Vivendo
na cidade insalubre
Professor
Nazareno*
Há
16 anos, quando pela primeira vez escrevi um texto falando a verdade sobre
Porto Velho e sobre Rondônia, fui duramente insultado nas redes sociais,
chamado de imbecil, sujeito de mentalidade retrógrada, colonizador de araque e
infinitos outros adjetivos que não posso publicar aqui. Indignados com as minhas
palavras, muitos rondonienses, “rondonienses de coração” e
porto-velhenses saíram em defesa do indefensável e chegaram quase a propor que
eu, o maldito Professor Nazareno fosse queimado numa fogueira em
praça pública. Mesmo com muito medo, não baixei a guarda e continuei escrevendo
textos mostrando a todos a verdadeira face desse arremedo de cidade, dessa
amaldiçoada curva de rio, desse lugar sem eira nem beira, dessa eterna currutela
fedida. E Porto Velho e Rondônia hoje agonizam e rumam para a extinção certa.
O maior símbolo da
“capital do lodaçal” sempre foi o rio Madeira, mas hoje um dos maiores
rios do mundo está agonizante e quase à beira da morte, que lhe aguarda. Depois
das hidrelétricas que lhe fincaram no leito, ele adoeceu aos poucos e caminha
também para o seu melancólico fim. A cidade definha a cada dia que passa.
Muitos dos meus críticos abandonaram o seu lugar de origem e foram embora em
busca de cidades menos insalubres no Sul maravilha e nas paradisíacas praias do
Nordeste. Indiretamente me deram razão. Como viver numa cidade insalubre e
decadente? Aqui temos o pior hospital público do Brasil. Temos o pior IDH
dentre as 27 capitais do país, a nossa qualidade de vida é sofrível e talvez
até pior do que aquelas cidades da Índia e da África subsaariana. Porto Velho
não tem rede de esgotos nem saneamento básico ou água tratada.
Eu nunca falei mal
de Porto Velho. Apenas sempre mostrei a verdade, que muitos, por ignorância e
por falso telurismo, não queriam ver. Hoje, devido às queimadas que se fazem na
floresta amazônica, temos o pior ar para se respirar no Brasil. Andar pelas
sujas e imundas ruas da cidade sem usar uma boa máscara é correr risco de
morrer intoxicado por monóxido de carbono e por outras substâncias
cancerígenas. A currutela fedida está insalubre e sob uma densa nuvem de fumaça
tóxica já há mais de um mês. O ar em Porto Velho está perigoso e pode levar à
morte principalmente os velhos e crianças. Sem água tratada nem esgotos, sempre
respiramos por aqui um ar com cheiro de merda mesmo. Hoje esse mal cheiro
continua só que em um ar com veneno mortal. Até os poços de água, contaminados
por bosta, já estão secando. Sem volta, Porto Velho caminha para seu fim.
A classe política
local, que nunca fez nada para melhorar a qualidade de vida do lugar, não está
“nem aí” para esse armagedon. Ela está é nas redes sociais e na mídia
pedindo tranquilamente o voto dos acomodados eleitores que também nada veem. E o
pior: não dá nem para sair desse purgatório na terra, dessa antessala do
inferno, dessa morada do Satanás. A fumaça densa bloqueia o aeroporto e os
raros voos são cancelados. Sob todos os aspectos a “capital dos destemidos
pioneiros” é hoje um lugar inóspito, perigoso e impróprio até para se
morar. Cadê os meus críticos? Por que não se mobilizam e cobram soluções das autoridades? Cadê a prefeitura da cidade, o governo do Estado, as Forças Armadas?
Talvez estejam todos escondidos no meio da fumaceira absurda que por incompetência
deles próprios encobriu e engoliu Porto Velho e Rondônia. Já eu, não saio
daqui, quero ver a cara daqueles tolos que gritavam para defender essa porcaria
de lugar.
*Foi Professor em Porto
Velho.
Um comentário:
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