sábado, 27 de julho de 2024

Rondônia tem culpa, sim!

Rondônia tem culpa, sim!

 

Professor Nazareno*

 

            Outro dia eu disse que as terríveis enchentes que aconteceram no Rio Grande do Sul em maio último podem ter tido a participação de Rondônia. A culpa das agressões que se faz ao meio ambiente não só por aqui, mas também em outros estados do Brasil, é vista todo ano com os colossais incêndios no que ainda resta de floresta amazônica. No verão desta parte da Amazônia, cortinas de fumaça são vistas quase diariamente em toda a região denunciando o pouco caso que se tem com o meio ambiente neste rincão atrasado, explorado, abandonado e subdesenvolvido. Por ter dito mais esta verdade, o mundo quase caiu sobre mim. Muitos rondonienses e também os rondonienses “de coração” saíram em defesa da destruição escondendo o lixo embaixo do tapete. Mas não tardou muito para a verdade aparecer. Porto Velho teve na semana passada o pior ar para se respirar no Brasil.

            A capital de Roraima é uma desgraça só. Tem o pior hospital público do país e é, dentre as 27 capitais, a pior para se viver. Segundo o ITB e o IPS, Porto Velho tem a pior qualidade de vida da nação. E como se não bastassem essas duas desgraças, a qualidade do ar que se respira na “capital dos destemidos pioneiros” é a pior de todas. A suja e fedorenta cidade está envolta em fumaça tóxica das queimadas como acontece todos os anos. O calor beira os 40 graus e a sensação de se estar no inferno é real. A devastação ambiental provocada naturalmente em Rondônia é a principal responsável pelas fortes mudanças climáticas verificadas como, por exemplo, os mortais vendavais que assolaram os gaúchos. E não adianta tapar o sol com a peneira, pois Porto Velho e Rondônia não são exemplos ambientais para ninguém. Até o rio Madeira conseguiram matá-lo sem dó.

            As autoridades constituídas têm culpa também por este descaso. Neste verão, a pouca grama que tem espalhada pelas ruas da capital está seca e esturricada. Nunca vi um caminhão molhando-a. Árvores, a cidade não tem. A cobertura vegetal da rua Tiradentes na zona norte da cidade foi arrancada implacavelmente com a desculpa esfarrapada de que estava quebrando a rede de esgotos que nunca existiu por lá. Além do mais, pessoas incendeiam folhas secas em seus quintais aumentando ainda mais o sufoco. E para piorar toda essa desgraceira, muitos rondonienses incendiários e desinformados estão clamando pela volta da BR-319. A estrada mais antiambiental do mundo será o tiro de misericórdia na já destruída Amazônia. Levas de madeireiros, de grileiros, de invasores de terras, de garimpeiros e outros afins não deixarão uma só árvore ali. Vai ser o fim de toda a floresta.

            Além do mais, muita gente daqui pede ainda a volta do garimpo criminoso e poluidor no rio Madeira. Como se vê, destruir o meio ambiente e agredir a natureza até parece ser um passatempo divertido em Rondônia, cuja maioria dos habitantes se vê hoje diante de uma seca igual à do Nordeste. Porto Velho não tem água tratada, mesmo assim já há propagandas na mídia incentivando as pessoas a não gastarem “tanta água” à toa. É como se os órgãos de defesa do meio ambiente nem existissem aqui. Incêndios florestais já viraram rotina e a fumaça atormenta a vida de todos. O agronegócio criminoso, carro-chefe em Rondônia, é como a fome: só aumenta a cada ano. E para isso, incendeia a Amazônia em busca de terras para expandir sua atuação. Só em julho deste ano o número de focos de incêndios por aqui é o maior em duas décadas. A floresta arde e por isso, as tormentas relacionadas ao clima só aumentam. Rondônia devia pedir desculpas ao Brasil!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

 

domingo, 21 de julho de 2024

Em busca da gaiola de ouro

Em busca da gaiola de ouro

 

Professor Nazareno*

 

            Naquele porão imundo, insalubre e fedorento o frenesi era geral. Baratas, ratos e carapanãs já haviam decidido que iriam participar da escolha do novo administrador daquele sinistro ambiente. Para a maioria dos moradores do então sujo e inóspito lugar, a situação não estava boa e já fazia um bom tempo. Para os candidatos, no entanto, tudo sempre correu “às mil maravilhas”. Dizem de maneira hipócrita que eleições fazem parte do processo democrático, mesmo que muitos dos eleitores sejam estúpidos, analfabetos, imbecilizados e sem nenhuma leitura de mundo. Até mesmo os tribunais tentam aumentar ainda mais a estupidez coletiva atestando a lisura do pleito. Porém, muitos sabem, mas não dão a mínima importância, que eleição ali sempre foi um jogo de cartas marcadas. O vencedor ou a vencedora já foi devidamente escolhido (a) por todos os insetos mais ricos.

            Por isso, a votação é apenas mais um detalhe. Principalmente naquela asquerosa caverna. Sem nenhum conhecimento da dolorosa realidade que os cerca, os eleitores são convencidos, sem muita dificuldade, de que o atual rato que os administra é um herói, um salvador da pátria, uma pessoa poderosa e de outro mundo. Assim, quem ele indicar tem que ser aclamado (a) pelo voto da maioria. Um “favorzinho” aqui, outro acolá e tudo se ajeita na hora da eleição. Há uma gaiola de ouro em disputa e que pode arrumar para sempre a vida de qualquer um que se habilite a disputá-la. Não interessa se os moradores passam fome e vivem na promiscuidade e na sujeira. “O importante é chegar ao poder” e assim ter acesso aos impostos arrecadados e mandar em todos os insetos mais inferiores. Os porcos, que fiscalizam todas essas eleições, já fizeram isso antes em seus chiqueiros.

            No amaldiçoado e sujo porão, todos os candidatos já fizeram, muito antes de se candidatar, uma espécie de pacto entre eles. “A busca pela gaiola de ouro é o nosso maior objetivo para, dessa forma, continuarmos sempre no topo da escala social”, avaliam alguns ratos e baratas daquela horrorosa comunidade. Nessa estranha eleição, o candidato que menos fez pela comunidade recebe o apoio irrestrito de todos. Assim, o importante mesmo é não ter feito muitas benfeitorias ali. Falta saneamento básico para todos? Tudo bem! Não existe mobilidade urbana? Melhor ainda! Os insetos mais pobres não têm moradia nem acesso à água potável? Legal! A fome campeia entre toda a comunidade? Que bom! A corrução dali desvia todos os impostos arrecadados? Um primor! Faltam hospitais e não há médicos suficientes para todos? Bacana! É tudo uma eleição às avessas.

            O candidato que ganhar, convidará de imediato, e na surdina, todos os outros perdedores das eleições para compor o novo governo. Assim, todos que participaram do pleito sairão ganhando. Naquele celeiro abandonado e promíscuo não há esquerda nem direita. Há somente candidatos e não candidatos. Ratos que já foram advogados, baratas que foram professores, carapanãs comerciantes, grilos empreendedores e até alguns insetos que sabem fazer discursos participam do pleito.  Passadas as eleições, continuará existindo quem paga muitos impostos e quem não pagará taxas por um bom tempo. Já está decidido que durante a campanha fica permitido todo tipo de denúncia e de agressões ao concorrente. Só que é tudo de mentirinha para tapear os burros e tapados eleitores, que em tudo acreditam. A mídia, que já teve devidamente acertado o seu quinhão, fará coberturas ao vivo. A igreja dos insetos abençoa o vencedor e ao final todos sairão felizes.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

O “açougue” é destaque nacional

O “açougue” é destaque nacional

 

Professor Nazareno*

 

            Umas duas ou três semanas após o Instituto Trata Brasil e outras instituições de renome nacional mostrarem ao Brasil e ao mundo que Porto Velho, a suja, caótica e fedorenta capital de Roraima, é a pior dentre as 27 capitais do Brasil em qualidade de vida, em saneamento básico, coleta de lixo e água tratada, eis que outra reportagem, desta vez no Domingo Espetacular da TV Record, denuncia e escancara mais uma vez o caos vergonhoso da saúde pública da cidade e do estado, mostrando as entranhas carcomidas do já surrado e conhecido “açougue” João Paulo Segundo, que funciona como hospital de pronto-socorro há quase 40 anos. A reportagem poderia até passar despercebida e virar uma triste rotina nacional se não fosse o uso abusivo que muitas autoridades políticas fazem dali para turbinar as suas aspirações pessoais. O João Paulo II é uma mina de ouro.

       O velho “açougue” pode até ser o pesadelo de muita gente pobre que precisou e ainda precisa usar as suas insalubres e podres dependências, mas foi e continua sendo “a galinha dos ovos de ouro” para muitos dos candidatos a vários cargos públicos. Dali, governadores já viraram senadores, secretários de saúde já viraram deputados federais, cidadãos comuns já viraram vereadores e até deputados estaduais. São as fedorentas, imundas e lotadas salas de internações do João Paulo que elegem todos os anos muitas das autoridades de Porto Velho e de Rondônia. E o pior é que quase nenhuma dessas mesmas autoridades usa aquelas dependências para cuidar de sua saúde e a dos seus familiares. Se o “açougue” deixar de existir de uma hora para outra, muitos políticos terão que se reinventar para turbinar as campanhas eleitorais. É a lógica do quanto pior, melhor.

          O hospital João Paulo Segundo de Porto Velho foi concebido para ser daquele jeito mesmo: nunca irá funcionar direito. Até porque só os pobres é que vão para lá morrerem à míngua como animais abandonados. Até os hospitais da Faixa de Gaza, que está em guerra contra Israel, têm melhores condições de atendimento do que aquele logradouro rondoniano. Ultimamente, a enganação da vez foi a pseudo construção em Porto Velho de um “hospital-modelo” para substituir aquele “campo de extermínio de pobres” e que tem até nome em inglês: é o “Built to Suit”, cuja construção já está, claro, devidamente paralisada esperando talvez a proximidade das eleições estaduais, pois para as eleições municipais deste ano o trunfo dos políticos é a inauguração da nova rodoviária da cidade. Assim, o novo hospital de pronto-socorro de Porto Velho nunca sairá do papel.

      Além do mais, se a “capital das sentinelas avançadas” tiver um bom hospital público para os seus doentes cidadãos, como ficará a medicina privada, que depende estrategicamente das mazelas e do caos existentes na saúde pública? E os caríssimos planos de saúde de Porto Velho e de Rondônia será que gostariam de ver um hospital do estado funcionando como funcionam os bons hospitais públicos de Londres, Paris, Viena ou Copenhagen? Só que a lógica infame de Rondônia é a mesma do Brasil: cria as dificuldades para vender facilidades. E o povão eleitor, ignaro e broco não vê nem percebe nada disto. Votará sempre naqueles que têm as promessas mais bem boladas. As eleições municipais, por exemplo, já têm até alguns candidatos disparados para faturar o pleito. Governador, prefeitos, vereadores, deputados, senadores têm bons planos de saúde e também dinheiro para viajar a tratamento fora do estado. A miséria e o caos compensam!

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

domingo, 14 de julho de 2024

A extrema-direita é escrota!

A extrema-direita é escrota!

 

Professor Nazareno*

 

            Quase todas as atuais ideologias políticas são maléficas, mas dentre todas elas, a extrema-direita é a mais escrota e abjeta de todas. Ultraconservadora por essência, essa tendência política tem demonstrado ser também contrária a muitos dos princípios democráticos que norteiam grande parte dos países do mundo. Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro no Brasil, Javier Milei na Argentina, Victor Orbán na Hungria, Giorgia Meloni na Itália, Marine Le Pen na França, são hoje os maiores representantes dessa doutrina. Eles fazem de tudo para chegar ao poder e também para não largar o “osso” depois que governam suas respectivas sociedades. Pelo menos no Brasil e nos Estados Unidos foi assim. Bolsonaro “teria” sofrido em 2018 uma facada meses antes de se eleger presidente do país. O Trump também teve seu “atentado” lá nos EUA em 2024.

            Ambos, Bolsonaro e Trump, relutaram em deixar seus respectivos cargos depois que foram derrotados no voto. Não reconheceram o fracasso nas urnas, criticaram todo o processo eleitoral, não participaram da cerimônia de posse dos seus sucessores, criaram confusões e pior, incitaram golpes de Estado para se perpetuarem no poder. Nos Estados Unidos foi no dia 6 de janeiro de 2021, no Brasil foi no dia 8 de janeiro de 2023. Donald Trump instigou seus apoiadores a invadir a sede do Capitólio para que a casa legislativa não reconhecesse a sua derrota. Já Bolsonaro usou alguns dos seus mais fanáticos apoiadores para depredar as instalações dos três poderes em Brasília. Isso depois de fazê-los acampar em frente aos quartéis de todo o país por mais de dois meses seguidos. E Bolsonaro praticamente só foi eleito por que sofreu esse atentado à faca antes das eleições.

            Muita gente no Brasil disse abertamente que não houve nenhum sinistro contra Jair Bolsonaro. “Tudo não passou de pura encenação só para turbinar a sua eleição, que acabou de fato acontecendo”, dizia-se na época. “Uma facada sem sangue é impossível”, falavam outros. Segundo esse raciocínio, pode ser que a extrema-direita de Donald Trump e seus assessores também tenha encenado o atentado lá nos Estados Unidos. Trump e Bolsonaro são “amigos” de ideologia. Sendo que o brasileiro, claro, é quem lambe as botas e também baba o saco do norte-americano. Trump está enrolado com a Justiça dos Estados Unidos e pode até ser condenado e preso. Por isso, um atentado “fake”, como o do Brasil, seria capaz de turbinar qualquer campanha política. Além do mais, poucos sabem do que essa gente é capaz. Espera-se que o FBI chegue à verdade real na América.

            A extrema-direita é, na maioria dos casos, fascista, retrógrada, conservadora, “coxinha”, reacionária, desprezível, infame, exploradora, abjeta, má, antiambiental, hipócrita, odiosa, negacionista, terraplanista, capitalista, escrota e maquiavélica. E é óbvio que as muitas outras ideologias políticas são terríveis também. A esquerda e a extrema-esquerda, por exemplo, também fazem das suas. Principalmente aqui no Brasil. Porém, sacrificar e arriscar a vida de alguns de seus líderes somente para chegar ao poder, não passaria pela cabeça de pessoas civilizadas. Esses fatos, tanto nos Estados Unidos como no Brasil, são lamentáveis sob todos os pontos de vista e remetem esses dois países à categoria de “repúblicas bananeiras” em pleno século XXI. Tanto lá quanto aqui, tudo tem que ser devidamente investigado, apurado e todos os responsáveis devem ser presos, julgados e punidos. A democracia, sem ódio nem violência, sempre é o melhor caminho.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

sábado, 13 de julho de 2024

O fim anunciado de um grande rio em Rondônia...


 

Madeira, cadê tuas águas?

Madeira, cadê tuas águas?

 

Professor Nazareno*

 

            Sumiram! E estão incrivelmente diminuindo a cada ano que passa. Devem estar represadas nas duas grandes hidrelétricas que, sem o meu consentimento, fincaram em meu leito: Santo Antônio e Jirau. E pelo que sei, lá ainda não está faltando água para gerar energia elétrica nelas, enquanto à jusante, o desespero já toma conta dos ribeirinhos. Daqui a pouco tempo estarei totalmente assoreado, moribundo e morto como muitos dos rios do Nordeste: sem um só fio de água em meu leito. Ouço falar que já estão até cavando poços artesianos em algumas das localidades que antes eu banhava com bastante água potável. Mas de certa forma estou feliz, pois sei que isso que fizeram comigo foi para o bem dos meus irmãos de Porto Velho e de Rondônia. Eles agora têm muita energia boa e barata. Sem mim, essa “fartura” seria impossível. Morri, mas para dar vida ao povo daqui.

            Depois que as hidrelétricas de Santo Antônio e de Jirau chegaram à Rondônia, as coisas só melhoraram no estado e também na capital. Porto Velho não para de crescer e de se desenvolver em todos os sentidos. Vejam, por exemplo, a qualidade de vida que se tem por aqui depois dessas usinas. Por isso, acredito que o meu sacrifício e a minha morte não serão em vão. A área ribeirinha no baixo Madeira virou um paraíso com tanta bonança e tanta prosperidade. As pessoas que gritavam a todo pulmão “Hidrelétricas, já!” deviam receber um prêmio por terem acreditado no progresso e na abundância. Hoje a população daqui terá uma rodoviária nova, terá um “Built to Suit”, tem arborização e tudo indica que em pouco tempo terá quase 3% de saneamento básico e de rede de esgotos. Água potável? Mesmo com pouca oferta estarei à disposição para suprir toda a demanda local.

            Sou um pobre rio em extinção ou em vias de desaparecer para sempre, mas muito tranquilo por ter ajudado meus conterrâneos em todas as suas necessidades. Vejam o caso da Ceron, a antiga Centrais Elétricas de Rondônia. Foi substituída pela altruísta e idônea Energisa. Com esta holding de energia elétrica atuando neste pujante estado, vê-se diariamente jorrar “mel e leite” das ruas de todas as cidades que ela tão bem ilumina. Em Porto Velho, para se ter uma ideia, às vezes não se sabe o que é dia nem o que é noite. Em alguns bairros, as pessoas têm que usar óculos escuros durante a noite para não ficarem ofuscadas com tanta claridade. E o preço que se paga par isso? Quase nada! Só que o restante do Brasil não pode saber nada disto, para evitar uma explosão de turistas e também de imigrantes buscando a felicidade nestas longes terras. Todo cuidado é pouco.

            Porém, com pouca água em meu leito, a navegação pode ficar comprometida. A ligação com Manaus pode correr risco. Mas não terá problema algum: as mesmas pessoas que clamaram pelas hidrelétricas clamam agora pela recuperação da BR-319. A produtiva classe política de Rondônia poderia até ajudar nesta tarefa. “Tá na cara” que essa vital estrada só vai trazer mais desenvolvimento e muito mais riqueza para Porto Velho. Acho até que deviam matar todos os rios da região e neles se colocavam asfalto para turbinar a indústria automobilística do país. Mesmo moribundo e agonizando à beira da morte certa, gostaria que o garimpo de ouro logo voltasse para as minhas águas. Já pensou a minha felicidade em ver toda aquela “fofoca” que tanto enriquece as pessoas pobres daqui? O mercúrio em minhas entranhas me enobrece e mostra ao mundo toda a minha utilidade. Em meu epitáfio gostaria que desenhassem um barco ou até uma canoa como lembrança.

 

                         

                        *Foi Professor em Porto Velho.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Por que Rondônia é da direita?

Por que Rondônia é da direita?

 

Professor Nazareno*

 

            Rondônia, ou Roubônia para os mais íntimos, é um dos estados mais pobres e insignificantes da federação. Tem em 2024 pouco mais de 1,5 milhão de habitantes, ou seja, apenas 0,7 por cento da população total do país. Seu PIB é também minúsculo e baixíssimo: representa tão somente 0,6% do total nacional. Esses números ridículos contrastam com a visão otimista de muitos de seus habitantes. “Somos uma potência na agropecuária com não sei quantas cabeças de gado”, dizem os ufanistas. “Produzimos muita energia boa e barata que daria para abastecer o Brasil inteiro”, afirmam outros sonhadores. “Nossos peixes, nosso café, nossa produção agrícola sustentariam o mundo” acreditam ainda muitos dos rondonienses e também os vários “rondonienses de coração”. Rondônia não só é pobre como também só sobrevive hoje por causa do governo federal.

            Porém, Rondônia é praticamente toda bolsonarista e quase sempre só vota em candidatos da direita e também da extrema-direita. Nas últimas eleições presidenciais, por exemplo, o candidato Jair Bolsonaro teve mais de 70% dos votos válidos no estado enquanto Lula não chegou a 30%. Em Rondônia, assim como em muitos outros estados do país, existe fome, miséria, desemprego, violência e inúmeros outros problemas sociais. Só que, nesses outros estados existem parcelas de eleitores que também optam em votar nas esquerdas. O Nordeste é um exemplo disso. De um modo geral, o eleitor rondoniense é “coxinha”, é reacionário, é direitista, é conservador. Embora em muitos casos ele tenha somente a miséria, a fome, a desesperança e a desgraça para conservar. A NASA tinha era que vir a Rondônia só para estudar esse comportamento político e social de sua gente.

            A suja e imunda capital do estado é uma pocilga a céu aberto. Sem redes de esgotos, sem água tratada e também sem saneamento básico, a cidade é considerada a latrina do Brasil. Porto Velho nunca elegeu um único prefeito nascido no município. Dos mais de 50 administradores que teve, entre eleitos e nomeados, todos eles são de fora. E pior: raríssimos deles militavam na esquerda, com exceção de apenas um, que era do PT. Porto Velho não tem porto rampeado no rio Madeira. Não tem hospital de pronto-socorro. Não tem qualidade de vida. Mas parte da classe política, acostumada a surrupiar os poucos recursos públicos, deita e rola. Recentemente foram descobertas diárias para os deputados estaduais visitarem o exterior. Mais de 400 mil reais dos pobres contribuintes foram usados para eles visitarem do Japão à Bolívia. E quase todo mundo já se esqueceu do fato.

            Em Rondônia, estranhamente, povo e políticos vivem numa eterna e surreal lua de mel. Nestas longes terras, senador da República, da extrema-direita, claro, legisla para aumentar ainda mais a destruição e o desmatamento da floresta Amazônica e é aplaudido por todos. Já alguns deputados federais, todos da extrema-direita reacionária e heróis desse povão meio acéfalo, fazem Menção de Repúdio a shows de cantores internacionais lá no Rio de Janeiro e são apoiados pela maioria dessa incauta população. E todos eles, juntinhos e unidos, exigem a reestruturação da BR-319, uma estrada antiambiental que decretará em pouco tempo o fim de toda a Amazônia. A direita está presente em todas os recantos do estado. Se em Porto Velho a administração municipal tem a seu favor “somente” todos os 21 vereadores da Câmara Municipal, imagine-se nas pequenas cidades do interior. Será que esses rondonienses são o que chamamos “pobres de direita”?

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

A latrina continua na lanterna

A latrina continua na lanterna

 

Professor Nazareno*

 

            Porto Velho, a suja, insalubre, podre, fedorenta, desarrumada, imunda e violenta capital de Roraima, continua no lugar onde sempre esteve: na última colocação em Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, e em qualidade de vida dentre as 27 capitais do Brasil. O último relatório do Instituto Trata Brasil (ITB) relacionado ao ano passado apenas mostrou o que todos nós, que temos a suprema infelicidade de morar nesta pocilga horrorosa, vivenciamos no nosso cotidiano. Uma capital de estado com menos de três por cento de esgotos e de saneamento básico talvez não exista nem nos países mais pobres e subdesenvolvidos dos rincões da África subsaariana. Porto Velho vai completar 110 anos de existência e raríssimos de seus moradores sabem o que é uma rede de esgotos, que coleta dejetos residenciais. Água potável saindo das torneiras domésticas poucos já viram.

Somos também o “cu do mundo” em matéria de limpeza urbana. O lixo é uma constante por onde se ande. A cidade não tem planejamento nenhum. Situada em plena floresta amazônica, praticamente não há uma única árvore em suas ruas. As poucas que havia, foram arrancadas sistematicamente pela prefeitura como na Avenida Tiradentes com a desculpa esfarrapada de que elas podiam danificar uma rede de esgotos que nunca existiu por lá. Por isso, a “currutela fedida” é quente feito o inferno. Uma caldeira a céu aberto. Pior: o lugar também não tem praças nem recantos de lazer. Procure uma única árvore nas avenidas Sete de Setembro, Pinheiro Machado, Carlos Gomes, Jatuarana, Calama, dentre outras, e não encontrará. Porto Velho não tem porto no rio Madeira. O barranco escorregadio e sujo serve de conforto para quem chega à cidade vindo de barco.

Até o acanhado aeroporto da capital, que praticamente só funciona à noite, teve recentemente alguns dos seus poucos voos cancelados, pois as luzes de balizamento da pista de pouso e decolagem estavam apagadas. Falaram que foi por causa do Arraial Flor do Maracujá, que funcionou ali perto. Será que com três hidrelétricas, a oferta de energia para a “capital das sentinelas avançadas” ainda está deficitária? Porém, com todas estas desgraceiras, a classe política está em alta junto ao seu “fiel” eleitorado. Este ano terá eleições municipais e muita gente, mas muita gente mesmo, está no páreo disputando a prefeitura da cidade mais suja e mais malcuidada do país. Nós, que pagamos impostos caríssimos, não merecíamos passar por mais esta vergonha. Estamos em pleno verão amazônico e os poucos canteiros com grama sequer são aguados. Aqui, até a grama morre.

Brasília/DF e Palmas, capital do Tocantins, são cidades muito mais novas do que Porto Velho e hoje ostentam boas colocações em qualidade de vida para os seus sortudos moradores. Em Rondônia parece que ninguém cobra nada dos seus administradores. “Deixa-se tudo como estar para ver como é que fica”. Há mais de 44 anos que eu pago religiosamente meus impostos e nada recebo em troca. Insisto em ficar por aqui, mesmo depois de aposentado. Mas vejo muitos filhos de Porto Velho irem morar em outras localidades espalhadas por este Brasil. Buscam lazer e vida melhor. Viver em Porto Velho não compensa em nada. Falta tudo e poucas pessoas se preocupam com o lugar. E a cidade só diminui e piora. Mas como ninguém de Porto Velho come IDH e nem veste qualidade de vida (e também poucos cidadãos sabem o que significa tudo isto), o infortúnio vai se perpetuar por aqui ainda por um bom tempo. E a latrina do Brasil continuará na lanterna.

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.