sábado, 25 de janeiro de 2025

E eu fui à posse do Trump...

E eu fui à posse do Trump...

 

Professor Nazareno*

 

            Estou aposentado e sem ter o que fazer. E eis que de repente me chega um convite do cerimonial da Casa Branca dos Estados Unidos para eu assistir à cerimônia de posse de Donald Trump, o novo presidente eleito daquele país. Sei que não tenho nenhuma importância e por isso não entendi o porquê dessa deferência. Logo eu que um dia jurei jamais visitar aquele país da América do Norte. Tentei arranjar uma desculpa para não ir, mas de nada adiantou. O bom é que não gastei um só centavo meu para fazer esta viagem que, para mim, era totalmente desnecessária. O dinheiro público bancou todas as minhas despesas na terra do Tio Sam. Pensei que o frio intenso poderia atrapalhar tudo, mas o hotel em que fui hospedado tinha acomodações quentinhas e muito luxo. Tudo pago em dólares pelos contribuintes idiotas. Vi neve pela primeira vez e me diverti muito nos EUA.

           Porém, o que mais me incomodou foi o assédio da mídia dos Estados Unidos. Jornalistas até agressivos me perguntavam insistentemente por que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, não viajou para a posse do seu “grande amigo” Donald Trump. “Óbvio que o presidente norte-americano vai sentir muito a falta dele”, diziam os repórteres. Tentei dizer que o atual presidente do Brasil é outro, mas não fui ouvido. Tomei coragem e disse a todos ali presentes que concordo que o Brasil precisa muito mais dos Estados Unidos do que o contrário. E fiquei muito alegre em saber que a grande nação do norte” tem mesmo que impor sanções aos oportunistas verde-amarelos. “Se o governo do Brasil não usar o dólar como moeda no comércio internacional tem que ser penalizado”, disse. E ainda comentei: “o Brasil tem que sair do Mercosul, dos BRICS e se associar aos EUA”.

         Umas dez vezes eu tentei dizer a todos os americanos que sou de Rondônia, uma província bem atrasada do Brasil. Mas achei que eles não queriam saber de nada disso. Disse-lhes também que aqui tem político que não faz nada durante a sua administração e ainda sai com mais de 90 por cento de aprovação do povo. E que não é pesquisa comprada, não! Fiquei encantado com tanta limpeza nas ruas daquelas cidades. E quem iria acreditar que na minha capital a sujeira e a imundície são as maiores características do lugar onde moro? Até que o presidente Donald Trump queria falar comigo, mas infelizmente não tive tempo suficiente para atendê-lo, pois sou muito ocupado e tinha que comprar umas lembrancinhas. Mas ia lhe pedir que intercedesse junto à Academia de Hollywood para proibir que o Brasil ganhe um Oscar. O filme “Ainda fiquei aqui” é ruim e não o merece.

       Como eu estava muito ocupado tentando ver a cerimônia de posse na televisão do quarto do hotel, não tive mais tempo para pedir à Suprema Corte dos Estados Unidos que interviesse junto ao STF do Brasil para anistiar todos os revolucionários do 8 de janeiro de 2023. Eles são inocentes e só estavam em Brasília naquele dia exercendo o seu direito de manifestação e portando bíblias. Só isso! Além do mais, é claro que havia petistas infiltrados ali para incriminar os patriotas. Pediria também que o “santo” governo dos Estados Unidos expulsasse todos os imigrantes daquele país e endurecesse as leis contra os homossexuais. E mais: tem que algemar e acorrentar qualquer cidadão brasileiro ilegal. E ensinaria às Forças Armadas de lá que, quando houver uma crise, o líder deve ir à praia, postar fotos e só mostrar disposição e bravura quando tudo já estiver calmo e resolvido. Mas uma coisa não entendi: se eu não tivesse saído de lá às pressas, teria sido deportado.

 

 


*Foi Professor em Porto Velho.

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