domingo, 30 de novembro de 2025

Canoa: banquete de hipocrisia

Canoa: banquete de hipocrisia

 

Professor Nazareno*

 

            Uma canoa totalmente desgovernada boia, sem rumo e sem destino, por uma das inúmeras ruas alagadas daquela estranha e sinistra cidade. Nela estão embarcados vários meninos que cantam alegremente. Eles gostam muito de brincar na chuva. Todo ano fazem isso para se divertirem. Barretinho, Chaves, Libanês, Betinho e Zé Coelho estão tão felizes que não percebem os perigos que existem. Também não veem as pessoas se afogando a cada instante nas imundas e caudalosas águas que entram nas suas casas. Os amiguinhos de infância parecem também não saber que as mortes causadas pelas águas infectas podem ser de sua responsabilidade. Todo ano eles brincam naquelas águas podres como se não existisse o amanhã. A cidade onde eles navegam já tem mais de 111 anos de existência, mas nenhum deles nasceu nela. Por isso que as famílias apoiam a brincadeira.

            Essa canoa está toda furada, velha, esburacada, precisando de reparos, emendas e breu. Ela pertence à comunidade, mas é Barretinho quem está tomando conta dela no momento. Chaves até tinha indicado uma colega dele para ficar com essa canoa, mas durante uma outra e corriqueira alagação, Barretinho foi mais esperto e “dançou” em uma enorme poça d’água e muitas pessoas, que depois seriam afogadas em outras futuras enchentes, logo gritaram para que a canoa mudasse de dono. E assim foi feito. Chaves e Barretinho são até amigos, mas não se dão muito bem. O problema é que Chaves disse um outro dia que ia amar, cuidar, abraçar e acariciar aquela velha e imunda canoa e nem sequer deu um beijo nela, apesar de ter passado oito longos anos cuidando da mesma. Esses meninos mentem muito e quem sofre com isso são os donos de verdade dessa canoa.

            O garoto Libanês parece que também não tem muito amor a essa velha, distante e carcomida embarcação. Quando estava cuidando dela, por exemplo, fez um Natal “inesquecível” com pneus velhos envergonhando dessa forma quase todos os moradores na época. Nada, nem na canoa nem na sinistra cidade, lembra os dias em que Libanês cuidou daquele esquecido caiaque. Já o menino Betinho, alguns dizem que conseguiu cuidar melhor do velho bote. Projetou alguns viadutos inacabados, que não melhoraram em nada a mobilidade urbana. Ele também não cuidou das alagações constantes que existem há tanto tempo no ermo e atrasado lugar. Saiu pela porta dos fundos, mas muitos dizem até hoje que foi injustiçado. Zé Coelho foi tão apagado que raras pessoas ali sabem que o mesmo cuidou um dia daquele lugar, daquele rincão. A canoa continuará sem rumo!

            De todas as canoas existentes no país, aquela é a pior de todas. Entra ano e sai ano e o martírio dos seus habitantes parece que não tem fim. Com as chuvas chegando, as alagações fazem a triste rotina dali. Já no verão, o tormento são as queimadas com fumaça tóxica e hospitais lotados com velhos e crianças tossindo e com pneumonia. Mas os meninos que brincam na canoa são imunes a tudo isso: nunca foram buscar saúde num certo “açougue” que existe no lugar. Existem, claro, muitos outros meninos privilegiados por ali, mas isso é uma outra história. Há outros meninos e também outras canoas. Mas eles nunca se entendem. Brincam alegremente como se não existissem pessoas que dependem do trabalho deles. A canoa não pode ser consertada, pois assim não haveria mais nada a prometer. Como diz a música: “o hoje é apenas o furo no futuro”. Os meninos canoeiros vão ainda se divertir muito e os afogados sempre os levarão ao poder.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Quem será o novo pateta?

Quem será o novo pateta?

 

Professor Nazareno*

 

            Acabou, porra!”. É desse mesmo jeito que diria Jair Messias Bolsonaro sobre a sua atual situação. O ex-presidente do Brasil foi julgado pelo STF por tentativa de golpe de Estado, foi condenado a 27 anos e 3 meses de cadeia e, a partir de hoje, está preso nas dependências da Polícia Federal em Brasília. Ele e todos os seus cúmplices na empreitada golpista fracassada. Desde o ano de 1930 que mais ou menos a cada 30 anos aparece no Brasil uma figura patética, tresloucada, sinistra e messiânica se dizendo “Salvador da Pátria” e que leva multidões ao delírio e ao êxtase quase total. Rapidamente essa figura ganha multidões de seguidores encegueirados que apoiam ele e logo o levam ao cargo de presidente do país. Foi assim com Getúlio Vargas em 1930. Com Jânio Quadros em 1960. Com Fernando Collor de Mello em 1989 e mais recentemente com o Bolsonaro em 2018.

            Todos esses “quatro patetas” praticamente tiveram um fim desastroso e não resolveram absolutamente nada que juravam que iam consertar no país. Enganaram os tolos e fanáticos eleitores e seguidores e, cada um a seu modo, quase levou o país ao desastre total. O ditador Getúlio Vargas em 1954 deu um tiro na própria cabeça e deixou o país perplexo e meio sem rumo. O suicida falava em umas “forças ocultas” sem dizer quem delas participava e nem o porquê de seu gesto derradeiro. Até hoje é lembrado por alguns saudosistas como um grande estadista. Jânio Quadros, outro lunático, emergiu ao poder no auge da Guerra Fria e foi amado e adorado como um “deus egípcio” ou a própria encarnação de uma grande divindade. A campanha de Jânio foi marcada por um forte apelo popular. “Varre, Varre, Vassourinha” era o seu slogan para acabar com a corrupção.

            Sem acabar com a corrupção e com apenas sete meses à frente do governo, Jânio Quadros renuncia e mergulha o país numa violenta crise política que culminaria três anos depois com o golpe civil-militar de 1964, que instala uma feroz e infame Ditadura Militar que duraria 21 longos anos. Torturas a oposicionistas nos extintos DOI-CODI, exílios de brasileiros, eleições indiretas, censura à mídia, assassinatos e outras brutalidades foi o resultado mais visível dos militares à frente do poder. Quase 500 brasileiros foram mortos naqueles anos de chumbo. A Ditadura Militar acaba em 1985, mas coisas piores ainda estavam por vir. A Nova República, que surgiu com José Sarney, até que criou a atual Constituição, mas nas primeiras eleições diretas para a Presidência da República elege outro pateta do mesmo naipe dos anteriores: Fernando Collor, o “Caçador de Marajás”.

            Collor sofreu um impeachment e renunciou ao poder antes do fim de seu mandato. Hoje cumpre prisão domiciliar em Maceió, Alagoas. E quando muita gente achava que o Brasil já estava curado para esses “Salvadores da Pátria”, eis que surge, quase 30 anos depois, o senhor Jair Messias Bolsonaro da extrema-direita reacionária. Saudosista da Ditadura Militar, o ex-capitão do Exército, chamado por muitos de “Mito” enlouquece multidões e leva os brasileiros ao delírio e à loucura. Negacionista ao extremo, Bolsonaro foi o maior responsável pela morte de mais de 700 mil brasileiros durante a pandemia da Covid-19, quando lhes negou a vacina. O “Mito” termina seu fracassado mandato, mas perde as eleições para a esquerda de Lula, o atual presidente. Bolsonaro tenta dar um golpe de Estado e leva seus fanáticos seguidores à loucura de rezar para pneus e de endeusá-lo como o melhor presidente do Brasil. E em 2048, quem será o pateta da vez?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

Uma DITADURA?


 

sábado, 22 de novembro de 2025

Covardia de quem mesmo?

Covardia de quem mesmo?


Professor Nazareno*


Covardia foi ter dito que não era coveiro quando inocentes estavam morrendo de Covid.

Covardia foi dizer “e daí?” quando as pessoas estavam morrendo contaminadas na Covid.

Covardia foi ter receitado cloroquina e outros remédios inúteis para a Covid.

Covardia foi imitar pessoas morrendo de Covid.

Covardia foi não ter trazido vacina a tempo para salvar tantas pessoas.

Covardia foi dizer que a Covid era só uma gripezinha.

Covardia foi a rachadinha e as joias da Arábia Saudita.

Covardia foi a compra de 51 imóveis em dinheiro vivo.

Covardia foi deixar os Yanomamis morrerem à própria sorte.

Covardia foi deixar contaminar o rio Madeira com Mercúrio.

Covardia foi deixar incendiar a Amazônia.

Covardia foi lutar nos Estados Unidos para prejudicar o Brasil.

Covardia foi lutar pelas tarifas dos Estados Unidos contra o Brasil e os brasileiros.

Covardia foi tentar acabar com a nossa DEMOCRACIA.

Covardia foi tentar dar um golpe de Estado.

Covardia foi colocar a PRF para impedir que eleitores fossem votar no Nordeste.

Covardia foi deixar Manaus sem oxigênio em plena pandemia.

Covardia foi retardar ao máximo possível as vacinas contra a Covid.

Covardia foi incentivar as pessoas a saírem, sem suas máscaras, para as ruas para se contaminarem.

Covardia foi a denúncia falsa contra as urnas eletrônicas sem ter provas.

Covardia foi se reunir com diplomatas estrangeiros para falar mal do sistema eleitoral do próprio país. Sistema esse que o elegeu nove vezes. Elegeu ele, os filhos deles e todos os seus correligionários políticos ainda no primeiro turno das eleições de 2022.

Covardia foi criar uma crise institucional com o STF.

Covardia foi dizer que era a favor da tortura.

Covardia foi ter enaltecido publicamente um ditador já condenado pela Justiça, o Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Jair Bolsonaro teve todo o direito de se defender. Teve advogados bons e caros. Teve todo o direito ao contraditório. Mas o STF, democraticamente e num colegiado de juízes, não acatou a sua defesa. Por isso, ele vai ter que cumprir os 27 anos e 3 meses de cadeia. Mas como estamos no Brasil, talvez o desgraçado não fique nem os três meses preso. É a LEI do RETORNO. Aqui se faz aqui se paga, Wagner! O melhor presidente que o Brasil já teve, só que é o único responsável direito pela morte de mais de 710 mil brasileiros durante a pandemia. Muitas dessas mortes poderiam e DEVERIAM ter sido evitadas. Agora, ele já é um presidiário.

 

O CHORO É LIVRE!

BOLSONARO NUNCA MAIS!

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

A COP 30 aqui em Porto Velho?

A COP 30 aqui em Porto Velho?

 

Professor Nazareno*

 

            A COP 30, a Conferência anual do clima da ONU, está sendo realizada em Belém do Pará. Na reta final dos debates, esse encontro tem dado o que falar. E o motivo não é só por conta do clima. Muito antes das discussões começarem, Belém foi notícia negativa no mundo inteiro por causa dos altos preços cobrados pelos hotéis paraenses. Várias delegações internacionais ameaçaram boicotar o encontro por causa do valor abusivo das hospedagens. “Um roubo, um desrespeito, um acinte, uma total falta de lógica e de ética”, disse um diplomata estrangeiro, que completou: “se pelo menos tivessem qualidade essas acomodações...”. Agora, o atual chanceler alemão Friedrich Merz fez declarações pouco amistosas sobre Belém. “É muito bom estarmos de volta ao nosso belo país”, disse ele. “E todos nós estamos muito felizes em ter saído daquele lugar”, finalizou o mandatário.

            As palavras podem até ter sido duras, principalmente quando vindas de um líder mundial. Ele se comportou como um Bolsonaro em sua melhor fase. Só que a Alemanha é hoje a terceira maior potência econômica do mundo e doa muitos dólares à Amazônia. Acusado de xenofobia, de falta de educação, colonialismo e de outros adjetivos pouco publicáveis, Merz infelizmente não mentiu. A cidade de Belém é uma desgraça só! Governada há mais de meio século pela família Barbalho, aliada de Lula e do PT, o lugar é um dos piores do Brasil em saneamento básico e em água tratada. Está à frente de Porto Velho, a pior dentre todas elas. Belém é a 22ª capital do país em IDH. Assim como Porto Velho, a capital dos paraenses é também um esgoto a céu aberto. Caos: com quase 1,5 milhão de habitantes, ela tem cerca de 56 por cento de sua população vivendo em favelas.

            Por terem se hospedado em Belém, Friedrich Merz e os alemães “pegaram foi um boi com chifre e tudo”. Já pensou se a COP 30 tivesse sido realizada em Porto Velho? Dessas duas capitais, não se sabe qual delas tem mais ratos, urubus e sujeiras expostas nas suas ruas. Belém e Porto Velho são irmãs gêmeas quando o assunto é sujeira, lixo, lodo e caos urbano. Ficar irritado com as desastrosas palavras do chanceler alemão terá sido em vão se mudanças não forem feitas em Belém. O incômodo não está na frase dita pelo chanceler. Está no que ela representa para Belém e para o Brasil. Conheço Berlim muito bem e sei que é uma injustiça tentar comparar as duas cidades. Já comparar Berlim com Porto Velho nem pensar. Já pensou se Merz e sua delegação se hospedassem em um barco no rio Madeira e tivessem que subir aquele barranco sujo, escorregadio e imundo?

            Acho que os paraenses foram conscientes e não ofereceram tacacá e outras iguarias ao líder alemão. Sabe-se que estas coisas são feitas com água pouco tratada, igual à que a maioria dos porto-velhenses bebe aqui: metade é água, a outra metade é bosta. Os alemães foram muito exigentes e até mal-educados, mas foram verdadeiros. Só que são verdades que não se deviam dizer. O povo do Pará é um povo bom, ordeiro, simpático, acolhedor e pacífico e não tem nenhuma culpa pelas mazelas que suas autoridades lhes impõem. Assim como em Porto Velho. O povo daqui é também um povo receptivo, bom, cordial. Mas a capital dos rondonienses nunca sediará nada se continuar sendo essa “currutela fedida” que sempre foi. E o cidadão daqui também quase não tem culpa. Por que as autoridades nada fazem para melhorar suas cidades? Belém pode ter ficado de fora da Copa de 2014 por isso. A verdade dói, mas precisa ser encarada como um ensinamento!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 16 de novembro de 2025

Rondônia? Só com passaporte!

Rondônia? Só com passaporte!

 

Professor Nazareno*

 

            O artigo 1° da Constituição Federal de 1988 diz que o Brasil é uma República Federativa formada pela união indissolúvel dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Porém, ultimamente, têm-se observado certas opiniões contra este dispositivo constitucional. Algumas autoridades de Santa Catarina (Saint Kataraina, em Inglês) têm-se insurgido contra a lei maior do país e proclamado publicamente que não seria todo e qualquer brasileiro a ter direito de entrar naquela “próspera e desenvolvida” unidade da federação. Muitas autoridades da extrema-direita principalmente já falam abertamente que o Brasil tinha que ser divido entre Norte e Sul. As áreas mais quentes e tropicais do novo país ficariam politicamente mais à esquerda enquanto o “Sul Maravilha” tenderia a ser um reduto só da direita e da extrema-direita reacionárias. Brasil do Norte e o do Sul.

            E eis que essa patológica sanha de uma absurda secessão nacional chega às terras de Rondon. Estado híbrido politicamente, confuso na sua formação social e composto por mais de 90 por cento de pessoas pobres e miseráveis, Rondônia não sabe ainda a que parte do “novo país” pertenceria com esta fictícia divisão nacional. Apesar da extrema-miséria da maioria de seu povo, a confusa, longe e distante unidade da federação tem grande parte de sua miserável população militando politicamente nos quadros da extrema-direita conservadora. Pobres de direita, muitos se orgulham! Em Porto Velho, a suja e fedorenta capital estadual, já há discussões sobre a permanência e a sobrevivência dos muitos pobres que tiveram a suprema infelicidade de escolheram lugar tão ermo para viver. A “limpeza e o higienismo social” infelizmente já fazem parte de muitos debates políticos.

            A ironia desta aberração social é que se conseguirem expulsar todos os pobres de Porto Velho, a cidade simplesmente se acabará. Sobrariam pouquíssimos habitantes por aqui. E mesmo no Estado inteiro de Rondônia, quase não há pessoas ricas e abastadas para serem poupadas desta “solução final”. Expulsar os pobres de uma determinada região ou proibir-lhes de ir aonde quiserem é uma patologia social só vista durante o Nazismo quando Hitler e a sua camarilha instituíram as perseguições contra os judeus e a outras minorias. A perseguição sistemática e o assassinato de aproximadamente seis milhões de judeus pelo Estado nazista alemão e por seus colaboradores durante a Segunda Guerra Mundial ficou historicamente conhecida como Holocausto. Se viver em Porto Velho e em Rondônia já era difícil em tempos normais, imagine-se com Hitler renascido.

            Rondônia precisa de sérias políticas públicas de inclusão social para resolver ou amenizar os seus problemas mais urgentes. Porto Velho, nem se fala! Na pior capital do Brasil para se viver falta tudo de que uma verdadeira e organizada cidade precisa. É muito difícil para um povo qualquer viver num lugar sem esgotos, sem água tratada e sem saneamento básico. A falta de uma boa mobilidade urbana assim como a violência social muitas vezes são frutos de pensamentos reacionários, conservadores e maldosos que propõem apenas o extermínio ou a expulsão de pessoas e não a busca de resoluções viáveis para abrandar e diminuir as suas necessidades. Pertencendo ao Norte ou ao Sul, o Estado Karipuna necessita de soluções que não sejam a solução final. Num país ainda indivisível, onde reina o Estado democrático de direito e as instituições ainda funcionam, seria bom que investigações fossem iniciadas para coibir tais absurdos. É duro ser pobre!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Extrema-direita, minha paixão!

Extrema-direita, minha paixão!

 

Professor Nazareno*

 

            No próximo ano haverá eleições. E eu quero me candidatar a um cargo político. Não interessa qual. Vou procurar um partido qualquer para que eu possa concorrer nas urnas. O negócio é ser eleito para poder colocar em prática tudo aquilo que penso e entendo ser o melhor para o meu povo, o meu Estado e também para o meu glorioso país. Sou e sempre fui orgulhosamente da extrema-direita e por isso, acreditei sempre no slogan “Deus, Pátria e Família”. Minha plataforma é muito singela: entendo que toda mulher deve ser submissa ao seu marido. Creio que muitas mulheres deveriam ser surradas pelo esposo toda vez que ousassem discordar dele. Ser a favor da violência conta a mulher é algo normal em nossa sociedade levando-se em conta que “tem muita mulher que merece apanhar”. E justifico: Deus fez primeiro o Homem e depois, de sua costela, fez a Mulher.

            O pensamento da extrema-direita, de um modo geral, sempre foi a minha paixão. Por isso entendo também que não deviam existir pessoas pobres em lugar nenhum do nosso país. Muito menos vivendo em nossa cidade. Todo morador de rua, por exemplo, deve ser expulso sistematicamente do lugar onde nós moramos e educamos a nossa família. Pessoas sem emprego, sem moradia fixa, enfim, pessoas “sem lenço e sem documento” não devem ter a dignidade nem o privilégio de se misturar conosco, que temos “horror a pobre”. Se eleito for, manterei fiscalização rigorosa tanto no porto quanto na rodoviária para impedir esse acinte, essa invasão descabida de gente “estranha” ao nosso meio. Todas as pessoas deviam viajar só de avião. É muito mais chique esperar pessoas num aeroporto do que em um barranco escorregadio ou num ônibus sujo e fedido.

            Eleito deputado estadual ou mesmo federal, eu coloco toda a minha família em empregos custeados pelo Estado. Minha esposa será a minha assessora direta com salário de 30, 40 ou 50 mil reais por mês. Meus filhos e até outros parentes mais próximos também serão beneficiados com empregos em meu gabinete. Detalhe: nenhum deles precisará ir ao trabalho. Receberão a grana em casa mesmo. Sei que muita gente invejosa pode até dizer que é nepotismo. Mas se for, não terá nenhum problema. Não serei o primeiro nem o último a fazer isso. Afinal de contas eu fui eleito e esses idiotas que ficam falando bobagens sequer foram candidatos. Como político da extrema-direita reacionária, eu também não gosto de índios e muito menos de pessoas negras. Se der, trabalharei incansavelmente para restaurar a escravidão. “Naqueles bons tempos todos trabalhavam”.

            Uma vez eleito, vou transformar todas as escolas públicas do Brasil em escolas militares, que é o único lugar onde reina a disciplina e o bom-senso. Comigo não haverá também esse negócio ridículo de direitos humanos e muito menos de respeito à natureza. Lutarei com força para desmatar toda a região amazônica. E desde que me entendo por gente sempre achei que “bandido bom é bandido morto”. Pregarei com força uma única religião, a cristã, e o Estado por aqui jamais será laico. Ensinarei que esse negócio de soberania nacional é bobagem. Todos deverão amar Israel e os Estados Unidos. Censura comigo não haverá, mas toda a mídia terá um certo controle. Comunismo? Nunca, jamais! Não vou me preocupar se algum indivíduo pobre, uma mulher ou algum negro se sentir injustiçado com as minhas medidas. Existem muitos pobres de direita neste país e todos sempre só votaram em candidatos que pensam assim como eu. Alguém votaria em mim?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Porto Velho, a “cidade-lixo”!

Porto Velho, a “cidade-lixo”!

 

Professor Nazareno*

                            

             Porto Velho, a eterna capital de Roraima, é a pior capital do Brasil em IDH. E muita gente sabe disto. Aqui nunca existiu qualidade de vida para os seus quase meio milhão de moradores e essa evitável desgraça já faz muito tempo. É uma espécie de maldição a que somos submetidos desde que este “arremedo de cidade” virou município ainda no distante ano de 1914. Somos muitos os habitantes desta maldita “currutela fedida” que pagamos anualmente vários tipos de impostos caríssimos para a prefeitura e tendo do poder público municipal praticamente nada de benefícios em troca. Este ano de 2025 mesmo, eu paguei ainda em janeiro a quantia de quase quinhentos reais só de TRSD, a Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares, uma espécie de imposto do lixo que se paga todo ano. Tributo este que deveria ser cobrado para recolher a imundície produzida aqui.

            O coitado do eleitor porto-velhense, que vota em toda eleição nestes políticos, não quer saber das brigas muito menos das demandas judiciais entre a empresa contratada para recolher o lixo e a prefeitura da cidade. O contribuinte é obrigado a pagar estes impostos e por isso quer ação do poder público e dos seus administradores. O lixo esparramado abunda na cidade e suja ainda mais o que já é sujo, porco e imundo. Porto Velho é um lodaçal fedido e promíscuo que envergonha praticamente a todos os seus desafortunados moradores. São mais de cem anos que se vive nessa latrina que parece não ter solução à vista. Entra prefeito e sai prefeito e nenhuma medida é apresentada. Somente a exposição inócua e deprimente nas redes sociais não vai trazer nenhuma solução para a pior capital do país em saneamento básico, limpeza urbana e água tratada.

           Seria muito bom que esta insalubre, inabitável, tosca e distante “curva de rio” tivesse somente esse problema do lixo para ser resolvido. As deficiências daqui são muitas e praticamente existem em todos os setores da administração pública. Porto Velho é um porto, mas não tem porto. Não é surreal esse absurdo? O barranco íngreme, sujo, liso e escorregadio está lá na beira do rio Madeira desafiando um prefeito que tenha a habilidade de resolver aquilo. Aliás, na beira do rio o que tem muito são urubus e ratos dando as boas-vindas a quem chega de barco a esta cidade. Com o lixo se acumulando pelas ruas, os urubus “fazem a festa”. Ratos, maruins, bichos-de-pé, percevejos, carapanãs e outras pragas urbanas habitam os vários igarapés contaminados ajudando dessa forma na desgraça coletiva. E Leonardo Barreto ainda não disse a que veio. Estamos é ferrados!

           Fato que era para ser discutido com muita seriedade: Porto Velho não devia mais ser a capital de Rondônia. Está localizada geograficamente muito longe de todos os outros municípios. E há cidades no interior do Estado que são muito mais limpas, organizadas e que poderiam ser uma verdadeira capital como Rolim de Moura ou Ji-Paraná. Esta capital já teve 111 anos para se organizar e até agora não deu certo em nada. Além do mais, a “currutela fedida”, por estar distante do centro geográfico de Rondônia, dificulta a vida de quem mora lá no Cone Sul, por exemplo. E quando será que Leonardo Barreto vai fazer pelo menos um metro a mais de rede de esgotos e aumentar o acesso da população daqui à água tratada? Em Porto Velho só falta mesmo é dar uma boa chuva de bosta. E os porto-velhenses que se preparem, pois a natureza, que também é muito agredida por aqui, já deu sinais de revolta com tornados e ciclones. Todo cuidado é pouco!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.