Rondônia
quer imitar a Paraíba
Professor
Nazareno*
Rondônia
e a Paraíba são duas províncias distantes, atrasadas, pobres e quase sem
nenhuma importância na já lascada e tosca realidade nacional. Ambas
praticamente sempre viveram das benesses e dos recursos de outros Estados mais
desenvolvidos da federação através do FPE, Fundo de Participação dos Estados.
Não sobreviveriam sem a “bondade” federativa e sem os repasses dessas
verbas nacionais a que todos os entes federados têm direito. Com exceção dos
Estados do Sudeste e do Sul do país, tanto Rondônia como a Paraíba, assim como
várias outras províncias subdesenvolvidas, sempre deram prejuízos à nação. Eu tive
o supremo azar de ter nascido em um e de até hoje viver em outro desses rincões
do Brasil. Digamos que há 42 anos fugi da seca e da miséria nordestinas. Mas hoje
vejo essas mesmas coisas em terras da “próspera” e boa Amazônia.
Quando
por aqui passava e resolvi ficar, ainda no início da década de 1980 do século
passado, muitas pessoas “zoavam” comigo dizendo que eu era mais um
retirante nordestino que passava sede e que comia calango. “Rondônia é a
Meca do Brasil e do mundo, para onde muitos desempregados vêm matar a sede e a
fome”, diziam de peito estufado, com desdém e empáfia, muitas pessoas que
já viviam aqui. Óbvio que a Paraíba sempre foi uma porcaria sem eira nem beira.
Um lugar conhecido apenas por “exportar” sua gente para outros lugares
mais abastados como o Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. Só que os
motivos pelos quais saí de lá não eram ligados à sobrevivência. E Rondônia já
foi um lugar até próspero e cheio de oportunidades. Foi, não é mais.
Ambas incivilizadas províncias destruíram os seus fartos recursos naturais e hoje
já estão pobres.
A
seca de 2023 que se abateu sobre as terras rondonianas fez até o poder público
distribuir água mineral para os ribeirinhos. Não são mais carros-pipa que matam
a sede das pessoas. São, por ironia, “barcos-pipa”. Não chove por aqui já
faz muito tempo. E quando forma uma nuvem de chuva, pessoas vão rezar para que
chova logo. Como se faz lá no Nordeste. Rondônia virou um sertão quente, só que
úmido. Cidades inteiras, como Espigão do Oeste, estão à beira do caos sem água
potável para os seus habitantes. A destruição da floresta amazônica com as
respectivas nascentes dos pequenos rios fez secar tudo. O rio Madeira, outrora
caudaloso e navegável, está morto, assoreado, sem peixes e cheio de pedras e
barrancos de areia. Desmatamento cruel, fogo na mata, garimpo ilegal e o genocídio
de povos originários mostraram o inferno a Rondônia. E também à Paraíba.
Mas
já ouvi dizer que o Estado nordestino, apesar de ter um território cinco vezes
menor e uma população quase duas vezes e meia maior, estaria até um pouco
melhor financeiramente do que esta unidade federativa do Oeste. Dizem também que
os paraibanos investem no turismo por causa das águas quentes do Atlântico, que
banha o minúsculo Estado. Em Rondônia nem turismo tem. Não há turismo, nem
qualidade de vida. A única coisa que deve ter de sobra nas duas províncias são
políticos ladrões e incompetentes. E povo otário. Aí o páreo é duro. Até a
Praça da EFMM em Porto Velho já ficou esquecida e sem data para ser entregue à
população. Fala-se que o Hospital de Traumas de João Pessoa é melhor do que o “Açougue”
João Paulo Segundo daqui. Os paraibanos destruíram a mata Atlântica, mas
conseguiram preservar sua capital como uma cidade verde. Pessoas pedindo
esmolas ainda não há muitas por aqui, mas chegaremos lá.
*Foi Professor em Porto
Velho.
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