quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Comemoração desnecessária


Comemoração desnecessária


Professor Nazareno*

            O sequestro de um ônibus em São Gonçalo na área metropolitana do Rio de Janeiro talvez tenha exposto ao mundo o tipo e o caráter de alguns governantes do Brasil nesta atual safra de maus políticos recém-eleitos. Willian Augusto da Silva, um jovem negro de apenas 20 anos, morador da periferia, diagnosticado com problemas mentais, tomou quase 40 pessoas como reféns dentro de um ônibus e a todo instante ameaçava matá-los ateando gasolina dentro do veículo em plena ponte Rio-Niterói. Não deu outra, após algumas negociações entre a PM e o “jovem depressivo”, um atirador de elite da Polícia Militar o abateu com oito tiros, sendo que seis balaços perfuraram o corpo do rapaz matando-o na hora. A horripilante cena, filmada ao vivo e transmitida para todo o país, arrancou efusivos aplausos de quase toda a nação. Uma alegria geral.
            Porém, o que mais chamou a atenção naquelas cenas dantescas foram as comemorações do atirador e também do governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Ao descer do helicóptero, Witzel vibrou como se Neymar tivesse feito um gol pela seleção brasileira em plena Copa do Mundo. Com as mãos cerradas era impossível para ele esconder a euforia, a alegria e a satisfação pela possível morte do jovem. Estranha também foi a vibração do policial que apertou o gatilho: comemorou  “o feito” como se estivesse participando de uma competição esportiva. O governador depois disse que havia vibrado pela vida e não pela morte. “Vibrei pelas pessoas que saíram vivas do episódio” disse após ser confrontado pelas cruéis imagens da triste realidade. Já o policial que “cancelou o CPF” do infeliz, até agora não declarou nada.
            Alguns questionamentos, no entanto, precisam ser feitos. Havia mesmo a necessidade de abater aquele infeliz e daquela forma midiática? Não havia possibilidade de atingi-lo nas pernas sem precisar ter que matá-lo? E por que oito disparos? Será que a PM e o governador teriam coragem de fazer isto com milicianos, com corruptos ou com poderosos traficantes de drogas? Medir forças com quem não as tem pode ser ainda, infelizmente, uma mentalidade reinante dentro da maioria das nossas forças policiais. E agora no Brasil, nestes tempos bicudos e politicamente incorretos, o que prevalece é a força bruta, a demonstração da estupidez e da ignorância. Se o governador vibrou com a morte do rapaz, errou grotescamente e desceu ao nível dele. Foi desrespeitoso com ele, com a família dele e principalmente com a postura inerente a um governador de Estado.
            Todo governante tem a função de harmonizar e de pacificar a sociedade que governa. Mas no Brasil de hoje o que se vê é a barbárie e a estupidez como políticas de Estado. Declarações absurdas e surreais são dadas a todo instante pelos governantes de plantão. Parece que ainda não desceram dos palanques eleitorais. A própria Justiça do país dá a entender, como no caso da Lava Jato, por exemplo, que julga de acordo com os interesses políticos em jogo e não de acordo com o que preconiza a lei. Há uma clara inversão de valores e quem perde com isso é a própria sociedade que assiste inerte ao uso da violência para combater a violência. Parece que voltamos aos tempos da Lei de Talião, da barbárie e da carnificina. Pior: já pensou se a família daquele infeliz morto ajudou a eleger Witzel? Deu um tiro no próprio pé. “Bandido bom é bandido morto”, só que aquele bandido tinha uma arma de brinquedo e sofria de sérios problemas mentais.




*É Professor em Porto Velho

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