Caso Isabela versus ignorância alheia
Waldemar Neto*
Quase dois anos atrás, Isabela Nardoni, foi jogada da janela do apartamento de seu pai e de sua madrasta. A perícia inicial constatou que o crime efetivamente teria acontecido, pois havia vestígios grosseiros de que a grade de proteção da janela pela qual Isabela foi lançada tinha sido cortada. A partir daí iniciou-se uma pergunta: quem é (são) o(s) assassino(s) de Isabela Nardoni?
A acusação afirma categoricamente que tais assassinos são Alexandre Nardoni, pai de Isabela, e Ana Carolina Jatobá, madrasta da pequena garota. Essa acusação gerou indignação na população brasileira. Nas ruas ouviam-se pedidos acalorados de justiça e julgamentos prévios sem comprometimento legal algum. Grande maioria da população queria a cabeça de Alexandre e de Ana Carolina.
Esse caso atenta pra uma questão tipicamente humana: a crença de que todos podem julgar. Até que ponto o ser humano pode julgar alguém sem desempenhar oficialmente essa função? Isso é certo ou errado? Pode-se manifestar um julgamento em casos tão complexos como esse? Têm-se esse direito?
Sabe-se que o poder de júri é exclusivamente destinado aos jurados presentes num tribunal. Esse júri é o único responsável pela absolvição ou condenação do casal Nardoni. Populares até podem manifestar, afinal vive-se numa democracia, porém esse ato não é aconselhável. A população geral não conhece todo o processo pelo qual o casal é acusado; conhecem-se fragmentos dele. O que essa parcela da população sabe é devido à imprensa. Isso, direta ou indiretamente, deixa brechas para a injustiça.
Chamar o casal de assassinos é não dar a eles a chance de defesa, garantida por lei. Após o julgamento essa nomeação poderá ou não ser utilizada, antes disso deve-se considerá-los apenas réus. Julgar alguém sem ter esse poder é absurdo. Essa função é do júri, apenas ele decidirá o destino do casal Nardoni. Linchá-los, ou pelo menos tentar isso, como foi registrado logo quando o crime aconteceu, é uma atitude de extrema ignorância. O caso é revoltante, porém nada justifica a violência pra tentar resolvê-lo.
Nos dias que o julgamento ocorre nota-se uma semelhança expressiva com os observados na Idade das Trevas. Ignorância e ‘sede por sangue’ são bem visíveis nas portas do tribunal onde o caso de Isabela está sendo julgado. Os curiosos até parecem urubus a espera de carne podre para comer, ou melhor, leões esperando sua presa. Discussões e enfretamentos entre os defensores e acusadores, a maioria cidadãos comuns, de Nardoni e Jatobá já foram registrados nesse local; até parecem exímios detentores do poder de julgamento.
Dessa forma, o que se pode fazer é aguardar o julgamento da Justiça Brasileira. Só ela definirá o que acontecerá com os acusados. Dizer precipitadamente que alguém é culpado sem conhecer de fato o ocorrido, seja pelas provas da acusação ou da defesa, é incompreensível e contradiz a Constituição Brasileira. Se condenados o casal certamente cumprirá uma pena expressiva. Assim não há necessidade da participação de quem não está envolvido no caso. O povo já tem sua representação: sete cidadãos que compõem o corpo de jurados.
*Ex-aluno do Colégio João Bento da Costa
Um comentário:
Isso mesmo. Certíssimo sua colocação. Quem somos nós??? meramente cidadãos com ou sem esclarecimentos ....vulneráveis em opiniões e até mesmo sem causas e conhecimentos de fatos.Parabéns!!!
Rosana -Salvador-Ba
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