quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O direito de blasfemar e ser contra



O direito de blasfemar e ser contra

Professor Nazareno*

              Não concordo com uma única palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-las”, disse Voltaire, ensaísta, escritor e filósofo francês ainda no século dezoito. Mas o recente ataque em Paris à revista francesa Charlie Hebdo por fanáticos islâmicos quando 12 pessoas, a maioria jornalistas, foram sumariamente fuziladas enquanto trabalhavam, demonstra que a democracia e a liberdade de expressão são valores ocidentais ainda longe de serem aceitos por determinados grupos de pessoas. A mistura explosiva entre religião e política nunca deu bons resultados e ainda precisa de muita dialética e tolerância para elas conviverem juntas. O século vinte e um começou com a destruição das torres gêmeas nos EUA num episódio que mostra até que ponto a intolerância religiosa pode causar estragos nas sociedades modernas ocidentais.
            A liberdade de opinião é um valor adquirido “há pouco tempo e a muito custo” pela maioria das democracias do mundo. Está, por exemplo, no Artigo quinto da nossa Constituição e precisa ser levado a sério. Qualquer indivíduo tem todo o direito de falar, com as devidas provas, “o que quiser e bem entender” sobre qualquer outra pessoa ou assunto desde que não macule a imagem de terceiros. E se alguém se sentir prejudicado, legalmente acionará o Poder Público e exigirá as devidas reparações à sua imagem. É basicamente assim que funciona a liberdade de expressão nas mais modernas e civilizadas sociedades do mundo. A Charlie Hebdo francesa, assim como o canal Porta dos Fundos no Brasil, tem todo o direito de publicar o que quiser e se alguém se sentir ofendido que procure os seus direitos. O contraditório existe, só precisamos aceitá-lo.
            Matar ou destruir o outro por discordar da sua opinião é um ato medieval. É, talvez, inerente aos estúpidos. A Igreja, de um modo geral, sempre abominou a dialética e incentivou a intolerância entre os seus membros e seguidores. Os jornalistas franceses tinham e têm todo o direito de blasfemar contra qualquer religião ou seita sem ter que pagar com a vida por isto. Dizer que eles foram culpados pela sua própria morte é o mesmo que admitir que a mulher que usa roupas curtas é responsável pelo estupro que sofreu. É, enfim, culpar a vítima. A intolerância só gera mais ódio além de dar importância demais a quem não tem. Eu mesmo já sofri restrições por causa dos meus textos. No início, queriam me matar. Foi preciso escrever muito para “amansar” os rondonienses e mostrar que sua capital era e ainda é um lixão a céu aberto, uma nojeira.
         Baseada em dogmas apenas, está mais do que comprovado que a religião, ou o mau uso dela, sempre foi um grande atraso para a história da humanidade. As inúmeras guerras em nome da fé, as Cruzadas, o World Trade Center e Paris agora comprovam  isto. Se Deus existe ou não, se criou o homem ou foi criado por ele, se existem anjos, santos, céu e inferno, vai muito da cultura, da visão e dos ensinamentos de cada um. Por isso, não se deve subordinar a fé, a crença em Deus, nas palavras, às vezes vazias, dos outros. No nosso mundo, a violência, a intolerância, os dogmas, a intransigência, o sectarismo sempre perderão para a liberdade, a civilidade e a democracia. Em Paris, França, na manhã de 07 de janeiro de 2015, o mundo inteiro foi atacado. E todos nós, pessoas civilizadas, ateus ou não, tivemos as nossas consciências perfuradas pelas balas assassinas não do Islamismo, mas de terroristas abjetos que só agiam em nome do Islã.



*É Professor em Porto Velho.

10 comentários:

Geraldo Cotinguiba disse...

Caro Naza, seu texto, como sempre, uma boa retórica. Lembro-me de Voltaire que disse, também, "se deus não existisse nós o criaríamos", no fundo ele era ateu. A coisa é séria e histórica e, como sabemos, a história não se repete, mas nos prega boas peças. Há algumas décadas o Ocidente defendeu a "civilização cristã" contra os "ateus comunistas" e, para isso, torturou e matou. Em nome da civilização, a França, na vanguarda, invadiu o continente africanos e trucidou milhares de vidas e culminou, no século XX, num dos maiores banhos de sangue, a Argélia (ver ao filme A BATALHA DE ARGEL). Certamente, nada justifica o assassinato e nem devemos culpar a vítima pela sua morte, contudo, a história já nos ensinou o bastante que, quem cutuca a onça com a vara curta, de duas uma, ou sai como herói ou sai como vítima estúpida. Cabe a nós avaliar quem é quem nesse jogo de xadrez fundamentalista e intolerante.

Wilson Lopes disse...

O Reino de Deus, de fato é transformações do velho homem, numa nova criatura, dando lhe uma visão de mundo espiritual e natural, totalmente diferente de outrora via o mundo e as coisas sobrenaturais! Nenhuma Religião na Terra jamais levará o homem ao Criador!! Necessário é nascer de novo! Disse Jesus Cristo; Jo 3:3: se creres verás a realidade senão creres, isso é uma liberdade de escolha, e de Livre-Arbítro de cada indivíduo...De acordo com o artigo do Professor Nazareno, na verdade a Religião, jamais resolvera o problema espiritual da humanidade!! Eis o motivo do qual o Filho de DEUS, tornou-se matéria, se materializou-se, e anunciou o Reino de Deus, aqui na Terra, Ele não veio pregar, criar uma nova Religião, mas anunciar o Reino de Deus, e o Evangelho anuncia as Boas Novas do Evangelho do Reino de Deus, na Terra, quem quiser refletir sobre a Verdade eis aí o momento de pensar!! Do contrário os homens continuarão morrendo e se matando tudo pelo o poder religioso e político...

Afonso disse...

A culpa do atentado terrorista seria de quem mais se não dos próprios terroristas?
No entanto temos que avaliar a irresponsabilidade da revista, nesse caso por exemplo, os terroristas atacaram somente a Sede da editora. Mas poderia ter sido algo bem maior, mais catastrófico, poderia ter sido um ponto turístico, então fica a pergunta, será que a "piada" vale o risco ao qual expõe todo um país?
Será que aquele policial assassinado na frente do prédio concordava com a brincadeira? Vale a pena outros morrerem pela liberdade de expressão de um terceiro?
A liberdade de expressão foi atacada, mas nós acreditamos nela. Eles não, para eles somo o "Deus" foi atacado.
Enfim, concordo plenamente que não se deve culpar a vítima, mas devemos refletir sobre o risco ao qual uma "imagem" sujeitou a todos. Podia ter sido pior.

Evaldo Mercado N. Junior disse...

Todo ser humano em sã consciência está triste com tamanha barbárie ocorrido na França. Deixo aqui meus pêsames a todos os familiares.
Só não entendi a relação que o professor Nazareno faz desse grupo terrorista com a "Igreja", pois os responsáveis por essa chacina não são católicos tão pouco protestantes, sendo que esse termo é usado somente por esses dois grupos religiosos.
Acho que aqui, o intolerante é o senhor professor querendo incitar irá e revolta contra os cristãos. Sendo que os próprios mulcumanos (aqueles que professam uma fé sincera) reprovam tal crueldade.
Você cita as crusadas e outras atrocidades que ocorreram na história em nome da religião, porém a maldade não estar em qualquer grupo social, etnia, sociedade, raça cor ou ideologia. A maldade e a intolerância estar na índole do ser humano. Você que fala de democracia, mas parece mais com um intolerante democrático se é que existe isso.
A Igreja católica apostólica romana, cometeu muitas atrocidades no passado e a história comprova to das elas. Porém qual é a instituição religiosa que mais tem trabalhos sociais seja, na saúde, tecnologia, cursos profissionalizantes etc.
Quanto aos protestantes professor que tipo de atrocidade, esta vem cometendo? Já sei. A maldade que ela comete é recuperar drogados, recuperar casamentos destruídos, ensina que filhos devem honrar e obedecer seus pais, ensina que sexo é correto somente no casamento, prevenindo assim doenças, filhos sem um laR estruturado.
Já que o senhor professor é contra a intolerância, porque você é muitos como você, não se manifestaram quando no Irã no ano passado aldeias, vilas e cidades de cristãos inteiras foram dizimadas pelo simples fato de terem uma fé.
Francamente professor Nazareno aqui quem se mostra o maior dos intolerante e contra qualquer um que tenha uma fé é você

Mineirinho, uai! disse...

Fessor, bênça! Que história é essa ?! Os cocôs que boiam no Madeira às nossas portas e o senhor ´je suis Charlie ´ ?! Tá a hora de dar aquela volta na Beira Rio! O presidente da ALE vai comprar muamba boliviana em carro oficial e ... nada?! Te emenda ! Vem internacionalizar sua coluna, não ! Ou será que Paulão Fortão te convenceu a puxar o carro daqui e está indo prá França?! Aqui tem munição demais prá você. Regule a mira.

Luiz Gonzaga Serrano disse...

Islâmicos fanáticos, esse povo não deveria ter permissão pra entrar no Brasil, aqui já tem assassino demais

Mineirinho, uai! disse...

Fessor... agora fudeu! Se eu falar ´bênça, fessor´ estou dando um caráter sagrado a sua pessoa, estarei blasfemando; se eu não falar, deixo de impingir um caráter respeitoso ao senhor, como quero sempre que me expresso assim – e vira uma blasfêmia contra sua pessoa; mas o senhor Evaldo acha que o senhor comete uma blasfêmia contra os cristãos ( o que, segundo Levítico, dá pena de morte ); chamando todo mundo de senhor acho que estou blasfemando contra o Senhor... mas as blasfêmias que esse digníssimo inimputável senhor Evaldo ´nosa´ comete contra o português justifica a visão tacanha de seu comentário – o que é uma blasfêmia! Bênça, fessor!

Paulão da Silva disse...

NAZA MAIS UMA VEZ VC ESTA EQUIVOCADO (SO PRA VARIAR UM POUCO). PERDEU GRANDE OPORTUNIDADE DE FICAR CALADO. VEJA BEM: VC CONFUNDE LIBERDADE COM ABUSO. TODOS TEM DIREITO A LIBERDADE, BEM COMO LIMITES. O PAPA TEM LIMITES, O PRESIDENTE TEM LIMITES, O DELEGADO TEM LIMITES, O JUIZ TEM LIMITES, O MEDICO TEM LIMITES, O ADVOGADO TEM LIMITES, O CATADOR DE PAPEL TEM LIMITES E ATE O PROFESSOR TEM LIMITES. TEM LIBERDADE, MAS TEM LIMITES. ESCULACHAR O PENSAMENTO FILOSOFICO, RELIGIOSO DE ALGUEM É ABUSO....AI, VEM A MAXIMA: SO OS FORTES SOBREVIVEM.

Alecsander Nunes disse...

Êxodo 20:4-17
¶ Então falou Deus todas estas palavras, dizendo:
Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
Não terás outros deuses diante de mim.
Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.
Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.
Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.
Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.
¶ Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.
Não matarás.
Não adulterarás.
Não furtarás.
Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.

Francisco Barroso disse...

Caro prof. Nazareno. A liberdade é o bem mais importante do ser humano. É mais importante do que o alimento. Mais importante do que o amor, pois sem liberdade, não há amor pleno. Mas, há que se ter cuidado com as falácias acerca dessa palavra sagrada, pois como já disse o poeta amazonense Thiago de Melo, em sua célebre obra, "Os Estatutos do Homem": "Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem".