Porto Velho não precisa de viadutos
Professor Nazareno*
Já há quase seis meses à frente do
Executivo municipal, o prefeito Mauro Nazif, uma espécie de Eisenhower da
Amazônia, parece não estar muito preocupado em terminar as obras dos vários
viadutos que “enfeitam” a entrada e a saída de Porto Velho nos dois
sentidos. Muito tranquilo, o nosso maior gestor parece também não querer dar
andamento às inúmeras outras obras necessárias para tirar esta cidade do buraco
em que sempre esteve. Sem nenhuma qualidade de vida digna para seus habitantes,
a nossa capital ostenta um dos piores IDH’s dentre as capitais do Brasil além
de ter apenas dois por cento de saneamento básico e menos de três por cento de
água tratada segundo dados do Instituto Trata Brasil. E isto apesar de estar
estrategicamente localizada às margens de um dos maiores rios de água potável
do planeta, o já estuprado e dominado rio Madeira. Nazif e sua equipe
reclamavam do excesso de chuvas, mas mesmo com a chegada do verão, a cidade
continua muito pior do que Roberto Sobrinho a deixou.
A principal das inúmeras obras
inacabadas da capital dos rondonienses são os viadutos, claro. E o atual prefeito
está com medo de mexer naqueles elefantes brancos. Muitos dizem que aquilo ali
é a catacumba do PT de Rondônia e como no Brasil profanar túmulos é crime, é
melhor deixar tudo quieto mesmo. Além do mais, os porto-velhenses não precisam
de viadutos como existem nas grandes cidades. Para quê diabos uma cidade
caipira como a nossa vai precisar de elevados e viadutos? O idiota que teve a
infeliz ideia de construir “aquelas tumbas amaldiçoadas” devia ser preso
por burrice e falta de planejamento com o dinheiro público. Se há problemas com
o trânsito caótico, a solução mais
viável e inteligente seria investir na melhoria dos transportes coletivos. Aqueles
monumentos horríveis na entrada da cidade mal vão resolver o caos do local onde
estão situados. Mas é assim mesmo: matuto é uma desgraça, vê algo na cidade
grande e logo quer imitar achando que vai resolver os seus problemas.
Com
relação à ponte do rio Madeira, “a que liga o nada a coisa alguma”, a
conclusão da obra simplesmente foi adiada mais uma vez. A data agora é julho do
próximo ano. Provavelmente vão dar um “jeitinho” e trazer a Presidente
do país, em plena campanha eleitoral, para inaugurar o lúgubre monumento. São
quase 300 milhões de reais jogados fora. E tem muita gente que aplaude o
desperdício. Os defensores daquela “homenagem à estupidez” agora estão
com cara de cachorro defecando na chuva: o fato é que um dos responsáveis por
aquilo ainda não tem certeza da data de conclusão da desnecessária obra.
Trezentos milhões de reais investidos em educação, saúde ou saneamento básico
numa cidade imunda e sem infraestrutura como Porto Velho faziam muita
diferença. Mas quem veria esta grana se fosse investida embaixo da terra? É bem
melhor ver uma obra medonha que faz jus à “esperteza e a capacidade dos
nossos políticos” e ainda assim morar na lama e na imundície de uma cidade
porca.
Recentemente, até os
vereadores de Porto Velho, acostumados a não fazerem nada de futuro em
benefício da cidade e de seu povo, iniciaram um movimento para protestar contra
as obras paradas. Tentaram criar até uma “comissão pró-viadutos”, mas se
aquietaram quando perceberam que pontes e viadutos não combinam com a rotina de
matutos e capiaus. Além de não terminar jamais esses viadutos e nem interceder
pela ponte do Madeira, obras que já demonstraram não ter nenhuma serventia para
os habitantes desta capital, o Doutor Mauro devia mandar destruir todos os
outros monumentos da cidade. Assim, ficaria mais conhecido e daria um sentido
mais útil ao seu mandato. As Três Caixas d’Água, a Estrada de Ferro Madeira
Mamoré, o Trevo do Roque, o Estádio Aluízio Ferreira, a “Arena Aluizão”
com seus quase quatro mil lugares e outras velharias, que só enfeiam ainda mais
Porto Velho, seriam riscados do mapa.
Entusiasmo
para isso não falta, pois o nosso prefeito anda muito empolgado: “vamos fazer o
possível para que Porto Velho seja a melhor cidade da região Norte e quiçá do
país”, disse recentemente o seu irmão, Gilson Nazif, que o ajuda a nos
administrar. Pelo visto, Mauro Nazif é o único prefeito a dar um “choque de
gestão” (digestão) na cidade.
*É
Professor em Porto Velho.
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