Saudades
da Escola João Bento
Professor
Nazareno*
Dos
66 anos que tenho hoje, mais de quarenta e cinco deles eu trabalhei como
professor. Do interior da Paraíba, Estado onde nasci, passando por João Pessoa,
a capital, até Calama no baixo Madeira passando por Porto Velho, onde me
aposentei, tentei repassar meus conhecimentos para ajudar na formação das
futuras gerações. Fui não só professor em sala de aula, mas também diretor,
supervisor escolar e muitas vezes também aluno, já que aprendia muita coisa
todo dia com os meus próprios pupilos. Foram muitas escolas por onde passei,
porém a que me deixou mais saudades, sem nenhuma dúvida, foi a Escola JBC, João
Bento da Costa, situada na zona sul de Porto Velho. Juntamente com um
grupo de professores, nós fundamos ali, no início do ano 2002, o Projeto
Terceirão na escola pública. Trabalhei no JBC até o ano de 2019, quando pedi a
minha aposentadoria.
Liderados
pelo professor Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu, e que mais tarde viria a ser
Secretário de Educação de Rondônia, esse grupo de educadores queria mostrar, e
até conseguiu em partes, que uma escola pública poderia aprovar tantos alunos
ou até mais do que em uma escola particular. Entenda-se: aprovar estudantes
para qualquer universidade pública ou privada do Brasil. Inicialmente esse
grupo de professores era liderado pelo grande professor Walfredo Tadeu de
História, José de Arimatéia Dantas de Geografia e eu, Professor Nazareno,
ministrando Gramática e também Redação. Com o passar do tempo, vários outros
mestres de renome estadual, se juntaram ao grupo para dar continuidade ao
grandioso trabalho do JBC, que todo ano aprovava centenas de alunos para a UNIR
e também para várias outras universidades espalhadas pelo país. Só sucesso!
Professor
Carlos Moreira, de Literatura, Professor Neyzinho de Matemática, Professora
Heloísa de Gramática e de Redação, Professor Rodrigues de Física, Professora
Soniamar também de Redação, Professora Russi de Biologia, Professor Décio de
Física, a Professora Lady de Espanhol, Professor Fábio Xisto e Professora
Doralice de Inglês, Professora Mônica de Química, Professor Roberto também de
Química e muitos, mas muitos outros grandes professores e grandes mestres que
conseguiram, com muito denodo, competência, determinação e garra provar que “quando
se quer” a coisa pública pode dar certo. Como se esquecer dos
aulões na Ulbra, na FIMCA, na FATEC e na São Lucas? Muitas vezes 600 ou 700
alunos do João Bento eufóricos, cantando e aprendendo? E como esquecer os
aulões com os grandes Sílvio Predis, Rômulo Bolivar e Saulo Boni?
Hoje,
já encostado e em fim de carreira, sinto muita saudade daquela maravilhosa
escola. “A Escola João Bento da Costa é a Rondônia que dá certo”, eu sempre dizia cheio de otimismo e de alegria. E dava certo mesmo! E a nossa
briga era grande: concorríamos com o poderoso Classe A e com o Colégio
Objetivo, ambos particulares, quase de igual para igual. Como não se
lembrar da aluna Gabriele Veiga, a primeira que passou para Medicina em
uma Universidade pública saindo direto de uma escola também pública? Como não
lembrar os vários alunos que saíram do João Bento da Costa para cursar
Medicina, Engenharia, Letras, Enfermagem, Ciências Contábeis, Economia, Artes,
Biologia, Direito e muitos outros cursos superiores tanto em universidades
particulares como também em públicas? Só no ano de 2015, por exemplo, eu
corrigi, contadas, 15.756 redações de meus alunos. Eu sempre digo que o Terceirão
do JBC é o meu terceiro filho.
*Foi Professor em Porto
Velho.
4 comentários:
Realmente, com o seu empenho e o de seus pares, o JBC passou a ser um exemplo para muitas escolas da capital, as quais, tbm implantaram seus Terceirões.
Parabéns, meu amigo!
Realmente! Tivemos uma fase muito boa e parcerias que valeram a pena. Foi uma época de muita aprovação, de muita dedicação de alunos e professores que fizeram o projeto dar certo.
Que lindo professor! Tive o privilégio de ver os alunos empolgados conversando contigo na hora do recreio em 2018 e 2019 quando cheguei para trabalhar na escola. Também lhe admiro muito! Precisamos continuar com o projeto e melhorar cada vez mais. Porém precisamos de estudantes com entusiasmo e familiares comprometidos em querer o melhor!
Lembro até hoje de suas aulas e perspectivas, não tão otimistas, sobre o progresso aguardado com as usinas, bem como a sua fala acerca de o Brasil ser o país do amanhã, se amanhã, é claro, não for feriado! Rsrs
Fui um aluno da Zona Sul, de poucos recursos. Estudei os 11 anos em escola pública. Me agarrei com todas as forças aos estudos, com uma disciplina que os senhores me ensinaram a desenvolver.
Consegui aprovações no ENEM, graduação em Direito e ingressei no serviço público há 14 anos.
Minha passagem pelo terceirão foi há 19 anos. Inesquecível!
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