo o país, funciona normalmente como se fosse um dia qualquer da semana. Esta data só perde em faturamento para o Natal quando se comemora outra fictícia e interesseira data: o nascimento inventado de Jesus Cristo. Eu não tenho mãe há 20 anos, por isso já consigo observar sem remorsos a imbecilidade alheia que acompanha os hipócritas há tanto tempo.

Hoje, as floriculturas e outras casas do gênero, fazem a festa mesmo que amanhã, uma segunda-feira modorrenta, as lixeiras estejam repletas de rosas, cravos e guirlandas que serviram de suntuosos presentes no dia anterior. Hoje é dia das mães. O dia consagrado àquelas que com seu inestimável amor... etc. e tal e outras besteiras e baboseiras do gênero que fazem os incautos de plantão visitarem cemitérios, mandarem celebrar missas, comprarem presentes, caríssimos ou não, para presentearem a outrora “rainha do lar”.

Rainha do lar, que reino pequeno e tosco. Mãe é mãe com ou sem dedicação. Com ou sem dia dedicado a elas pelo comércio. Não existe um dia apenas no ano como dia da mãe. Dia da mãe é todo dia. Se existe um único dia para as mães, os outros 364 dias do ano podem ser entendidos como dias que não são da mãe. Mas, em contrapartida, existe também o dia do pai, o dia dos namorados, do avô, da avó, do professor, da mulher, do índio e até da sogra (levando em conta que também é um ser humano) que é o 28 de abril. A criatividade dos comerciantes não tem limites. Já pensou quando inventarem o dia do político? Feriado nacional e com direito a muitas festas...

Mas por incrível que pareça já temos uma conduta politicamente mais correta hoje em dia: os comerciantes já não incentivam nas propagandas da mídia, como há alguns anos, a compra de panelas de pressão, geladeiras, jogos de sofá e fogões de oito bocas para “presentear a idiota da Amélia”, aquela senhora patética, só que abrem, num dia de domingo, os seus comércios que vendem, dentre outras coisas, estes eletrodomésticos à espera de incautos que ainda acreditam na existência do amor à base de bugigangas e outras tantas quinquilharias.


*É professor em Porto Velho – profnazareno@hotmail.com


sábado, 2 de maio de 2009

"Se a moda pega..."



Católicos “made in Paraguai”

Professor Nazareno*

Religião não se discute. Política e futebol também não, diz o anedotário popular. Mas diante de tanta confusão provocada por vários integrantes da Igreja Católica tanto no Brasil quanto em vários países do mundo, a exemplo dos Estados Unidos, onde vários padres recentemente se envolveram em escândalos de pedofilia, não há como deixar de se promover uma boa discussão sobre este assunto. Recentemente o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ex-bispo da Igreja Católica em seu país, assumiu a paternidade de um filho, concebido quando ele, Lugo, ainda era religioso e a mãe do garoto tinha apenas 16 anos. Duas outras mulheres também afirmam que tiveram filhos com o presidente e exigem que ele assuma a paternidade. Há relatos que seriam quase duas dezenas os ‘herdeiros’ do viril religioso, agora sério candidato a “pai de todos os paraguaios”.
Por que integrantes de algumas religiões não podem constituir uma família de forma absolutamente normal? Por que um dos votos da Igreja Católica é justamente o voto de castidade? Os mandatários católicos afirmam ser muito difícil para um homem normal conciliar o sacerdócio com a vida em família. Pura lorota. Os padres e freiras não podem casar para que não apareçam filhos e óbvio, herdarem os bens da Igreja Católica que, aliás, não são poucos. Não é à toa que outro voto seja exatamente a pobreza. Castidade, pobreza e obediência não necessariamente nesta ordem, são os votos que todos os candidatos a padre, ou freira, estão sujeitos a aceitar. Uma verdadeira ditadura teocrática imposta a esses cristãos. Além do mais, no caminho inverso ao que prega a Santa Sé, muitos cristãos católicos têm filhos em vários casamentos e como garanhões, às vezes, se orgulham das muitas mulheres que já tiveram. Cadê a indissolubilidade familiar que pregam para os outros?
Talvez não devêssemos polemizar ainda mais. Afinal, religião é um dos assuntos que não se discute. Mas estaria um religioso apto a opinar sobre temas que desconhece? A sexualidade é um exemplo (Lugo, claro, é exceção). Talvez este seja um dos problemas da iminente extinção dos católicos no Brasil. Em uma publicação do IBGE sobre o censo de 2.000, observava-se que os católicos brasileiros haviam diminuído de 83,8% para apenas 73,8% em apenas uma década. Enquanto isso, os evangélicos tinham crescido de 9% para 15,4%. Hoje, quase uma década depois, estes números estão bem maiores. E se a tendência continuar com este impressionante ritmo, em menos de um século, o Brasil terá que devolver o Núncio Apostólico ao Vaticano. Não seria mais lógico para o catolicismo abolir o celibato clerical para não mais ter alguns de seus integrantes envolvidos em escândalos de pedofilia ou comparecendo às barras dos tribunais e tendo que, humilhados, assumirem a paternidade de vários filhos?
Já pensou se todo mundo resolvesse, como gostaria a Igreja Católica, ser padre ou freira? A população do planeta simplesmente acabaria. A humanidade pararia de crescer. E como ficaria a máxima divina “crescei e multiplicai-vos”? É provável que Deus não veja esta posição da Igreja Católica com bons olhos. Afinal não se pode entender como simples homens decidem interferir no mais sublime dos instintos humanos: a perpetuação da espécie. Como não há sentido em se multiplicar após a morte (levando-se em consideração a existência da vida eterna), os pregadores evangélicos e de outras religiões ganham espaço neste terreno prometendo o paraíso aqui mesmo na terra e praticando sexo, muito sexo mesmo. Só que de maneira legal e ética e evitando assim esse constrangimento perante o mundo que se diz civilizado.



*O professor Nazareno leciona em Porto Velho. (profnazareno@hotmail.com)

sexta-feira, 1 de maio de 2009


QUANDO NÃO SE ENTENDE O QUE ESTÁ LENDO


Suamy V. Lacerda de Abreu

Professor de História

Quem acessou o blogdotionaza.blogspot.com, e viu a proporção que tomou a contenda criada pelo Artigo “Em Rondônia é assim mesmo...”, de 22 de março de 2009(domingo), com mais de 100 respostas contendo apoios e repúdios e, tiver o mínimo de equilíbrio, após ler alguns posicionamentos de alunos e populares terminará até pela falta de ver o ciclone que a turma do repúdio enxergou dando razão ao “tio Nazareno”. Isso se for considerado que em um estado democrático de direito é livre aos indivíduos a emissão de ponto de vista crítico ou não a respeito de qualquer assunto que lhe incomodar ou que for de interesse público. O que se viu foi um ataque desorganizado, atabalhoado contra o artigo do professor, alguns até duvidando de sua idoneidade moral ou da qualidade de seu trabalho, outros através da livre e espontânea pressão o convidando a retirar-se de Rondônia, enfim um conjunto de posicionamentos insensatos e que terminaram por levar os mais esclarecidos a concordar com o “errado Professor Nazareno” puramente por falta de opção. Talvez o professor não tenha escolhido o melhor jogo de palavras para organizar o artigo de forma que apresentasse a mesma situação sem que a mesma fosse entendida como agressão aos rondonienses. Cabe aqui deixar claro que: quando não se concorda com a tese de alguém, se organiza uma antítese fundamentada em valores contrários ou diferentes apresentando argumentos que contraponham a tese, de forma que se consiga ao menos convencer através de idéias o público alvo à qual foi destinada a tese, isso se considerarmos a premissa que “brigam as idéias não os seres humanos”. Hoje qualquer pessoa que tiver a coragem ou autenticidade para apresentar problemas (falar a verdade) é considerado doido, e foi exatamente isso que aconteceu com o tio Naza. O que a meninada está precisando é ler um pouco mais, mais concentração em leitura para que possam entender o espírito do texto, e de estudar muito para mudar essa realidade cultural brasileira de aceitar as coisas sem questionamento. É lógico que o professor que redigiu o artigo sempre deixou claro não gostar da idéia das usinas de energia, bem como possui ponto de vista formado a respeito dos rumos da cultura regional, de futebol, de religião e outros que inclusive são contrários ao de muita gente, porém realmente necessitamos discutir as questões que envolvem o estado, o município com equilíbrio e elegância, sob a luz da ética, sempre buscando alternativas e nunca convidando cidadãos a “juntar a bagagem” e mudarem-se de cidade ou estado, até porque isso nos tornaria realmente habitantes de um rincão inóspito, criando um problema grave de ter que na pior das hipóteses esvaziar o estado. Tudo indica que grande parte dos leitores, ou não leram o texto todo, ou foram induzidos por alguém a tomar posicionamento imediatista, ou são hipócritas, ou são oposicionistas de plantão ( e aí sim, temos um problema que é o fato de vivermos em meio a extremistas). É preciso com certeza separar o joio do trigo, e entender que parte do que o professor enfatizou foi para despertar nos rondonienses que vivam mais as coisas de sua região, ou seja, que mais ardorosamente demonstrem mais envolvimento com as coisas do estado. Talvez o professor não tenha alcançado seu objetivo, porém uma coisa é certa seu blog foi bem visitado. Amém.

terça-feira, 28 de abril de 2009

A Gripe Suína em Porto Velho?


A gripe suína e o “Espírito de Porco”


Professor Nazareno*


A recente crise econômica global ainda não deu sinais de acabar e o mundo é sacudido mais uma vez por uma nova e perigosa ameaça: a gripe suína. Originária do México, até agora ela já se alastrou por vários países em pelo menos três continentes. Espanha, Nova Zelândia, Escócia, Canadá e Estados Unidos já têm casos oficialmente registrados. No Brasil há vários casos sob suspeita e as autoridades mundiais estão sob constante alerta. O Governo Federal criou um gabinete para acompanhar a possível evolução da doença no país. Vários aeroportos estão sendo monitorados. A OMS, Organização Mundial da Saúde, da ONU, já alertou autoridades e sanitaristas do mundo inteiro para a possibilidade de uma pandemia. No âmbito local, será que já deslocaram equipes para o Aeroporto Internacional Governador Jorge Teixeira de Oliveira?

Em Porto Velho, no entanto, o clima ainda é de tranqüilidade absoluta. Como muitos afirmam e podem até jurar que a crise econômica mundial não chegou por aqui, é bem possível que a “peste dos porcos” nem queira também aparecer entre os rondonienses. O prefeito Roberto Sobrinho nem se pronunciou sobre a estratégia da Prefeitura Municipal e da sua Secretaria de Saúde caso se admita a ‘remota possibilidade’ da epidemia ‘querer beber água do Madeira’. No cenário estadual, o governo de Ivo Cassol também não se pronunciou sobre o perigo iminente. Esta inexplicável tranqüilidade das nossas autoridades tem, certamente, alguma razão aparente: diante da anunciada catástrofe elas ainda dispõem de tempo para confrontar, na mídia, os péssimos números do atendimento (de um e de outro) na área da saúde.

O Hospital de Base Dr. Ari Pinheiro e o Pronto-Socorro João Paulo Segundo devem ser as estratégias apresentadas pelas nossas autoridades para enfrentar a possível crise. Referências nacionais em bom atendimento e também na cura e tratamento de várias patologias, estas duas unidades hospitalares contam com os serviços profissionais de médicos extremamente dedicados, competentes e preocupados com a saúde preventiva da população. Mesmo sendo o estado do país onde existe o menor percentual de médicos por habitantes, Rondônia ainda pode contar com uma excelente rede de Postos de Saúde dos municípios. Em Porto Velho, várias policlínicas: Ana Adelaide, Rafael Vaz e Silva, Alfredo Silva, etc. Na área particular, os planos de saúde (totalmente desnecessários devido à competência do Estado nesta área), poderão servir de auxílio complementar cedendo suas estruturas com tecnologia de ponta e acomodações de Primeiro Mundo.

Certamente a peste suína não vai chegar por aqui. Com água tratada e saneamento básico de fazer inveja a qualquer capital do país, uma infra-estrutura urbana digna das capitais européias, uma excelente rede de atendimento médico nas áreas pública e particular e um clima de “Alpes suíços”, a “cidade das hidrelétricas” está pronta para enfrentar qualquer adversidade. Não será ‘um resfriadozinho qualquer’ que vai nos tirar o sono. Mas nunca é demais lembrar que outra gripe, a Espanhola, há menos de um século, matou mais de 40 milhões de pessoas no mundo inteiro e ceifou a vida até do presidente do Brasil na época, Rodrigues Alves. E os nossos mandatários que se cuidem: com este ‘espírito de porco’, ainda assim, eles não estão imunes a nenhum tipo de doença, principalmente a chamada gripe suína.


*Leciona em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com).

domingo, 26 de abril de 2009

Aconteceu numa fazenda chamada Brasil...


A Ratoeira



Um rato olhando pelo buraco na parede vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo em que tipo de comida poderia ter ali. Ficou aterrorizado quando descobriu que era uma ratoeira. Foi para o pátio da fazenda advertindo a todos. "Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa." A galinha, que estava cacarejando e ciscando, levantou a cabeça e disse: "Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que é um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda." O rato foi até o porco e disse a ele: "Tem uma ratoeira na casa, uma ratoeira."
"Desculpe-me Sr. Rato, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces." O rato dirigiu-se então à vaca. Ela disse: "O quê Senhor Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!"

Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima. A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pegado. No escuro, ela não viu que a ratoeira pegou a cauda de uma cobra venenosa. A cobra picou a mulher. O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre. Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal: a galinha

Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la. Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco. A mulher não melhorou e muitas pessoas vieram visitá-la. Muita gente veio vê-la e o fazendeiro então sacrificou a vaca para alimentar todo aquele povo.

MORAL DA HISTÓRIA: Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito lembre-se que, quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco.


segunda-feira, 20 de abril de 2009

Quem acredita no futebol?


O Importante é Perder


Professor Nazareno*

No último domingo, o Flamengo do Rio de Janeiro ganhou do Botafogo por 1 X 0 e se sagrou campeão da Taça Rio, edição 2009. Como os alvinegros ganharam o primeiro turno da competição, a Taça Guanabara, vão decidir em duas partidas, com o próprio rubro-negro, quem será o campeão do campeonato carioca deste ano. Se o Botafogo tivesse derrotado o Flamengo, seria campeão direto e não precisaria disputar as duas partidas finais. Mas como o que estava em jogo não era a honestidade do esporte, mas a ganância por dinheiro, não deu outra: tudo deve ter sido devidamente acertado para que houvesse as duas partidas da grande final.
Não precisa entender muito de futebol para compreender a ‘mutretagem’ acontecida em campo. A vitória do time do Flamengo aconteceu graças a um gol contra. Isso mesmo: foram os próprios jogadores do Botafogo que se encarregaram de fazer o que o Flamengo não estava conseguindo. Após o gol, as coisas se acomodaram e o jogo continuou tranqüilo até o apito final. Muito bom para o Botafogo perder. Terá pela frente agora duas partidas com uma média de 80 ou 90 mil torcedores em cada uma e uma pequena fortuna de quase dois milhões de reais e isto sem falar dos direitos de transmissão e outros ‘mimos’ que não existiriam caso tivesse derrotado o adversário.
Coisas estranhas andam acontecendo atualmente no esporte mundial. O Barão Pierre de Coubertin, que reinventou as Olimpíadas da era moderna e pronunciou a célebre frase “O importante não é ganhar, mas competir”, certamente está se retorcendo no túmulo muito tempo após a sua morte. Hoje, devido à conjuntura econômica que move os esportes mundo afora e, claro, não poderia deixar de ser também no Brasil, a frase do Barão poderia ser cunhada da seguinte forma: “O importante também é perder, dependendo do contexto”. Botafogo e Flamengo do Rio de Janeiro protagonizaram em abril de 2009 uma das maiores vergonhas para o esporte nacional e talvez até mundial.
Mas isto já aconteceu em outro esporte também, exatamente num domingo, maio de 2002, com o piloto brasileiro de Fórmula 1, Rubens Barrichello, que ainda está na ativa. Melhor piloto nos treinos e durante aquela corrida, ele simplesmente protagonizou a pior lambança de que se tem notícia no esporte entregando a vitória certa para o seu companheiro de equipe Michael Schumaker por ordens estritas dos cartolas da Ferrari. Com um milionário contrato assinado três dias antes, Rubinho frustrou a alegria de 174 milhões de 'babacas' que acreditavam, até àquela hora, que no esporte vencia sempre o melhor. Valia a vontade de vencer e dizer aos bilhões de torcedores no mundo inteiro que o Barão de Coubertin estava certo. Atitudes como a do piloto Rubens Barrichello não só envergonharam o país, mas todos aqueles que acreditam na honestidade dos esportistas. Comemorar a vitória do Flamengo sobre o Botafogo é no mínimo uma piada de mau gosto.
Brasil e Alemanha fizeram a final da Copa do Mundo de Futebol de 2002. O Brasil ganhou por 2 X 0, gols de Ronaldinho e se sagrou pentacampeão mundial de futebol. Ainda assim, teve que disputar as eliminatórias para o próximo mundial e poderia nem ter participado da competição caso não tivesse se classificado. A Alemanha que fora derrotada na final, teve a vaga garantida por ser país sede em 2006, Copa de que participou sem precisar passar pelo crivo das eliminatórias. Perdeu, mas se classificou enquanto o Brasil, o vencedor, teve que lutar pela sua vaga. Os dois times cariocas souberam conduzir com maestria o destino deles rumo aos milhões de reais enquanto ‘os torcedores otários’ ficam se iludindo achando que no esporte o melhor sempre vence. Triste ironia.


*O Prof. Nazareno leciona na escola JBC em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com)

sábado, 18 de abril de 2009

Faltou envolvimento de algumas pessoas...


Rondônia ainda corre perigo...


Professor Nazareno*


Claro que não tem nada a ver com as “hienas de shopping”. De tão alienadas e gordas nem se prestariam ou perderiam seu ‘precioso’ tempo e disposição para impor qualquer atitude ameaçadora a quem quer que seja. Nem com os falsos telúricos ou os metidos a xenófobos de plantão. Não tem nada a ver também com os professores de História, com ou sem religião, que falam das Cruzadas, da Reforma ou Contra-Reforma, de Calvino ou Lutero. E muito menos com aqueles que viram e ainda teimam em dizer que o rei está vestido. O maior problema está na classe política do Estado e também da cidade de Porto Velho que diante do ‘tsunami Eliane Brum’ não deram nenhum pio.

Perigo uma vez que poderia ser normal que alguém escolhido para representar o cidadão comum não estivesse ali, nas trincheiras abertas, nas batalhas que se seguiram, nos textos e nas discussões geradas, nem para atacar nem para defender e muito menos para dizer o que pensava sobre o tema. Algum partido se pronunciou ou alguma autoridade falou alguma coisa sobre o acalorado assunto? Nem um único assessor e muito menos os eleitos que dizem representar os eleitores pronunciaram qualquer tipo de opinião. Ficamos à mercê da própria sorte. Será que as excelências entenderam que “Em Rondônia é assim mesmo...?”. E o que é pior: “Deve continuar assim mesmo...?”.

Para a maioria dos políticos, que dizem nos representar, a vida vai continuar seguindo o seu ritmo normal. Vão continuar indo ao “Buchódromo” da capital, que ostenta o curioso título de área com a maior incidência de camisinhas usadas por metro quadrado talvez do país enquanto, no local, os cachorros continuarão a levar seus donos para o já habitual passeio diário e todos, felizes e saltitantes, lêem a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na ordem inversa e mesmo com os artigos embaralhados como colocaram lá, sem se preocupar com os restos de sêmen humano deixados nas noites anteriores.

Parte dos políticos deve ter ficado feliz, pois um bom percentual dos eleitores apenas atacou quem disse que problemas havia na cidade e não os responsáveis pelos buracos das ruas, a fedentina, o lixo, a falta de arborização e de lugares públicos, a falta de saneamento básico, os engarrafamentos, a falta de porto, o rol de obras inacabadas da Prefeitura Municipal e também a nova ponte que a empresa CAMTER fez no rio Candeias e que está para desabar. Nem fizeram declarações de que a repórter era “persona non grata” e que a Revista Época mentiu. E talvez por isso eles, nesta história, entraram calados e saíram mudos. E certamente estão torcendo para que tudo isto caia rapidamente no esquecimento e que as coisas se acalmem e “voltem logo ao normal”.

É muito perigoso dar aos políticos tanto fôlego, tanta tranqüilidade, mas foi isso que fizemos quando elegemos e atacamos um inimigo comum: um simples Blog ou uma revista de circulação nacional. O que o prefeito achou disto tudo? Os deputados estaduais eleitos pelo município? E as autoridades em geral? Ficamos expostos à ira alheia e quase fomos às vias de fato e em vez de discutir se Porto Velho tem o terceiro mais bonito pôr do sol do Brasil, como se isto pudesse ser mensurado, devíamos aprender com o episódio e unir as nossas energias contra os que têm a obrigação de nos defender e nos proporcionar uma vida melhor. Mas se isto não acontecer, aí, sim, Porto Velho e Rondônia correm perigo. Sério perigo de continuar tudo na mesma.


*Leciona em Porto Velho (profnazareno@hotmail.com)


terça-feira, 14 de abril de 2009

"Em Porto Velho, não diga que o rei está nu!" - Revista Época



Atenção internautas, visitem este site aí abaixo e digam que eu ( um simples 'professor Nazareno') não estava com a razão quando publiquei, uns 04 dias antes da revista Época, o texto:

"Em Rondônia é assim mesmo..."


http://www.rondoniagora.com/web/ra/noticias.asp?data=13/4/2009&cod=23978

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Professor Nazareno pede desculpas...



“Para muito além dos facões..."


Professor Nazareno*


A propósito das reações ao texto... “Em Rondônia é assim mesmo...”, publicado em alguns sites da capital e neste Blog, percebo como perfeitamente aceitável o fato de que pessoas se indignaram bem como louvável também o fato de que algumas outras me apoiaram. O problema ainda continua sendo a reação daquelas que não conseguiram ter reação, ou por que não leram, ou por que leram e não entenderam, ou por que simplesmente não se interessam por este tipo de discussão. “O contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença”, diz assim um velho ditado popular. Por isso o texto em questão é antes de tudo uma declaração de amor a Rondônia, mais especificamente a Porto Velho. É um grito indignado contra os revezes impostos pelo capital ao nosso já cambaleante meio ambiente amazônico. É um grito de dor pela História que desaparecerá. Se a Madeira - Mamoré é ensinada religiosamente como parte integrante do nosso passado, ela não mais será necessária: as cachoeiras que lhe margeiam os abandonados trilhos desaparecerão para sempre nos futuros navegáveis trechos que lhe deram origem. Como prostitutas ordinárias, dissemos sim ao cliente (Senhor Corrêa) que nos usa e abusa, e ainda me paga com dinheiro imprestável e sujo de gesso que cai em nossas cabeças. Se me estupram, por que tenho ainda que pagar pelo preservativo? Não há outro animal que ria da própria desgraça senão a hiena que se alimenta de carniça... Digo hiena para não ofender araras, papagaios, antas, pacas, capivaras...
Somos mais ou menos quatrocentas mil almas e quase fomos vencidos por apenas uma: a da senhora Andrea Rocha Izac, aquela que dizem ter dado uma entrevista a Eliane Brum, repórter da revista Época logo após a publicação do meu texto. Ela merece uma estátua bem grande, de uns 50 metros de altura lá na Avenida Jorge Teixeira ou no Centro da cidade, ou em outro lugar, por ter ‘levantado a lebre’. Toda vez que um porto-velhense a visse, lembraria das mazelas desta cidade e cobraria providências dos seus desastrados administradores, que são cegos, relapsos ou incompetentes, por falta de dinheiro ou de capacidade de administrar o dinheiro que têm à disposição. Seria bom perguntar por que apesar de tão pequena, esta cidade pode ser mais violenta do que o Sul do Pará ou o Rio de Janeiro das intermináveis guerras em suas favelas. Ou por que produzimos tantos pobres, apesar das muitas chuvas, quanto o árido sertão do Nordeste. Políticos são mortos e já o foram em outros lugares do Brasil e Secretários de Segurança Pública também, mas se esses casos acontecem aqui, no nosso quintal, têm e devem ser motivos de preocupação para todos nós.
Quem sabe esta estátua não faria os rondonienses lembrarem do melhor executivo do mundo, apontado pela revista Financial Times de Londres, Carlos Ghosn, o todo-poderoso presidente da Renault e da Nissan? "Ghosn tem um cérebro privilegiado. É capaz de empacotar centenas de dados ao mesmo tempo e utilizá-los de forma a enxergar o que ninguém vê", afirmou recentemente Jean-François Manzoni, professor de liderança e desenvolvimento organizacional do Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Administração, na Suíça, que já esteve com Ghosn várias vezes. Poderíamos nos lembrar também de José Maurício Bustani Júnior, diplomata de carreira e que foi eleito diretor-geral da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), subsidiária da ONU, Organização das Nações Unidas, para o período 1997-2000, e reeleito para o período 2001-2005, mas não chegou a concluí-lo, por insistência do governo dos Estados Unidos em sua remoção, que ocorreu em 2002. Bustani conseguiu ‘peitar’ os falcões do Pentágono e enfrentou nada menos que George W. Bush no episódio das armas químicas e de destruição em massa que Saddan Hussein não tinha. Na época, a União Européia admitiu concordar com o relatório feito por ele e que denunciava os norte-americanos. “Não se faz uma guerra baseando-se numa mentira”, teria afirmado sobre o episódio, frase copiada por vários líderes mundiais.
Bobagem dizer que estes dois grandes homens são rondonienses e filhos de Porto Velho se aqui temos a “Bailarina da Praça”, “Manelão” da Banda-do-vai-quem-quer e Zezinho do bloco carnavalesco Maria Fumaça, e que justiça seja feita, fazem a alegria de todos. Qual o lugar do planeta que não se orgulharia daqueles dois filhos ilustres e abençoados? Será que Porto Velho já ouviu falar deles? Meus filhos já! Bisnetos de Parintintins, da margem direita do Madeira, sempre foram ensinados a amar esta terra, já que eu, “comedor de calango”, não posso. Eles são ensinados a não votar mais em prefeitos com o maior número de obras inacabadas do Brasil. Foram ensinados a repudiar uma população que literalmente defeca em seus monumentos históricos (os bravos pioneiros devem chorar quando vão à E.F.M.M). Eu choro quando volto à Calama dos casarões do Segundo Ciclo da Borracha que estão apodrecendo. Meus filhos também são ensinados a não adotarem o senso-comum quando tiverem que repudiar uma opinião. E já sabem que não adianta citar Voltaire quando os facões estiverem zunindo rente às suas cabeças. Mas, teimosos que são, insistem em querer ouvir Mp3, esnobar o novo celular para os amiguinhos, navegar na Internet, curtir MSN e Orkut e se encantar com Shopping Center e McDonald’s da vida achando que o papai e a mamãe, às vezes altos funcionários do Estado, lhes darão qualquer cobertura. A cidade de Porto Velho é mesmo este paraíso de coelhinhos saltitantes e borboletas azuis e por isso canta-se “Céus de Rondônia”, na versão oficial, e finje-se não existirem outras interpretações. “Maquio o monstro e faço plásticas no cadáver” e ainda consigo dormir em paz comigo mesmo.
Bravos rondonienses de Porto Velho, guardem seus ‘cravinotes, busquetões e trabucos’. Eu sou da paz, mas digam ao mundo que vocês, como rondonienses que são, ainda têm Vilhena (“que nem calor opressor tem”), Cacoal, Ariquemes e Rolim de Moura, para não citar outros exemplos de cidades interioranas deste estado, que deviam fazer parte do Primeiro Mundo. E que com apenas trinta aninhos ou menos, nos dão muita inveja, mesmo com alguns defeitos, pela sua pujança, organização e desenvolvimento. Admitam o péssimo atendimento médico que temos em Porto Velho tanto na área particular como, principalmente, na área pública e que foi denunciado pela revista Época e aceitem que não estamos encontrando saídas para este e para outros gravíssimos problemas. Só podemos transpor os nossos obstáculos se conseguirmos vê-los e entendê-los e não será apontando os defeitos alheios que resolveremos os nossos. Expulsem todos os que falam mal desta cidade, mas isto não aumentará os apenas três por cento de saneamento básico nem os ridículos 20 % de água tratada que temos, apesar de termos o já sentenciado de morte rio Madeira correndo bem ao nosso lado. Rogo-lhes perdão, mas isto também não resolverá os buracos das ruas e avenidas, os infernais engarrafamentos, a violência, a sujeira, a falta de ética na política local, as epidemias e nem nos devolverá a Jorge Teixeira e a Imigrantes, avenidas que o atual prefeito deu de presente ao Governo Federal. Perdoem-me, rondonienses, mas saibam que o ônibus continuará caro, a carne e o aluguel também e o porto que dá nome à cidade ainda não será porto. É apenas um barranco sujo e mal cuidado. Degolem-me, mas não se esqueçam de prestigiar o clássico do futebol local e de comprar pupunha, açaí, biribá, pequiá, bacaba, bacuri e tantas outras deliciosas iguarias regionais quando forem, em junho próximo, ao arraial “Flor do Maracujá”.


*É professor na Escola João Bento da Costa em Porto Velho

Poesia de Carlos Moreira


noturno

“a noite dissolve os homens.”

carlos drummond de andrade




a noite

será grande

escura sem estrelas

nem faróis

a noite

será antes

agora e depois

a noite

virá dentro

siamesa da luz

dissolverá

os olhos os sonhos

os sóis

só muito depois

dessa noite

muito além do momento

em que o silêncio

desfez-se em pó

nascerá

a palavra viva: feixe de luz

peixe livre

entre os anzóis

Moreira é professor de Literatura