E
eu fui à posse do Trump...
Professor
Nazareno*
Estou
aposentado e sem ter o que fazer. E eis que de repente me chega um convite do
cerimonial da Casa Branca dos Estados Unidos para eu assistir à cerimônia de
posse de Donald Trump, o novo presidente eleito daquele país. Sei que não tenho
nenhuma importância e por isso não entendi o porquê dessa deferência. Logo eu
que um dia jurei jamais visitar aquele país da América do Norte. Tentei
arranjar uma desculpa para não ir, mas de nada adiantou. O bom é que não gastei
um só centavo meu para fazer esta viagem que, para mim, era totalmente
desnecessária. O dinheiro público bancou todas as minhas despesas na terra do
Tio Sam. Pensei que o frio intenso poderia atrapalhar tudo, mas o hotel em que
fui hospedado tinha acomodações quentinhas e muito luxo. Tudo pago em dólares
pelos contribuintes idiotas. Vi neve pela primeira vez e me diverti muito nos
EUA.
Porém,
o que mais me incomodou foi o assédio da mídia dos Estados Unidos. Jornalistas
até agressivos me perguntavam insistentemente por que o presidente do Brasil,
Jair Bolsonaro, não viajou para a posse do seu “grande amigo”
Donald Trump. “Óbvio que o presidente norte-americano vai sentir muito a
falta dele”, diziam os repórteres. Tentei dizer que o atual presidente do
Brasil é outro, mas não fui ouvido. Tomei coragem e disse a todos ali presentes
que concordo que o Brasil precisa muito mais dos Estados Unidos do que o
contrário. E fiquei muito alegre em saber que a “grande nação do
norte” tem mesmo que impor sanções aos oportunistas verde-amarelos. “Se
o governo do Brasil não usar o dólar como moeda no comércio internacional tem
que ser penalizado”, disse. E ainda comentei: “o Brasil tem que sair do Mercosul,
dos BRICS e se associar aos EUA”.
Umas
dez vezes eu tentei dizer a todos os americanos que sou de Rondônia, uma
província bem atrasada do Brasil. Mas achei que eles não queriam saber de nada
disso. Disse-lhes também que aqui tem político que não faz nada durante a sua
administração e ainda sai com mais de 90 por cento de aprovação do povo. E
que não é pesquisa comprada, não! Fiquei encantado com tanta limpeza nas
ruas daquelas cidades. E quem iria acreditar que na minha capital a sujeira e a
imundície são as maiores características do lugar onde moro? Até que o
presidente Donald Trump queria falar comigo, mas infelizmente não tive tempo
suficiente para atendê-lo, pois sou muito ocupado e tinha que comprar umas
lembrancinhas. Mas ia lhe pedir que intercedesse junto à Academia de Hollywood
para proibir que o Brasil ganhe um Oscar. O filme “Ainda fiquei aqui”
é ruim e não o merece.
Como
eu estava muito ocupado tentando ver a cerimônia de posse na televisão do
quarto do hotel, não tive mais tempo para pedir à Suprema Corte dos Estados
Unidos que interviesse junto ao STF do Brasil para anistiar todos os
revolucionários do 8 de janeiro de 2023. Eles são inocentes e só estavam em
Brasília naquele dia exercendo o seu direito de manifestação e portando bíblias.
Só isso! Além do mais, é claro que havia petistas infiltrados ali para
incriminar os patriotas. Pediria também que o “santo” governo dos
Estados Unidos expulsasse todos os imigrantes daquele país e endurecesse as
leis contra os homossexuais. E mais: tem que algemar e acorrentar qualquer cidadão brasileiro ilegal. E ensinaria às Forças Armadas de lá que, quando
houver uma crise, o líder deve ir à praia, postar fotos e só mostrar disposição
e bravura quando tudo já estiver calmo e resolvido. Mas uma coisa não entendi:
se eu não tivesse saído de lá às pressas, teria sido deportado.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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