segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Rondônia busca a fama


Rondônia busca a fama

Professor Nazareno*

            O Estado de Rondônia é um desses lugares toscos e longínquos que muita gente pelo Brasil afora crê não existir. Mas infelizmente existe e para desespero de muitos moradores é um dos piores lugares do mundo. Tem somente 52 cidades instaladas e é cada uma pior do que a outra. Sua população é inferior a 1,8 milhão de habitantes espalhados numa área territorial equivalente à do Reino Unido. A capital Porto Velho detém há anos o horroroso título de “a pior dentre as capitais do Brasil” para se viver. Não tem água tratada e não tem árvores, embora se situe em plena Amazônia brasileira. A cidade é suja, fedorenta, desarrumada, violenta e quase inabitável, pois não possui rede de esgotos. Em vão, muitos de seus moradores buscam incessantemente algum fato, alguma coisa que lhe dê sentido e que passe a ideia de que o lugar é bom e famoso.
            O nome Rondônia é uma homenagem a um forasteiro: o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, um mato-grossense que sequer foi enterrado no Estado que dá o nome. Nada aqui dá certo por mais que se tente. O Estado é uma espécie de latrina do Brasil para onde só vem quem tem negócios ou teve a infelicidade de ter parentes morando por aqui. Neste ano de 2019, envergonhou o mundo civilizado quando foi palco de queimadas apocalípticas. De Calama, na divisa com o Amazonas até Vilhena, no extremo sul, a fumaça deu o tom no último verão. Rondônia é filha direta das queimadas, da devastação ambiental e da agressão à natureza. Caos total: o lugar vive só de ciclos. E cada um também pior que o outro. O último foi o das hidrelétricas. Mas já teve o ciclo do ouro, o da borracha e o da transformação do território em Estado...
            Rondônia é uma vergonha para o Brasil, que também já é outra vergonha descomunal. Aqui nem as operações policiais dão certo. Tivemos duas ultimamente. Em 2013, foi desencadeada a Operação Apocalipse, um vexame sem tamanho, já que algumas prisões foram feitas de forma equivocada. Mais recentemente tivemos a Operação Pau Oco que, segundo alguns comentários, foi um dos maiores fiascos já patrocinado por um Estado. Os “grampos” que estão sendo publicados na mídia envergonham não só os rondonienses, mas o Brasil inteiro. Rondônia teve uma banda de rock de nome esquisito e forâneo que a Globo disse fazer sucesso. A referida banda teve somente uma música de sucesso e desapareceu das paradas. Futebol praticamente não existe no Estado. Só alguns times que participam da série “Z” e depois também somem.
            Sem nenhuma fama e procurando qualquer coisa para aparecer pelo menos em nível nacional, os rondonienses elegeram outro dia uma jornalista local como heroína por que a mesma ao apresentar o Jornal Nacional da Globo, no rodízio que a emissora faz semanalmente no país inteiro, disse que não se podia confundir Rondônia com Roraima. Foi a senha para que a mesma quase tivesse sido indicada a ganhar um prêmio Nobel por este grande feito”. Agora, a busca da fama a qualquer preço recai sobre um  professor local que teve uma de suas questões colocada na última prova do Enem. Não se fala mais em outra coisa. Parece até aquela música da “caneta azul”. Não sei como os rondonienses não indicaram o seu ex-governador como o maior responsável pelos bolsonaros governarem o país pelas redes sociais. Afinal, Confúcio Moura governou o Estado por oito anos usando apenas um blog. O que farão agora para se chegar à glória?





*É Professor em Porto Velho.

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