segunda-feira, 15 de julho de 2013

Vergonha da Honestidade



 Vergonha da       Honestidade

Professor Nazareno*

Quero aqui publicamente fazer um desabafo. Semana passada, fui destratado em sala de aula por um insolente aluno. Fiquei muito chateado e ainda estou perplexo. Depois de 37 anos de batente e 55 de vida, procurando sempre fazer o possível e o impossível para ensinar aos meus pupilos, fui desrespeitosamente chamado de HONESTO por um deles. Ele disse que desconfiava de que eu era um homem que gostava da verdade, era sincero e por isso, tinha quase a certeza de que eu era um homem HONESTO. Como aquelas palavras me magoaram. Insinuações sem provas machucam qualquer um e comigo não foi diferente. Fiquei arrasado e sem ter onde colocar a cara depois de tanta humilhação. Pensei em denunciá-lo na Delegacia de Polícia mais próxima. Pensei em ir ao Ministério Público reivindicar meus direitos. Pedi à Direção da escola que tomasse as devidas providências e que lhe chamasse os pais ou responsáveis. Repeti aos gritos para todo mundo ouvir: “isto não vai ficar assim”.
Rui Barbosa disse certa vez: “... De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. Deve ser isto que está acontecendo comigo nesta hora e nestas circunstâncias. O discurso do “Águia de Haia”, que incrivelmente consegue ser atemporal, se encaixa perfeitamente aos nossos homens e autoridades de hoje e ribomba na minha cabeça como o badalar de um gigantesco sino. A minha consciência ainda me atormenta com a possibilidade de eu ser mesmo o que o aluno disse e por isso abro a todos a minha vida. Como se pode morar em Rondônia, “carinhosamente” chamada pelo resto do país de Roubônia, e ainda viver de forma a não subtrair nada de ninguém, não aceitar troco a mais, ensinar a moral e os bons costumes, não se envolver na política (para não saber o quanto valho no mercado de autoridades)? Deve haver algo errado.
Um verdadeiro absurdo: descobri recentemente que o meu padrão de vida é compatível com os meus rendimentos. Leciono em duas escolas e apesar do meu carro velho, ano 2009, às vezes tenho que andar de busão, o Interbairros. Declaro meu imposto de renda anualmente e moro num apartamento (ainda) financiado pela Caixa. Porém, já fiz muitas coisas que podem desabonar a minha ilibada conduta: vai ver que eu não sou “tão santo” assim. Participei no dia 20 de junho de 2013 das manifestações contra o Governo, a política e os políticos. Marchei com os outros mais de 30 mil na Sete de Setembro e não era a Banda do Vai Quem Quer, Passeata Gay ou Marcha para Maomé nem para Jesus. Integrei as manifestações das “Diretas Já” em 1984 e estive com os “caras pintadas” na saída do ex-presidente Fernando Collor em 1992. Também deve pesar contra mim o fato de eu ser casado há mais de 30 com a mesma pessoa, uma amável costureira de poucos estudos e nascida nas barrancas do rio Madeira.
Por tudo isto e pela minha vida aberta ao público, não aceito ser chamado de HONESTO por ninguém. Exijo respeito. Daqui a pouco vão dizer que, além da minha honestidade, eu também sou filantropo, um homem de bom coração, fiel esposo, bom pai, vizinho amável, grande companheiro, fiel a Deus, leal e amigo, solidário, uma pessoa compreensível, humilde, sincero, dentre tantas outras maledicências. Não posso aceitar insinuações contra a minha honra de forma alguma. Como vou me dirigir aos meus netinhos futuramente? Eles certamente terão vergonha de minhas atitudes no passado. Já pensou se eles, os meus netinhos, souberem que um dia torci contra a seleção brasileira de Neymar e falei mal, não sei por que, de Rondônia e de sua gente? Já pensou se eles descobrem que sempre vivi com o suor do meu salário? E pior: passei até dificuldades para criar meus dois filhos com decência? Como me explicar? Não, definitivamente não sou essa coisa. Por isso, abro todos os meus sigilos às autoridades para provar tudo o que estou dizendo. “HONESTO deve ser o seu pai”, desabafei na hora ao aluno irresponsável que ousou me afrontar na frente de todos.



*É Professor em Porto Velho.

6 comentários:

Anônimo disse...

Você pode ser ou não honesto, como este aluno alegou. Mas, e omisso, você é? Para safar um parente ou um amigo, você corrompia-se, omitia-se ou faria o certo?

Joaquim Trindade disse...

Professor Nazareno;
Entendo a sua “indignação”, pois o Rui Barbosa fez esse discurso no início do século passado mas parece uma profecia, pois a cada dia que passa mais ele se torna atual.
Mas o senhor pela cultura que tem, sabe as prováveis causas dos acontecimentos de nossos dias, dias esses onde os bons valores são incessantemente atacados e deve saber também quais são os movimentos que atacam esses bons valores; Hoje uma mulher é taxada de atrasada se sua função for SÓ a de educar os filhos, pois hoje o nobre é a função das que abandonam os filhos para o cuidado de uma babá; Hoje um jovem é taxado de retrógrado se obedecer o conselho de seu pai, mãe ou de um adulto; Hoje um professor é chamado de “educador” e sente orgulho disso, mas antes o educador era o pai e a mãe, o professor era O Professor; Hoje temos o Estado cada dia mais dentro de nossas vidas, temos Estatutos para tudo, mas não temos um Estatuto dos bons valores.
Bem meu caro Professor, nós evoluímos, nós nos tornamos progressistas, mas o que é ser progressista? É lutar para destruir os bons valores? Destruir só porque são antigos?
Eu me solidarizo com o aluno meu caro Professor, pois também acho o senhor um homem ultrapassado, pois onde já se viu ser honesto em pleno ano de 2013? Afinal no final da década de 1950 nós os progressistas inventamos a pílula anticoncepcional e gritamos: As mulheres estão livres! Éramos três bilhões de pessoas e poderíamos controlar a natalidade, pois é, de lá para cá triplicamos os métodos anticoncepcionais, e por incrível que pareça quase triplicamos o número de seres humanos; Mas não tem problema, somos progressistas e não desistimos nunca; Abaixo os bons valores, abaixo a honestidade, abaixo a verdade a honra e a dignidade, viva a evolução e o progressismo.

Daniel Barbosa de Souza disse...

Prof Nazareno,
Lamentavelmente tudo isso que o senhor disse em seu comentário é a mais pura verdade no sistema em que vivemos. A mesma coisa acontece comigo que sou de uma geração em que a honestidade, o caráter, a bondade, ainda eram virtudes. Hoje é defeito. Muito inteligente a abordagem feita. Infeliz realidade.

Suamy Lacerda disse...

Amigo Nazareno, você está cada dia mais insensato e, o perigo é você acreditar no que está falando pois se alguém acreditar nisso poderá entender que você está louco e a partir daí você correrá outro perigo: o de ser tratado como filosofo da neurastenia e a partir daí ser aposentado antes dos 70. Acho que você deve parar com essa mania de criticar a classe política e até de manifestar-se contra o que eles fazem pois, segundo você mesmo esses políticos que aí estão são os legítimos representantes desse povo. A não ser que você não concorde mais com essa premissa que você mesmo criou. Ou está querendo que o povo fique sem representante? ou separar o representante do seu povo? afinal onde é que você quer chegar? Quer destruir uma relação tão promissora como essa entre o representante e o representado? Quem é você? Por acaso você se acha TEO? Aceite as coisas como elas são, afinal de contas o diabo existe e ponto final, deixe o povo viver feliz com seus representantes e acabou, estou com vontade de votar em você nas próximas eleições para Rei da Inglaterra e acho que você não foi eleito Papa no último Conclave porque não era argentino.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Sr. Profº

Infelizmente tenho que falar que voce não está com nada. Isso mesmo: nada. Onde se viu morar em PVH, Roubonia, Brasil e ser honesto se voce só sai perdendo? Senhor professor, acorde; se voce virar um político poderá ser feliz em uma mansão, numa nova Sky quem sabe em pleno Rio Madeira e em uma unidade de atendimento boa como a AMERON... Senhor professor... Se voce continuar sendo sempre honesto começará a andar sempre de Interbairros, seu carro será violado pelo Semtram (isso não é incomum) por "falta de boa conduta"... Enfim concordo plenamente - plenamente - com o aluno!??!???

Boa sorte professor continue sempre assim...!