sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Testando a democracia


Testando a democracia

Professor Nazareno*

A jovem democracia brasileira tem menos de 40 anos. Na verdade, há 34 anos, no dia 15 de março de 1985, com a doença de Tancredo Neves, o vice-presidente José Sarney, eleito pelo Colégio Eleitoral, inicia o seu mandato. Ela é muito jovem, é verdade, mas nunca na história deste país vivemos tanto tempo assim sob esse regime que Segundo Winston Churchill, “é a pior forma de governo, exceto todas as outras”. E hoje com a eleição de Jair Bolsonaro e seus filhos, a nossa democracia, “conquistada há pouco tempo e a muito custo” nunca esteve tão ameaçada. Desde muito antes da campanha eleitoral que levou essa gente ao poder, que a nossa tranquilidade política sofre ameaças. Quando não é o presidente com suas frases ameaçadoras, são os seus filhos que afrontam sem maiores problemas o nosso estado democrático de direito.
Por causa da roubalheira dos governos de esquerda, o “embuste de presidente” ganha as eleições com mais de 57 milhões de votos e assume o poder demonstrando pouco ou nenhum apego à democracia. Bolsonaro foi machista, homofóbico, misógino e preconceituoso com índios e negros. Ele, para delírio de muitos de seus eleitores, atacou praticamente todas as minorias e também a nossa democracia. Pior: durante o golpe dado na Dilma Rousseff em 2016, o “Mito” teceu elogios ao coronel Brilhante Ustra, um torturador reconhecido pela nossa Justiça. Em pleno século vinte e um, Jair Bolsonaro faz questão de caminhar na contramão do pensamento que domina as mais civilizadas e modernas democracias do mundo. Ele praticamente já entrou em rota de colisão com vários líderes e governos como o da França na recente questão ambiental.
Os filhos do atual presidente do Brasil são muito piores do que os filhos do Lula. Estes já estão esquecidos enquanto aqueles incomodam com ameaças. E as declarações absurdas são constantes. Outro dia, Carlos Bolsonaro, vereador na cidade do Rio de Janeiro, disse que sob uma democracia, as mudanças para o país são quase impossíveis. Agora, foi a vez de Eduardo Bolsonaro, eleito democraticamente o deputado federal mais bem votado do Brasil em todos os tempos, afirmar aleatoriamente que “se a oposição tiver importunando demais, poderia ser decretado um novo AI -5 para enfrentar a situação”. Muito estranho ele falar isso num momento de total calmaria no país. Eduardo fora indicado pelo próprio pai para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos e agora é líder do PSL, o partido pelo qual todos os Bolsonaros foram eleitos.
Das duas uma: ou eles, pela imbecilidade que têm, estão testando a nossa democracia de maneira irresponsável ou estão criando factoides para encobrir coisas muito mais graves. As provas do assassinato da vereadora Marielle Franco, por exemplo, chegam cada vez mais perto dos gabinetes e também da casa dos bolsonaros. Afinal um deles, o Flávio, foi eleito senador no mesmo Estado onde a Marielle seria também candidata ao Senado. Além do mais, o caso Queiroz, o PC Farias do Bolsonaro, não para de atormentar a vida deles. A democracia do Brasil, apesar de jovem, é forte e vai resistir a tudo. As reações foram unânimes e Eduardo, que já pediu desculpas, agora corre o risco de ser cassado. Não é possível que tantas pessoas sejam também fascistas e antidemocráticas. Se forem, devem entender que uma mentalidade não se muda assim do nada. Afinal, o remédio para os males da democracia será sempre mais democracia.



*É Professor em Porto Velho.

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