terça-feira, 18 de agosto de 2015

Tirar a Dilma para quê?



Tirar a Dilma para quê?


Professor Nazareno*



            O atual governo de Dilma Rousseff do PT tem se mostrado como um dos piores que o Brasil já teve nestes trinta anos de democracia. Com apenas sete por cento de aprovação popular, praticamente a única coisa que tem feito é lutar desesperadamente para se manter no poder. Só neste ano, pelo menos três manifestações aconteceram no país não só para protestar contra a corrupção e os desmandos do governo petista, mas principalmente para tirar a presidente do cargo por meio de um impeachment. Ingênuos e praticamente dominados por interesses escusos, muitos brasileiros acreditam piamente que a saída da atual mandatária fará jorrar mel e leite das ruas. Talvez por isso mesmo, a última manifestação teve a participação pífia de menos de meio por cento dos brasileiros. Isso mesmo: apenas 0,4% foram às ruas para mudar a situação do país.
            Comandados por parte da direita golpista, os brasileiros que se atreveram a sair do conforto de suas casas protagonizaram uma das mais patéticas manifestações de que se tem notícia. Eu não fui a nenhuma passeata. Não quis trocar a cerveja gelada num dia quente para ir fazer papel de otário no meio da rua, já que as cenas que se espalharam por várias capitais do país foram lamentáveis. Vários cartazes e faixas, geralmente escritos em língua portuguesa errada, pediam abertamente a volta da Ditadura Militar assim como muitos outros com pedidos toscos e verdadeiras aberrações. Essa ação de muitos manifestantes envergonhou não só o país, mas também alguns turistas estrangeiros. Depois dos 7 X 1 na última Copa do Mundo, mais outra vergonha para nós. Que bom: evitei estar ao lado de Jair Bolsonaro, Silas Malafaia e Aécio Neves.
Recentemente, o prestigiado jornal londrino Financial Times falando sobre as atuais “manifestações carnavalescas” do Brasil afirmou que a presidente brasileira deveria permanecer no cargo, apesar dos pedidos de impeachment. Segundo o texto, se Dilma for afastada, será provavelmente substituída por outro "político medíocre" que tentaria implementar as mesmas medidas de estabilidade econômica dela. Seria, no jargão popular, trocar seis por meia dúzia. E já que mais de 54 milhões de brasileiros decidiram pelo PT e pela Dilma nas últimas eleições, é melhor deixar tudo como está. “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Não é comodismo, é realidade mesmo. Estamos acostumados a ser roubados e enganados pelos políticos e nunca fazemos nada. Parece que a nossa sina não mudará: quando o político não é incompetente, é ladrão.
Se a Dilma sair, quem assumirá o seu lugar será o vice-presidente, Michel Temer do PMDB. Não daria certo: esse partido governa e envergonha o Brasil desde o fim da ditadura militar em 1985 e nada mudou, pelo menos para nós, até hoje. Em caso da chapa inteira ser escorraçada do poder, assumiria o Aécio Neves e o seu PSDB da privataria tucana, do escândalo no metrô de São Paulo e do Mensalão mineiro. Teriam chances também o Eduardo Cunha, atual presidente da Câmara dos Deputados e ainda o Renan Calheiros, presidente do Senado, que dispensam quaisquer comentários. Não! Melhor eu ter ficado em casa mesmo tomando uma Heineken gelada e torcendo pelo pior: para que a Dilma não saia do poder agora, somente em 2018. Já incorporamos a síndrome da galinha: “levamos no traseiro e cantamos alegres”. Não há saída, por enquanto. Ou aprendemos a votar ou pagaremos caro pelas nossas estúpidas escolhas.



*É Professor em Porto Velho.

sábado, 15 de agosto de 2015

Roberto Sobrinho devia voltar



Roberto Sobrinho devia voltar

Professor Nazareno*

            Eu não tenho procuração para fazer campanha antecipada para ninguém, muito menos para falar bem ou mal de qualquer político, mas observando-se a situação caótica em que a cidade de Porto Velho sempre esteve e com ela conviveu desde a sua fatídica fundação há mais de um século, não é nada anormal afirmar em alto e bom som que o ex-prefeito Roberto Sobrinho do PT, para o bem de todos, devia voltar a administrar os portovelhenses por pelo menos mais um ou dois mandatos. Afirma-se à boca larga que a capital dos “destemidos pioneiros” é uma cidade arrasada e muito pior do que Porto Príncipe depois do terremoto ou Hiroxima pós-bomba atômica. E nem precisava afirmar nada, pois para qualquer leigo em urbanização, a verdade saltaria logo aos olhos com uma simples caminhada pelas ruas da cidade, para ver in loco a situação de uma capital.
            Estamos no mês de agosto em pleno verão amazônico e a poeira sufocante das esburacadas ruas associada à fumaça das queimadas torna a vida do morador local um verdadeiro inferno. E como se o castigo fosse pouco, a forte presença do fenômeno El Niño eleva diariamente a temperatura para quase 40 graus. A volta do ex-prefeito talvez até não resolvesse o problema, mas não o aumentaria. A pouca grama que existe na cidade, por exemplo, está completamente esturricada de tanto sol. Não vejo ninguém aguando os canteiros como no tempo dele. Roberto Sobrinho pode ser responsabilizado por uma série de erros quando administrou Porto Velho é verdade, mas não foi ele que derrubou a centenária castanheira do bairro Triângulo e nem extinguiu milhares de outras árvores das ruas porque “são responsáveis”, e não as chuvas, pelas alagações.
E onde é hoje o quente, perigoso e escuro Espaço Alternativo havia na época em que ele nos administrava umas mil árvores, algumas frutíferas, plantadas por ele. Todas foram arrancadas e o local hoje está sujo e abandonado. Vão culpá-lo por isso também? Duvido que o petista tivesse recebido uma ponte escura como breu. Pode-se falar então dos viadutos. Ele pelo menos teve a coragem de iniciar as obras. E se aquilo incomoda tanto, por que ainda não foram concluídos? Há quase três anos que ele não manda mais em nada na cidade. Quando o petista assumiu, o índice de saneamento básico era um por cento. Quando saiu, beirava os três, ou seja, um aumento de 200 por cento. Qual prefeito fez isto? Poeira e fumaça no verão, lama no inverno, além da carniça, sujeira e da fedentina eram a rotina na administração dele. E hoje, mudou alguma coisa?
A administração petista é acusada de muita corrupção e malversação do dinheiro público. Só que nem o ex-prefeito nem nenhum dos seus assessores estão presos e até hoje nada foi devolvido aos cofres públicos. São inocentes? O PT é acusado de roubo e corrupção e isto parece ser fato. Embora não se justifique, qual partido não roubou? Por que não se fizeram manifestações anticorrupção contra as outras siglas também? Dilma Rousseff, que recebeu 54 milhões de votos dos brasileiros, assim como Lula e o partido da estrela vermelha são a Geni de hoje. Só que quase todos os brasileiros somos a Geni, eis a verdade. E o cidadão comum, uma espécie de “Maria vai com as outras” entrou na onda e já flerta com uma virada de mesa. Sobrinho foi um péssimo prefeito, claro, assim como todos: do passado, do presente e do futuro. A regularização fundiária, pelo menos, foi a sua marca maior. Corajoso, foi o único a peitar o fascismo da mídia. Devia voltar.




*É Professor em Porto Velho.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Vivendo sem democracia



Vivendo sem democracia

Professor Nazareno*

            A frágil democracia brasileira mal completou 30 anos e já estão lhe agourando. Desde 1985 que vivemos sob um regime democrático, recorde absoluto neste país. Entre 64 e 85 quem mandou de fato foram as baionetas, que apoiadas pela retrógrada elite nacional, deram sustento à censura, à intolerância, às perseguições, à tortura e a tantos outros cerceamentos de liberdades individuais. Vivi os dois períodos e confesso que não me dei muito bem na época dos generais-presidentes. Ainda criança e também na fase da adolescência não entendia o porquê de tanto anacronismo. Hoje, meio século depois, eis que um tanto assustado e incrédulo, vejo alguns brasileiros pedirem abertamente a volta daqueles tempos bicudos. Talvez por interesse, burrice, maldade ou então por não entenderem o perigo que há em se querer “chocar ovo de serpente”.
            Claro que a atual situação política não está nada satisfatória. Por isso sempre há o temor de radicalizações. Há uma fictícia, mas não remota possibilidade de termos outro golpe de Estado no Brasil, numa irresponsável aventura militar, ou mesmo civil. E como seriam ou como ficariam as coisas? O mundo civilizado, claro, não aceitaria outra virada de mesa em terras tupiniquins e poderíamos ter que enfrentar alguns contratempos externos. No país, quase não haveria problemas. Enfurecidos com o PT ou com os setores da direita conservadora e adulados pela mídia alienante e ultrapassada, os novos mandatários nacionais teriam total apoio dos tolos governados e seriam, de novo, considerados verdadeiros deuses que vieram para salvar a pátria do “grande mal” que a assolava. O mantra de qualquer dos lados seria: “às favas com a democracia”.
            Em Rondônia, seria um verdadeiro inferno viver sem este regime, tenho certeza. Se com o “governo do povo” viver aqui é como morar na casa do Satanás, imagine-se o contrário disto. Numa ditadura, seríamos o fim do mundo. O povo ficaria alijado de todas as decisões oficiais e quem mandaria de fato no Estado seriam os políticos fantoches e nos municípios, todo e qualquer prefeito ficaria nas mãos sórdidas da elite golpista. Além disso, nenhuma obra seria terminada, bem diferente de uma democracia. Dinheiro até que viria de Brasília, mas as autoridades locais roubariam tudo e nada fariam em benefício do povão. Não! Não queiramos uma ditadura de jeito nenhum. Já pensou ter vários viadutos inacabados na entrada da cidade? Um Espaço Alternativo que só serviria para eleger deputados federais? E uma ponte escura? Só coisas da ditadura.
            Vamos sair às ruas neste dia 16 de agosto, mas, por favor, não peçamos um regime de exceção. Numa ditadura, senhores, teríamos na capital apenas dois por cento de saneamento básico e menos ainda de água tratada. A cidade seria suja, imunda, fedorenta e quase inabitável. Invasão de terrenos na periferia seria rotina e a corrupção voltaria com toda força. Um horror: se tivermos uma tirania, fiquem certos de que haverá muita poeira e fumaça no verão e no inverno será só lama. A mídia seria controlada por interesses escusos e atenderia somente aos políticos. E pior: com ditadores no poder, o Judiciário não funcionaria de jeito nenhum. Aí não teria como terminar nenhuma das obras inacabadas. E nós, filhos legítimos de Rondônia ou mesmo rondonienses de coração, não queremos isto para a nossa amada terra. Os “destemidos pioneiros” gritam com força: Rondônia e democracia, uma aliança quase indestrutível.




*É Professor em Porto Velho.

domingo, 9 de agosto de 2015

Outro dia de estupidez coletiva



Outro dia de estupidez coletiva

Professor Nazareno*

Ontem, segundo domingo de agosto, foi o dia dedicado aos pais. E não é grande coisa: a estupidez humana parece não ter fim. Cria-se ao bel prazer e para alegria apenas do comércio e dos comerciantes outro dia sem nenhum sentido. Indiferentes à crise econômica que se abate sobre todos os brasileiros, os criadores de mais esta tolice insinuam que os pais são importantes na vida de qualquer pessoa e por isso merecem um dia todo especial dedicado a eles. Hipocritamente enchem-lhe de presentes como se o orgasmo que ele sentiu para nos gerar não tivesse já sido suficiente para o seu contentamento e satisfação. Mas o ser humano comum não deixará jamais de buscar a estupidez para se sentir bem consigo mesmo. Se fosse só mais um dia sem necessidade no ano, a cota seria compreendida. Dia das mães, dos professores, dia disso, dia daquilo.
Além do mais, não se deve homenagear e nem puxar o saco de um ser humano que está em franca decadência. O bicho-homem está aos poucos perdendo a admiração e os privilégios, pelo menos na nossa decadente sociedade ocidental. Descobriu-se recentemente que Deus, por exemplo, é uma mulher. O Todo Poderoso, de quem se tinha a certeza absoluta de ser do sexo masculino, é na verdade uma linda, provocante e esbelta mulher de corpo arredondado com sua divina e insubstituível caixa de pandora que encanta a todos. No campo da política, é cada vez maior a participação da mulher. De Dilma Rousseff passando por Cristina Kirchner, Hillary Clinton, Michele Bachellet e Angela Merkel o que se observa é cada vez mais “as saias” dominando um mundo antes restrito ao público masculino. “O homem é uma mulher que não deu certo”.
Até a legislação conspira contra os homens e por consequência insulta os pais, esposos e namorados. A Lei Maria da Penha privilegia sempre e somente a mulher, mesmo que seja ela a culpada pelo fracasso do relacionamento. Nas escolas, na mídia, nas grandes lojas de departamentos e até nas redes sociais não se vê outra coisa nesse dia insosso e anormal: é tanta homenagem, babaquices, tolices, salamaleques e flores que dá até náuseas. Pagar muitas vezes para ganhar uma ultrapassada cueca samba-canção, uma caneta, uma chinela de dedos ou outro presente mais ridículo ainda é uma forma de demonstrar o repúdio da sociedade e também das mulheres e filhos por este ser patético e desprezível. Esse dia horroroso nem devia existir, pois é um acinte à lógica e ao bom senso. Mas sem ele como a sociedade demonstraria toda sua hipocrisia?
Pai, eu te amo de coração”, ou então a açucarada e ultrapassada “sem você, como eu teria vindo ao mundo”? São frases absurdas e sem sentido que contrariam qualquer situação de normalidade e o pior, quase nunca são verdadeiras. Dá até nojo ouvir estas bobagens hipócritas e muitas vezes mentirosas. Pai de verdade tem que ensinar valores aos seus filhos acompanhando-os nos estudos e na formação acadêmica, além de incentivá-los à boa leitura e também indo à sua escola, não para receber presentes cretinos e homenagens falsas, mas principalmente para saber como seu herdeiro está sendo formado para encarar o mundo futuro. Dia dos pais não existe. É tudo mentira. Meu pai, velho teimoso: está vivo, tem 93 anos e é analfabeto. Não segui seu exemplo. E muitos filhos não seguem o exemplo de seus pais. Mas não assumem a verdade. Preferem a mentira e a hipocrisia. E os presenteiam com cuecas ultrapassadas.




*É Professor em Porto Velho.