segunda-feira, 15 de junho de 2009

A síntese cultural de um Estado


Expovel: cultura local ou circo dos horrores?


Professor Nazareno*


Acabou a Expovel em Porto Velho, graças a Deus. Foram longos dez dias de barulho, empulhação, poeira, mentiras e circo. Muito circo mesmo para os porto-velhenses, que de uma hora para outra, se viram transformados em moradores da “Capital do Rodeio”. A presepada começou mesmo no dia 06 de junho com um desfile patético pelas principais ruas daqui: mas foi muito bom, pois mostrou a verdadeira cara da nossa cidade com toneladas de sujeiras e lixo no meio das avenidas. E próximo à rodoviária este ano não plantaram aquela estátua ridícula de um boi insinuando que a capital de Rondônia era uma cidade country, como aquelas dos Estados Unidos. Que pena, pois o animal “bem-dotado” com um peão montado completaria o espetáculo circense. Muitos jovens da cidade, embriagados e vestidos à moda country dos americanos, com botas longas, chapéu grande (talvez imitando o ídolo Cassol) e vestimentas de couro, apesar dos quase 40 graus à sombra, completavam a deprimente exibição teatral. Impossível não ter pena ao ver tanta breguice. Um toque medieval em pleno século XXI. Se isto for cultura, não será diferente das outras, mas inferior mesmo. E a grande piada é que ainda existem moçoilas da região que se candidatam à rainha do evento. E pagam para isso. Que trono... Quanta barbaridade...

De fato, situada em plena floresta Amazônica e às margens do lendário e hoje já estuprado rio Madeira, Porto Velho em absolutamente nada lembra as verdejantes cidades da Califórnia e muito menos o próspero e progressista interior do Sul do Brasil. Comparar uma cidade de ‘beiradeiros e barnabés’, onde o contracheque responde por grande parte da economia local, com Barretos, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, Londrina, Maringá ou Cascavel, por exemplo, é de um mau gosto sem nenhum precedente. Parece coisa de político ufanista ou mal informado em ano pré-eleitoral. Aliás, durante o período dos “festejos do peão” o que não faltou foi programa de rádio e televisão abrir espaços para as autoridades falarem à vontade e tecer loas ao pseudo-desenvolvimento do Estado. E os jornalistas de proveta, da imprensa marrom, muitos dos formados aqui mesmo, fazendo perguntas toscas aos políticos. Nestas horas quem se lembra de sanguessugas, mensaleiros, escândalos na Assembléia Legislativa, possível cassação do governador do Estado, prefeito de obras inacabadas, mídia comprada e outros afins?

Rondônia possui um dos maiores rebanhos de gado do país segundo dados do IBGE. O que não se entende é por que a nossa carne não é tão barata assim e boa parte da população do Estado, como os que vão aos espetáculos da Expovel, não tem acesso a essa iguaria. Talvez por isso o Mandi (pequeno bagre que se alimenta de fezes humanas) com farinha d’água seja um prato tão desejado na cidade. Para muita gente pobre deste lugar, degustar um bom e suculento filé ou uma picanha é tão difícil quanto arrematar qualquer objeto ou mesmo comprar um animal lá no Parque dos Tanques. Exposição de produtos agropecuários é coisa da elite. Em todos os negócios que foram fechados por lá só apareciam os poucos ricos do Estado. Para os pobretões, a ‘mundiça’, sobrou a Bailarina da Praça (nosso melhor produto de exportação) dançando com os bêbados ao som de uma dupla caipira chamada Victor & Leo e comendo “churrasquinho de gato” em meio à poeira. Não parecia o inferno de Dante, mas o de Satanás mesmo. Triste espetáculo. Coisa de rondoniense já achando que somos Primeiro Mundo... “Maninha, é o progresso de Rondonha”, afirmavam entusiasmados, alguns nativos, com o inconfundível sotaque.

Para os fazendeiros, os homens de negócios e os grandes pecuaristas do Estado sobrou a alegria dos polpudos lucros. Para os políticos de plantão, a certeza de terem colhido bons dividendos eleitorais e para o povão, a ressaca e a satisfação de saber que ‘sua mais fiel representante’ (a Bailarina da Praça) estava lá, como se no alto de um fictício pódio. Sem nenhuma cabeça de gado no pasto que não possuímos, nós rondonienses já parecemos conformados com a sina de que Rondônia nada mais é do que um quintal (ou curral) dos grandes pecuaristas lá do sul maravilha, a verdadeira Califórnia brasileira. Aqui só engordamos os bois que tanto lucro dão aos forasteiros. Sem plantar nem criar nada, só colhemos Corumbiara e outras mazelas sociais. Não é difícil entender por que com estas ‘papagaiadas’ não se faz jorrar mel e leite das nossas fedorentas ruas. E o pior é que muitos idiotas e pseudo-intelectuais de plantão, os que pensam que pensam, ainda querem discutir identidade cultural, fazeres e saberes de um povo, de uma região, de uma cidade. Quais saberes? Quais fazeres? Qual povo? Qual região? A não ser que a Bailarina da Praça dando suas piruetas seja um expoente cultural desta terra. Santa paciência...

Pelo fato de ser um espetáculo de péssimo gosto, a Expovel não deixou de apresentar o seu saldo de violência e bestialidades. “Três homens, um deles identificado como policial militar, se envolveram em uma briga com tiroteio, no Parque de Exposições, no final da tarde do sábado, quando a cavalgada chegou ao local. Depois de muitos socos e pontapés, um dos envolvidos na confusão sacou da arma e efetuou os disparos. Uma radiopatrulha agiu com rapidez e prendeu os acusados. Populares revoltados tentaram resgatar os suspeitos para linchá-los, mas a viatura saiu rápido em direção à Delegacia Central”, noticiou um site da cidade. Além desse sururu, típico das festinhas mais barrelas, uma jovem de 18 anos que estava se divertindo na cavalgada foi vítima da ação de marginais que teriam estuprado a mesma em um estacionamento localizado na Avenida Campos Sales, região Central da Capital. Segundo ela, teria sido ameaçada por três rapazes que usavam abadás do evento e foi arrastada para o estacionamento. Nada mais típico, nada mais típico... É a Expovel... Como na Roma antiga, estas festas só serviam mesmo para manter o povão adormecido. Aqui, nem isso.

Embora sem pão, a alegria certamente vai continuar. Em Rondônia estamos em plena Semana Santa com direito a espetáculos ao ar livre e ainda que seja o mês de junho, a Paixão de Cristo foi encenada sem maiores problemas. E apesar de Porto Velho ser uma das únicas cidades do país onde a Igreja Católica não festeja o santo padroeiro (24 de maio), sempre tem carnaval fora de época também por esses dias e sem falar na grande festa do “padroeiro de fato” da capital: “São Maracujá, o maior arraial sem santo do Norte do país”. A festança próxima à Esplanada das Secretarias está prestes a começar e certamente em todos estes eventos estarão presentes, só que em camarotes diferentes, as autoridades e políticos do Estado, os pecuaristas gastando suas fortunas, os bajuladores aplaudindo tudo, o povão torrando seus minguados salários e a Bailarina da Praça pulando com os artistas e rindo à toa para animar todos os brincantes. Fica faltando mesmo só o Manelão da famosa banda. E por que não? Afinal, todos somos filhos de Deus...


*Professor Nazareno leciona na escola João Bento da Costa em Porto Velho

16 comentários:

Valdemar Neto disse...

Por causa dessa "manifestação cultural" não tive aula no sábado. A escola decidiu que devido a baderna causada pelos "caubóis" não conseguiríamos nos concentrar e nem os professores conseguiriam ministrar sua respectivas aulas. O desfile de horrores passaria bem na frente da escola. Haja paciência, meu Deus! Essas coisas só acontecem aqui...

Karla disse...

Cavalgada + Expovel = Espetáculo circense!
Ótima observação.

Anônimo disse...

Porto velho para por causa da expovel ,têm pessoas que enconomizam o ano todo só para ir para a expovel ... o cúmulo da ignorância humana.

cacimbão disse...

não entendo maninho, por que ainda continua aqui nessa terra de beiradeiro e barnabés, vai lá pra paraiba falar um pouco de sua cidade natal talvez você seja de Curral Velho ou quem sabe de São José da Lagoa Tapada,são jose do brejo do cruz ou de massaranduba? nomes bonitos né? vai marmota dançar a dança do gangaço longe daqui!

Joice Brandão disse...

Desenvolvimento cultural depende única e exclusivamente da educação do povo...

Caramba...

O povo e a EXPOVEL!

Variavelmente disse...

O que eu realmente não entendo é como pessoas que criticam as críticas não compreendem que elas são, na verdade, uma forma de real apreço pelo lugar. Quem preza algo, no caso, uma cidade, busca a melhoria de seus problemas, questiona sim a gestão, a falta de importância dada à cultura, falta de incentivo para bons projetos, falta de estrutura urbana...
Amo Rondônia e Porto Velho e, exatamente por isso, não posso deixar de notar, com fúria e indignação, a caótica situação em que nos encontramos. Vendar os olhos e dizer que tá tudo azul e não temos nada que questionar não vai resolver os problemas. É preciso sim meter o dedo na ferida e fazer todo mundo gritar de dor, de horror, de choque. Só dessa forma iremos buscar os remédios, não o contrário, negando a ferida e continuando até a gangrena... Não engolindo os discursos ridículos dos políticos, de que Rondônia progride de vento em popa, o transporte público atende a todos satisfatoriamente, a cidade está limpa e bela, não existem miseráveis, desempregados.. Céus... vocês vivem mesmo neste conto de fadas?!

Francisco Campos disse...

Quase sempre não concordo com o que você escreve, mas devo dizer que, tirando a agressividade vocabular, esse texto fala muitas verdades. A Expovel é o ápice do ridículo e é horrível que tenha gente que chame aquilo de cultura. É patético ver aquele bando de moçoilas, vestidas de jeans apertadíssimos, calçando botas, sob a canícula do meio-dia e, o pior, tomando cerveja "para se refrescar". Como disse minha mulher, maldosamente: "haja 'xexeca' assada". O conceito de cultura por essas bandas é ditado por uma "elite" chegada a um álcool e, enquanto for assim, a coisa vai permanecer feia... Abraços e aguardo sugestões suas para melhorar a cultura de nossa amada Porto Velho!

Joice Brandão disse...

Nossa...

Depois dessa eu vou pra Cuba.

Joice Brandão disse...

Não posso deixar de concordar com tudo que dizem do povo. É uma posição impopular, eu sei, mas o que fazer? É a hora da verdade. O povo que me perdoe, mas ele merece tudo o que se tem dito dele. E muito mais.

As opiniões recentemente emitidas sobre ao povo até agora foram tolerantes. Disseram, por exemplo, que o povo se comporta mal em grenais. Disseram que o povo é corrupto. Por um natural escrúpulo, não quiseram ir mais longe. Pois eu não tenho escrúpulo.

O povo se comporta mal em toda parte, não apenas no futebol. O povo tem péssimas maneiras. O povose veste mal. Não raro, cheira mal também. O povo faz xixi e cocô em escala industrial. Se não houvesse povo, não teríamos o problema ecológico. O povo não sabe comer. O povo tem um gosto deplorável. O povo é insensível. O povo é vulgar.

A chamada explosão demográfica é culpa exclusivamente do povo. O povo se reproduz numa proporção verdadeiramente suicida. O povo é promíscuo e sem-vergonha. A superpopulação nos grandes centros se deve o povo. As lamentáveis favelas que tanto prejudicam nossa paisagem urbana foram inventadas pelo povo, que as mantém contra os preceitos da higiene e da estética.

Responda, sem meias palavras: haveria os problemas de trânsito se não fosse pelo povo? O povo é um estorvo.

É notória a incapacidade política do povo. O povo não sabe votar. Quando vota, invariavelmente vota em candidatos populares que, justamente por agradarem ao povo, não podem ser boa coisa.
O povo é pouco saudável. Há, sabidamente, 95 por cento mais cáries dentáries entre o povo. O índice de morte por má nutrição entre o povo é assustador. O povo não se cuida. Estão sempre sendo atropelados. Isto quando não se matam entre si. O banditismo campeia entre o povo. O povo é ladrão. O povo é viciado. O povo é doido. O povo é imprevisível. O povo é um perigo.

O povo não tem a mínima cultura. Muitos nem sabem ler ou escrever. O povo não viaja, não se interessa por boa música ou literatura, não vai a museus. O povo não gosta de trabalho criativo, prefere empregos ignóbeis e aviltantes. Isto quando trabalha, pois há os que preferem o ócio contemplativo, embaixo de pontes. Se não fosse o povo nossa economia funcionaria como uma máquina. Todo mundo seria mais feliz sem o povo. O povo é deprimente. O povo deveria ser eliminado.

Luis Fernando Veríssimo (de verdade.)

Francisco Campos disse...

Tem gente que acha que Cuba é o paraíso terrestre... Sabe por que Cuba não tem tradição na natação em Olimpíadas e Pans? Porque quem sabe nadar já se mandou pra Miami...

Anônimo disse...

Cultura Inferior?

Para a sociologia, não há cultura inferior, cada cultura é relativa. Nossa cultura possui aspectos advindos de outras culturas, mas nem por isso significa q ela seja pior ou melhor. A agropecuária está presente na nossa região há muito tempo, e grande parte dos colonizadores do estado estão ligados à ela. Talvez seja puro etnocentrismo ou simplesmente demagogia e hipocrisia que motivem o seu texto. Típico dos nossos ‘’intelectuais’’, criticam os jovens por beberem, enquanto em suas falas exaltam Lima Barreto, Edgar Allan Poe até mesmo Raul Seixas, os que eu conheço q eram alcoólatras e gênios. Quanto a breguice, bom cada um tem sua opinião, roupa country em uma festa country é tão brega quanto uma noiva vestida de noiva em seu casamento. Mais elegante seria camisas do ‘’piu-piu’’ e tênis com cadarço rosa nos ilustres mestres do conhecimento, de idade no mínimo inadequada para tais combinações. Criticar moças por gastar seu PRÓPRIO dinheiro é no mínimo engraçado. Cada um gasta seu dinheiro como quer, talvez nosso intelectuais sugiram comprar obras de Freud para mostrar toda sua sapiência, quando, na realidade, segundo diversos dos mais renomados neurocientistas, complexo de édipo, id, superego e blá blá blá não passam de uma (vejamos um ótimo eufemismo) PORCARIA, e q seu único acerto n eh bem seu, e sim idéias de seus contemporâneos.Bem isso n vem ao caso.Quanto as suas comparações eu não tenho argumentos, pois não vi ninguém comparando PVH a essas cidades,mas n vejo razão p/ n ocorrer uma feira aqui, afinal como vc disse mt bem RO possui um dos maiores rebanhos de gado do Brasil. Bem, chegamos a parte da violência. Os atos foram praticados por pessoas e nada tem a ver com a Expovel, a violência está presente em toda sociedade. Talvez no próximo artigo você sugira acabar com os cinemas para evitar que estudantes com excesso de fúria matem pessoas inocentes como já aconteceu em SP, ou melhor, fechemos as escolas para evitar massacres como os q ocorrem nas escolas das verdejantes cidades da Califórnia. Vejamos agora, AH, você está certo em quanto aos políticos e escândalos, mas ainda assim há exceções, e, em nome dos q festejam na Expovel e ainda assim tem consciência política, eu peço desculpa por não buscar uma Revolução Política em todos momentos da minha vida e querer viver um pouco. Finalizando, os vultuosos lucros ficam sim nas mãos de poucos, mas geram riqueza para o Estado, movimentam a economia, geram empregos(sim! Os mais pobres comem carne pq trabalham para os mais ricos) e, finalmente, pagam impostos para o governo. Quanto ao preço, uma explicação simplória, lei da oferta e procura, se muitas pessoas n têm acesso à carne com toda essa produção, o número seria bem menor se n houvesse aqui os produtores, já que o preço subiria assustadoramente. Naza, relaxe, próximo ano nos acompanhe na cavalgada, fique embriagado e coma um saboroso churrasquinho de vira-lata(cachorro é mais bobalhão q gato), quem sabe com vc lá nossa cultura deixe de ser inferior, torne-nos cult.
Rafael

Anônimo disse...

Parabens Rafael,seu texto foi bonito,
será que o naza gostou? Espero também ve-lo na proxima cavalgadA montado em cima de um cavalo bravo.

Joice Brandão disse...

"O povo é deprimente. O povo deveria ser eliminado."
Veríssimo

Anônimo disse...

Carine disse...

tenha dó! nem a bailarina da praça o senhor perdoa prof?
20 de Junho de 2009 22:42

Anônimo disse...

Fernando "O Mascate" disse...

Caro Professor.
Não precisa ir muito longe para ver a americanização do brasileiro.
A festa em parintins está tomando proporções Holywoodanas, o que era típico está virando espetáculo de cinema. Sem contar as festas de São João em Caruarú, parece mais desfile de escolas de samba da Sapucaí, onde o também típico está se tornado luxuoso, e a cada ano, vai se jogando por terra a identidade do povo brasileiro em troca de ostentação e luxo, vamos nos perdendo nos corredores dos gabinetes políticos que financiam a arrogância e ostentação de um povo mediocre que morre à espera de socorro nos corredores dos sucateados hospitais públicos, onde as verbas dessas festas deveriam ser alocadas, mas morrem felizes da vida em saber que somos o melhor do mundo em futebol e temos os recordes mundiais em festas populares.
Infelizmente o brasileiro se vende por dois batuques e alguns gols.

Sem cultura popular e sem educação este país vai continuar andando de lado em relação ao mundo. Mas.... em 2014 tem copa do mundo, aí sim, iremos ficar horrorizados de vez com o vira latismo crônico em que vive o povo brasileiro.

Abçs.
Retirado do site interagindo JBC

Anônimo disse...

Joice, vc é tão ignorante como todos os analfabetos do Brasil e chega a n perceber q o texto q vc postou trata-se de uma IRONIA do autor. Vai fazer um transplante de cérebro antes de emitir opiniões imbecis. Ainda criticam de cultutura inferior qm vai para Expovel. Quanta hipocrisia.