Um
juiz na cidade estuprada
Professor
Nazareno*
O
Brasil tem exatos 524 anos de existência. Já Porto Velho, a suja, fedorenta e
imunda capital de Roraima, tem apenas 110 anos. Guardadas as devidas
proporções, se o Brasil fosse uma senhora madura, na casa dos quarenta ou
cinquenta anos, a “Capital da Seboseira” teria somente entre dez
e quinze anos. A diferença é que Porto Velho é estuprada sistematicamente desde
o seu nascimento. Uma jovem menor de 14 anos é seviciada, usada e violentada
pelos seus moradores e administradores sem que ninguém faça absolutamente nada
para enfrentar o crime de abuso sexual contra ela. Porto Velho não é uma cidade
rica, abastada, opulenta. Pelo contrário, é paupérrima e sempre viveu em
condições insalubres e com sérias privações econômicas. É hoje, a pior dentre
as 27 capitais do Brasil, além de ter o pior ar para se respirar. Sem IDH,
sempre viveu à míngua.
Se
a “Capital das Sentinelas Avançadas” fosse mesmo uma mulher,
todos os seus administradores já teriam sido enquadrados na Lei Maria da Penha.
E como no Brasil manter relações sexuais com uma jovem menor de 14 anos, mesmo
com o consentimento dela, é crime de estupro previsto em lei, muita gente já
devia ter sido punida. Mas até agora ninguém pagou absolutamente nada por “ter
transado” com esta maldita currutela fedida, com esta curva de rio. Estamos
precisando de um bom juiz, ou até mesmo de uma juíza, para acabar com estas
agressões horrendas a essa bela “jovem” que não pode se defender. Com
mais de um século de existência, Porto Velho não tem sequer três por cento de
esgotos e nem saneamento básico. Não temos um porto rampeado no outrora
caudaloso rio Madeira, não temos hospital de pronto-socorro e somos a latrina
do Brasil.
O
desleixo é tão grande com a jovem cidade que nos meses de junho a setembro é preciso
usar máscaras para poder se respirar o ar poluído pelas queimadas na Amazônia.
É tanta fumaça tóxica que os precários hospitais se enchem de velhos e crianças.
Apesar da pouca idade que tem, Porto Velho é, infelizmente, uma das putas mais
ratuínas, baratas e ordinárias que existem. É que ela cai facilmente na lábia
de qualquer aventureiro. Outro dia, por exemplo, vimos mais um forasteiro lhe
dizer que ia abraçar, amar, beijar, acariciar e cuidar dela. A otária acreditou
na mentira e se lascou toda. Nem um centímetro de rede de esgoto foi feita
nela, várias árvores foram simplesmente arrancadas, não lhe deram mobilidade
urbana e em 2023 foi considerada pelo Instituto Trata Brasil como uma cidade
totalmente insalubre, doentia, sem condições de moradia. Enfim, um rincão bem
atrasado.
A
jovem e bonita Porto Velho precisa de um magistrado, ou magistrada, que lhe
esclareça melhor as coisas, que lhe “abra” a cabeça, que lhe faça
acordar deste triste pesadelo de estupros coletivos e ininterruptos desde 1914.
Pode até ser alguém oriundo de castas sociais mais ricas e privilegiadas. Mas
alguém que de fato a ame fielmente e lhe dê carinho e atenção de verdade. Porto
Velho precisa de mais limpeza, precisa de água tratada para cem por cento de
sua gente, de esgotos e saneamento básico, de um bom hospital de
pronto-socorro, de um porto rampeado, de mobilidade urbana e de uma boa
arborização. É uma puta pobre, uma meretriz explorada, assediada, estuprada,
violentada, mas é um ser humano como outro qualquer e merece atenção e respeito.
Precisa de mais praças, de flores nas ruas, de limpeza e de mais cuidados. Vão escolher
um novo cuidador para a “putinha”. Existirá alguém habilitado ou vamos continuar
estuprando-a todo dia?
*Foi Professor em Porto
Velho.
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