quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A COP 30 aqui em Porto Velho?

A COP 30 aqui em Porto Velho?

 

Professor Nazareno*

 

            A COP 30, a Conferência anual do clima da ONU, está sendo realizada em Belém do Pará. Na reta final dos debates, esse encontro tem dado o que falar. E o motivo não é só por conta do clima. Muito antes das discussões começarem, Belém foi notícia negativa no mundo inteiro por causa dos altos preços cobrados pelos hotéis paraenses. Várias delegações internacionais ameaçaram boicotar o encontro por causa do valor abusivo das hospedagens. “Um roubo, um desrespeito, um acinte, uma total falta de lógica e de ética”, disse um diplomata estrangeiro, que completou: “se pelo menos tivessem qualidade essas acomodações...”. Agora, o atual chanceler alemão Friedrich Merz fez declarações pouco amistosas sobre Belém. “É muito bom estarmos de volta ao nosso belo país”, disse ele. “E todos nós estamos muito felizes em ter saído daquele lugar”, finalizou o mandatário.

            As palavras podem até ter sido duras, principalmente quando vindas de um líder mundial. Ele se comportou como um Bolsonaro em sua melhor fase. Só que a Alemanha é hoje a terceira maior potência econômica do mundo e doa muitos dólares à Amazônia. Acusado de xenofobia, de falta de educação, colonialismo e de outros adjetivos pouco publicáveis, Merz infelizmente não mentiu. A cidade de Belém é uma desgraça só! Governada há mais de meio século pela família Barbalho, aliada de Lula e do PT, o lugar é um dos piores do Brasil em saneamento básico e em água tratada. Está à frente de Porto Velho, a pior dentre todas elas. Belém é a 22ª capital do país em IDH. Assim como Porto Velho, a capital dos paraenses é também um esgoto a céu aberto. Caos: com quase 1,5 milhão de habitantes, ela tem cerca de 56 por cento de sua população vivendo em favelas.

            Por terem se hospedado em Belém, Friedrich Merz e os alemães “pegaram foi um boi com chifre e tudo”. Já pensou se a COP 30 tivesse sido realizada em Porto Velho? Dessas duas capitais, não se sabe qual delas tem mais ratos, urubus e sujeiras expostas nas suas ruas. Belém e Porto Velho são irmãs gêmeas quando o assunto é sujeira, lixo, lodo e caos urbano. Ficar irritado com as desastrosas palavras do chanceler alemão terá sido em vão se mudanças não forem feitas em Belém. O incômodo não está na frase dita pelo chanceler. Está no que ela representa para Belém e para o Brasil. Conheço Berlim muito bem e sei que é uma injustiça tentar comparar as duas cidades. Já comparar Berlim com Porto Velho nem pensar. Já pensou se Merz e sua delegação se hospedassem em um barco no rio Madeira e tivessem que subir aquele barranco sujo, escorregadio e imundo?

            Acho que os paraenses foram conscientes e não ofereceram tacacá e outras iguarias ao líder alemão. Sabe-se que estas coisas são feitas com água pouco tratada, igual à que a maioria dos porto-velhenses bebe aqui: metade é água, a outra metade é bosta. Os alemães foram muito exigentes e até mal-educados, mas foram verdadeiros. Só que são verdades que não se deviam dizer. O povo do Pará é um povo bom, ordeiro, simpático, acolhedor e pacífico e não tem nenhuma culpa pelas mazelas que suas autoridades lhes impõem. Assim como em Porto Velho. O povo daqui é também um povo receptivo, bom, cordial. Mas a capital dos rondonienses nunca sediará nada se continuar sendo essa “currutela fedida” que sempre foi. E o cidadão daqui também quase não tem culpa. Por que as autoridades nada fazem para melhorar suas cidades? Belém pode ter ficado de fora da Copa de 2014 por isso. A verdade dói, mas precisa ser encarada como um ensinamento!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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