Rio
Madeira renasce das cinzas
Professor
Nazareno*
O
rio Madeira é a Fênix da Amazônia. Há apenas cinco meses ele estava quase
totalmente seco, assoreado e coberto por infinitas praias de areia marcando
menos de 20 centímetros de água. Hoje, já ultrapassou a cota de 16 metros e
continua subindo. Logo atingirá a cota de alagação. Há previsões de que neste
ano de 2025 terá uma das maiores enchentes de toda a sua história ficando bem
próxima da enchente histórica de 2014. O majestoso rio Madeira estava
praticamente morto e só faltava enterrá-lo. E eis que, com toda força, ele
tenta heroicamente reagir às constantes agressões que tem sofrido ao longo dos
últimos anos. Hidrelétricas assassinas foram fincadas em seu leito domando
assim as suas furiosas e caudalosas águas. O garimpo de ouro continua a
jogar-lhe toneladas de mercúrio todos os dias. Até as madeiras boiando que lhe
deram o nome não existem mais.
Mas
a ganância humana não lhe poupa: estão falando agora em privatizar o rio como
se uma obra da natureza fosse feita por mãos humanas. Pois bem: o rio Madeira
deverá ser privatizado em breve. Fala-se abertamente que entre Porto Velho e
Itacoatiara no Amazonas, todo o trecho que corresponde ao atual corredor da
soja, passará para a iniciativa privada. Será que os futuros “donos” do
majestoso curso de água vão cuidar bem dele ou só o privatizaram para ganhar
rios e mais rios de dinheiro? Com a cota de água chegando quase aos 17 metros,
a Prefeitura de Porto Velho já decretou um estranho “estado de alerta
de emergência”. Várias comunidades do baixo Madeira estão sofrendo
com as águas subindo e as plantações dos ribeirinhos estão embaixo da água
barrenta. Muito feijão, banana, mandioca e várias outras roças já se perderam.
E falta água potável.
Imponente,
poderoso e absoluto, o rio Madeira tenta mostrar aos gananciosos homens daqui,
neste início de 2025, quem é que manda de fato. Porém o Madeira, infelizmente,
é um dos rios mais agredidos do mundo. Assim como toda a região amazônica. Por
isso, enchentes gigantescas como essa, assim como também secas severas se
alternarão em pouco espaço de tempo. Mesmo usando e abusando do velho rio, as
autoridades de Rondônia e de Porto Velho nunca lhe fizeram um só mimo. Em Porto
Velho, por exemplo, o rio Madeira sequer tem um porto decente. Seus
escorregadios e íngremes barrancos é que servem de chegada e de partida da
capital para os distritos ribeirinhos. O único porto rampeado que a Santo
Antônio Energia deu de presente para a cidade, está lá abandonado, enferrujando
e vai afundar nas águas torrenciais. Vergonha!
O
rio Madeira dever rir copiosamente das esmolas que as autoridades mandam para
os ribeirinhos toda época de enchente. É muito irônico ver as migalhas passando
por onde passam milhões e milhões de toneladas de soja, de milho, de trigo e de
tantas outras produções do agronegócio. E é exatamente essa atividade criminosa
e destruidora do meio ambiente que recebeu em 2024 mais de 508 bilhões de
reais de subsídios do governo federal e que devido à Lei Kandir nada paga de
impostos para ser exportada. Calado, o rio Madeira observa a fome e também a
péssima distribuição de renda que assola este país tão rico, mas de muita gente tão
pobre e indigente. Em breve, as suas águas irrigarão o rio Amazonas e para nós
virá mais uma seca severa denunciado a morte iminente do velho e explorado “rio
das Madeiras”. As hidrelétricas agora é que determinam o tamanho
da enchente e dão o tom das suas águas. É bonito ver a fúria do Madeira
querendo se vingar!
*Foi Professor em Porto
Velho.