Sempre
amei Porto Velho e Rondônia
Professor Nazareno*
Eu
sempre me considerei um sujeito injustiçado. Muitas pessoas me veem de maneira
totalmente errada. Pelo gosto de muita gente, os órgãos públicos já teriam feito
uma devassa na minha casa e meus sigilos já teriam sido quebrados há muito
tempo. Minhas inúmeras contas bancárias e meu valioso patrimônio já teriam sido
vasculhados pelo Poder Público. Não sei o porquê de tanta raiva e
desconfianças. Recentemente fui acusado de não gostar de Porto Velho e de
Rondônia. Claro que isto não é verdade. Em alguns comentários divulgados nas
redes sociais e na mídia até me propuseram sair da cidade, ou seja, “capar o
gato”, “montar no porco”. Por que eu faria isso se em nenhum outro
lugar do Brasil ou do mundo eu encontraria pessoas tão idiotas, ignorantes,
toscas, fascistas e imbecis que se preocupam com a vida alheia achando que a
cidade onde moram é propriedade sua e que por isso se acham no direito de
opinar sobre onde os outros devem ou não morar? Onde encontrar tanta coisa errada e aceitável
como aqui?
Não
posso sair daqui, pois em que outro lugar do mundo eu encontraria uma cidade centenária
tão suja, tão imunda, tão fedorenta e tão mal administrada e cujos moradores
estamos e somos tão acomodados como em Porto Velho? Uma cidade onde a maioria
dos prédios históricos é enfeitada por ratos e urubus? Como não querer morar em
uma cidade onde a Prefeitura só trabalha quando não chove? E olhem que aqui
chove durante quase 10 meses ao ano. Como encontrar, afinal, um lugar que sirva
tão bem para as minhas matérias e crônicas sem ser essa Porto Velho que temos? Além
de não ser proibido morar aqui, admiro as pessoas que têm olhos para ver e são
ou se fingem de cegas. Onde encontrar tanto puxa-saco de políticos corruptos e
desonestos? E onde encontrar tanto eleitor alienado e vassalo? Qual dentre as
capitais brasileiras a que não tem estádio e nem se pratica o bom futebol? Laboratório
sociológico, Rondônia contraria a própria Sociologia, pois se existisse, até a
cultura daqui seria inferior.
Já fui até chamado de ateu. Um absurdo, uma
vez que sonho um dia ser pastor evangélico ou católico, pois creio que dentre
tantas coisas boas, a Igreja também inventou a democracia e participou da
construção do conhecimento humano. Durante séculos, ela lutou bravamente para
implantar a dialética em todas as sociedades de que participou. Sem ela, hoje
estaríamos pelo menos uns três séculos atrasados em relação à tecnologia e às
novas descobertas científicas. Além do mais, jamais perseguiu qualquer pessoa
em toda a sua existência. Por isso, a Humanidade deve este grande favor a ela e
aos seus santos e anjos. Não há uma única conquista na ciência moderna que não
tenha tido a sua mão milagrosa e sábia. Padres, pastores, papas e outros seguidores
são pessoas abençoadas por Deus, o Todo Poderoso. Todos devem ter uma religião
e participar de alguma Igreja. Se quiser alcançar a salvação, claro. O céu
espera para uma longa e boa vida eterna todos aqueles que tiveram tal percepção
e ajudaram para isso.
É
um crime sair de uma cidade que tem feira de exposições em um lugar sempre
indefinido, Passeata do Orgulho Gay, Marcha para Jesus, Carnaval fora de época,
Banda de 150 mil foliões, violência desmesurada, pobreza, saúde e educação públicas
caindo aos pedaços, mentiras, lorotas, hipocrisia, escândalos nacionais,
desorganização urbana, folclore importado e imprensa “marrom” vendida
aos políticos de plantão. Além do mais, existe algum outro lugar onde as
pessoas não aceitam críticas? Não, não sou ateu e, além disso, amo de coração este
pedaço de Brasil. Saindo daqui, perderei uma chance enorme de estudar e
aprender o porquê de tudo isto acontecer em pleno século XXI numa sociedade que
se diz civilizada e em plena era da globalização. Não posso sair: como viverei
lá fora? Já que pago meus impostos em dia e não devo satisfações a ninguém (ainda
bem que a Francisca não lê meus textos), se me expulsarem, faço igual ao sapo
cururu: volto de novo, pois amo de coração estes dois, Porto Velho e Rondônia.
*É Professor em
Porto Velho.
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