Rondônia Rural Show: riqueza?
Professor Nazareno*
A Rondônia Rural Show Internacional,
realizada em Ji-Paraná, interior do Estado, rendeu em 2025 mais de 5,1 bilhões
de reais em negócios. Muitas autoridades estaduais, como o governador Marcos
Rocha e seus secretários estão com o sorriso atrás das orelhas. O otimismo com
o agronegócio rondoniense encanta a todos e dá uma falsa sensação de que a
bonança e a prosperidade são fatos rotineiros neste distante e incivilizado
pedaço de Brasil. A Rondônia Rural Show é
geralmente vista como um evento de grande sucesso, reconhecido por impulsionar
a economia rondoniense, promover o agronegócio e conectar produtores,
expositores e investidores. A feira é considerada um ponto de encontro
para a troca de conhecimentos, de negócios e também inovação no setor. E quase
meio milhão de pessoas foram prestigiar os eventos.
Em Rondônia,
principalmente em sua suja e fedida capital, fala-se à boca miúda que essa “feira
agropecuária” é uma plataforma de negócios que não só impulsiona a
economia da região como também mostra inovação nas atividades rurais. “É
Rondônia tendo reconhecimentos nacional e internacional”, falam os mais
otimistas. Só que ninguém percebe que Rondônia é apenas mais uma minúscula
célula de decadência e atraso na já caótica realidade nacional. A produção de riquezas
por aqui equivale a apenas 0,7 por cento do PIB do Brasil. Pobreza e miséria
são constantes num dos estados mais caóticos do país. A devastação ambiental se
tornou rotina todos os anos na época do verão amazônico. O ano passado, a
natureza estadual pagou caro com tanto fogo e queimadas, já que o agronegócio
não poupou nem as frágeis reservas ambientais.
Em 2025, as
previsões de devastação ambiental em Rondônia e, por conseguinte, em toda a
Amazônia Legal são assustadoras. Possivelmente a partir de julho próximo o
fogo, sempre capitaneado pelo agronegócio assassino, é que dará as cartas na
região. Então, produzir tantas commodities para quê? A fome, a violência, a
pobreza e a miséria caminham lado a lado com as grandes plantações e assim
castigam muitos rondonienses como na lendária música de Geraldo Vandré. Porto
Velho, a capital do Estado, é um caos só. A cidade foi classificada na semana
passada pela CNN como a pior dentre as 27 capitais para se viver. A cidade não
tem IDH, não tem saneamento básico, não tem água tratada e também não tem
sequer um hospital de pronto-socorro decente para atender aos seus sofridos
habitantes. E Rondônia sofre com o descaso dos seus políticos.
Então, para onde
vai tanto dinheiro da Rondônia Rural Show se não é investido um
único centavo na melhoria da população carente desse Estado? Parece que toda
essa grana sequer é gasta nas nossas cidades. Em Porto Velho, por exemplo, o
comércio local está praticamente falido e o que mais se veem são lojas fechadas
e muitos prédios para se alugar. A pior capital do Brasil para se viver já virou
sinônimo de terra arrasada faz tempo e ninguém faz absolutamente nada para
melhorar. A cidade, que tinha quase 600 mil habitantes há alguns anos, hoje não
chega sequer a 500 mil moradores. Muita gente foi embora daqui à procura de
novas oportunidades e de qualidade de vida. Mas a classe política continua
otimista e já pensando em sua eleição e também reeleição no próximo ano. Não
adianta vê a mídia endeusando essas “feiras matutas” se
parte do dinheiro não ficar aqui. Então, vamos à Rondônia Rural Show
Internacional em 2027?
*Foi Professor em
Porto Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário