segunda-feira, 5 de março de 2012

O João Bento não para de fazer sucesso!




Educação Pública tem a Receita do Sucesso


Professor Nazareno*
        
         
             Arthur da Silva Alves tem 18 anos, mora no bairro Castanheiras na zona Sul de Porto Velho, é filho de pais separados e sempre estudou em escolas públicas. Por isso, fez todo o Ensino Fundamental na Escola D. Pedro I, que fica próxima a sua casa. O Ensino Médio, que concluiu há pouco mais de um ano, estudou na Escola Professor João Bento da Costa também naquela região da nossa capital. Itan Alan Marinho de Oliveira tem 17 anos e uma vida estudantil que em muito se assemelha com a de Arthur. Também filho de pais separados, mora no mesmo bairro da zona Sul de Porto Velho, estudou o Ensino Fundamental na mesma escola e frequentou o Ensino Médio também no JBC e, por coincidência, agora os dois são os mais novos fenômenos da educação pública de Rondônia. Ambos são calouros em 2012 e se preparam para cursar uma universidade pública, a Unir, já a partir do próximo semestre letivo.
         A brilhante trajetória destes dois meninos pobres da periferia da capital de Rondônia  poderia ser mais uma feliz rotina que acontece “uma vez ou outra ou quando a sorte está ao lado dos mais necessitados”, mas não foi bem assim: Arthur, antes de passar para o concorridíssimo curso de Medicina da Unir, a Universidade Federal de Rondônia, que teve quase 65 alunos para cada vaga, brilhou em inúmeros concursos organizados por várias outras universidades do país. Medicina na UFAM, Universidade Federal do Amazonas, onde chegou até a efetuar a matrícula, Medicina na PUC/Campinas, uma das melhores do país e com direito à bolsa integral, e Medicina na UFAC, no vizinho Estado do Acre. Por questões econômicas e prevendo dificuldades para se manter fora do nosso Estado com recursos próprios ou um bom “paitrocínio”, ele preferiu ficar em Porto Velho mesmo. “Vou ter de encarar a Unir”, disse.
         Já o feito de Alan não foi menos envaidecedor do que o do agora seu colega de universidade. Sempre usando o PROUNI, SISU, ENEM ou mesmo o vestibular tradicional, esse “pequeno notável” foi aprovado na UTFPR/Campus de Pato Branco/PR para Engenharia Mecânica, passou para Direito com bolsa integral para a Faculdade São Lucas de Porto Velho, passou também no IFRO em Licenciatura em Física onde está cursando atualmente e finalmente foi aprovado no segundo curso mais concorrido da Unir, Engenharia Civil, onde vai iniciar os estudos no próximo semestre letivo. Já Arthur foi um dos únicos rondonienses a passar em Medicina na Unir em primeira chamada, já que mais de 93% dos candidatos aprovados neste curso este ano são de fora do Estado. Arthur fez também cursinho no Colégio Classe A, fato que, segundo ele, também contribuiu muito para este esplendoroso sucesso de agora.
         Na verdade, como Alan e Arthur, existem muitos outros alunos de escolas públicas, e aqui em Porto Velho mesmo, que conseguem trilhar este caminho de sucesso. E este ano não foi diferente. Pelo menos no Colégio João Bento da Costa, que dispensa quaisquer comentários. “Só neste ano de 2011/12, foram mais de trezentos alunos aprovados em vestibulares por todo o país, incluindo o SISU, PROUNI e ENEM”, segundo comentou a professora Soniamar Salim, uma das coordenadoras do Projeto Terceirão daquela escola da zona sul de Porto Velho. No entanto, é bom observar a modificação na rotina de estudos seguida à risca por estes dois alunos. “Durante todo o ano de 2011, vivi praticamente para os estudos”, comentou Arthur. E completou: “é importante abrir mão do tempo ocioso, das futilidades, das brincadeiras, das festas e principalmente da Internet. Fora da escola, estudar pelo menos umas 8 horas diárias”.
         Das autoridades, dos políticos, da SEDUC nem de qualquer outro órgão que representasse o Poder Público vieram congratulações ou parabéns para estes dois grandes rondonienses, nem para nenhum outro aluno de escola pública que conseguiu aprovação para qualquer universidade federal. “Só de alguns professores, amigos e familiares mesmo”, confidenciou meio chateado o futuro engenheiro Itan Alan. A escola de tempo integral, cantada em prosa e verso pelos políticos demagogos aconteceu na realidade destes dois grandes alunos. “Se o Estado não investe o que deveria na educação pública, nem a população exige o seu direito à uma educação de qualidade e continuada, podemos, nós mesmos,  fazer a diferença estudando por conta própria”, sentenciou Arthur. Alan foi mais longe e afirmou que o Estado brasileiro nunca priorizou de verdade a educação pública. “Vejam agora o caso do teto dos salários dos professores”, sentenciou. E finalizou: “isto tem um preço: o eterno atraso do país”.
Certamente eles não foram à Banda do vai Quem Quer, não brincaram carnaval, nem perderam tempo torcendo por times de futebol do sul do país. Valorizaram aquilo que seus professores pediram e, por isso obtiveram sucesso. Talvez não sejam bons rondonienses, já que não deram valor às imensas futilidades que tanto se divulgam e que só alienam a nossa juventude. Não assistiram ao BBB, não viram o Luan Santana nem a Banda “Calixo” e principalmente não seguiram os conselhos ridículos da mídia alienante e ultrapassada do nosso Estado e do nosso país. São vencedores e juntamente com os seus familiares, seus pais, dona Elijane Ramos e dona Evanilde Marinho, suas orgulhosas mães, estão colhendo os frutos da grande semeadura que fizeram. Parabéns, moleques, e que o seu exemplo de garra e desprendimento seja seguido por todos os outros alunos, das escolas públicas e das escolas particulares, que alimentam o gostoso e possível sonho de entrar, por méritos próprios, em uma universidade federal. Voltem sempre ao João Bento. Quem investe em educação, só ganha.




*É Professor em Porto Velho.

6 comentários:

Rafael Avila Basso disse...

A educação é deixada de lado pelos governantes e a maioria dos jovens só querem saber de fulia, não correm atrás do prejuizo que o Estado deixa na educação.Vamos ver até quando os jovens não irá acordar para este fato, que já passou dos limites igualmente outros esquecidos pelo o governo e o povo.

Paulo Lacerda disse...

Primeiramente quero parabenizar o Arthur e o Alan pela façanha digna dos mais veementes ecômios. Como aluno egresso da escola pública e também da unir (curso de direito), sei que não é fácil tal sucesso; para muitos até impossível. Em seguida, parabenizo o professor Nazareno, de quem também fui aluno, o que possibilitou o meu ingresso na Unir, por chamar atenção para os verdadeiros heróis da vida cotidiana, não esquecendo que, no exercício do magistério tal mal remunerado, ele está a forjar novos vencedores, que o sistema insiste em ignorar. Parabéns a todos!!

Elza disse...

VOCÊS ACHAM MESMO QUE ESSE BANDO DE URUBUS, POLÍTICOS CORRUPTOS ESTÃO PREOCUPADOS COM PESSOAS HONESTAS E BATALHADORAS? NEM UM POUCO. QUANTOS MILHÕES FOI INVESTIDO NESSE CARNAVAL NOJENTO ONDE QUANTOS MORRERAM, PEGARAM DOENÇAS, SEM CONTAR AS DROGAS CONSUMIDAS.NOSSO PAÍS É DE DA NOJO, OS POLITICOS QUE O POVO ELEGE É UMA VERGONHA,NÃO TEMOS UM CIENTISTA QUE SE PRESE FORMADO NESSE PAIS. SERÁ POQUE?Investem em tudo menos na educação de qualidade.A começar pelo salário do professor.

Sebastião disse...

Parabens a estes dois guerreiros que estarão com certeza lutando por um canudo desta forma serão profissionais de qualidade no futuro, parabens ao corpo docente do JBC, o que infelizmente não posso dizer do nosso governante que está acharcando a categoria da educação com este aumento pifio, os verdadeiros formadores de talentos teem que um verdadeiro malabarismo financeiro para sobreviver, vcs tambem são vencedores parabens

Professor JBMM disse...

Infelizmente, professor Nazareno, as notícias ruins sempre ganham maiores destaques. E quando se trata de algo relacionado a educação , aí é que se mostra só lado pior.. é alto índice de reprovação de evasão escolar e asim vai.de violência nas escolas ... Até parece que nas escolas nada de bom acontece...O problema é que OS RESULTADOS POSITIVOS não são divulgados. agor aos negativos nem precisa falar...

YURE disse...

O que me admira no caso deles é que aqui no Brasil não temos a cultura do estudo e esforço próprio. Poucos vencem esta barreira. Não quero dizer que as pessoas não sejam esforçadas, em verdade, viver em condições precárias é nossa especialidade. Porém, estes dois seguiram o esforço além, que é o de estudar, ganhar motivação interna e fazer mais do que a média. Por isso, estão de parabéns.