Monstro
acéfalo com o dono bêbado
Professor Nazareno*
A recente onda de manifestações e
protestos que varre o país de norte a sul e que já entrou para a História como
a “semana que mudou o Brasil”, serviu para mostrar ao mundo algo que há
muito tempo já tínhamos esquecido por aqui: a força do povo nas ruas. Deflagrada
inicialmente por causa do aumento das tarifas de ônibus urbanos em São Paulo e
da violenta repressão policial ao movimento, a revolta popular se espalhou como
um rastilho de pólvora pelo país inteiro. Do Amapá ao Rio Grande do Sul, da
Paraíba ao Acre, a insatisfação levou milhares de manifestantes furiosos às
ruas para reivindicar dos seus governantes melhorias na saúde, educação de qualidade,
mais saneamento básico, transparência com a coisa pública, fim da PEC-37, fim da
corrupção, fim dos privilégios dos políticos, rejeição ao Projeto da “cura
gay” e também para denunciar os elevados gastos com a organização dos
grandes eventos mundiais realizados pelo Brasil como a Copa das Confederações, Copa
do Mundo e Olimpíadas.
O movimento foi acusado equivocadamente
de não ter um ideal ou um foco específico. Tolice: a insatisfação com os péssimos
serviços públicos oferecidos pelo Estado e o vandalismo que se pratica
impiedosamente há anos contra o povo sofrido, explorado e humilhado deste país desencadearam
os atuais protestos. O grande problema é que estes manifestantes não tinham e
nem têm uma liderança que os guie de forma segura, firme e coerente. A
espontaneidade das manifestações ditou os protestos. Os jovens usando as redes
sociais deram o tom idílico e até romântico às reivindicações. Mas não nos enganemos:
a maioria dos eleitores, aqueles que em toda eleição votam em “Zequinha
Araújo, Marco Feliciano, Confúcio Moura, Epifânia Barbosa, Ana da 8 e Fernando
Collor da vida” não estava participando dos protestos e no próximo ano pode
dar o troco a nós, “vândalos e baderneiros” que participamos das
reivindicações. Não se pode subestimar a esperteza de quem sempre foi contra
qualquer mudança social.
Além do mais, aqueles que saíram às
ruas, em grande parte dos casos, foram para apenas fazer fotos para postar no
mesmo Facebook que os empurrou para lá. Despolitizados em sua maioria e sem a
menor leitura de mundo sobre a importância histórica desses acontecimentos,
muitos viram aquilo como mais uma festa. Porém, valeu a pena, pois meteu medo
nos políticos e a mensagem que ficou foi: “estamos vivos e acordamos da
longa escuridão e inércia a que nos submeteram”. Todos nós esperamos que
não tenha sido só “fogo de palha” e que esta mobilização continue firme
para o próximo ano com eleições presidenciais e Copa do Mundo. A fragilidade de
um Governo corrupto, frouxo, desgastado, acuado e aliado a políticos canalhas e
ladrões, que não aguenta nem dois dias de pressão vinda das ruas, sinaliza que
os protestos devem continuar até se conseguir outras grandes e importantes
conquistas que nos beneficiem. Este país, que é dos brasileiros honestos,
precisa ser passado a limpo.
Avessos
ao partidarismo tradicional e com ódio extremo dos políticos em geral, os
manifestantes disseram com estes atos que não aguentam mais as inúmeras obras
paradas, a inoperância e a incompetência das autoridades e principalmente a
corrupção generalizada e a impunidade. Se os mensaleiros, que já foram julgados
e condenados pelo Supremo Tribunal Federal, não forem presos, a Copa do Mundo
devia ser cancelada no país. Em Rondônia, a situação parece ser pior, pois
estamos sujeitos a governantes fracos e pusilânimes, ou seja, pessoas que se
travestiram de autoridades e conseguiram enganar a todos nós. Os viadutos
parados, a ponte inacabada do Madeira, o hospital João Paulo Segundo, o
abandono da capital Porto Velho, os escândalos nas Prefeituras, Câmaras de
Vereadores e na Assembleia Legislativa do Estado, a roubalheira generalizada e a
falência do Estado com as suas inúmeras greves precisam de soluções urgentes. O
monstro saiu às ruas e quem deveria cuidar dele está “bêbado” e não tem
a menor responsabilidade e nem moral suficiente para contê-lo. Indignação, não
há melhor palavra para justificar esses levantes populares no Brasil de junho de 2013.
*É Professor em Porto Velho.
Um comentário:
Oh, meu caro professor! Saudações. Dissestes praticamente tudo.
Os movimentos não tiveram a participação da grande maioria e dentre os milhares, muitos estavam "fazendo festa", outros, como o pessoal do "Passe Livre" tinham um humilde motivo para estar lá protestando, e por último os vândalos infiltrados, alguns para roubar e saquear, outros, a mando de autoridades políticas corruptas, para desvirtuar.
Fato é que, apesar de tudo, da falta de líderes, de um grupo totalmente consciente, da aparente falta de objetivo, de foco, valeu de mais.
No início os políticos acharam que era mera "birra" e mandaram descer a lenha no povo, mas a coisa cresceu e persistiu, momento em que o risinho sarcastico na cara da Dilma deu lugar a um cisudo semblante de preocupação.
Tanto valeu que ela, a Dilma da quadrilha do Lula, já marcou reunião com os governantes do país para fazer um "acordo" pra tentar solucionar a questão.
Eu fico imaginando que os governantes atuarão em duas frentes, uma seguirá investigando e rastreando os possíveis líderes desses movimentos que persistem para tentar neutralizá-los, algo comum nos governos corruptos, e noutra frente, tentarão num esforço hercúleo alinhar todos os jogos de interesses escusos das centenas de partidos políticos desse nosso Brasil a fim de acordarem entre si, no sentido de aliviarem o roubo do erário e melhorar um pouco mais os serviços públicos que atendam os pontos mais críticos que afetam a população.
Óbvio que a Dilma usará esse momento para se promover, jogando a pressão popular para cima dos "aliados" para que muitos dos seus interesses particulares entre no conjunto de reivindicações e assim poder preservar sua imagem para as próximas eleições e saia como a heroína que atendeu aos pobres revoltados.
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