Ser maluco: tudo é normal?
Professor Nazareno*
Sou pobre e nasci
numa família de pessoas pobres neste país rico, muito rico. Sou ligado à Igreja
evangélica e tenho muito conhecimento atual de política, que adquiri lendo
postagens no Facebook e também na internet. Sempre votei na direita e na
extrema-direita e não vejo nenhum problema nisso. Fico possesso da vida quando
alguns comunistas dizem que houve uma ditadura militar no Brasil. Acampei
durante dois meses em frente aos quartéis do Exército pedindo por uma
intervenção militar para salvar o Brasil do comunismo e de todos os
esquerdistas. Participei ativamente do levante patriótico do oito de janeiro de
2023 e acho que só não fui preso pela “ditadura da toga”
porque não apareci em nenhuma foto nem em nenhum vídeo. Saí da Esplanada antes
da chegada da polícia. Meu celular estava com problemas e assim não fiz nenhuma
foto nem nenhuma filmagem.
Eu não sou maluco,
não! Nunca peguei Covid-19, pois isso
não existe! Nunca me vacinei, mas tomei cloroquina aos montes e também ozônio
no rabo até dizer chega. Amo os Estados Unidos e também o seu amado
presidente, Donald Trump. Jair Bolsonaro é o meu herói. Foi o melhor presidente
que o nosso país já teve em seus pouco mais de 525 anos de História. Sou de
Porto Velho, Roraima, e aqui votei duas vezes no coronel Marcos Rocha para o
bem deste Estado. Tenho certeza de que no terceiro mandato ele construiria o
tão propalado “Built to Suit” para o povo pobre daqui. Rondônia
é um lugar abençoado na política, pois aqui não há esquerda. E é uma pena que
não tenha o terceiro mandato para governador. Votaria nele de novo! “Aqui,
até candidato eleito do PT vota a favor de Netanyahu e pela anistia total aos
desmatadores de reservas ambientais do Estado”.
Todas as escolas
públicas daqui deveriam ser escolas cívico-militares. Não existe no mundo
nenhum outro tipo de educação que seja tão eficaz e voltado à disciplina como a
que tem em todos esses estabelecimentos de ensino. Deus, Pátria e Família é um
lema inteligente, otimista, progressista e que deveria guiar todas as boas pessoas
e instituições. Candidatos esquerdistas, socialistas, comunistas e da esquerda
em geral deveriam ser proibidos de concorrer às eleições. Durante o que chamam
de período da ditadura militar no Brasil, nenhum esquerdista participava do
governo e por isso era tudo mais tranquilo e normal. Não havia violência, não
havia corrupção, o povo era feliz e a lei e a justiça estavam em todas os lares
e pessoas. Naquela época, por exemplo, nenhum artista ou comediante poderia
fazer os seus shows sem que não tivesse a permissão das autoridades.
Viver hoje no
Brasil com esse pessoal de esquerda governando é muito ruim. Não se pode mais
chamar um prefeito, governador ou presidente da República de ladrão. “Se
disser isso, tem primeiro que provar”, dizem. Por isso que eu sou
da direita. Por isso que eu coloco meu celular na cabeça para fazer contato com
extraterrestres e também rezo para pneus. Naquela época, a mídia era perfeita e
não se vendia a nenhum candidato, a nenhuma autoridade nem a nenhum governo de
plantão. E só publicava verdades. Como pode o meu ídolo maior dizer que eu sou
um maluco? Isso me revolta muito! Em Rondônia, fome não havia
como há hoje. E o rio Madeira tinha porto, não estava garroteado e ainda
existia muita mata virgem por aqui. O que será que o Raul Seixas quis dizer
quando profetizou certa vez que “preferia ser maluco num mundo onde os
normais faziam armas, bombas, mísseis e foguetes para matarem crianças, velhos
e mulheres?”.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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