sábado, 31 de agosto de 2024

Rondônia e os “zeróis” da fumaça

Rondônia e os “zeróis” da fumaça

 

Professor Nazareno*

 

            Rondônia sempre foi um rincão incivilizado, atrasado e subdesenvolvido. Sua tosca, suja e imunda capital é a pior cidade do Brasil para se viver. Porém, toda essa desgraça nunca teve problema nenhum. Aqui, orgulhosamente temos o pior hospital público do país, o “açougue” João Paulo Segundo, temos também em Porto Velho a pior infraestrutura de cidade com o menor IDH e de quebra ainda temos o pior ar para se respirar. Mas estranhamente a maioria do povo daqui está muito feliz. Um povo feliz e também orgulhoso. Principalmente com os seus representantes. Quanto mais fumaça e destruição, mais alegre esse povo fica. Numa recente pesquisa, o atual prefeito da cidade, que nada fez para resolver os mais elementares problemas do município que há oito anos administra, apareceu com um dos maiores índices de popularidade do país. Um fato raro.

            O Dr. Hildon Chaves, que nasceu em Recife, Pernambuco, é um verdadeiro herói para muitos porto-velhenses. Não aumentou em absolutamente nada a já precária rede de esgotos da cidade, que é uma das piores do país, e também não resolveu o problema das alagações. Mas é herói desse povo ignaro. A candidata que escolheu para lhe suceder já dispara com mais da metade dos votos válidos, segundo uma pesquisa divulgada recentemente. Sobre a fumaça que há mais de um mês castiga impiedosamente os cidadãos porto-velhenses, ele não deu um pio sequer. E nem fez absolutamente nada para amenizar o caos a que somos submetidos nestes dias tenebrosos. Mas ele continua muito popular. Populares também são todos os 21 vereadores da capital. Nenhum deles também nada fez para acabar com a fumaceira criminosa. Mas são heróis! São os escolhidos daqui.

            Outro destemido quase anônimo no meio dessa fumaceira toda é o governador de Rondônia, o bolsonarista Marcos Rocha. Ele decretou estado de emergência climática e proibiu que se usasse fogo no Estado por um período de 90 dias. (Será que pode usar fogo para cozinhar alimentos?). Rondônia está sob uma enorme mancha de fogo com mais de 500 quilômetros de extensão. A fumaça tóxica asfixia velhos, crianças e pessoas doentes que lotam os precários hospitais. Até agora ninguém foi responsabilizado e nem preso pelas “forças” anti-incêndio de Marcos Rocha. Rondônia está sob a fumaça e a fuligem há mais de um mês. Um mês inteiro respirando monóxido de carbono e nem o governador nem o prefeito da capital falam nada sobre o assunto. Não suspenderam as aulas nem disseram nada a seus tolos eleitores. Mas são os “guerreiros” desse povo asfixiado. Pode?

            A Assembleia Legislativa do Estado também ficou até agora de bico calado. Todos os deputados estaduais devem ser tratados como “zeróis” de Rondônia. Todos eles preocupados com a situação de catástrofe ambiental. Porém, há uma heroína em toda esta situação: trata-se da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. A acreana ministra de Lula “fez das tripas coração” para coibir os incêndios na Amazônia, mas nem ela nem Lula vieram aqui. Marina é a “dama da preservação” junto às ONG’S e aos artistas que antes cantavam hinos para salvar o bioma. Já Lula, o nosso querido presidente, deveria ganhar um Prêmio Nobel por ter salvado não só os yanomamis, mas também toda a fauna e flora amazônicas. Viva aos nossos senadores,  deputados federais, IBAMA, ICMBio, às secretarias estaduais e municipais de meio ambiente e nossas atentas Forças Armadas. Sou feliz! Só não me peçam para eu cantar o hino Céus de Rondônia.

 

 


*Foi Professor em Porto Velho.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Pandemia e Fumaça: tudo a ver

Pandemia e Fumaça: tudo a ver

 

Professor Nazareno*

 

            As queimadas na Amazônia e a pandemia da Covid-19 têm muitas coincidências. As duas desgraças assolaram o Brasil quase ao mesmo tempo e afetaram grandes partes da população do país. As mortes até agora na Covid já passaram das 700 mil. Nas queimadas só se saberá quando o caos diminuir, mas já se sabe que não chegará a tanto. As pessoas deviam usar máscaras o tempo todo e evitar, se possível, o contato. Atividades físicas ao ar livre foram evitadas e os organismos mais afetadas nos dois casos são das crianças e das pessoas mais velhas assim como aqueles portadores de comorbidades. Nos dois casos também não há remédios, só a prevenção mesmo. As comemorações do Sete de Setembro foram suspensas em Porto Velho. Comemorar o quê? Uma pátria cheia de fumaça, de fuligem de monóxido de carbono e também de desrespeito ao meio ambiente?

Porém o que mais chamou a atenção foi, em ambos os casos, a inércia total das autoridades para encarar o problema. A incompetência dos prefeitos, dos vereadores, governadores, deputados, senadores e até do governo federal chamou a atenção de todos no Brasil. Em Rondônia, por exemplo, o prefeito da capital e o governador do Estado prometeram milhares de vacinas para o povo e falharam, óbvio. Ninguém fez nada para chegar às soluções. Na Covid-19 os negacionistas poderiam dizer que ela não existia, mas nas queimadas a fumaça é visível e está ali entrando na casa de todos. A diferença: geralmente são os ricos do agronegócio que incendeiam a Amazônia e o Pantanal, enquanto os pobres é que sofrem com a ganância absurda desses produtores rurais ambiciosos. Nos dois casos, quase ninguém foi punido por difundir mentiras e Fakenews.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Entregue a Amazônia, Brasil!

Entregue a Amazônia, Brasil!

 

Professor Nazareno*

 

       A Amazônia tem mais de 6,7 milhões de quilômetros quadrados de área territorial. Desse total, quase 60 por cento sempre pertenceram ao Brasil. Por isso é correto dizer que a Amazônia é nossa e que devíamos estar prontos para defendê-la da cobiça internacional. O nosso país tem total e absoluta soberania sobre esse vasto território já amplamente reconhecido pelas principais organizações internacionais como sendo nosso. Mas grande parte do povo daqui infelizmente não merece a Amazônia. “O Brasil não merece a Amazônia. Hoje praticamente todo esse vasto bioma está pegando fogo. Durante todo o mês de agosto de 2024, só se observou fogo, fumaça e fuligem nos céus da região. Os brasileiros de um modo geral, há décadas, incendeiam o bioma em busca de suas riquezas sem se preocuparem com o meio ambiente. Os brasileiros não estão sabendo cuidar dela.

            Defendo intransigentemente que a Amazônia é do Basil e de todos os brasileiros, mas para o bem dela, a mesma deveria ser imediatamente entregue por um tempo determinado a uma espécie de “consórcio internacional” que soubesse melhor cuidar desse bioma. Durante anos inteiros os ataques à Amazônia não cessam. É mercúrio nos rios que os garimpeiros jogam indiscriminadamente sem se preocupar com as terríveis consequências. É construção de hidrelétricas mortais que ajudam no assoreamento dos imensos rios. É desmatamento contínuo para dar lugar às pastagens e a outras comodities. É morte de índios e também de outros povos originários. É ataque de tudo que é jeito e maneira. Sendo dos brasileiros, ela não vai resistir mais por muito tempo. O rio Madeira em Rondônia, por exemplo, já está praticamente morto por causa da ambição desmedida.

            E como a Amazônia tem importância vital para a sustentabilidade mundial, ela devia ser arrendada ou até mesmo vendida ou cedida. Muito melhor do que ela ser extinta. E como muitos países já destruíram suas reservas biológicas, só resta mesmo a Amazônia como única tábua de salvação. Depois de recuperada e salva, ela seria devolvida a nós. Seria mesmo? Os estados da região como o Acre, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Amapá e Tocantins seriam administrados por esse novo consórcio. Já pensou o estado de Rondônia sendo administrado pelos bolivianos? Acho que as coisas iriam melhorar e muito por aqui. Não teríamos mais tanto mercúrio nos rios, não teríamos mais fumaça nem fogo na floresta e o ar que iríamos respirar seria infinitamente melhor do que esse que estamos respirando no momento. Até os políticos da região seriam logo substituídos.

            Há mais de um mês que Porto Velho está tomada por uma nuvem de fumaça tóxica vinda da queima da floresta amazônica. E tudo continua como se fosse normal. Aqui só respiramos monóxido de carbono e fuligem e ninguém faz nada para nos salvar. O rio Madeira já secou. Os poços de água com coliformes fecais que abastecem Porto Velho também já secaram. Nem merda misturada com água conseguimos mais beber por aqui. Em Belém, Manaus, Rio Branco e Cuiabá a situação é quase a mesma: só fogo e fumaça. Entregando a Amazônia a um consórcio internacional, receberíamos dinheiro pelo arrendamento e salvaríamos o mundo da catástrofe certa. Nem Lula, nem Bolsonaro, nem nenhum outro presidente, governador ou mesmo prefeito da região enfrentou o problema das queimadas e da destruição quase certa desse bioma. E nem avisava às Forças Armadas e entregaria logo a Amazônia à ONU, à OEA ou à União Europeia. Ou então aos índios!




*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Vergonha: governos do fogo

Vergonha: governos do fogo

 

Professor Nazareno*

 

Porto Velho, capital de Roraima, tem um prefeito. É o Dr. Hildon Chaves. Já o coronel Marcos Rocha é o governador de Rondônia, enquanto Lula é o presidente do Brasil. Esses três cargos são, claro, do Poder Executivo. E cada um deles tem inúmeros secretários e ministros de Estado para auxiliá-los nas tarefas diárias. Isso sem falar nas autoridades dos outros poderes. No Poder Legislativo existem os vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores. No poder Judiciário as listas são quase infinitas de autoridades. E todas elas deviam zelar pelo bem-estar da população, à qual todas essas autoridades, em tese, deviam estar subordinadas. Mas hoje o Brasil está literalmente pegando fogo. As queimadas tomaram conta do país numa proporção jamais vista em toda a história. A fumaça tóxica castiga assustadoramente todo o país. E o silêncio impera.

E ninguém fala nada. Lula, Hildon Chaves e Marcos Rocha parece que vivem em outro mundo. Será que não veem a fumaça e nem o sofrimento do povo? E estamos em plena campanha política para a escolha dos novos vereadores e prefeitos. E nenhum deles até agora foi à mídia ou às redes sociais para protestar contra esta tragédia ambiental que assola toda a população, inclusive a que vota neles. Em Porto Velho, por exemplo, o mês de agosto de 2024 foi o mais trágico em matéria de fogo na floresta e consequentemente de fumaça. Um mês inteiro vivendo sob condições insalubres e nenhuma autoridade se solidarizando com o povo que devia proteger. Mesmo sem fumaça, Porto Velho já ostenta o título de pior cidade do Brasil para se viver. Tem o pior ar para se respirar, tem o pior hospital público do Brasil. Imagine-se agora com a densa cortina de fumaça e de fuligem.

Senhores candidatos! Fiquem indignados! Protestem! Vereadores de Porto Velho, trabalhem em benefício dos seus eleitores. Dr. Hildon Chaves, o que o senhor está fazendo para enfrentar esse caos? Vá à mídia! Diga alguma coisa! Mexa-se, homem de Deus! Não foi o senhor que disse um dia que ia abraçar, beijar, acariciar e cuidar de Porto Velho? A hora é agora. Não deixe sua carreira política também virar fumaça. Polícia Federal, pelo amor de Deus! Faça com os incendiários o mesmo que vocês fizeram com os garimpeiros lá em Humaitá. O que está faltando para isso? Todos sabem: o agronegócio pode ser o maior responsável por todo esse fogaréu que castiga a todos nós. Pesquisem, investiguem, façam alguma coisa! Governador Marcos Rocha, esqueça o “Built to Suit” e se dedique ao combate ao fogo e à fumaça. Suspenda as aulas, decrete catástrofe estadual! Mexa-se!

Vá à televisão, vá às mídias sociais, diga alguma coisa, homem! O senhor não quer ser senador algum dia? Ouvi dizer que o Hildon Chaves quer ser governador no seu lugar. Mas sem combater essa fumaça e o horror, nada feito para nenhum de vocês! O governador de São Paulo, um bolsonarista, já prendeu até agora cinco pessoas tocando fogo no mato. Por que em Rondônia ninguém se manifesta? Lula, cadê você? Você não disse que era melhor do que o Jair Bolsonaro? Mostre isso agora! O PT e a classe artística não protestavam quando havia fogo no governo passado? Cadê todos eles? Por que não fazem isso agora que o caos chegou aqui pra valer? Os governos estão perdidos nesse armagedon. Ninguém se mobiliza para nos salvar. O Brasil está à deriva e na iminência de desparecer sob o fogo e não aparece um só salvador da pátria. Os governos federal, estadual e municipal abandonaram o seu povo. Brasil: vergonha mundial. E há culpados?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


 

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

E Rondônia foi privatizada

E Rondônia foi privatizada

 

Professor Nazareno*

 

            O jovem estado de Rondônia é uma espécie de “aborto da natureza”. Não tem nem nunca teve importância nenhuma na já caótica e triste realidade nacional. O número de habitantes nas suas principais cidades só diminui a cada dia. A diáspora rondoniana é sentida principalmente em sua capital, Porto Velho. Esse Estado foi resultado de um dos maiores desastres ambientais da história da Humanidade e hoje está em franca e visível decadência. Talvez por isso ou em consequência disso, resolveu-se de uma hora para outra privatizar tudo o que existe por aqui. Desde praças e monumentos até as belezas naturais como, por exemplo o rio Madeira. O velho “rio das Madeiras” não só foi privatizado, mas praticamente morto pela ambição humana. Fincaram-lhe duas hidrelétricas no seu já assoreado leito e o resultado prático é que nem mais madeiras em seu curso ele tem mais.

            Privatizado, assoreado e sem peixes, o velho Madeira agoniza a cada ano e sua morte já é quase certa. Este ano de 2024 vai secar tanto que em alguns trechos ficará difícil até para se navegar de canoa. Mas a sanha privatista e perversa não parou por aí. O agronegócio pode ser o maior responsável pelas queimadas que se verificam no estado todo ano no verão amazônico. A floresta arde em chamas para dar passagem a mais produção de commodities. A fumaça sufocante e tóxica invade os estados de outras regiões denunciando o pouco caso que Rondônia tem com o já combalido meio ambiente. Durante todo o mês de agosto, Porto Velho teve o pior ar do Brasil para se respirar. Os poucos hospitais se encheram de velhos e de crianças com problemas respiratórios. “É o progresso em Rondônia”, dizem os mais desinformados. Mas o sofrimento atinge a todos.

Privatizaram também a antiga Ceron, Centrais Elétricas de Rondônia, por um preço ínfimo, mas os benefícios ainda não apareceram para ninguém. Como esquecer o apagão do dia 22 de agosto último? Estão querendo privatizar a Caerd, Companhia de Água e Esgotos de Rondônia. Só que a bola da vez foi a EFMM, a lendária e histórica Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Dizem que a velha “Ferrovia do Diabo” pertence ao povo de Rondônia. Mentira! Se você quiser visitar o museu tem que pagar pelo menos 33 reais. Muito caro e até inadmissível. Para se visitar o Museu do Louvre em Paris paga-se somente 17 euros. Só que o salário mínimo francês é de quase 1.600 euros e aqui no Brasil não passa de 1.412 reais. Além do mais o Louvre é visitado por pessoas do mundo inteiro, enquanto a EFMM... Mas ambos têm a sua importância. O Louvre superado pela EFMM?

O poder público é que deveria custear a EFMM e seu museu, dada a relevância deles para Rondônia, para os rondonienses e principalmente para os porto-velhenses. Embora estejamos cansados de ver trilhos espalhados pela cidade de Porto Velho servindo de proteção para algumas casas e comércios. Vimos também as águas do rio Madeira invadirem lentamente os galpões históricos na grande enchente de 2014. Talvez por isso, resolveram “vender” o maior e mais importante ponto histórico e turístico daqui. Cobrar 10 reais a título de manutenção já seria algo muito incomum. Ainda assim, duvido que muita gente se interessasse em visitá-lo. E não tem que privatizar nada. O poder público tem competência suficiente para administrar sua própria história. Se privatizar fosse bom, o “Built to Suit” do governador Marcos Rocha teria dado certo e a velha EFMM estaria com multidões na sua porta. Fato: “Quando tudo for privado, seremos privados de tudo”.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Carta aberta aos políticos daqui

Carta aberta aos políticos daqui

 

Professor Nazareno*

           

 Até agora, segundo o site G1, temos pelo menos sete candidatos a prefeito em Porto Velho e exatos 434 candidatos a vereadores. E somente vinte e quatro dos senhores serão eleitos: um prefeito, óbvio, e a partir de agora, serão 23 vereadores. Muitos dos candidatos não são filhos da cidade, mas como moradores já há algum tempo e como cidadãos de bem e no exercício de suas prerrogativas políticas, têm todo o direito de se candidatarem a um cargo eletivo. Mas para quê? Porto Velho tem problemas até hoje “insolúveis”, mas dependendo da gestão, já teria resolvido a maioria desses obstáculos. Além de vontade política, é preciso que cada um dos senhores candidatos demonstre amor incondicional ao lugar em que nasceram ou que escolheram para viver. Eu não nasci aqui, muito menos escolhi “essa joça” para viver. Mas aqui estou pagando impostos há 43 anos.

Em janeiro de 1981, quando passava por aqui em direção ao Peru, Nicarágua e depois Cuba ou União Soviética, resolvi “dar um tempo” em Porto Velho e até hoje não saí. E todos os senhores candidatos têm e devem reconhecer que essa “curva de rio” amaldiçoada, atrasada e subdesenvolvida é só um arremedo de cidade. E quem diz isso não é o Professor Nazareno, um forasteiro que mora aqui, tem esposa rondoniense, dois filhos nascidos em Porto Velho e uma ficha de trabalho em escolas desde Calama no baixo Madeira até o Projeto Terceirão na escola João Bento da Costa. Quem afirma isso com todas as letras é o ITB, Instituto Trata Brasil. Porto Velho é a pior cidade do Brasil em qualidade de vida. Sem água tratada, sem saneamento básico, sem arborização, sem mobilidade urbana e sem IDH é o pior município para se viver dentre todas as 27 capitais.

Pensem bem, senhores candidatos! Como prefeito ou prefeita eleita ou mesmo como vereador (a) você vai resolver esses problemas? Ou pelo menos vai tentar resolvê-los? E não são apenas essas questões. E as queimadas que todo ano atormentam os nossos moradores? Quais as suas propostas para deter o caos e também para os porto-velhenses pararem de atear fogo na mata? Porto Velho tem o pior ar para se respirar em todo o país. E o hospital de pronto-socorro municipal? Temos aqui o pior hospital público de todo o Brasil. A prefeitura não poderia ter um hospital de pronto-socorro muito melhor do que o velho “açougue” João Paulo Segundo? O “Built to Suit” prometido pelo governador Marcos Rocha & companhia já acabou em “beiju de caco”. Entra prefeito e sai prefeito e nenhum desses problemas é resolvido. E os senhores têm consciência desses empecilhos?

Ser prefeito ou ser vereador de um lugar é ter competência e boa gestão para tentar solucionar os problemas de toda a comunidade. O atual prefeito da cidade, por exemplo, nada fez para enfrentar essas questões, mas estão dizendo por aí que ele vai sair do poder com 84% de aprovação popular. Quanto de rede de esgotos o Dr. Hildon fez na cidade? E a questão das alagações foi resolvida? E por que ele não fez nenhuma declaração sobre a fumaça? E o porto rampeado abandonado lá na beira do rio Madeira? Como fica? Porto Velho vai ficar assim mesmo sem porto? E a delicadíssima questão do aeroporto com escassez quase total de voos regulares? Não é à toa que Porto Velho está se esvaziando a cada dia. Dos quase 600 mil habitantes há uns dez anos, hoje a população mal ultrapassa os 460 mil moradores. Além de suja e imunda, a “Capital das Sentinelas Avançadas” quase não tem áreas de lazer. E se não for para enfrentar esse caos, nem peçam meu voto!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.


sábado, 17 de agosto de 2024

Gaúchos deviam cobrar Rondônia

Gaúchos deviam cobrar Rondônia

 

Professor Nazareno*

 

            O Rio Grande do Sul viveu em maio último talvez a pior catástrofe da natureza em toda a sua história. Temporais devastadores atingiram em cheio a Serra Gaúcha e a maioria dos vales dos rios que desembocam na lagoa Guaíba, que banha a capital Porto Alegre. Cidades inteiras foram arrasadas com 175 mortos, 38 desaparecidos, 18 mil pessoas em abrigos, 423 mil desalojados. A hecatombe gaúcha afetou mais de dois milhões e trezentos mil cidadãos e castigou pelo menos 478 municípios de um total de 497. Os prejuízos, claro, foram incalculáveis. O maior culpado por esta tragédia no sul do Brasil são as mudanças climáticas, que já são uma realidade e estão castigando vários lugares do mundo. Tudo isso é consequência direta das queimadas na Amazônia, que todo ano afetam estados inteiros como essas que estão acontecendo no momento em Rondônia.

            Por isso, os rondonienses, e também os outros estados da Amazônia, deviam ajudar os gaúchos a arcar com os prejuízos que tiveram em maio de 2024. Seria justo, mas se tivéssemos justiça neste país. Muitos rondonienses adoram incendiar o que ainda resta de floresta amazônica. No mês de agosto de 2024, os cantados céus azuis da “Capital dos Destemidos Pioneiros” transformaram-se em cinza-chumbo. Porto Velho detém hoje o pior ar para se respirar em todo o Brasil, como se não bastássemos ter o pior hospital público do país e também a pior qualidade de vida dentre as 27 capitais. Rondônia no Jornal Nacional envolta em fumaça parece que encanta e orgulha muitos dos moradores deste rincão atrasado e subdesenvolvido. Entre os dias 10 e 19 de agosto de 2024, por exemplo, pessoas usando máscaras nas ruas fumacentas e sujas era uma cena até normal.

            Mas o pior de tudo é a passividade das pessoas que sofrem com o descaso, assim como o silêncio quase mortal e incompreensível das autoridades locais. Até hoje nenhuma dessas autoridades, eleitas ou não, se manifestou sobre a hecatombe ambiental que afeta todo o estado de Rondônia e também a sua castigada capital. O prefeito Hildon Chaves nada falou. Parece que ainda não viu a fumaça que castiga impiedosamente a cidade que ele administra há oito anos. O presidente da Assembleia Legislativa do estado assim como o governador Marcos Rocha se calam, até agora, diante do Armagedon. Presidentes de tribunais e também outras autoridades judiciárias respiram o ar empesteado de fumaça e de fuligem e parecem ignorar tudo. Vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores e vários outros mandatários e órgãos de “defesa” da natureza ficam em silêncio.

            Por isso, o povo do Rio Grande do Sul, por intermédio do governo federal, que também não faz absolutamente nada para amenizar a nossa fumaça, devia cobrar taxas dos rondonienses. Doendo no bolso, esses rondonienses incendiários talvez aprendessem o que é preservação do meio ambiente. Mas parece que até já se marcaram reuniões a fim de se discutir a questão ambiental da fumaça em Porto Velho. Só que pode ser muito tarde. Já tocaram fogo na floresta e nos campos de pastagens e a fumaça já nos incomodou o quanto pôde. As reuniões deviam ter sido marcadas para março, abril ou maio passados. Bem antes da ação dos incendiários. Pelo amor de Deus, senhores autoridades! Fechar a porta depois de roubado é tolice. Todo problema tem que ser atacado na causa e não na consequência. Ouvi dizer até que a inoperante Câmara de Vereadores de Porto Velho tem uma comissão de meio ambiente. Santa ironia! O agro é pop e também ambiental. Certo?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Greta Thunberg em Porto Velho

Greta Thunberg em Porto Velho

 

Professor Nazareno*

           

A vedete do clima mundial, a jovem da Suécia, Greta Thunberg finalmente veio a Porto Velho. E não veio sozinha. Acompanhada do cantor Leonardo DiCaprio, Anitta, da ministra Marina Silva e do presidente Lula chegaram de ônibus à “capital das sentinelas avançadas”, pois o acanhado campo de pouso da cidade estava interditado para pousos e decolagens e por isso os dois voos diários foram transferidos para Manaus no Amazonas. Neste dia 15 de agosto de 2024, o Armagedon se instalou por aqui. A fumaça das queimadas provocadas pelos rondonienses encobriu por completo a cidade. Mas o exótico grupo de “defensores do clima” e do meio ambiente ficou bastante entusiasmado com a cidade, o estado e a população em geral. A ministra Marina Silva era uma das mais otimistas. “Nossos candidatos e apoiadores vão arrasar nessas eleições”, disse ela rindo.

            Greta Thunberg foi recebida na Câmara de Vereadores da cidade. Todos os 21 edis e também o prefeito da cidade foram elogiados pela sueca. Isso sem falar nas palavras elogiosas dirigidas por ela e também por Leonardo DiCaprio a todo o povo de Rondônia e em especial aos que moram em Porto Velho. “Esse povo daqui é incrível”, disse.  E prosseguiu: “com um simples palito de fósforo transforma o dia em noite como num passe de mágica”. Além do mais, esse povo tem muito poder, pois “consegue também provocar catástrofes em outros estados como aconteceu recentemente no Rio Grande do Sul em maio último”. Greta também disse que os vereadores de Porto Velho e o prefeito Hildon Chaves são verdadeiros heróis do povo desta cidade. Eles conseguem dar uma qualidade de vida sem igual a toda essa gente. “Todos eles deviam ganhar uma espécie de Nobel”.

            O presidente Lula, no entanto, fez duras críticas ao governo passado. Disse que Jair Bolsonaro foi um verdadeiro incendiário na região amazônica. “O nosso governo sempre se preocupou com a preservação da Amazônia e de todo o seu povo. Por isso, nunca medimos esforços para evitar as queimadas e a destruição desse bioma”, disse Lula. E continuou: “vejam a atuação quase perfeita do Ibama, do ICMBio, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Ambiental e de vários outros órgãos de defesa do meio ambiente”. O prefeito Hildon Chaves, vários outros prefeitos do interior, alguns vereadores e também o governador Marcos Rocha riam e aplaudiam quase sem parar aqueles discursos tão verdadeiros. “Qualidade de vida para o nosso povo sempre foi uma busca de nossa administração”, admitiu o prefeito, que foi aplaudido por todos. “Nosso ar é respirável!

            Leonardo DiCaprio e todos os outros participantes dessa “comitiva dourada” estavam eufóricos com a qualidade do ar que os porto-velhenses respiram no seu dia a dia. Disse que ouviu dizer que o prefeito daqui tem 84% de aceitação popular e reclamou: “como pode um defensor do meio ambiente, da natureza e da qualidade de vida para o seu povo ter ainda 16% de rejeição?”, questionou o astro de Hollywood. A campanha eleitoral começa amanhã, dia 16 de agosto de 2024, e todos os vereadores sonham em ser reeleitos por causa dos grandes préstimos que têm proporcionado aos habitantes da cidade. Óbvio que o atual prefeito deveria ser reeleito para um terceiro mandato, mas a Constituição não permite, para azar do povo de Porto Velho e também de outras cidades do interior do estado. Greta Thunberg e comitiva depois de analisar o ar que respiramos vão visitar o “açougue” João Paulo, o porto rampeado e a rede de esgoto da cidade. Ufa!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 14 de agosto de 2024


O ARMAGEDON é aqui! Viva os incendiários da Amazônia! Eles venceram a natureza! E haja fogo na floresta amazônica!

domingo, 11 de agosto de 2024

Brasil: vergonha olímpica

Brasil: vergonha olímpica

 

Professor Nazareno*

 

            Terminaram as Olimpíadas de Paris/2024. Ainda bem: eu já não conseguia mais ver tanto fracasso dos atletas brasileiros nos jogos e disputas. Em praticamente todos os esportes em que competiram, a frustração e a derrota já certa dos nossos atletas era uma triste rotina. Com somente 20 medalhas conquistadas, sendo apenas três de ouro, o Brasil ficou numa ridícula posição na classificação geral dos jogos olímpicos atrás de países sem nenhuma tradição e de população bem minúscula como Irlanda, Suécia, Nova Zelândia, Quênia e Hungria. Só empatamos com Irã, Geórgia, Bulgária e Ucrânia (um país que está em guerra há quase três anos). Ficamos atrás até de um tal Uzbequistão. Alguém sabe por acaso onde fica essa nação de nome exótico? O Brasil fracassou em tudo. Foi um fiasco total nas competições. Devia não participar mais de Olimpíadas nem de Copa do Mundo.

Aliás, na última Copa de que participou lá no Catar em 2022, foi eliminado precocemente nos pênaltis pela fraca seleção da Croácia. Uma vergonha e tanto! Uma humilhação. O hoje frágil futebol brasileiro sequer foi classificado para competir em Paris e dessa forma nos poupou de morrer de tanta raiva e de vergonha. Os fracos jogadores de futebol de campo foram até bons conosco, pois nos pouparam de ver mais vexames. E provavelmente também não vão se classificar para a próxima Copa do Mundo na América do Norte. Os poucos cidadãos do nosso país que tiveram paciência e tempo suficientes para ver o Brasil competindo “quebraram a cara” com tanta frustração e tantas derrotas. Na verdade, o cidadão comum deste país só entende mesmo, e muito pouco, de futebol. Deve ser por isso que não quis perder tempo vendo as competições na televisão. Um saco!

O futebol feminino ganhou “uma prata que vale ouro”. As outras medalhas: uma foi da desconhecidíssima lutadora de judô Bia Souza. Mulher, negra e pobre ela foi uma heroína e desbancou a elite branca, machista e rica. Já o ouro de Rebeca Andrade pode ter sido uma espécie de “bonificação” da ginasta americana Simone Biles, sua amiga. Rebeca, também mulher, negra e pobre teve competência para ganhar outras medalhas e assim o fez. Porém, a brasileira ainda está muito longe do nível de uma Simone Biles ou da premiadíssima Nádia Comaneci da Romênia em Montreal e Moscou. O outro ouro foi no vôlei de praia. Mesmo assim, os atletas tupiniquins são uns heróis desconhecidos que praticamente não têm patrocinadores. Por isso, cada medalha conquistada é um milagre. Diferente dos atletas de países ricos, que têm no esporte e na escola a redenção dos jovens.

As nossas escolas não treinam os seus alunos para esporte nenhum. A iniciativa privada praticamente só dá patrocínio se o atleta ganhar antes medalhas olímpicas. Por isso, é comum ver em Porto Velho, por exemplo, atletas pedindo esmolas em sinais de trânsito para participar de competições em outros lugares. Deve ser assim também em outras cidades e estados do Brasil. Mas o presidente Lula do PT teve uma “grande ideia”: dispensou os 27,5% que a Receita Federal queria taxar nos raros prêmios recebidos pelos pobres atletas. Lula não é uma maravilha de pessoa? O handball falhou, o vôlei de quadra feminino falhou, o vôlei de quadra masculino foi eliminado, o boxe só apanhou, o Isaquias Queiroz não ganhou o ouro, a natação foi péssima e no basquete fomos arrasados pelos Estados Unidos. O Brasil só triunfa mesmo é na corrupção, na desigualdade social, na habilidade de tocar fogo na Amazônia e na fome. Já o brasileiro só é bom em dar golpes.

 

 

. *Foi Professor em Porto Velho.

 

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Fumaça: de quem é a culpa?

Fumaça: de quem é a culpa?

 

Professor Nazareno*

 

            Agosto de 2024. Rondônia e a sua capital Porto Velho desaparecem sob a fumaça das queimadas. Como nos últimos 50 ou 60 anos, a realidade é a mesma durante o verão na Amazônia ocidental. O que ainda resta de floresta tropical arde inclemente sob o fogo criminoso. A fumaça tóxica aumenta as doenças respiratórias em crianças, velhos e nas pessoas com problemas de asma, bronquite, rinite alérgica e sinusite. Os poucos hospitais, sem nenhuma estrutura de funcionamento, lotam nesta época do ano. Porto Velho foi considerada pelo IPC, Índice de Progresso Social, como a capital que tem o pior ar em todo o país. Mas de quem é a culpa por esta tragédia que assola essa região todo ano? Rondônia tem 52 prefeitos, 52 vice-prefeitos uns 600 vereadores, tem governador, vice-governador e vários secretários de estado. Por que ninguém toma providência nesse caos?

            O estado tem 24 deputados estaduais, 8 deputados federais, 3 senadores, vários juízes, muitos promotores de Justiça, tem desembargadores, 2 Ministérios Públicos, tem um Tribunal de Justiça, tem Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, tem quartéis do Exército, tem Base Aérea, tem Marinha do Brasil, tem Polícia Federal. Além do mais, o governo federal tem Lula como presidente do país e Geraldo Alckmin como vice. Tem pelo menos 37 ministérios, dentre eles, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima sob a responsabilidade da acreana e amazônida Marina Silva. Existe ainda o S.T.F e vários outros tribunais no país. Mas a fumaça teima em aparecer todo ano por aqui. Esse absurdo é, claro, a consequência maior de quem toca fogo nesse bioma, que está em vias de extinção. Pior do que a agonia é o silêncio de todos.

            A fumaça da Amazônia e também do Pantanal “viaja” e já está chegando às regiões mais ao sul do país e com certeza poderá provocar, dentro de pouco tempo, desastres ambientais catastróficos como o ocorrido em maio último no Rio Grande do Sul. A fumaça daqui bloqueia as nuvens de chuva, que castigam sem dó as populações afetadas. Além do mais, satélites internacionais captam os focos de incêndio no que ainda resta de floresta tropical no Brasil. Mais uma vergonha para o nosso país perante as autoridades do mundo inteiro. Mas ninguém tem culpa pela fumaça criminosa e assassina que presenciamos todo dia em Porto Velho. Culpar o ex-presidente Jair Bolsonaro não cola mais. Embora ele tenha incentivado incêndios na Amazônia, está há quase dois anos fora do poder e esperando, quem sabe, o dia em que será preso pelo mal que fez ao Brasil.

            Estamos bem próximos de mais uma campanha eleitoral e os 21 vereadores de Porto Velho, por exemplo, sequer falam dessa “Hiroxima do descaso” que bate a nossa porta e contamina os nossos pulmões. Nem eles nem os outros centenas de candidatos. Alguns até já falam mentirosamente em melhorar a qualidade de vida do porto-velhense, mas não veem nessa fumaça um dos fatores que precisa ser atacado e exterminado. Parece que o fogo e o ar empesteado com a espessa fuligem são sempre um problema dos outros, embora cada um de nós os respire a cada instante. Surreal: uma tragédia humanitária visível, mas que não tem culpados. E nem precisa dizer que em Rondônia tem Ibama, Secretarias de Meio Ambiente e outros órgãos de “defesa da natureza”. Já sei: o único culpado deve ser eu, o Professor Nazareno, pois sou a única e solitária voz que em nome da minha rinite alérgica e da asma do meu filho, faço como João Batista: prego no deserto.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 4 de agosto de 2024

A alegria dos incendiários


A alegria dos incendiários

 

 

Professor Nazareno*

 

 

            Assim é o estado de Rondônia. O fogo intenso neste verão amazônico encobre de fumaça tóxica, mais uma vez, todas as 52 cidades do estado. No último dia 2 de agosto de 2024 todo o céu do jovem estado estava totalmente encoberto e “cinza-chumbo”. Porto Velho foi considerada como a capital do país que tem o pior ar para se respirar. A visibilidade nesse dia não chegava sequer a 50 metros. Prédios encobertos pela fuligem, pessoas tossindo, trânsito prejudicado, luzes acesas em pleno dia. Mesmo sem voos regulares, o acanhado aeroporto da cidade ficou fechado e os poucos e raros hospitais da cidade estavam lotados de velhos e de crianças principalmente. Pessoas com problemas respiratórios sofriam para encontrar oxigênio na atmosfera. Com temperaturas diárias superiores aos 40 graus, Porto Velho mostrou por que é chamada a “antessala do inferno”.

Todo esse caos contrasta, no entanto, com o hino “Céus de Rondônia”, que além de ser muito feio, também é mentiroso e com uma letra cheia de hipocrisia e de enganação. “Azul, nosso céu é sempre azul. Que Deus o mantenha sem rival. Cristalino muito puro. E o conserve sempre assim”. Joaquim Araújo Lima, o autor dessa letra hoje mentirosa, talvez não tivesse vivido a realidade de desastre ambiental que nós vivemos nos dias atuais. Por isso escreveu essas palavras sem nenhuma dor na consciência. É preciso mudar urgentemente esse hino e adaptá-lo melhor à realidade de hoje. A criminosa fumaça que tanto incomoda os rondonienses sempre “viaja” para o sul do Brasil provocando assim um bloqueio atmosférico que, em tese, é o maior responsável pelas inundações que ocorreram no Rio Grande do Sul em maio último. Rondônia tem que parar com esse fogo!

O agronegócio de Rondônia pode estar por trás de toda essa tragédia. É preciso abrir mais espaço para as pastagens e para a produção de soja e de outros alimentos, por exemplo. E o fogo não se manifesta de forma tão espontânea assim. Alguém tem um fósforo na mão e já sabe perfeitamente que os órgãos “que se dizem de defesa do meio ambiente” não têm muita competência nem determinação para deter os incendiários. Os pecuaristas lucram cada vez mais e o povo, que aceita quase sem nada reclamar, paga o pato. Entre o governo Lula e o governo Bolsonaro, não se sabe quem mais incendiou a Amazônia. Só que todo esse fogaréu não é de hoje. O Coronel Jorge Teixeira, um Deus para muitos dos rondonienses, dizia que fumaça era sinal de progresso. “Estão plantando o futuro”, costumava dizer quando via fumaça. Até hoje o rondoniense taca fogo em tudo.

Dessa forma, sem punição e sem sofrer nenhuma consequência aparente por parte do poder público e também por parte de “órgãos invisíveis”, que deviam defender o meio ambiente, os grandes pecuaristas e produtores rurais se aliam ao fogo todos os anos. Por isso, os incendiários se esbaldam na alegria, no prazer, na satisfação e também na certeza do dinheiro que ganharão exportando as comodities que produzem todo ano ao custo do sofrimento alheio. E a classe política de Rondônia e de Porto Velho faz alguma coisa para diminuir esse Armagedon anual? Absolutamente nada. Até porque muitos desses mesmos políticos representam o agronegócio e muitas vezes são eles próprios donos de grandes extensões de terra no estado. Porto Velho tem o pior hospital público do Brasil, tem a pior qualidade de vida dentre as 27 capitais e agora tem o pior ar para se respirar no país. Você já viu ou ouviu algum deles mostrar alguma preocupação durante sua campanha eleitoral?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.