quarta-feira, 4 de junho de 2014

A Copa e as bizarrices do Brasil


A Copa e as bizarrices do Brasil


Professor Nazareno*

             Com a proximidade da Copa do Mundo, nosso país espera que as vitrines do planeta se abram em definitivo para que possamos mostrar as nossas belezas, nossos costumes, nossa culinária e a nossa cultura, se é que temos cultura. Embora não sejamos o único campeão mundial de bizarrices, já que isto faz parte da tosca natureza humana, as coisas que acontecem somente no Brasil certamente vão encantar (e espantar) muita gente desacostumada com estas esquisitices. Qualquer torcedor que se aventurar e sair de uma cidade-sede certamente vai “dar de cara” com aberrações sinistras que jamais viu em toda a sua vida. A começar pela infinidade de gororoba e comidas exóticas que gentilmente lhe servirão achando que estão alimentando o pobre infeliz. Por isso, vamos pagar o maior mico do mundo durante a realização deste “grandioso” evento esportivo.
            Esta será certamente a Copa do Mundo com o maior índice de torcedores intoxicados, para não dizer envenenados, de que se tem notícia. Na Amazônia, cidade de Manaus, o “cardápio da estupidez” será muito variado. A começar pelo clima equatorial úmido e impróprio para a prática do futebol. Ficaremos com dó ao ver os finos e civilizados europeus ardendo sob o sufocante calor e a infernal umidade da região. E para evitar indigestão, tomara que não lhe ofereçam tacacá, farinha puba, tucumã, mandi frito e outras “iguarias” só consumidas nesta parte do mundo. Vinho, nem pensar. Talvez só cachaça e da pior espécie mesmo. Isso sem falar nos carapanãs, escorpiões, cobras, marimbondos, tarântulas e infinitas outras espécies de animais venenosos que podem “recepcionar” os pobres coitados dos civilizados turistas.
            Sujeitos a contrair doenças completamente desconhecidas para eles como malária, dengue, leptospirose, leishmaniose, verminoses, dentre muitas outras, os nossos visitantes podem também se aventurar por outras partes do Brasil e conhecer de perto a infinidade de coisas estranhas e atípicas que podemos lhes oferecer. Temos o festival da “Garota Leitoa” no interior do Piauí, as vaquejadas do Nordeste, os bois-bumbás da Amazônia, as danças caipiras no centro sul do país e muitas outras bobagens e tolices que costumamos chamar de cultura e de que nos utilizamos para divertir simplórios e otários. Além da “Festa da Jaca” no interior do Rio de Janeiro ou a “Festa da Tapioca” em São Paulo, temos também a “Festa da Melancia” em Rondônia. Um suplício para turistas incautos que jurarão, em frente às TVs, estarem gostando de tudo aquilo.
            E como nenhum visitante anunciou que viria se hospedar em Rondônia, coisa que pouquíssimos malucos teriam coragem de fazer, fomos poupados do homérico vexame de lhes mostrar uma tal “Corrida de Jericos” ou mesmo a famosa “Flor do Maracujá”, uma festa bizarra, sem sentido e também sem data ou local de realização, mas que muitos juram fazer parte da cultura e da tradição local. Já a Banda do Vai Quem Quer, uma espécie de carnaval realizado em julho, deleitaria os turistas que certamente ficariam encantados com mais esta esquisitice. Por tudo isso, dizer que não existe cultura superior ou inferior talvez seja um dos maiores erros da ciência. No Brasil, se ela existe, é inferior, com certeza. Claude Lévi-Strauss, famoso antropólogo e filósofo franco-belga, teria dito que para se destruir um povo, basta que se destrua a sua cultura. Aqui, essa destruição melhoraria tudo e por isso, os torcedores que virão à Copa do Mundo testemunharão “in loco” que estamos muito longe de levar fim. Bem longe.



*É Professor em Porto Velho.

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