Educação
Pública tem a Receita do Sucesso
Professor Nazareno*
Arthur da Silva Alves tem 18 anos, mora no bairro Castanheiras na zona Sul de Porto Velho, é filho de pais separados e sempre estudou em escolas públicas. Por isso, fez todo o Ensino Fundamental na Escola D. Pedro I, que fica próxima a sua casa. O Ensino Médio, que concluiu há pouco mais de um ano, estudou na Escola Professor João Bento da Costa também naquela região da nossa capital. Itan Alan Marinho de Oliveira tem 17 anos e uma vida estudantil que em muito se assemelha com a de Arthur. Também filho de pais separados, mora no mesmo bairro da zona Sul de Porto Velho, estudou o Ensino Fundamental na mesma escola e frequentou o Ensino Médio também no JBC e, por coincidência, agora os dois são os mais novos fenômenos da educação pública de Rondônia. Ambos são calouros em 2012 e se preparam para cursar uma universidade pública, a Unir, já a partir do próximo semestre letivo.
A brilhante trajetória destes dois meninos
pobres da periferia da capital de Rondônia
poderia ser mais uma feliz rotina que acontece “uma vez ou outra ou
quando a sorte está ao lado dos mais necessitados”, mas não foi bem assim:
Arthur, antes de passar para o concorridíssimo curso de Medicina da Unir, a
Universidade Federal de Rondônia, que teve quase 65 alunos para cada vaga,
brilhou em inúmeros concursos organizados por várias outras universidades do
país. Medicina na UFAM, Universidade Federal do Amazonas, onde chegou até a
efetuar a matrícula, Medicina na PUC/Campinas, uma das melhores do país e com
direito à bolsa integral, e Medicina na UFAC, no vizinho Estado do Acre. Por
questões econômicas e prevendo dificuldades para se manter fora do nosso Estado
com recursos próprios ou um bom “paitrocínio”, ele preferiu ficar em
Porto Velho mesmo. “Vou ter de encarar a Unir”, disse.
Já o feito de Alan não foi menos
envaidecedor do que o do agora seu colega de universidade. Sempre usando o
PROUNI, SISU, ENEM ou mesmo o vestibular tradicional, esse “pequeno notável”
foi aprovado na UTFPR/Campus de Pato Branco/PR para Engenharia Mecânica, passou
para Direito com bolsa integral para a Faculdade São Lucas de Porto Velho,
passou também no IFRO em Licenciatura em Física onde está cursando atualmente e
finalmente foi aprovado no segundo curso mais concorrido da Unir, Engenharia
Civil, onde vai iniciar os estudos no próximo semestre letivo. Já Arthur foi um
dos únicos rondonienses a passar em Medicina na Unir em primeira chamada, já
que mais de 93% dos candidatos aprovados neste curso este ano são de fora do
Estado. Arthur fez também cursinho no Colégio Classe A, fato que, segundo ele,
também contribuiu muito para este esplendoroso sucesso de agora.
Na verdade, como Alan e Arthur, existem
muitos outros alunos de escolas públicas, e aqui em Porto Velho mesmo, que
conseguem trilhar este caminho de sucesso. E este ano não foi diferente. Pelo
menos no Colégio João Bento da Costa, que dispensa quaisquer comentários. “Só
neste ano de 2011/12, foram mais de trezentos alunos aprovados em vestibulares
por todo o país, incluindo o SISU, PROUNI e ENEM”, segundo comentou a
professora Soniamar Salim, uma das coordenadoras do Projeto Terceirão daquela
escola da zona sul de Porto Velho. No entanto, é bom observar a modificação na
rotina de estudos seguida à risca por estes dois alunos. “Durante todo o ano
de 2011, vivi praticamente para os estudos”, comentou Arthur. E completou:
“é importante abrir mão do tempo ocioso, das futilidades, das brincadeiras,
das festas e principalmente da Internet. Fora da escola, estudar pelo menos
umas 8 horas diárias”.
Das autoridades, dos políticos, da
SEDUC nem de qualquer outro órgão que representasse o Poder Público vieram
congratulações ou parabéns para estes dois grandes rondonienses, nem para
nenhum outro aluno de escola pública que conseguiu aprovação para qualquer
universidade federal. “Só de alguns professores, amigos e familiares mesmo”,
confidenciou meio chateado o futuro engenheiro Itan Alan. A escola de tempo
integral, cantada em prosa e verso pelos políticos demagogos aconteceu na
realidade destes dois grandes alunos. “Se o Estado não investe o que deveria
na educação pública, nem a população exige o seu direito à uma educação de
qualidade e continuada, podemos, nós mesmos,
fazer a diferença estudando por conta própria”, sentenciou Arthur.
Alan foi mais longe e afirmou que o Estado brasileiro nunca priorizou de
verdade a educação pública. “Vejam agora o caso do teto dos salários dos
professores”, sentenciou. E finalizou: “isto tem um preço: o eterno
atraso do país”.
Certamente
eles não foram à Banda do vai Quem Quer, não brincaram carnaval, nem perderam
tempo torcendo por times de futebol do sul do país. Valorizaram aquilo que seus
professores pediram e, por isso obtiveram sucesso. Talvez não sejam bons
rondonienses, já que não deram valor às imensas futilidades que tanto se
divulgam e que só alienam a nossa juventude. Não assistiram ao BBB, não viram o
Luan Santana nem a Banda “Calixo” e principalmente não seguiram os
conselhos ridículos da mídia alienante e ultrapassada do nosso Estado e do
nosso país. São vencedores e juntamente com os seus familiares, seus pais, dona
Elijane Ramos e dona Evanilde Marinho, suas orgulhosas mães, estão colhendo os
frutos da grande semeadura que fizeram. Parabéns, moleques, e que o seu exemplo
de garra e desprendimento seja seguido por todos os outros alunos, das escolas
públicas e das escolas particulares, que alimentam o gostoso e possível sonho
de entrar, por méritos próprios, em uma universidade federal. Voltem sempre ao
João Bento. Quem investe em educação, só ganha.
*É Professor em Porto
Velho.
6 comentários:
A educação é deixada de lado pelos governantes e a maioria dos jovens só querem saber de fulia, não correm atrás do prejuizo que o Estado deixa na educação.Vamos ver até quando os jovens não irá acordar para este fato, que já passou dos limites igualmente outros esquecidos pelo o governo e o povo.
Primeiramente quero parabenizar o Arthur e o Alan pela façanha digna dos mais veementes ecômios. Como aluno egresso da escola pública e também da unir (curso de direito), sei que não é fácil tal sucesso; para muitos até impossível. Em seguida, parabenizo o professor Nazareno, de quem também fui aluno, o que possibilitou o meu ingresso na Unir, por chamar atenção para os verdadeiros heróis da vida cotidiana, não esquecendo que, no exercício do magistério tal mal remunerado, ele está a forjar novos vencedores, que o sistema insiste em ignorar. Parabéns a todos!!
VOCÊS ACHAM MESMO QUE ESSE BANDO DE URUBUS, POLÍTICOS CORRUPTOS ESTÃO PREOCUPADOS COM PESSOAS HONESTAS E BATALHADORAS? NEM UM POUCO. QUANTOS MILHÕES FOI INVESTIDO NESSE CARNAVAL NOJENTO ONDE QUANTOS MORRERAM, PEGARAM DOENÇAS, SEM CONTAR AS DROGAS CONSUMIDAS.NOSSO PAÍS É DE DA NOJO, OS POLITICOS QUE O POVO ELEGE É UMA VERGONHA,NÃO TEMOS UM CIENTISTA QUE SE PRESE FORMADO NESSE PAIS. SERÁ POQUE?Investem em tudo menos na educação de qualidade.A começar pelo salário do professor.
Parabens a estes dois guerreiros que estarão com certeza lutando por um canudo desta forma serão profissionais de qualidade no futuro, parabens ao corpo docente do JBC, o que infelizmente não posso dizer do nosso governante que está acharcando a categoria da educação com este aumento pifio, os verdadeiros formadores de talentos teem que um verdadeiro malabarismo financeiro para sobreviver, vcs tambem são vencedores parabens
Infelizmente, professor Nazareno, as notícias ruins sempre ganham maiores destaques. E quando se trata de algo relacionado a educação , aí é que se mostra só lado pior.. é alto índice de reprovação de evasão escolar e asim vai.de violência nas escolas ... Até parece que nas escolas nada de bom acontece...O problema é que OS RESULTADOS POSITIVOS não são divulgados. agor aos negativos nem precisa falar...
O que me admira no caso deles é que aqui no Brasil não temos a cultura do estudo e esforço próprio. Poucos vencem esta barreira. Não quero dizer que as pessoas não sejam esforçadas, em verdade, viver em condições precárias é nossa especialidade. Porém, estes dois seguiram o esforço além, que é o de estudar, ganhar motivação interna e fazer mais do que a média. Por isso, estão de parabéns.
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