quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Coronavírus em Rondônia

Coronavírus em Rondônia

Professor Nazareno*

            Até que enfim. Graças a Deus o terrível coronavírus chegou a Rondônia: sim, por que foi a hora de as autoridades daqui mostrarem ao mundo como enfrentar de forma competente a mais nova ameaça à humanidade. Uma família residente na zona leste desta capital, cansada da lama e das alagações, foi passar as férias de fim de ano na China e lamentavelmente trouxe para nós a terrível hecatombe. O governo do Estado colocou toda a sua infraestrutura para atender as pessoas contaminadas. Rondônia não é a China, mas aqui foram construídos dois enormes hospitais em apenas uma semana. Um, na parte leste da cidade e o outro nas proximidades do Porto Velho Shopping. Todas as pessoas com febre, tosse ou suspeitas de estarem com o terrível vírus foram levadas a um desses hospitais de referência. Só dependia da classe social de cada um.
            Equipes médicas do “açougue” João Paulo Segundo e do Hospital de Base se revezaram para dar conta de tanto trabalho. Todos eles muito atenciosos, competentes e dedicados. Cientistas e pesquisadores ligados à  Unir, a Universidade de Rondônia, e às universidades São Lucas, Uniron e FIMCA estiveram feito loucos na corrida para isolar o vírus e encontrar logo a cura para a doença. Nunca se viu em Rondônia um frenesi como esse. Nem no último verão, durante as apocalípticas queimadas da floresta, o governo mostrou tanta competência, rapidez e boa vontade para resolver um problema. Levas e mais levas de funcionários comissionados, “aqueles sujeitos que devem ser contratados em vez dos concursados”, se apresentaram espontaneamente para ajudar nos trabalhos. A mídia, antes omissa, esteve também ajudando em todas as tarefas.
            A classe política do Estado “entrou na jogada” e não mediu esforços para ajudar os seus eleitores infectados. Enquanto deputados e vereadores mandavam seus “assessores” distribuírem máscaras, muitos deles não paravam de fazer visitas aos internados. Essa síndrome do coronavírus mostrou ao Brasil como os políticos de Rondônia são importantes para um povo. Muitos inclusive abriram mão do seu auxílio-moradia em benefício dos mais carentes e necessitados. Rodeado de seus mais de 200 funcionários comissionados, um deputado estadual teria dito que daqui não sairia enquanto a questão não fosse resolvida e o vírus mortal totalmente debelado. “Morrerei aqui junto com o meu povo” teria dito o bom parlamentar. Isso é Rondônia, mano! Chineses, europeus, africanos e norte-americanos deveriam seguir este grande exemplo.
            Morrer contaminado por uma doença de nível internacional é o que muitos cidadãos de Rondônia querem hoje, infelizmente. “Chega! Já estamos cansados de morrer de malária, de infecção hospitalar, de ataques de lombrigas, dengue e até de fome”, é o que muitos diziam. “Queremos o coronavírus entre nós”, gritavam eufóricas muitas pessoas. Estranho e irônico, mas percebia-se certo ar de felicidade na maioria dos cidadãos contaminados. Via-se que depois da construção desses novos hospitais em tempo recorde e da empatia dos políticos com o seu povo, qualquer morte já seria uma dádiva. Até a antes odiada Energisa teria contribuído para sanar as dificuldades do povo sofrido do Estado. “” faltou energia na cidade oitenta vezes durante a epidemia. Uma coisa inédita, algo até inacreditável. Inédito também o trabalho da Polícia Civil, do Procon e IPEM. Nenhum erro na contagem dos mortos. A China não é aqui. Ainda bem.



*Foi Professor em Porto Velho.

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