quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A Ponta do Abunã é de Rondônia! Alguém acredita?


A Secessão no Fim do Mundo


Professor Nazareno*


O Plebiscito marcado para o final deste mês de fevereiro e que tem como objetivo principal emancipar a Vila de Extrema, fronteira com a Bolívia e divisa com o Acre, é grosso modo uma aberração nos meios políticos não só de Rondônia, mas também do Brasil e abre caminho para outras localidades seguirem os mesmos passos. As particularidades desta votação, a que todo eleitor de Porto Velho está obrigado a comparecer, expõem ao resto do país e talvez até ao exterior a nossa maneira absurda e bizarra de fazer política e de tratar a coisa pública.

Único lugar do mundo onde os políticos devolvem dinheiro, com mais esta esquisitice o nosso Estado passa de vez a fazer parte do anedotário político nacional. Enquanto na maioria dos estados brasileiros “as meias e cuecas” são recheadas de reais e dólares, Rondônia e os rondonienses ensinam outros meios bem menos dolorosos de se iniciar nesta arte. É sabido por todos que os moradores das localidades situadas na Ponta do Abunã há muito tempo foram abandonados pelo poder público, mas desmembrar e diminuir o território para se livrar do “abacaxi” só se vê por aqui mesmo.

Minas Gerais, por exemplo, não abre mão do Triângulo Mineiro assim como país nenhum do mundo quer ceder um milímetro sequer do seu território. Muitas e incontáveis guerras já houve mundo afora por causa de disputas territoriais. Aqui, a bisonha classe política até já se manifestou favorável à debandada da vilazinha perdida naqueles cafundós. Se Roberto Sobrinho fosse presidente de um país sério e agisse dessa forma entreguista, seria sumariamente fuzilado por crime de lesa-pátria, mas o “psicólogo do bigodinho” jamais vai ser Presidente de coisa alguma. Ainda bem.

Sobrinho, ao incentivar a secessão de Extrema admite publicamente a sua falta de competência para administrar a totalidade de um território para o qual foi escolhido para governar e ainda joga, com esta sua atitude mesquinha, nas costas do eleitorado a responsabilidade da escolha. Além do mais, aumenta as despesas absurdas esquecendo-se de que no Brasil, além do Presidente e do Vice-Presidente da República, existem 27 Governadores, 27 Vice-Governadores, 81 Senadores, 513 Deputados Federais, 1059 Deputados Estaduais, 5.561 Prefeitos, 5.561 Vice-Prefeitos e 60.320 vereadores.

Será que ele é cego para não perceber que são muitos os parasitas sendo sustentados com o suado dinheiro dos impostos? A não ser que a sua lógica seja a mesma dos seus pares: quanto mais políticos, mais dinheiro será devolvido aos cofres públicos. A necessidade da criação do município é tamanha que já contamos com a participação de 21 partidos políticos nessa campanha, sem contar que a Assembléia Legislativa e a Prefeitura de Porto Velho estão nos apoiando, além de movimentos religiosos que estão engajados”, observou Aparecido Bispo, um líder local e, claro, pró-emancipação.

A Vila de Extrema já pertenceu ao Acre, mas foi transferida para Rondônia. A população, porém, não concorda, já que a localidade fica mais próxima de Rio Branco, 180 quilômetros, do que de Porto Velho, 350 quilômetros. Por conta da distância menor, o maior contato dos moradores é com o Acre, onde os moradores usam os serviços, como o de saúde. A crescente produção agrícola e o rebanho de 400 mil cabeças de gado representam, na visão dos defensores da criação do novo município, que a região tem tudo para ser separada de Porto Velho. A vitória do SIM é a vitória da incompetência da administração municipal. Atendendo corretamente aquela gente sofrida e solucionando os seus problemas mais imediatos não perderíamos nenhum naco do nosso território. Que pena!


*Leciona na Escola João Bento da Costa.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Porto Velho e o seu destino de desaparecer do mapa.


Porto Velho vai se acabar


Professor Nazareno*


O Plebiscito que será realizado para a emancipação do distrito de Extrema, na Ponta do Abunã, não é o início do desmanche do município de Porto Velho. É apenas a continuação de um processo que caminha a passos largos desde a criação desta cidade no longínquo ano de 1914 e que depois foi escolhida para ser a capital do recém criado Território Federal do Guaporé em 1943. Com mais de 120 mil quilômetros quadrados de área no início, hoje “a cidade das hidrelétricas” tem menos de 30 mil e deve encolher mais ainda, pois já existem filas para que outras localidades também consigam a sua secessão: Jaci-Paraná, União Bandeirante e Abunã. Parece que todo mundo quer abandonar o barco. Por quê?

Porto Velho vai se acabar sim! E não é por causa da administração desastrada da “companheirada” ou das outras administrações a que a cidade foi submetida. Também não é por causa das intempéries da natureza. Roberto Sobrinho, por exemplo, iniciou a sua administração doando para o Governo Federal duas das mais importantes avenidas da cidade e não “vê a hora” da emancipação de Extrema. “É muito difícil administrar localidades que ficam muito longe da sede do município”, informou o prefeito em recente entrevista. Se a moda pega, muita coisa da cidade vai ser doada ainda. Quem vai querer ganhar de presente as sucatas da EFMM, a periferia imunda ou as Três Caixas d’água?

A cidade só é capital do Estado por causa do rio Madeira e da condição histórica do final do Primeiro Ciclo da Borracha. Sua localização no extremo oeste e junto à divisa como o Amazonas não atende satisfatoriamente a todos os outros 51 municípios devido às grandes distâncias. Um Estado com uma capital mais centralizada é o desejo de muitos rondonienses. Não fossem as cachoeiras e corredeiras do rio Machado, que inviabilizam a construção de um grande porto para escoar os produtos agropecuários do interior via Tabajara e Calama até o Atlântico, a capital de Rondônia seria a bela e encantadora Ji-Paraná, Cacoal ou mesmo Rolim de Moura, todas estrategicamente mais bem localizadas.

Além do mais, com a construção dessas hidrelétricas e a possível diminuição da vazão do Madeira entre Porto Velho e o distrito de São Carlos é bem possível que o porto seja transferido para a localidade de Aliança no baixo Madeira. Talvez por lá construam um verdadeiro porto, pois o daqui, e que dá nome à cidade, sempre foi um barranco fedorento, sujo, cheio de imundícies e abandonado pelo poder público. Com ruas esburacadas e cheias de lama, uma pandemia de dengue de fazer inveja à Etiópia ou à Somália, lixo por toda parte e inércia por parte das autoridades, Porto Velho é talvez a capital mais suja e desestruturada do país. Pior do que Porto Príncipe pós-terremoto.

Mas há salvação para a nossa linda capital. Nem tudo está perdido. Aqui é o único lugar do mundo onde políticos devolvem o dinheiro dos suados impostos para o Executivo. Isso é um bom sinal: se está sobrando grana é por que não faltam obras de infra-estrutura. A emancipação de Extrema, a possível perda de toda a Ponta do Abunã para os acreanos e o iminente risco dos royalties da Hidrelétrica do Jirau ficarem no Jaci ou em Bandeirante podem muito bem ser compensados com a reeleição desses políticos “de bom coração” para administrar a cidade de Porto Velho: os muitos milhões de reais devolvidos resolverão qualquer problema de uma cidade que se não está na iminência de sumir pelo menos está diminuindo de área territorial a cada ano que passa.


*Leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Brasil e Haiti: nações diferentes, realidades iguais?


Brasil e Haiti: aqui apenas nos faltam os terremotos


Professor Nazareno*


A cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti, foi sacudida em janeiro último por um violento terremoto de magnitude absurda que causou a morte de quase 200 mil pessoas e provocou prejuízos incalculáveis àquele paupérrimo país caribenho. Disso, muita gente ficou sabendo. Sabemos também que este país é o mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo. Seu PIB é baixíssimo assim como o seu IDH. Grande parte de sua gente é descendente de escravos e a nação ocupa a porção ocidental de uma ilha. Tem uma população de quase nove milhões de habitantes espremidos numa área territorial pouco maior do que o Estado de Sergipe, o menor entre os estados brasileiros.

O Brasil, desde o ano de 2004, lidera no Haiti vários militares através da Minustah, sigla em francês para Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. Sem ter muito que fazer em nosso país, as nossas Forças Armadas, por meio do “Governo dos Companheiros”, mantêm cerca de mil e duzentos militares que se revezam periodicamente para ficar no Mar das Antilhas. O que muita gente pode não saber é que se for feita uma hipotética comparação entre o nosso país e aquela nação caribenha e que envolva governo, política, cultura, tradição e história, certamente nós vamos perder feio em qualquer um desses itens comparados.

A começar pela língua falada. A maioria dos haitianos se expressa em Francês, língua muito mais importante do que o Português junto à comunidade internacional, e quase todos os habitantes falam Krèyol (Crioulo), a outra língua oficial da nação. O Inglês é cada vez mais falado entre os jovens e no setor empresarial. Devido à proximidade com a República Dominicana, o uso do Espanhol também é muito incentivado. Por isso existe um número cada vez mais crescente de haitianos bilíngües ou trilíngües. No Brasil, mal falamos o Português. Línguas como Inglês, Espanhol ou Francês têm tanta importância entre os brasileiros quanto o idioma Grego na Rússia. Somos um país de analfabetos.

O Brasil aboliu a Escravidão em 1.888 enquanto no Haiti isso aconteceu quase cem anos antes. A nossa Independência veio em 1.822, dezoito anos após os haitianos se libertarem da França. E nos dois casos, tanto a Abolição como a Independência mostram a superioridade daquele povo sobre nós. Lá os movimentos nasceram no seio do povo como desejo de libertação e de preservação das identidades nacional, lingüística e cultural e da vontade de conquistar a autodeterminação do seu povo. Aqui esses movimentos nasceram da elite, em gabinetes, e em conluio com interesses espúrios num desejo absurdo de manter os pobres subjugados à vontade dos ricos. Há mais de 05 séculos é assim. Nada muda.

Além do mais, o Haiti é um país renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia. Por lá cresce diariamente o ódio contra “a intervenção brasileira”. Então, o que o Brasil fez em seis anos de ocupação no país? Absolutamente nada, pois as casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo são problemas corriqueiros agravados agora com o terremoto e que não foram resolvidos com a presença de milhares de militares estrangeiros. Com tantos “Haitis” por aqui os nossos militares deviam se acanhar e voltar para casa. Talvez ajudassem a atenuar os nossos problemas: dengue, violência nas favelas, miséria, lixo, corrupção...

Cerca de seis milhões de haitianos vivem na miséria total. Aqui são quase 50 milhões, ou seja, oito vezes mais. No Haiti isso é normal enquanto aqui devia ser imoral, já que somos a nona economia do planeta. Déspotas, políticos ladrões, corrupção no Estado, compra de votos, intimidação de opositores, democracia relativa, epidemias, falta de saneamento básico, desmandos, incompetência das autoridades, mentalidade golpista dos militares e passividade do povo são itens em que só empatamos. Após doar 20 reais às vítimas do terremoto haitiano, fui abordado por um brasileiro em plena Rua Jatuarana me pedindo dinheiro para comprar arroz. Entendi por que muitos dizem que o Haiti é aqui mesmo.



*Leciona na Escola João Bento da Costa em Porto Velho


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

E a Escola João Bento largou na frente mesmo...


“Escola João Bento da Costa, a vergonha de Rondônia”


Professor Nazareno*


A Universidade Federal de Rondônia divulgou recentemente a relação dos alunos aprovados no seu último concurso vestibular e que iniciarão os estudos em curso superior ainda neste ano letivo de 2010. A Escola Estadual de Ensino Médio Professor João Bento da Costa, situada na Zona Sul de Porto Velho, destacou-se mais uma vez no Estado com a aprovação em uma universidade pública superior a 90 alunos em primeira chamada. Segundo a Direção da escola, após as chamadas seguintes e levando em consideração o resultado do ENEM, o número total de aprovados na Unir, neste início de ano, poderá ultrapassar facilmente a casa dos 130 alunos. Outro recorde.

       A excelência desta escola, fartamente demonstrada pelos recentes números, não é novidade. São mais de 600 alunos aprovados na Unir em apenas 08 anos desde que iniciou por lá o Projeto Terceirão na escola pública criado por um grupo de professores. Embora não seja grande coisa, este estabelecimento de ensino já recebeu uma Moção de aplauso da Câmara de Vereadores de Porto Velho e uma Moção de Louvor da Assembléia Legislativa do Estado: em vez de procurar saber o porquê de outras escolas públicas não funcionarem como o JBC, a classe política local se contentou em afagar a única escola pública que funciona neste Estado e talvez até no Brasil. De políticos não se podia esperar muita coisa mesmo... E sendo rondonienses...

       Óbvio que todo profissional da educação se orgulharia de pertencer a uma escola como esta. E comigo não é diferente. Faço parte de uma “equipe de ouro” que vai dos profissionais de limpeza, secretaria, supervisão escolar, professores das séries iniciais do Ensino Médio até a Direção maior do JBC. Isso sem falar no compromisso e na garra dos muitos alunos que escolhem anualmente essa escola com o objetivo de ingressarem na universidade pública. O que certamente não se consegue entender é por que muitos cidadãos de Porto Velho ainda relutam em reconhecer este trabalho. A propósito disto, é bom rever alguns comentários proferidos contra a minha pessoa quando publico artigos e redações em meu blog ou mesmo na imprensa local.

Pedro Barbosa disse: “Parabéns professor, com esse seu pensamento micro”. Keitty, outra leitora do site Rondoniaovivo, disse... “Meu estimado professor. Você ao invés de escrever porcarias poderia se colocar no lugar de educador, o mais interessante é que ainda se contratam pessoas como essas, totalmente desnorteadas para educar nossos adolescentes”. Já um tal de Erissin Ricardo comentou: “Muito me espanta, uma pessoa que se diz "PROFESSOR" compartilhar de pensamentos mínimos, e por que não dizer tolos e por existirem profissionais assim como senhor, é que temos uma educação precária em nossa cidade”. No João Bento, não há essa precariedade anunciada. Gilson, outro leitor, foi mais lacônico: “Se eu tivesse um filho meu ou um neto como seu aluno, eu os transferiria de escola”. A propósito: alguém sabe o nome das duas escolas de Porto Velho que mais aprovam alunos no vestibular da Unir? Orgulhosamente trabalho nas duas. Uma particular e outra pública.

Pior ainda foram os comentários infelizes de um pseudo colunista da cidade que se diz porta-voz da cultura local: “E a peste conhecida como José Nazareno, essa tem que ser banida, escorraçada, defenestrada, enterrada ou deportada de Porto Velho. Os pais que tem (SIC) filhos estudando com esse doido devem imediatamente tirá-los da escola que tem essa erva daninha como professor. Senhora Secretária de Educação, chame esse seu professor para uma conversa. Ele não pode continuar morando em Porto Velho”. Fico aqui imaginando que tipo de conversa a Secretária de Educação queria ter comigo depois de analisar estes números garbosos e envaidecedores. O sucesso do Colégio João Bento da Costa devia envergonhar outras escolas públicas do Estado e do país.

Matheus Mota, outro sujeito metido a comentarista, afirmou que ficou estarrecido com tanta ignorância, incompetência, e tantos "ins" por aí. “Com certeza, esse elemento não tem caráter e nem personalidade, pois saiu de uma terra em que estava a duras penas, na podridão e subordinado à fome e miséria, vindo a esta terra que o acolheu e lhe deu o que comer” e a leitora Járede Maedrei dos Santos Moreira concluiu: “como conseguiu status de pedagogo? Agora os meus algozes vão ter que me engolir. Não existe resposta melhor do que a competência e mostrando trabalho de “gente grande”. Não sou rondoniense, mas faço e já fiz por este Estado muito mais coisas do que muitos que se dizem “filhos da terra”. Como se vê: falar é muito fácil.

Parabéns a todos os alunos do JBC que foram aprovados no último vestibular da Unir e aos outros que estão na universidade e os que ainda não conseguiram aprovação. Vocês foram e são vencedores por que têm garra e sempre acreditaram nos seus professores, mesmo alguns deles sendo chamados de “aloprados” por alguns integrantes (metidos a jornalistas) da mídia local. Foram aprovados sem precisar ler bizarrices que dizem representar uma cultura local que não existe nem nunca existiu. Não precisaram fazer “sombras com as mãos” nem viajar às custas do Erário. Nem escândalos políticos vocês conhecem. São os verdadeiros heróis e não os “zeróis” que alienam, atrapalham e ainda acreditam que todos “vivem felizes”. Herdem este Estado, meus queridos pupilos, e mudem a história dele para sempre. Não esperem acontecer, pois vocês sabem.

Parabéns aos pais que também acreditaram nesta equipe vitoriosa e participaram de mais esta vitória que é de todos nós, que é de Porto Velho, que é do Estado de Rondônia. Fizemos apenas a nossa parte, pois somos pagos para isso. Aloprados, rebotalhos, fugitivos da seca, ingratos, mentecaptos ou professorzinhos de quinta categoria, como muitos desinformados ainda acreditam existir nas escolas públicas de Rondônia, são na verdade aqueles que criam uma consciência crítica nos futuros profissionais e cidadãos deste Estado. São aqueles, enfim, que acreditam na formação de uma verdadeira consciência cidadã. E tomara Deus que na escola JBC não sobrem vagas para matricular os filhos e netos daqueles que se dizem os donos da verdade. Sem rancores, apenas façam mais por este lugar que vocês vivem dizendo ser só de vocês.



*É professor na Escola João Bento da Costa.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A importância da Leitura


LER DEVIA SER PROIBIDO

Guiomar de Grammon*

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido. Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil. Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida. Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. RJ: Argus, 1999. p.71

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Colégio João Bento larga na frente (De novo!)

GALERA JBC: APROVADOS PARA A 2ª FASE - UNIR 2010

ADMINISTRAÇÃO
1. Valter Rodrigo da Silva Volpi – t2
2. Ana Carolina Morais – t4
3. Jana Aparecida Pereira Lopes – t6
4. Luciana Arcanjo Silva – t8
5. Ângela Maria Nascimento – t6
6. Sheila Fernandes Machado –t3
7. Valessa Gama-t11
8. Maiara Almeida Feitosa
9. Bruna da Silva Freitas
10. Marina da Silva
11.Gabriel Pescador da Silva

AGRONOMIA
1. Lucas Nunes Limana – t1
2. Iury Jainan da Silva Brito – t2
3. Ariele Paiva da Silva
4. Aderval Antônio Abreu

CIÊNCIAS SOCIAIS
1. Marla Anaiê Belfort – t1
2. Michele Silva Marques – t2
3. Pámela Cristina Ramos – t5
4. Fabrício Brenner Barbosa – t12
5. Alisson Ângelo da Silva Viana – t10
6. Cristina Ramos
7. Ana Carolina Vasconcelos

CIENCIAS BIOLÓGICAS
1.Andressa de Jesus França – t2
2.Amanda Nonato dos Santos – t3
3.Carine Silva Brito – t4
4.Alana Adolfo Ferreira – t5
5.Aline Souza da Fonseca – t5
6.Aline Araújo de Souza – t6
7.Raíris Ferreira Rodrigues – t6
8.Elaine Batista Ferreira – t7
9.Alyne Cunha Alves – t8
10.Ingride Luciane Santos Brito – t8
11.Alan Ramos da Silva – t9
12.Jenifer Luana de Almeida Felipe – t10
13.Vitória Régia – t13
14.Vanessa Cristine da Silva – t13
15. Iohana Maiume Alves
16. Mayra Silva Arruda

CIÊNCIAS CONTÁBEIS
1. Adriane Granjeiro de Araújo – t4
2. Isadora macieira dos Santos – t5
3. Juliana da Silva Teles – t5
4. Amanda Vilarim Faustino – t7
5. Denise da Silva Oliveira – t7
6. Yanna Caroline Garcia – t9
7. Mateus Ramos Pereira – t11
8. Andressa Silva Souza – t11
9. Tainá Bassanin
10. Cleidiane Braga Mendes
11. Olívia Pereira Maurício
12. Laércio Schumann Filho

CIÊNCIAS ECONÔMICAS
1. Sara Martins – t1
2. Elissandra Oliveira de Souza – t2
3. Elitânia Frota do Nascimento – t4
4. Nayara dos Santos Gonçalves – t7
5. Anderson Barbosa Vieira – t8
6. Eduardo Almeida Ferreira – t8
7. Jhonnathan Reis Pinheiro – t8
8. Kleyve Jorge Brito – t8
9. Bruno Soares da Silva – t9
10. Márcia da Silva Lima – t9
11. Eva Camila Nascimento de Melo – t12
12. Luciano Pires
13. Cleiton Dion

DIREITO
1. Fabio Leal da Silva – t1(2º sem)
2. Joice L. Lima – t1
3. Tiago Batista Ramos – t2 (1ºsem.)
4. Guilherme Matos Rosa – t4
5. Fernanda Fernandes Silva – t8
6. Alisson Barbalho Marangoni – t12
7. Rommening dos santos Silva
8. Tatiana Barroso Freitas
9. Giovani Martins Cardoso


ENGENHARIA FLORESTAL
1. Andréia Lopes – t1
2. Caren Ferreira

ENGENHARIA CIVIL
1. Thais Dutra de Souza – t4
2. Vanessa de Oliveira – t5
3. Charles Henrique Soares – t7
4. Uéliton Cupertino Souza – t9
5. Aurélio Júlio Nogueira – t10
6. Vanessa Macalli de Oliveira – t10

ENGENHARIA ELÉTRICA
1. Artur Rosendo Vidal – t2
2. Clóvis Germano Neto – t2
3. Átila Mendes Carvalho – t4
4. Queitiane Castro Costa – t4
5. Blenda Fonseca Aires Telles – t6
6. Cristien Jhonatan Benjamim – t8
7. Marcos Silva de Melo – t8
8. Cleidilson Oliveira da Silva – t9
9. Bruno Figueiredo da Silva – t10
10. Igor Esmite Barroso – t10
11. Lucas Ronconi de Lima – t11
12. Gelson Barros Cardoso – t12
13. Dener Bruno Silva Oliveira (2º ano 8)
14. Mirele Jesus Pereira (2º ano 14)
15. Thiago de Oliveira Correa

ENGENHARIA AMBIENTAL
1. Nágilla Carine Magalhães – t1
2. Ana Beatriz Brandão Compassi – t3

LETRAS/ESPANHOL
1. Caren Beleza da Silva – t1
2. Gigliane Silva Macedo – t1
3. Tailan Ricardo Moraes – t2
4. Jersica Caroline Lima Correa – t3

EDUCAÇÃO FÍSICA
1.Dione dos Santos Cangussu – t1
2.Tâmara C. de Oliveira – t1
3.Mary Glayciane Gularte – t2
4.Simy Larissa Chaves – t2
5.Talita Brasil – t2
6.Jásmilon Albino Leite – t3
7.Diego Vieira de Abreu – t5
8.Paulo Roberto de Sousa – t5
9.Rafaela Constância – t6
10.Suellen dos Santos Simão – t6
11.Rodrigo Vinícius P.Pierim – t8
12.Thais Quetlen da Silva Lima – t9
13.Daiane pantoja Campos – t12
14.Valeska Iscarlathe Lopes Alves – t12
15.Dênis Mesquita de Souza – t13
16.Bruniele Silva Garcia – t13
17. Antônio Edmar Júnior

ENFERMAGEM
1. Edvan Ferreira de Menezes – t5
2. Jéssica Gomes da Silva – t6
3. Thaís Custódio Aguiar – t6
4. Maíra Muniz Lima – t7
5. Aline de Oliveira Conceição –t9
6. Catiúscia Sanara de Oliveira – T9
7. Queslei do Amparo – t11
8. Valberson Oliveira da Cruz – t11
9. Adiliane da Silva Belermino – t12
10. Vanusa Gonçalves Teixeira – t12
11. Gisele Souza Sabino – t13
12. Núbia Ferreira de Araújo
13. Maíra Muniz Lima
14. Camila Francischime Leal
15. Valéria Medeiros Soares
16. Iná Ineran Gomes de Carvalho
17.Maxuellen Almeida
18. Maria Fernanda Cardoso

FÍSICA

1. Soráia Teixeira Arrais – t2
2. Jéssica Aranha Rocha – t6
3. Leide Daiane Barbosa Braga – t9
4. Jodson Aubert Alves

GESTÃO AMBIENTAL
1. Gabriela Moraes Milanez

GEOGRAFIA
1. Vagner Ferraz Pereira – t3
2. Josinei Moreira – t4
3. Welington Guimarães Libório – t4
4. Vanessa Ferreira de Menezes – t5
5. Sidleia Menezes Medeiros – t7
6. Tito José De Barba Acarona – t7
7. Jéssica Graciela Farias Cruz – t11
8. Wanderson Diniz Branco – t13
9. Arlisson Bezerra Lima
10. Ângela Mara Silva Marinho

HISTÓRIA
1. Dagma Martins Almeida – t3
2. Paula de Siqueira – t5
3. Zilma Nascimento de Lima – t5
4. Hiago de Paiva Cardoso – t5
5. Camila Felisberto Sousa – t6
6. Ângela Maria Silva Marinho – t11
7. Jéssica da Silva Sousa-t13

INFORMÁTICA
1. Cleber Gomes Bessa – t1
2. Felipe Bruno Marques – t3
3. Michel Fadoul – t3
4. Rian Marcel Sampaio – t3
5. Shander Franklin Pereira – t5
6. Diego Alisson Souza Rodrigues – t6
7. Douglas Ricardes Chaves – t6
8. Ana Paula Rocha Albuquerque – t7
9. Felipe Nascimento Cruz – t7
10. Renato do Nascimento – t8
11. Bruno Moreira Silva – t9
12. Renato Santos Faria – t9
13. Vitor Soares Lima – t9
14. Kliger Pontes Resende – t10
15. Fernando José Oliveira – T11
16. Patric da Cruz Pedrosa – t13
17. Nicolas Dil Ripke-t12
18. Ana Paula Rocha Albuquerque

JORNALISMO
1. Ana Carla Maia – t1
2. Gilmara Silva Campos – t11

LETRAS/PORT.
1. Jazilane Pessoa Oliveira-t2
2. Sândi Dias Pontes – t9

LETRAS/INGLÊS
1. Geane Martins Alencar – t2
2. Ahilla Diandrea Dafne – t12
3. Eric Vieira – t8
4. Gleiciane Melo

MEDICINA
1. Thiego Maia Menezes – t8

MATEMÁTICA
1. Jóris Rudá Sales Zanella – t4
2. Jaíne leite Fonseca – t6
3. Francisca Leonara Maia – t13
4. Aldefran Santana Guedes
5. Aline Raiane da Silva Guedes
6. Amanda Coelho (noturno)

PEDAGOGIA
1. Vanessa Silva Santana – t1
2. Regiane Oliveira Silva – t6
3. Cássio da Silva Cabral – t7
4. Cathlen Lemos da Silva

PSICOLOGIA
1. Milene Cristina Diniz Furtado – t3
2. Macson de Freitas Fonseca – t4
3. Renata Rúbia de Moura – t7
4. Ana Maria Macário Mathias
5. Fernanda da Conceição Mendes

QUÍMICA
1. Daiane Saraiva Oliveira – t1
2. Michele Roberta da Silva – t9
3. Betânia Gonçalves Nunes -
4. Valmen Francisco Gomes

ARQUEOLOGIA
1. Gisele Moreira de Almeida – t5
2. Carina Letícia Campos Santos – t8
3. Ananda Maria Mota Ribeiro – t12
4. Nayara Cristina Trochmann-t12

MÚSICA
1. Rodrigo Zamora Medeiros – t7
2. Edmilson Júnior F. Rocha

ARTES VISUAIS
1. Gilderlan José Azevedo – t8

TEATRO
1. Laís Costa de Oliveira – t11

sábado, 5 de dezembro de 2009

Rondônia tem História?


Os “zeróis” de Rondônia


Professor Nazareno*


            Quase todos os países e nações do mundo baseiam sua história na bravura e nos feitos de alguns de seus filhos ilustres. Difícil não entender por que os franceses têm na figura do ditador Napoleão Bonaparte um de seus ícones, os ingleses homenagearem o almirante Nelson, além dos seus reis e rainhas e os norte-americanos verem em Abraão Lincoln, George Washington, Martin Luther King e até no pervertido John Kennedy exemplos de pessoas que devem permanecer na História dos seus lugares como verdadeiros heróis. São pessoas que, de uma forma ou outra, marcaram o seu tempo. Imprimiram a sua forte presença nos manuais de História ensinados nas escolas.

        Até o Acre tem os seus heróis. Chico Mendes, que esteve à frente de sua realidade ao defender o meio ambiente quando ninguém tinha consciência ou coragem para fazê-lo, é endeusado no mundo inteiro como um defensor da floresta e herói do seu tempo. O humilde seringueiro de Xapuri foi reconhecido nos cinco continentes e recebeu, além do reconhecimento, muitos prêmios internacionais. Marina Silva, amiga e contemporânea do "amigo da floresta", apesar de ter pertencido durante muito tempo ao PT, o “partido dos mensaleiros”, atualmente desponta no Brasil com uma liderança política capaz de fazer frente aos mais conhecidos e renomados políticos do país.

        Rondônia não tem heróis, nunca teve e nem também ninguém que tenha se destacado sequer a nível nacional ou mesmo regional. Carlos Ghosn, presidente da Nissan, nascido em Porto Velho em 1954, se naturalizou francês. José Maurício Bustani, porto-velhense nascido em 1945, talvez nunca mais tenha vindo aqui depois que foi embora e se formou pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a PUC, em 1967. Quem conhece alguma declaração deles falando sobre sua terra de origem? A maioria dos coronéis que governaram isto aqui morreu nos seus estados de origem sem ao menos lembrar da existência das “Terras Karipunas”.

        Além de não ter heróis, Rondônia quase não tem história também. Os rondonienses demoraram mais de 29 anos para entender que a data da criação do seu próprio Estado coincidia com a lei que transformara o antigo Território Federal de Rondônia em Estado. Todo mundo sabe, há muito tempo, que a data em que nascemos não é a data em que fomos registrados. Óbvio isto. O dia 04 de janeiro (tem até bairros na capital com este nome) foi comemorado inutilmente durante todo este tempo pelo povo daqui como se fosse tudo normal, com direito até a feriado estadual e comemorações. Devemos rasgar todos os livros de História Regional ou reescrevê-los?

        Foi preciso um acreano da gema, Odacir Soares, propor a mudança de datas ao governo local. Guardadas as devidas proporções, é a mesma coisa que dizer a um brasileiro nato, e que tenha estudado o suficiente, que 22 de abril de 1500 é a data da Inconfidência Mineira. “Os grandes incentivadores e defensores da cultura local”, assim como os historiadores da região também não perceberam isto, ou não se interessaram? Não tiveram visão suficiente para entender “o difícil e complicado” jogo de datas que sempre homenageia os vencedores em detrimento dos vencidos. Será que estamos precisando mesmo de heróis?


*É professor em Porto Velho.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Viva os nossos políticos!


A culpa é do Povo!


Professor Nazareno*


Além do futebol e do carnaval, os brasileiros têm também outro esporte preferido: falar mal dos políticos. Não existem pesquisas confiáveis sobre este assunto, mas certamente o grau de aceitação da classe política neste país por parte dos eleitores está próximo de zero. E não é para menos: só se vêem notícias desagradáveis dos nossos representantes. Não precisamos rever documentos passados. Basta dar uma espiada no noticiário de uma ou duas semanas. Os escândalos estão lá mostrando que a nossa classe política está composta em sua grande maioria por ladrões piores do que muitos integrantes do PCC, facínoras, mensaleiros, compradores de votos, sanguessugas, criminosos comuns, estelionatários e até, pasmem, ladrões de galinhas. Não há mais nomes para batizar as incontáveis operações da Polícia Federal.

Mas é preciso tomar muito cuidado para se analisar este fato social. Primeiramente, se os políticos são ruins (e são mesmo) seria muito pior se eles não existissem. Quem nos governaria? Que critérios a sociedade adotaria para eleger seus representantes? Depois, é preciso entender que os políticos não são alienígenas, não vieram de Júpiter ou dos anéis de Saturno. Eles são daqui mesmo da terra. E pior, da nossa região, da nossa cidade ou até do nosso bairro ou rua. Às vezes até parentes nossos, portanto, humanos. E só são o que são porque estão no Brasil, país de leis absurdas e impunidade latente e de uma gentinha sem a menor qualificação em sua grande maioria. Nossos políticos não sobreviveriam um mês sequer num país sério de primeiro mundo, onde se acredita que as leis sejam mais severas e não há “pizzas”.

O recente episódio do Mensalão em Brasília é exemplo disso. José Roberto Arruda já havia se envolvido em atos desonestos quando foi acusado de violar o painel do Senado junto com o falecido governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, o famigerado ACM. Esperto, renunciou e depois voltou à cena política para se eleger governador do Distrito Federal. O povo não sabia de suas falcatruas? Está fazendo passeatas de protestos lá em Brasília? Já em Rondônia, tivemos vários escândalos na área política, mas o que se vê são os acusados serem elogiados publicamente por quem deveria alertar a opinião pública. Por isso, os canalhas sempre dão um jeitinho de continuar na política através dos parentes. Recentemente, o ex-presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello afirmou em uma entrevista que a sociedade não é vítima, mas autora. “Somos responsáveis por todos os homens públicos que aí estão,” sentenciou.

Seria muito bom perguntar: por que roubam, adulteram, desviam? É, parece que os nossos políticos não têm amor à pátria, não gostam do Brasil. São criminosos de lesa-pátria. Mas e o povo? Tem demonstrado este amor eterno ao país? Não fossem as Copas do Mundo de futebol, talvez o Brasil nem existisse como nação soberana. Grande parte do povo brasileiro é mais ladrão e interesseiro do que qualquer político que ele mesmo elege. Na maioria dos casos esse mesmo povo jamais se importou com a nação, pátria ou qualquer coisa que beirasse o sentimento cívico ou de amor ao coletivo. O Brasil é o país dos que querem se dar bem “custe o que custar”. Nunca tivemos povo, temos público, já afirmava Lima Barreto. E o exemplo disso é que os políticos completam o espetáculo fornecendo a matéria-prima de que o povo necessita: a desonestidade.

Esse mensalão do Distrito Federal é uma cópia de outro já esquecido: o de Zé Dirceu, Roberto Jefferson, Marcos Valério e toda a alta cúpula do PT, o Partido dos Trabalhadores do Presidente Lula. É o PT fazendo História. Pobre Brasil que com um povinho desse naipe e políticos idem, jamais será uma nação de futuro. Ou estaria alguém pensando que o fruto do roubo não é repartido entre uma legião de assessores, simpatizantes, puxa-sacos, aduladores e outros políticos de menor escalão? Desta vez tivemos até o pessoal da bancada evangélica rezando a “oração da propina”. Por isso, não se deve acreditar que a voz do povo seja a voz de Deus. Se for, está na hora de perguntar que divindade é esta que ajuda na eleição de ladrões, criminosos, mensaleiros, sanguessugas, etc. Ou os políticos estão se espelhando no povo ou vice-versa...


*É professor em Porto Velho


terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Vamos aos bares torcer, rapaziada!


Flamengo, São Paulo, Palmeiras ou Internacional?


Professor Nazareno*


Não gosto de futebol, embora tenha nascido no país que ama este esporte e já ganhou cinco Copas do Mundo. É um esporte bonito, saudável, com jogadas maravilhosas e craques que encantam com as suas gingas, gols espetaculares e dribles incríveis dentro de campo. O Brasil é um exportador reconhecido de grandes talentos. Os melhores jogadores de futebol do mundo geralmente são nascidos aqui e exemplos não faltam: Ronaldinho, Kaká, Pelé, Garrincha, Didi, Rivaldo dentre tantos outros. Apesar de já termos sediado uma Copa, seremos, de novo, os anfitriões em 2014.

O maior problema do futebol está fora das quatro linhas, como dizem muitos cronistas esportivos e autoridades no assunto. Há muito dinheiro envolvido e hoje quase todos os atletas deste esporte ficam com um olho na bola e outro na possibilidade de ficar rico depressa. Por isso, maus exemplos não faltam: há denúncias de que neste ano pelo menos duzentas partidas foram “arranjadas” em vários campeonatos de futebol na Europa. Escândalos envolvendo este esporte já foram observados na Itália, Alemanha e em muitos outros países. Compra de árbitros e resultados infelizmente já virou rotina.

O Campeonato brasileiro deste ano é um prato cheio para se verificar a seriedade “dos cartolas” envolvidos: o Flamengo, do Rio de Janeiro pode ser campeão se vencer o Grêmio de Porto Alegre pela última rodada do torneio. Se empatar ou perder, o Internacional, também de Porto Alegre e rival dos gremistas, pode levantar a taça. Vários jogadores do “tricolor gaúcho” já sinalizaram que podem “entregar o jogo” aos cariocas para não beneficiar o rival. O Corinthians da capital paulista fez isto e perdeu de dois a zero para o time carioca para não ter que beneficiar seu arqui-rival São Paulo.

Várias Copas do Mundo já apresentaram jogos cheios de “mutretagens”. O exemplo mais escandaloso foi quando, na Copa de 1978 na Argentina, os donos da casa “teriam comprado” a seleção do Peru para que esta perdesse por goleada e tirasse o Brasil da final, que acabou sendo vencida pela seleção anfitriã. O campeonato carioca de 2009 foi disputado entre Botafogo e Flamengo em duas partidas finais quando poderia ter sido ganho bem antes pelo Botafogo. Mas como o que estava em jogo não era a honestidade do esporte, mas a ganância por dinheiro, não deu outra: o alvinegro fez um gol contra e o certame foi disputado em duas partidas na grande final.

Já em Rondônia, o futebol é deplorável, patético mesmo. O maior "Estádio de futebol" daqui são os bares que enchem de torcedores para vibrar com os times que disputam o Campeonato Brasileiro. Há até brigas na "arquibancada" com direito a tiroteios. Todo domingo me divirto visitando os bares onde se reúnem os flamenguistas, os corintianos, os são-paulinos, os vascaínos, os botafoguenses, os torcedores do Fluminense, entretanto, ninguém sabe se existe bar onde se reúnem os torcedores do Genus ou do Shalon, as equipes de nomes bisonhos que representam Porto Velho.

Coisas estranhas andam acontecendo no futebol mundial. O Barão Pierre de Coubertin, que reinventou as Olimpíadas e pronunciou a frase: “O importante não é ganhar, mas competir”, certamente está se retorcendo no túmulo muito tempo após a sua morte. Hoje, devido à conjuntura econômica que move os esportes mundo afora, a frase do Barão deveria ser mudada: “O importante também é perder, depende do contexto”. Bons tempos em que se jogava por amor ao esporte, agora os dirigentes conduzem com maestria o destino deles rumo aos milhões de reais enquanto ‘grupos de otários’ ficam se iludindo achando que no esporte o melhor sempre vence. Coitados.


*O professor Nazareno leciona em Porto Velho.