“... Vossa Excelência é um
Ladrão...”
Professor Nazareno*
Rondônia não sai da mídia nacional. Em menos de um mês o programa global Fantástico já noticiou o escândalo da Unir, Universidade Federal de Rondônia, e todos os seus desdobramentos como malversação de dinheiro público e outros afins, deve mostrar em rede nacional os bastidores da Operação “Termópilas” da Polícia Federal que desbaratou uma quadrilha de Deputados Estaduais e funcionários públicos que atuava dentro da Assembléia Legislativa do Estado e se quiser ainda pode exibir nos próximos programas a Operação “Anjos do Asfalto” em que alguns funcionários do DNIT, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes são responsabilizados pelo desvio de pelo menos 30 milhões de reais das obras de asfaltamento da BR 429. O superintendente do órgão, José Ribamar, já está afastado do cargo. Alguém será punido?
Enquanto isso, morre em Pernambuco, aos
63 anos, o mecânico Marcos Mariano da Silva. Ele passou 19 anos preso
injustamente. Neste período, perdeu um olho e logo depois ficou completamente
cego, contraiu tuberculose e quando soube que receberia parte de uma
indenização, morreu de parada cardíaca enquanto dormia. Diferente dos ladrões
de Rondônia, Marcos Mariano não tinha nenhum pedigree e por isso sofreu nas
garras da nossa “Injusta Justiça”.
Por aqui, Januário Amaral que não foi preso um minuto sequer, vai tirar 90 dias
de férias com todos os salários pagos pelo Erário para depois “organizar” a sua defesa. Valter Araújo,
Presidente da Assembléia de Rondônia, passou uma semana detido nas dependências
da Polícia Federal e a sua liberdade é apenas uma questão de tempo. O STJ até já
lhe concedeu uma liminar. Ribamar do DNIT nem isso.
Até quando nós brasileiros temos que
conviver com estas injustiças? Até quando nós rondonienses devemos aceitar
tranquilamente este estado de coisas? Porém, parte da culpa é nossa. Ninguém
gosta de ser chamado de idiota, anta, babaca ou otário. Mas é isto que estamos
sendo quando vemos o nosso dinheiro ser roubado e não esboçamos nenhuma reação.
Há tempos, perdeu-se aqui a capacidade de se indignar. Somos covardes porque
temos um convênio médico ou porque temos o nosso empreguinho e garantimos o
nosso pão de cada dia. “Dinheiro desviado
da saúde pública não me atinge, Pernambuco fica muito longe daqui e nada tenho
a ver com os desvios no DNIT”, pensamos erradamente. A nossa omissão aliada
à impunidade e à injustiça é o combustível perfeito para se roubar cada vez
mais o nosso suado dinheiro dos impostos.
Em países mais sérios como Estados
Unidos e Japão, muitos destes larápios
pegariam prisão perpétua além de devolver tudo para os cofres públicos.
Quem ainda está preso ou devolveu alguma coisa da Operação Dominó há seis anos?
Nós que pagamos impostos e vivemos em Rondônia estamos nos acostumando a ser
estuprados coletivamente e nada fazemos. E não adianta dizer que foi obra de
três ou quatro ladrões apenas. Os oito deputados de Rondônia acusados por este
escândalo receberam exatos 93.426 de votos de nós, cidadãos rondonienses. Eu,
por exemplo, votei na Epifânia, minha esposa, no Zequinha Araújo. Estou me
sentindo cúmplice de toda esta patifaria. Estou me sentindo uma anta, um Zé
Mané, um perfeito idiota. Porém, muitos eleitores preferem a hipocrisia do
anonimato e não perdem a oportunidade para atirar pedras.
No Brasil, marchas contra a corrupção
não juntam mais do que algumas dezenas de militantes. Os meninos, universitários
heróis que tomaram a Unir, não desistiram até a saída do reitor. A população
inteira devia deixar o medo de lado e imitá-los. Lutar pelos seus direitos e
não se deixar roubar não é crime, é civismo. Devíamos repudiar o circo e usar a
Banda do vai quem quer, a Marcha para Jesus, Passeata do orgulho gay ou
carnaval fora de época para protestar. Vendemos muito barato o nosso silêncio,
a nossa liberdade de expressão. Devíamos não confiar nos políticos ladrões, uma
raça de víboras, e sermos mais críticos, seletivos e conscientes na hora de
votar. Rondônia é nossa, o Brasil é nosso e não desses picaretas. O dinheiro
que eles nos roubam é suficiente para fazer deste país um dos melhores do
mundo. Se desviarem todos os recursos para as obras do PAC em Rondônia, nada
vai nos sobrar. Nas Assembléias Legislativas o discurso mais comum é: “...Vossa Excelência é um ladrão...”. “Desculpe, nobre colega, mas ladrão é Vossa
Excelência...”. Ainda há políticos e brasileiros honestos, não é possível.
Não podemos agir como o pobre mecânico pernambucano e sucumbir no final. O
Poder Público sabe disto. Podemos mudar e para melhor esse discurso.
*É
Professor em Porto Velho.
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