O
Brasil não pode dar certo!
Professor
Nazareno*
Desde
a longínqua década de 1970, com o chamado “milagre econômico”,
que o Brasil figura entre as dez maiores economias do mundo. Sendo que na
primeira década deste século, ainda no primeiro governo Lula, nosso país chegou
a figurar na sexta posição ultrapassando tradicionais potências econômicas como
o Reino Unido, a Itália e o Canadá. Portanto, a mais de meio século temos um
PIB de fazer inveja a inúmeras outras nações espalhadas pelo planeta Terra.
Nossa produção de alimentos também é bastante envaidecedora. Só na safra de
2024/2025 vamos produzir nada mais nada menos do que 322 milhões de toneladas
só de grãos. Isso sem falar em carnes, em que somos o maior produtor mundial de
proteína animal, de frutas, verduras, legumes e pescado. Há bastante tempo que
o país figura entre os três maiores produtores mundiais de alimentos.
Só que estes
números excessivamente vangloriados param por aí. Esse gigantesco PIB está nas
mãos de quem? Por que com tanta riqueza, o Brasil apresenta uma das sociedades
mais pobres, violentas e embrutecidas do planeta? Se temos um PIB de Primeiro
Mundo, por que não temos serviços públicos desenvolvidos? Produz-se neste nosso
solo quase cinco vezes mais alimentos do que todo o conjunto de sua população
necessita para viver. Assim, em contrapartida, temos ainda muitos milhões de
pessoas famintas espalhadas pelos 5.570 municípios do país. São levas e mais
levas de brasileiros pobres e miseráveis iguais aos de países como Sudão do
Sul, Burundi e República Centro-Africana na África. O oitavo PIB de hoje sempre
esteve nas mãos de uma elite branca e poderosa. É a síndrome da Casa Grande &
Senzala tão bem explicada por Gilberto Freyre.
No Brasil, os
pobres praticamente não participam da política e nem da vida financeira do
país. A elite endinheirada simplesmente continuou com a escravidão. Por isso
explora sem dó nem piedade quem está financeiramente abaixo dela. Aqui se tem
uma das maiores concentrações de renda do planeta. Apesar de ser um dos países
mais ricos do mundo, grande parte do povo brasileiro figura como maltrapilhos,
desdentados, miseráveis e sem acesso à saúde e à educação de qualidade. A
exploração começa com o valor que se paga de salário mínimo. No Brasil equivale
a 240 euros, já em Portugal, por exemplo, são 820 euros. A política no Brasil
sempre foi capitaneada pela elite, que coloca no poder só os ricos e poderosos.
Pobre no Brasil é praticamente só eleitor e dificilmente chegará ao poder. E se
chegar algum dia, pensará como rico ou como um pobre de direita.
No Brasil se inventou
há pouco tempo, na política, uma lorota absurda: “o Brasil está dividido entre
direita e esquerda”. De um lado Lula, o PT e as esquerdas. Do outro lado
está Bolsonaro, a extrema-direita e de um modo geral todos os conservadores.
Mentira! Conversa para boi dormir! Pura enganação! Inventaram isso só para
esconder qual é a verdadeira divisão que sempre maculou este país: os poucos
ricos contra multidões de pobres e miseráveis. É a velha Casa Grande &
Senzala. O rico PIB do Brasil sempre esteve nas mãos dos poderosos, que
geralmente usaram e ainda usam os pobres como seus escravos para alavancar suas
riquezas. Neste país injusto e “que não é sério”, pobre quase sempre não
vira militar, não vira magistrado e nem participa da política. Só se for como
eleitor. E em troca nada recebe. Tem os piores serviços públicos e se contenta
com esmolas como bolsa-família e outros. E quem contribui para isso? Quase todos
nós...
*Foi Professor em Porto
Velho.
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