Protestos: a saga dos 104 “zeróis”
Professor Nazareno*
A Marcha contra
a Corrupção, edição Rondônia, terminou em “beiju
de caco”. O dia 14 de novembro, mais um feriado segundo os padrões
rondonienses, seria o marco histórico dos protestos que mudariam o Estado e o
país. Cento e quatro pessoas contadas a dedo, a maioria estudantes e
professores da Unir que estão em greve há exatos dois meses. Não fosse isso,
teríamos não mais do que duas ou três dezenas de manifestantes que enfrentaram
o sol escaldante e um calor muito superior aos 40 graus para gritar palavras de
ordem no meio da rua. À medida que o tempo passava, alguns bêbados, desocupados
e moradores de rua se juntaram à manifestação que chegou ao final a somar pelo
menos umas 140 pessoas. Isso mesmo: exatos 0,1 por cento do total que a
banda-do-vai-quem-quer coloca nas ruas em fevereiro para pular o carnaval.
Provavelmente nenhum dos muitos primatas que brincam o
carnaval estava ali para se manifestar contra a roubalheira na política.
Cheguei às três e meia da tarde e não vi distribuírem cachaça, maconha ou qualquer
outra droga para animar as pessoas como costumeiramente fazem em outras
ocasiões. Só água mineral mesmo. Ironicamente o trajeto percorreu em sentido
contrário o caminho da famosa banda e de outras comemorações inúteis. O
trânsito fluía normalmente e as pessoas, que olhavam perplexas “aquela deprimente passeata”, estavam
todas espantadas como galinhas quando vêem cobra. “É uma procissão? Cadê o
santo? Hoje é dia de quê mesmo, maninha?”. Perguntavam atônitas algumas
senhoras que se protegiam do sol embaixo das marquises das lojas nas avenidas
Sete de Setembro e Carlos Gomes no centro.
Participei de um espetáculo horrendo, maçante, deprimente,
vazio e pífio. Tentei me comparar aos 300 de Esparta que há mais de 25 séculos
enfrentaram 120 mil combatentes dos exércitos persas de Xerxes na famosa
batalha das Termópilas. Mas parece que ninguém se incomodava com aquela
patetice explícita. Batendo em bumbos e latinhas, parecíamos zumbis lutando pela
causa dos outros. Os nossos gritos de guerra não eram ouvidos por ninguém.
Parecíamos São João Batista pregando no deserto. A corrupção parece que não
atinge aquelas espantadas pessoas que nos olhavam. Não vi nenhum político
participando daquilo. Nem o professor Pantera do PC do B estava presente. Até
porque os comunistas não se envolvem em corrupção e são exemplos para o resto
do país. Roberto Sobrinho, um vereador, um deputado, um senador, ninguém.
O aparato de segurança do Estado nem se fez presente.
Também não havia a menor necessidade. Como eram poucos os manifestantes,
bastava meia dúzia de “coianos” com a
sua famosa truculência para resolver qualquer imbróglio. Não me arrependi de
ter ido marchar contra a corrupção, pois fiz a minha parte, porém percebi que muitos
revolucionários de hoje estão sentados em frente a um computador fazendo a
revolução dos teclados e das redes sociais. Já o povo, motivo maior das lutas
sociais, está entretido em seus afazeres e se preparando para pular feito
macaco nos carnavais que acontecerão naquelas mesmas ruas daqui a menos de três
meses. O irônico de tudo isto é que a maioria daqueles manifestantes não
precisa de um João Paulo Segundo ou do Estado. Só que é exatamente a corrupção
que produz as excrescências públicas.
Mas o Brasil é assim mesmo. É a Pátria do futebol, do
carnaval, dos feriados que não existem, do Luan Santana, da Banda Calixo, do
sertanejo universitário, da esquadrilha da fumaça e da pouca ou nenhuma
consciência política. Os gigolôs da alienação geral também não estavam por lá.
Deviam estar “pensando” em como
entreter o povão ignaro com mais circo. A mídia praticamente também não se fez
presente. Poucos sites eletrônicos noticiaram o evento. Somente aqueles que
ainda não se venderam para a corrupção e para o dinheiro fácil dos donos do
poder. Os brasileiros, com a síndrome de galinha (levando no traseiro e
cantando), vão às urnas no próximo ano eleger mais uma penca de políticos
desonestos que surrupiarão ainda mais seus minguados recursos. A corrupção é um
ciclo sem fim. Um dos panfletos da marcha dizia: “você faz toda a diferença neste movimento de cidadania, seja para
melhorar ou para piorar”. Mesmo sendo a semente, o começo da luta pela
conscientização política deste povão broco e com um princípio de insolação,
desta vez foi para piorar mesmo.
*É
Professor em Porto Velho.
15 comentários:
Excepcional texto! Estive na "marcha fúnebre" junto de você, professor. O quase enterro da esperança de mudança de mentalidade desse povão. Haja caracteres para tanto sarcasmo, professor! Eu não sou tio, mas senti tanta falta de um Sobrinho. O peleguismo, se é que existe essa palavra, dos professores deste estado é algo para se lamentar. Pessoas que passaram por tantas humilhações nos últimos anos, agora fogem da responsabilidade de se rebelar.
Triste.
Caro amigo Nazareno, vc continua escrevendo maravilhosamente bem, neste específico artigo mostrou realmente que não existe por parte dos interessados nenhuma vontade de protestar contra o que aí está. Agora que baixou a "sindrome do cachorro vira latas, baixou"
ENQUANTO TIVER BOLSA FAMÍLIA, COMIDA, ÁGUA E CARNAVAL E AS BANDAS IDOLATRADAS, ESTARÁ TUDO BEM NESSAS TERRAS LONGINQUAS, QUANDO A FONTE SECAR E TUDO ISSO ACABAR O POVO ACORDARÁ, PENA QUE SERÁ MUITO TARDE.
QUE VERGONHA, MAIS UMA VEZ, ACREDITO QUE ISSO ESTÁ ACONTECENDO POR UM PEQUENO GRUPO QUE QUEREM EMPODERAMENTO (PALAVRA DO MOMENTO). GENTE VAMOS TRABALHAR, PQ NA HORA DO PEGA PRA CAPAR, NINGUÉM BOTA CARA PARA ATER COISA NENHUMA, É SO OBA OBA.
Parabéns pelo artigo, fui a passeata e estava deprimente...falta uma gigantesca consciência política para a população de PVH...
Nazareno, fizemos nossa parte. Creio que o foco é consciêntização.
Apesar de tudo, eu via pessoas aplaudindo das calçadas, buzinando dentro dos carros, palavras de apoio quando estavamos divulgando a marcha...
Um dia amanhecerá, amanhã, sera?
A deprimente letargia do povo!
Povo que não tem virtude, acaba por ser escravo!!!!
Brasil, um país de todos....
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar o nosso governo
E nosso estado que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatus
Perséphone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
E os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
E o voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
Todos os impostos, queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo e nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo o roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o hino nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror de tudo isso
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
JÁ aqui também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção
Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição
"E a nossa história ... não estará pelo avesso assim sem final feliz ...
Teremos coisas bonitas pra contar ...
E até lá vamos viver ... temos muito ainda por fazer ...
Não olhe pra tras ... apenas começamos ...
O mundo começa agora ... ahh!
Apenas começamos!" (Legião Urbana)
Essa frase da propaganda do governo federal deveria ser assim: Brasil, um país de poucos!
Ou melhor: Brasil, um país de tolos!
Fui a deprimente marcha que o professor Nazareno descreveu tão bem. Que povo manso, apanha, apanha, apanha e nunca aprende! A divulgação, por mais tímida que tenha sido, deveria ter levado um número expressivo de pessoas as ruas. Feriado de 15 de novembro, segunda imprensada, e nada! Devemos perseverar! O povo ainda não despertou, pena. O título desse texto é excepcional! Protestos: a saga dos 104 "zeróis".
Tá no blog do Nazareno. Esse texto tem que virar corrente de e-mail. Vai falar mal desses "astros" da música pop brasileira para o povão. Você apanha de cinta!
Matéria postada, em destaque especial, no site de noticias da região www.paradaobrigatorianews.com.br
Estamos apoiando a greve da UNIR. E qualquer material para publicação, encaminhar para o e-mail redacao@paradaobrigatorianews.com.br
Grata.
É TRISTE, É DEPRIMENTE, MAS AS PESSOAS NÃO TOMARAM CONSCIENCIA QUE O HAITI, A EUROPA ESTÃO ENFRENTANDO ESSA CRISE POR CAUSA DA ROUBALHEIRA E DA CORRUPÇÃO, OS MISERÁVEIS QUE TAMBÉM DEVERIAM ESTAR LÁ NÃO ESTAVAM, PQ NO FINAL DO MÊS A BOLSA ESTÁ NA CONTA. O POVO SÓ VAI ACORDAR, SÓ VAI REAGIR QUANDO O SEU BOLSO FOR ATINGINDO, QUANDO ELE PERCEBER QUE NÃO ADIANTA PROCURAR EMPREGO PQ NÃO TEM EMPREGO, QUANDO PERCEBER QUE NÃO TEM MAIS O QUE COLOCAR NA MESA, QUANDO AS BOLSAS FOREM CORTADAS PQ A FONTE SECOU, AÍ SIM VAI REAGIR, MAS TALVEZ JÁ SEJA TARDE.
É... a mesma mágoa que corroi a alma é a que anima a luta. Que contradição o texto e a perspectiva... Walterlina Brasil
Política do pão e circo tão bem aplicada que não se vê corrupção em Rondônia e nem mesmo o pior hospital do Brasil. Parece mesmo galinha, pois o rondoniense toma lá e sai dando risada!
Tio Naza é um monstro nas letras. Estive presente na Marcha, e como um sábio amigo me disse, 'Vergonha é não lutar por seus direitos'.
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