Rondônia sacaneia os gaúchos
Professor Nazareno*
Por
causa das mudanças climáticas, o Rio Grande do Sul tem vivido dias tenebrosos
neste início/meio de 2024. Chuvas torrenciais têm castigado o estado gaúcho em
proporções jamais vistas. Cidades inteiras da paradisíaca Serra Gaúcha estão
submersas. O número de mortos e desaparecidos já chega a mais de cem pessoas.
Os prejuízos são incalculáveis. Em vez de estar passeando de Jet Ski, o
presidente Lula foi ao estado, mandou ajuda e pôs vários de seus ministros à
disposição do governador Eduardo Leite. Enquanto isso, o senador recém-eleito
do Rio Grande, Hamilton Mourão, ex-vice presidente de Jair Bolsonaro, sequer
deu uma só entrevista se solidarizando com seus eleitores. Mas de quem é a
culpa por este terrível estado de calamidade que os gaúchos infelizmente estão
vivendo? Há um causador para que isso esteja acontecendo?
Na
verdade, os maiores responsáveis por esta tragédia são muitos. E Rondônia se
encontra dentre eles. A criação deste jovem e caótico estado da região norte do
país foi praticamente baseada na destruição da natureza. A partir da década de
1980, ironicamente para desafogar a região sul dos inúmeros problemas socais no
campo por causa da recente mecanização agrícola, o governo militar resolveu
transformar o então território de Rondônia em estado. Havia também a
necessidade de aumentar na época o número de parlamentares da Arena, o partido
que dava sustentação à cruel ditadura militar. E assim foi feito. Vastas
extensões de florestas virgens foram devastadas. Índios foram mortos e muitos animais
extintos. Rondônia foi um dos maiores desastres ambientais de toda a história
da humanidade. Ainda assim, riqueza e prosperidade nunca deram as caras aqui.
Ao
longo da BR-364, entre Cuiabá no Mato Grosso e Porto Velho, a devastação da
exuberante cobertura vegetal local deu lugar a muitas cidadezinhas pobres. E é
claro que toda esta agressão à natureza antes intacta trouxe problemas e turbinou
as mudanças climáticas que estão sendo vivenciadas já nos dias atuais. O clima
mudou e continua mudando em todo o mundo. O vento, agora quente e úmido, viaja
para o sul do Brasil causando esses transtornos que gaúchos e catarinenses
estão passando. A destruição da Amazônia é a consequente destruição do mundo
civilizado. Mas as desgraças não param por aí. Em Rondônia estupraram o
majestoso rio Madeira ao construir duas grandes hidrelétricas em seu calmo
leito. O povo originário, enganado, influenciado e incentivado só pelos
interesses capitalistas, aderiu ao projeto e hoje também já sofre as
consequências.
Agredir
a natureza em Rondônia é uma espécie de hobby. Do pequeno ao grande produtor, praticamente
todos já devastaram o seu quinhão. E como se vê, não saciaram ainda a sua
vontade. Está chegando agora o verão e com ele os grandes incêndios do que
ainda resta de florestas. A fumaça vai nos acompanhar sem tréguas nos próximos
meses. Mas como se todas estas desgraças não bastassem, os rondonienses, de
novo incentivados pelos interesses escusos, bradam aos quatro cantos pela
reconstrução da BR-319. Isso certamente gerará mais devastação ambiental, mais
invasões de terras, mais derrubadas e muito mais problemas, principalmente em
outras regiões do Brasil como estas enchentes catastróficas no Rio Grande do
Sul. Aqui, vê-se quase que diariamente pessoas pedindo a volta do garimpo
poluidor no já estuprado e morto rio Madeira. Além de ajudar, Rondônia deveria era
pedir desculpas aos gaúchos: destruir a natureza tem consequências.
*Foi
Professor em Porto Velho.
2 comentários:
👍👍 tem mais coisas nas entrelinhas das coisas.
Será que a enchente de 1941 ou 1974 também foi culpa de Rondônia?
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