Uma esquerda de direita - II
Professor Nazareno*
Este ano
de 2024, a Bolívia tem eleições municipais. Os milhões de tolos e manipulados
eleitores do país vão escolher os seus novos prefeitos e vereadores. Ação esta
que em nada mudará as suas miseráveis vidas. Mas como no país andino, que diz ser
uma democracia, votar é uma obrigação e não um direito ou uma opção, todos eles
devem ir às urnas para apenas sacramentar uma possível boa vida para os poucos candidatos
que serão eleitos. Em Trinidad, a abandonada capital do departamento do Beni, a
vida sempre foi uma dureza para os seus imbecis, brocos e ignorantes
habitantes. Trinidad não tem declaradamente políticos de direita nem de
esquerda. Apenas um bando de salafrários sem caráter e desonestos que a cada
quatro anos se juntam para dilapidar o pouco dinheiro fruto do trabalho da
população pobre e humilde. Ser político virou uma atividade de vida.
Há no
lugar apenas uma meia dúzia de pessoas, geralmente de fora da província, com
algum poder aquisitivo e que se autodenominam de extrema-direita. Como têm
algum dinheiro num lugar de pessoas muito pobres e miseráveis, mantêm o domínio
sobre toda a sociedade. Por isso, essa elite nefasta indica os seus candidatos
para quase todas as eleições. O poder continua, dessa forma, sempre nas mãos
dos mais ricos e abastados. Ali esquerda praticamente não existe. Talvez nem 30
por cento dos eleitores simpatizam com alguma ideia ou candidato dessa vertente
política. Porém, muitos dos mal intencionados candidatos de Trinidad dizem para
todo mundo que é de esquerda somente para ter acesso a esses poucos, mas ainda
fieis, eleitores progressistas. Não só na capital como em todo o departamento o
que prevalece são ideias conservadores de direita e de extrema-direita.
A
qualidade de vida na capital Trinidad é péssima. Levas e mais levas de pessoas
pobres, rotas e famintas são vistas diariamente pedindo esmolas em suas sujas e
imundas ruas. Não há arborização, não há água tratada nem sequer saneamento
básico. Tudo ali é igual ou muito pior do que Porto Príncipe no Haiti ou até
mesmo comprável àquelas cidades dos países da África subsaariana. Não há
mobilidade urbana, não tem aeroporto decente, nem porto no grande rio que banha
a cidade. Os poucos ricos do lugar até que vivem bem, enquanto a maioria do
povo vegeta e passa necessidades. Mas quase todos esses miseráveis são
eleitores da direita e da extrema-direita, pois muitos dizem que “é preciso
obedecer a quem sempre pode dar uma sombra”. O povo de Trinidad gosta mesmo
é de adular só os cidadãos nascidos fora do lugar. E quase também só vota
neles.
Trinidad é
uma cidade repleta de direitistas ignorantes e de ignorantes direitistas. A
maioria da população da capital do pobre departamento tem apenas a (des) informação
primária. Nada entende de política, de administração pública, de sociedade
organizada, de governança. Por conta disso, o povão, sem leitura de mundo, vai votar
sempre nos candidatos indicados pela elite política local. E os eleitos apenas
cuidam dos seus próprios interesses. Os muitos escândalos de roubo, de
corrupção e de apropriação do dinheiro público são noticiados quase todo ano. O
povo é lembrado somente na véspera das eleições, para ser iludido novamente. Em
vez de direito ou dever, o voto no Beni, e principalmente em Trinidad, é uma
desgraça que só mantém o status quo desses pobres e miseráveis eleitores. E em
2024 não vai ser diferente. Muitos colunistas e até “jornalistas” são
financiados por políticos e pela elite abastada apenas para manter a direita no
poder.
*Foi Professor em Porto Velho.
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