Caos moderno: descaso com os idosos
Valdemar Neto*
O Brasil é um país com uma pirâmide etária onde predomina a população jovem. No futuro tal pirâmide tende a envelhecer, tendo em vista as melhores condições de saúde pública e uma consequente elevação na expectativa de vida. Num contexto mais amplo, percebe-se que a atual população idosa brasileira tem tido seus direitos violados e/ou oprimidos por uma população que se considera eternamente jovem.
Para amenizar tal violação o Brasil instituiu o Estatuto do Idoso de modo a garantir a execução de tais direitos, como por exemplo, o acesso aos serviços de saúde. Este estatuto, assim como vários outros, parece que virou um simples bloco de anotações com informações sem nenhuma significância. Nesse sentido, os idosos brasileiros estão sofrendo com o descaso de uma geração que os ignora.
No país do carnaval, asilos estão surgindo como alternativa para driblar a falta de respeito existente. As delegacias de polícia espalhadas por todo território nacional estão, cada vez mais, registrando casos de agressão contra idosos. Este caos moderno é oriundo da ideia de que o idoso é um ser inútil. Ideia esta que pode estar vinculada, por sua vez, à disseminação de um dos conceitos do capitalismo. Neste conceito algo aparentemente sem função é automaticamente rejeitado, ou seja, práticas antes exclusivamente mercantilistas estão sendo aplicadas na vida da sociedade do século XXI.
Na Índia não-ocidentalizada (tradicional), por exemplo, o que se vê é o extremo respeito com os mais velhos. Quando há uma morte de um idoso neste país diz-se que foi perdida uma fonte de sabedoria. Nos países ocidentais, em sua maioria, pensa-se que “já não era sem tempo.” Esses idosos estereotipados com a inutilidade sofrem (calados!) e carregam consigo o sentimento de rejeição profunda.
Esta triste realidade vivida pelos idosos no mundo de hoje é também contrastada com a ficção de Monteiro Lobato. Há nela Dona Benta, uma simpática velhinha, personagem do Sítio do pica-pau amarelo, que tem em sua volta o amor de seus familiares e amigos. Esta relação harmoniosa bem que poderia ser transportada para o mundo real. Porém para que a mesma ocorra só mesmo com muito pó de pirlimpimpim e uma pitada de determinação social. Determinação esta que resultaria na valorização do idoso. A criação de um sistema de saúde exclusivo para eles, por exemplo, poderia ajudar nesse processo e consequentemente resultaria na dissolução dessa segregação pela qual os mesmos passam.
*Ex-aluno do Colégio João Bento da Costa
Um comentário:
Texto claro e objetivo. Muito bem redigido. Parabéns!
Postar um comentário