quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"Sofressor", não! Professor e com muito orgulho.


A “in-FELICIDADE” de ser professor!


Professor Nazareno*


O dia 15 de outubro não deveria ser dedicado a nós professores. “É muito pouco para quem tanto fez e ainda faz pelo progresso e pelo desenvolvimento do Brasil”, devem pensar alguns incautos e desinformados. Com todo este progresso e todo este desenvolvimento que estamos vendo por aí é de se pensar o que nós, os mestres, estamos fazendo realmente por este país, periferia de capitalismo. Talvez, por isso, recentemente o MEC divulgou na mídia uma propaganda mostrando o progresso e o desenvolvimento que existem de fato em vários países do mundo: o responsável? Ora, o professor, pronunciado em vários idiomas.

No Brasil, a realidade é outra e completamente diferente. E o entrave maior não é o salário. Nunca foi. Também não é a indisciplina de alguns alunos ou a sujeira existente dentro das salas de aula. Muito menos as constantes brigas do nosso sindicato com os governantes de plantão nem as perseguições ridículas de alguns diretores de escolas. O nosso maior problema é que temos uma sociedade que não valoriza a educação. Da porta da sala de aula para fora, talvez menos de dez por cento dos brasileiros vêem na escola alguma função que se possa associar à vida cotidiana. Daí, a “bola de neve” cresce e é absorvida espertamente pelos políticos. Até os do PT.

Salário de professor no Brasil é menos do que muitas prostitutas ganham para lavar pratos. No entanto, baixo salário não é problema. Os médicos de Porto Velho, por exemplo, ganham na maioria das vezes salários astronômicos e a saúde local está um caos. É preciso observar quem de fato exerce dignamente a sua função. Quem realmente tem compromisso com a educação e o futuro deste país. Um bom professor não pode ganhar a mesma coisa que um mau professor. Por isso, é comum ouvirem-se afirmações de que há professores que ganham mal pelo muito que fazem, enquanto outros ganham muito bem pelo pouco que desempenham em sala de aula.

Nos países cujas sociedades valorizam o estudo, a educação, o que se vê é uma multiplicação de oportunidades e um franco progresso e desenvolvimento a exemplo da Coréia do Sul, Japão, Holanda, Bélgica, Finlândia, Estados Unidos, etc. O imperador japonês, por exemplo, presta reverência a qualquer professor que vá visitá-lo. Imagine-se Ivo Cassol, Lula ou Roberto Sobrinho, que é psicólogo, fazerem isto a um professor. O nosso Presidente e o Governador do Estado têm, juntos, menos anos de estudos do que um camelô ou um gari. Ainda assim, o nosso país é um dos que mais investem em educação. O problema é que esta verba é sempre mal gerenciada.

Professor é azarado mesmo. São poucos os que sabem escrever um bom texto ou raciocinar de forma consciente. E quando tentam fazê-lo, quando ousam mostrar o pouco, o quase nada que sabem, seus raros leitores já o vêem como um sujeito depressivo, infeliz, ranzinza ou pedante e põem logo em xeque a sua capacidade profissional ou tentam calá-lo ameaçando o seu diminuto salário. Muitas pessoas acreditam que professor é sempre um sujeito de boa educação, polido, paciente e que deveria escrever somente aquilo que os hipócritas gostariam de ler. Eu, por exemplo, tenho um Blog com meia dúzia de leitores: eu mesmo, minha esposa quando tem tempo, minha filha quando eu a obrigo, e mais duas ou três pessoas.

Apesar de tudo, ser professor é ser feliz, é saber que na sociedade se exerce a função de cabeça, a função de conduzir os outros. “Quem faz aquilo de que gosta não precisa trabalhar”. Mas a educação e o professor ainda vão custar muito a alcançar valor neste país de “jecas”, nesta nação de pouca visão educacional, neste submundo dominado pelo maniqueísmo e pela astúcia de poucos. Haverá um dia em que greve de professores será por melhorias no sistema de educação e não pela insana vontade de ganhar tanto quanto ganham as empregadas domésticas, os garis, os cobradores de ônibus e outras categorias tão importantes para a sociedade, mas que não precisaram defender nenhuma tese de mestrado ou doutorado.



*É professor em Porto Velho


6 comentários:

Tamar D. Melo de Moraes disse...

Gostaria De Parabenizalo nesse dia e dizer que sou uma de suas leitoras e conheço mais 30 pessoas que já leram suas redações e sempre que tenho oportunidade divulgo seu blog, para que haja muito mais do que meia dúzia de pessoas apreciando essas maravilhosas redações que o senhor escreve. Suas redações despertam o meu lado crítico e adimiro sua coragem de escrever aquilo que realmente pensa! São pessoas como o senhor que precisamos nesse Brasil! Muito Obrigada
Tamar - 17 anos - Corumbá - MS

Tamar D. Melo de Moraes disse...

*Parabenizá-lo

Valdemar Neto disse...

Feliz dia do professor!

:)

Carlos disse...

Prof.Nazareno, não sei se em sua análise, no que tange ao presidente, foi uma crítica sutil ao seu pouco estudo formal, e ainda por cima , comparando-o ao governador? Creio que aí tenha havido um certo exagero. Daí eu discordar. Não creio que para ser Presidente da República seja condição "sine qua non" ter diversos títulos de bacharel. Seria bom tê-los, mas se não os temos, não creio que seja um impedimento. O presidente anterior era rico em títulos. Foi e é muito contestado, hoje em dia. Temos diversos exemplos de indivíduos não letrados que foram exímios administradores e líderes incontestes. O presidente Lula tem um prestígio internacional indiscutível. Tem jogo de cintura e sabe como lidar, no mundo inteiro, com a extrema-direita até a extrema-esquerda. É admirado e respeitado por isso também. Quando faz pronunciamentos, o faz de forma satisfatória. Se eu tivesse que dar-lhe uma nota, daria 7(sete) nos seus pronunciamentos. O próprio vice-presidente só possui a 4a série ginasial. Bem, não estou aqui justificando a falta de estudo. Devemos sim cursar até uma universidade, mas precisamos aprimorar outros conhecimentos que aprendemos também em nossa vida prática e diária. Não sei, talvez tudo isso seja inato em alguns indivíduos. Discordar é saudável desde que seja equilibradamente e sem sequitarismo. Um grande abraço. Carlos

Joice Brandão disse...

Enquanto lia este texto fui levada ao êxtase com o som que para uns é barulho e para outros é uma doce melodia. O barulho das crianças no recreio me fez pensar além da cruel realidade que sua redação retrata. O nó na garganta me foi inevitável. Posso parecer imbecil, mas creio que não sou apenas eu.

Nem todos os professores sentiriam esse nó na garganta, só os idealistas ingênuos como eu.

Ser professor é poder mudar o mundo, não falo de todo o mundo, falo de muitos mundos.

Falar em ser professora entre vestibulandos obstinados é pedir olhares de pena e caridade, mas eu não me importava muito, até perceber o olhar desesperado de uma professora ao descobrir o destino da aluna... Deu medo, mas não dá para parar.

Nazareno, não vou te parabenizar por ser professor, talvez eu devesse dizer a todos os professores que se unissem em uma grande roda e amaldiçoassem o destino (Ou Deus) na hora zero do dia 15 de outubro, mas vou sugerir que todos os educadores reconheçam a força do destino e simplesmente mudem o mundo de alguém.

claudia disse...

Boa tarde, o criador do site sofressor é um professor que luta pelo progresso da educacao e tambem tem orgulho da profissao que tem e é um sofressor sim porque luta por melhorias nao usando so a sala de aula mas promovendo projetos extra curriculares com o objetivo de melhorias e pensando nao si em mesmo somente, mas tambem em algo que muitos nao pensam: os alunos. Ele é um sofressor sim porque poe o coracao em tudo que faz. Gostaria que voce tivesse o prazer de conhece-lo.